O longa se passa no Brasil de 1977 onde Marcelo (Wagner Moura), um homem de 40 anos que trabalha como professor especializado em tecnologia, sai da movimentada São Paulo e vai para Recife. Ele tenta fugir do seu passado violento e misterioso, com a intenção de começar uma nova vida. Ali, ele chega na semana do Carnaval, então logo a paz e a calmaria da cidade vai se esvaindo, e com o decorrer do tempo percebe que atraiu para si o caos do qual ele sempre quis fugir. Para piorar a situação, além de Marcelo estar sendo espionado pelo seus vizinhos, vê que a cidade que achou que o acolheria ficou muito longe de ser o seu refúgio.
O bacana e ao mesmo tempo irritante do diretor e roteirista Kleber Mendonça Filho é que seus filmes já são moldados pronto para chocar com algo, tendo alguma nudez descarada ou algum personagem bonachão demais ou até mesmo uma cena de uma tonelada de minutos que você fica sem entender nada, e o mais engraçado é que você já vai esperando acontecer, e aqui sem dúvida é a da perna atacando as pessoas da rua da prostituição, que possivelmente muitos irão enxergar algo filosófico ou algo diferenciado em cima da ideia, mas que se não tivesse, não seria um filme do diretor. Porém, aqui eu vi muito menos o Kleber que conhecemos, pois suas produções geralmente são mais baratas, sem tantos detalhes ou impactos, e o que ele nos entregou hoje é uma produção de nível gigantesco, com tantos personagens, detalhes cênicos, ambientes de época, toda uma personificação e referências, que acaba sendo muito bonito de ver uma qualidade dessa, e jamais você me verá reclamando disso, afinal minha formação é em cima de produção, o que acabou me surpreendendo demais, mas dava para ainda ter usado mais de tudo o que conseguiu e ficar só no passado, pois é até bem colocada a junção de identidade do presente com o passado, o tanto que apagamos coisas ruins e pessoas da nossa vida, mas senti a falta principalmente de terem conseguido pegar o protagonista, e assim mostrar realmente a nossa identidade na tela.
Quanto das atuações, a primeira pergunta que vem na mente da maioria é se Wagner Moura mereceu o prêmio de Melhor Ator em Cannes, e a resposta é um bem rápido sim, pois seu Marcelo/Armando além de um outro papel que não vou colocar para não dar spoiler, são personagens simples, porém complexos de interpretação, usando parte do tradicional jeitinho calmo do recifense com também o sangue fervente das pessoas de lá, sabendo segurar a tensão sem explosão, passando carisma, mas também o medo frente ao perigo, e que sem sair do prumo conseguiu marcar presença no longa inteiro, ou seja, segurou como um bom protagonista deve fazer. O mais engraçado é que mesmo o filme tendo uma tonelada de bons personagens, o diretor manteve o foco praticamente todo em Wagner, sobrando espaço para que poucos se destacassem na tela como Maria Fernanda Cândido com sua Elza, Gabriel Leone com seu Bobbi, Roney Villela com seu Augusto e Robério Diógenes com seu Delegado Euclides, fazendo com que cada um tivesse bons traquejos, desenvolvessem suas cenas, mas jogando sempre a bola para Wagner chutar, e quem fez gol sem bola foi dona Tânia Maria com sua Sebastiana carismática e totalmente solta com as fofocas que lhe contam, entregando tudo e fazendo o público rir, mesmo no meio da tensão.
Visualmente já falei e volto a repetir que o longa é uma superprodução de nível marcante aonde vemos uma composição de época tão perfeita, que mesmo quem não viveu os anos 70 consegue se sentir por lá, começando já de cara com um posto de estrada tão comum e simples que chega a ser bonito de ver, depois vemos diversos carros espalhados pelas ruas de Recife, as brincadeiras de crianças com seus jatos de cano, fantasias simples e chamativas, os famosos blocos de frevo, os carrões da polícia que assustavam só de passar perto, figurinos chamativos e curtos como muitos usavam, os famosos prédios de identificação com seus milhares de arquivos e fichas, o hotel da senhorinha com as mantas e simplicidades, e para brincar ainda mais com a identidade que é o foco do longa temos até um gatinho com duas caras, fora as cenas de mortes violentas e marcantes, um necrotério corrupto e tudo mais. Ou seja, a equipe de arte foi simplesmente fantástica.
Enfim, é um filme que consegue chamar muita atenção, que tem todo o formato hollywoodiano que conhecemos bem, que funciona bastante pela personalidade dos personagens, pela ideia da falta de identidade e pela busca dela, mas que não impacta como poderia, claro que friso isso com um peso de ter ido esperando algo ainda maior dentro da história em si, e não tanto pela superprodução, então quem for com menos expectativas provavelmente irá gostar mais. Agora é esperar se iremos ganhar prêmios nas premiações mais chamativas do começo do ano que vem, pois ser indicado em algumas categorias ao menos é certeza, e quem não quiser esperar até 06/11 para conferir o longa, no próximo sábado 01/11 haverá mais sessões de pré-estreia nos cinemas. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até breve.







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