O Jovem Messias (The Young Messiah)

3/25/2016 02:14:00 AM |

Já falei aqui várias vezes que se existe um estilo que vai sempre ter público nos cinemas é o gênero de filmes religiosos, pois independente de qual leva ele seguir, sempre haverá milhares de fiéis para assistir e querer ver (assim como os fãs de HQs) se o que foi contado bate com o que leram em grandes livros. E tivemos diversos longas contando o nascimento de Jesus, mais ainda contando a época de sua morte, mas que eu me lembre nenhum contando sua infância, então agora baseado num livro de Anne Rice, que já teve diversas obras adaptadas para a telona, resolveram nos mostrar em "O Jovem Messias", como o pequeno Jesus convive com a descoberta de seus dons sem que lhe seja dada as repostas que tanto busca. E segurando sempre essa temática, com um tom bem leve e singelo, a trama se desenrola de uma forma bem bonita, e sem forçar a barra para ideais, o resultado acaba sendo bem agradável, mesmo para quem não é tão religioso e foi apenas conferir mais um longa no cinema.

O longa nos mostra que aos sete anos, Jesus vive com sua família em Alexandria, Egito, onde eles fugiram para evitar o massacre de crianças pelo Rei Herodes de Israel. Jesus sabe que seus pais, José e Maria, mantêm segredos sobre seu nascimento e o tratamento que o faz diferente de outros garotos. Seus pais, porém, acreditam que ainda é cedo para lhe contar a verdade de seu milagroso nascimento e seu propósito. Com a morte do Rei, eles resolvem voltar para sua terra natal, Nazaré, sem saber que o herdeiro do trono, o novo rei, é como seu pai e está determinado a matar Jesus, ao mesmo tempo em que ele descobre a verdade sobre a sua vida.

Mesmo quando sabemos uma história, se contada de uma forma diferente, sempre consegue prender nossa atenção, mas claro que para isso, necessitam colocar pontos questionadores no conteúdo, para que o público pare e reflita também sobre o que está vendo, e aqui o conteúdo da história é bem bonito de se ver, mas a forma exageradamente leve que acabaram dando para todas as situações acabou transformando o filme quase em um daqueles filmes para meditar, e certamente não era essa a intenção da equipe. E de quem seria a culpa principal do filme ter essa forma? O roteiro criado pelo diretor Cyrus Nowrasteh juntamente com Betty Giffen Nowrasteh é baseado no livro de Anne Rice, que certamente não criou uma história sem pontos de reflexão para o público que desejava atingir, então talvez tenha faltado um pouco mais de ousadia do diretor para que a trama emocionasse mais, não ficando tão dependente apenas da linha histórica, e assim talvez embarcássemos mais junto com as dúvidas do pequeno Jesus, e refletíssemos mais sobre cada situação que ele passou nessa sua jornada de volta para sua terra natal. Isso é apenas uma hipótese que talvez melhoraria o longa, não que ele seja algo ruim, mas ficou leve demais, e quem não estiver bem preparado para tudo o que vai ver, pode acabar dando uns cochilos durante as quase duas horas de projeção.

Tirando a ousada loucura de Mel Gibson em 2004 quando gravou seu "Paixão de Cristo", inteiro falado em aramaico clássico, todos os demais longas sobre Jesus foram falados na língua do país de produção ou em inglês (claro que por conveniência) e de tantos filmes que já vi, estou quase acreditando que Jesus era americano por sempre falar inglês, e agora ainda mais, pois vi que desde garotinho já sabia a língua "mundial"!! Brincadeiras à parte com o idioma do longa, o jovem Adam Graves-Neal trabalhou bem os semblantes questionadores de seu Jesus, mostrando a todo momento que desejava respostas só com a carinha que fazia, sem precisar dizer quase que nenhuma palavra, e quando tinha de dialogar com alguém lhe foi pedido para trabalhar sempre num tom sereno, que acabou ficando muito bonito de ver, e assim sendo, podemos dizer que é um futuro talento para se aproveitar, veremos se decola! Sean Bean é aquele ator clássico que sempre sabemos o que vai nos entregar, e seu centurião romano Severus até trabalhar algumas vertentes diferenciadas, mas sempre sabemos o ponto de virada para sua atuação em cada cena premeditada, o que acaba ficando monótono de ver, e acabamos nem mais querendo ver o personagem. Um personagem que poderiam ter trabalhado mais, e que daria uma excelente história é o demônio vivido por Rory Keenan, pois inicialmente nos deixa com a pulga atrás da orelha se é realmente aquilo que achamos ser, mas quando entra pro embate mesmo, acabam deixando de lado o personagem para nem mais aparecer no filme, e tanto o ator que estava fazendo ótimos trejeitos, quanto o personagem que era interessante, mereciam mais tempo de tela. Sarah Lazzaro e Vincent Walsh foram simples demais para com seus personagens Maria e José, de modo que a família ficou bem contextualizada no ponto histórico de serem humildes, mas faltou mostrar que também sabem ser desesperados frente às situações que acabam passando, e em momento algum vimos isso na trama. Ficaram certamente na dúvida de entregar a Jonathan Bailey um personagem tendencioso à loucuras e ritos sexuais como foi Herodes, mas o ator fez o máximo que lhe foi permitido para que o longa não destoasse do seu conteúdo, e isso fica nítido nos cortes que acabaram fazendo em suas cenas, pois nenhuma é finalizada completamente, o que acabou ficando bem estranho. E para fechar tentaram dar um alivio cômico para o personagem Cleopas de Christian McKay, e o resultado foi temebroso, pois o ator não sabia se puxada sua doença para o lado mais religioso, se brincava com o texto ou se realmente interpretava o que tinha de fazer, ou seja, uma bagunça completa nas suas cenas.

Sobre o visual da trama, mesmo trabalhando bem a simplicidade que sempre foi mote da vida familiar de Jesus, o longa contou até que com alguns adereços mais ricos nas cenas de Herodes, mas sempre nas cenas aonde mostrava a família principal, o lema foi figurino simples básico, quase nenhuma cenografia pomposa, de modo que certamente complicou demais na escolha das locações, e principalmente, raríssimos elementos cênicos para dar algum contexto mais chamativo. E certamente toda essa economia cênica fez com que o longa tivesse um orçamento bem simples também, o que poderia talvez dar mais nuances nas cenas com mais personagens, para envolver mais, mas não era essa a ideia original. A fotografia procurou já que tinha elementos de cores neutras demais, contrapor com tons azuis do céu, verdes de algumas paisagens e quando não tinham esse recurso sempre puxando para o marrom mais forte para que o filme tivesse algum balanço, mas por ser muito cru, a trama chega a ter alguns pontos de cansar o público com o visual, e isso é um alto fator de quando visto em casa fazer com que a pessoa mude de canal, e o resultado final não agrade tanto monetariamente.

Enfim, é um bom filme, bem feitinho, mas com defeitos demais para recomendar ele para quem não seja cristão assistir. Mas a distribuidora foi esperta o suficiente de lançar ele numa semana religiosa, e sendo assim talvez a bilheteria acabe tendo um resultado mais expressivo no país, veremos!! Portanto, se você é religioso e gostaria de ver um pouco mais sobre a infância de Jesus, esse é uma boa dica de programa para o fim de semana, mas se não for, vá somente se tiver muita certeza de que gosta de filmes extremamente calmos, senão a chance de reclamar de tudo e dormir é alta. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje encerrando praticamente a semana cinematográfica, mas tentarei ver a pré que veio para o interior, então abraços e até breve.

Leia Mais

Batman Vs Superman - A Origem da Justiça em 3D (Batman Vs Superman - Dawn of Justice)

3/24/2016 02:22:00 AM |

Acho que nunca na história de um filme, um subtítulo fez tanto sentido como em "Batman Vs Superman - A Origem da Justiça", pois vamos fazer justiça com o nome e dizer que esse foi apenas o começo de algo que a DC tenta há anos consolidar que é a ligação de todos os seus personagens no cinema, e aqui finalmente isso funcionou com todo louvor, explicando cada detalhe do que virá pela frente nos próximos longas, mas claro que não ficaria só nisso, afinal temos de ter motivo para o título, e diferentemente do que costuma acontecer em longas que envolvem super-heróis, aqui o colorido é deixado completamente de lado, entrando numa esfera tão densa (pra não dizer tensa), que o nível dramático do roteiro certamente, se exibido na época certa das nomeações, seria lembrado nas indicações dos sindicatos à premiações. E se temos um filme bem roteirizado, um diretor que sabe trabalhar bem com grandes orçamentos, produtores que não gostam de perder 1 dólar, e bons atores, como algo poderia dar errado? Pra quem gosta de um excelente drama, a felicidade vai ser monstruosa, e a resposta vai ser não tem como dar errado, agora para quem for esperando só pancadaria, ação e muita dinâmica, a chance de decepção pode ser significativa. Mas como sou do primeiro time, posso dizer com todas as letras, que superou minhas expectativas, e agora é esperar que não estraguem o bom começo que fizeram desse "novo" universo que fomos apresentados, e vou falar mais sobre cada ponto (sem spoilers) mais para baixo.

O longa nos mostra que O confronto entre Superman e Zod em Metrópolis fez com que a população mundial se dividisse acerca da existência de extra-terrestres na Terra. Enquanto muitos consideram o Superman como um novo deus, há aqueles que consideram extremamente perigoso que haja um ser tão poderoso sem qualquer tipo de controle. Bruce Wayne é um dos que acreditam nesta segunda hipótese. Sob o manto de um Batman violento e obcecado, ele investiga o laboratório de Lex Luthor, que descobriu uma pedra verde que consegue eliminar e enfraquecer os filhos de Krypton.

Antes de mais nada, a trama é daquelas que possui tanta dramaticidade envolvida, com referências cruzadas à histórias de deuses, simbologias pesadas e contextuais para trabalhar e mostrar a personalidade de cada personagem, que David S. Goyer e Chris Terrio devem ter entregue para Zack Snyder um roteiro maior que muito livro épico conhecido por aí, e com uma habilidade ímpar, o diretor conseguiu manter a mesma essência densa do começo ao fim, trabalhando cada parte com um começo/meio/fim, sem que "muitas" pontas ficassem abertas para serem resolvidas depois (tá os novos personagens só aparecem em mini-vídeos, mas estão no momento certo, e usados para o contexto certo, afinal ainda não é o filme da Liga da Justiça), e esse bom timing que o diretor soube usar deu nuances para que os fãs (e até não fãs) vissem os prós e os contras de torcer para cada lado da história e, junto de câmeras mais proximais, criar vínculos com cada um, o que é algo pouco usual em longas de muita ação e que funcionam sempre bem em dramas (que é o gênero, aonde o filme se encaixa melhor). Agora se tenho de citar defeitos, fica aqui meu protesto contra o ponto de virada, pois foi a coisa mais fraca que já vi em anos (tudo bem que a cena é linda, mistura flashback, slow-motion, e diversos tipos de linguagem), mas nem se fossem "meio' amigos virariam amigos tão facilmente, ainda mais com toda a rixa que estava rolando, então arrumem isso nos próximos filmes, senão vai ficar feio. Porém tirando esse detalhe, o restante posso dizer com toda certeza que foi um dos maiores acertos que Zack Snyder já teve na carreira, pois consolidou a parte artística boa que fez em alguns filmes menores, com uma mega produção correta que certamente lhe vai render muito.

Sobre as atuações, vou começar dessa vez diferente, pelo vilão Lex Luthor, brilhantemente interpretado por Jesse Eisenberg, que se o povo está brigando por #TeamBatman ou #TeamSuperman, o meu é #TeamLex, pois o ator mostrou que não brinca em serviço, e papel dado, é papel cumprido, colocando todas as características necessárias para que o público o ame (pela ótima interpretação) e o odeie (por tudo o que faz), juntando delírios, loucura, expressões fortes em cada cena que seu personagem aparecesse, mas se tenho de destacar uma fica a dica para a que faz junto de Superman em cima do prédio, ali a vontade que temos é de aplaudir o ator e o personagem, mas ainda vamos aplaudir mais ele em outros longas, e isso é o que importa. Inicialmente, essa era para ser a continuação de Superman, mas como o primeiro filme já não foi bem das pernas e o ator também não seja algo que valesse mais um filme, resolveram já atacar algo diferente, e embora Henry Cavill mostre que manteve um corpo de Superman, ele falha demais em trejeitos e parece falso em tudo o que faz (tudo bem que pode ser uma alta implicância que tenho com o personagem de apenas um óculos diferenciar Clark Kent de Superman para todos ao redor de onde trabalha), e o ator mesmo trabalhando o impacto forte de ser um extraterrestre considerado deus por muitos, não expressa um ar superior nem se rebaixa para mostrar indiferença, ou seja, ele acha que é normal suas atitudes e tudo bem, e isso é errado de se fazer, pois o personagem acaba sendo maior do que o ator consegue atingir, e infelizmente agora não dá para mudar mais. Uma coisa certa sobre o filme é que muitos estavam curiosos para ver se Ben Affleck iria estragar mais um super-herói, principalmente após Christian Bale ter mostrado um dos melhores Batman de todos os tempos, mas o ator que é conhecido por se dar muito bem com personagens que exijam um conteúdo mais dramático, acabou acertando a mão e dando uma personalidade bem interessante para o estilo de vida de um Wayne mais velho e disposto a mostrar que vai lá e faz com muita luta e equipamentos, e trabalhando feições mais fortes e uma voz mais seca, acabou agradando bastante. Muito se falou sobre Gal Gadot não ter o porte físico que uma Mulher Maravilha precisava, mas a atriz mostrou que tem postura e classe para se passar como uma dama da sociedade quando não está de uniforme, e quando vai partir para a pancadaria mesmo, arrumaram um traje que acabou lhe dando curvas sensuais bem interessantes, claro sem decepcionar nas coreografias para que a ação não ficasse falsa, ou seja, teve uma boa introdução bem introspectiva (de maneira bem leve para ser semi-apresentada), que vamos ver melhor no ano que vem em seu filme solo. Agora outro grande acerto ficou a cargo de Jeremy Irons, caindo como uma luva na personalidade de um Alfred mais disposto a ser um grande amigo/conselheiro/técnico do que um simples mordomo da mansão, e o ator trabalhou bem os momentos mais cômicos da trama, sempre dando induções contraditórias à vida amorosa de Wayne, de modo que foram poucos, mas ótimos momentos. Embora Amy Adams e Diane Lane com suas Louis e Martha estejam bem encaixadas na trama, dessa vez ficaram tão em segundo plano que não posso nem falar se vi qualquer trejeito expressivo nelas, e isso é ruim, pois elas são bem usadas, mas se removerem todas as cenas delas, é capaz que o filme passe o entendimento completo apenas com a subjetividade de suas personagens, e assim sendo, é um erro delas de não chamarem atenção. Como disse acima, Ezra Miller, Jason Momoa e Ray Fisher, apenas dão o gostinho bem rápido de seus personagens Flash, Aquaman e Cyborg, então não esperem ver nada além de um "oi" na tela.

Quem certamente teve muito trabalho no longa foi a equipe de arte, pois se em filmes de heróis que possuem muita ação, já necessitam criar diversos elementos alegóricos para representar cada momento, imagina então em um mais calmo e dramático!!! E aqui, não nos decepcionaram em nada, colocando detalhes e mais detalhes nos acessórios, carro e nave do Batman, além claro de uma batcaverna bem estilosa e lotada de adereços que juntos formam tanto a personalidade do novo Batman, quanto mostra coisas a serem usadas em outros filmes (volto a dizer que teremos muitos outros filmes nos próximos anos que serão em linha cronológica, antes que os acontecimentos desse de hoje). Além disso tivemos ótimas cenas nos ambientes da LexCorp também repleta de elementos, e claro as dentro da nave de Zod, que mesmo destruída ainda dá para o gasto. Mas o visual mesmo denso é mostrado quando todos estão nas ruas mesmo, com um céu sempre chuvoso e fechado, dando a ambientação correta que o filme deseja, e claro mais espaço para que a equipe de efeitos especiais pudesse brincar e colocar tudo o que desejasse na tela, desde o monstrão Apocalipse, passando por diversos raios e explosões, e claro os voos do Superman (que ainda me incomoda o barulho de decolagem). E usando e abusando de tons escuros, a fotografia teve o cuidado de não forçar demais o preto e esmaecer demais as cenas de forma que detalhes não fossem vistos, e isso é um ótimo ponto positivo para a equipe, pois costumam colocar detalhes em locais tão escuros que só por milagre se vê tudo, e aqui, está tudo ao nossos olhos, mesmo que de forma mais sombria e densa, que tanto desejavam fazer. Sobre os efeitos visuais, posso dizer que foram em quantidades leves, mas muito bem feitos, porém deixaram bastante a desejar com o 3D, colocando uma ou outra cena em perspectiva, mas que facilmente seria vista sem óculos, e fica notável as cenas que foram filmadas com câmeras Imax, mesmo que não se assista numa sala com a tecnologia, pois o efeito visual é o único que funciona a tridimensionalidade, ou seja, repito o que digo em diversos filmes, se quiser economizar pode ver tranquilamente nas salas comuns (apenas procure uma com um som bem potente, afinal o longa pede isso).

Como falei que o som deve ser visto em salas potentes, tenho de falar mesmo que um pouco sobre a parte sonora da trama, pois o longa está cheio de explosões, assovios, trombadas e tiros, e essa sonoridade toda faz parte do contexto do filme, e claro que junto da trilha sonora mista de dois gênios das composições: Hans Zimmer e Junkie XL, é quase possível viajar pelo longa somente vendo o longa sem falas, ouvindo apenas a sonoridade.

Enfim, é um ótimo filme que possui certos defeitos, os quais pontuei acima, mas ainda assim supera qualquer expectativa que tivesse sido criada, e sendo assim vale o ingresso. Claro que vamos ter aqueles que estavam desesperados demais e são extremamente fãs, que ficarão decepcionados com algumas coisas, além claro dos Marvel-fãs que terão de falar somente coisas ruins para enaltecer o outro lado da briga, mas se você não faz parte desses dois times, e colocando um adendo, gosta de bons dramas pesados, pode ir conferir tranquilamente o longa que a certeza de gostar é alta. Detalhe que vale a pena ser dito, por não ser um filme da Marvel, não possui cenas pós-créditos, então pode ir embora da sala tranquilamente quando começar a subir as letrinhas sem culpa alguma. E um segundo detalhe, que acaba sendo uma opinião pessoal apenas, colocaria mais 2 segundos na cena final, pois quem não reparar direito não verá o que acontece. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto em breve com a outra estreia dessa semana, então abraços e até logo.

Leia Mais

Zootopia em 3D

3/19/2016 09:15:00 PM |

Bem meus amigos de "Zootopia", mais uma vez a Disney acertou em cheio, ao fazer uma animação divertida para todos, comovente para os adultos e lotada de referências a outros filmes, séries e programas, de modo que é impossível não se emocionar e vivenciar a aventura da coelha Hopps com olhos rodando para todos os lados, sentindo cada elemento e presenciando algo que pode ser novamente colocado como uma marca do estúdio, que é não pecar por falta de algo, mas sim pelo excesso. Porém, por mais que qualquer um queira reclamar de algo do filme, vai ser impossível, já que cada momento é tão único e bem feito que nos deixamos levar para o lado criança que há dentro de cada um, e por bem pouco você não vai querer estar dançando junto com as crianças no final no show da Shakira/Gazelle. Ou seja, se existe uma palavra que possa definir o longa é: DETALHES! Já que a cada olhar podemos ver um filme diferente, sentir uma proposta diferenciada, e se envolver com um personagem diferente dentre a tantos que nos é mostrado, pois souberam trabalhar as emoções em paralelo, colocando as virtudes de cada animal juntamente com boas lições de vida para que todos pudessem seguir.

O longa nos mostra que Judy Hopps é a pequena coelha de uma fazenda isolada, filha de agricultores que plantam cenouras há décadas. Mas ela tem sonhos maiores: pretende se mudar para a cidade grande, Zootopia, onde todas as espécies de animais convivem em harmonia, na intenção de se tornar a primeira coelha policial. Judy enfrenta o preconceito e as manipulações dos outros animais, mas conta com a ajuda inesperada da raposa Nick Wilde, conhecida por sua malícia e suas infrações. A inesperada dupla se dedica à busca de um animal desaparecido, descobrindo uma conspiração que afeta toda a cidade.

Seria difícil que uma equipe a equipe excelentes diretores de animação não fizesse algo magistral, e aqui Byron Howard("Enrolados", "Bolt"), Rich Moore("Detona Ralph") e Jared Bush foram icônicos tanto na concepção do roteiro que foi muito bem elaborado para trabalhar a situação completa, quanto ao ter uma ambição gigantesca de colocar uma cidade inteira no estilo de uma grande metrópole recheada de animais de todos os tipos possíveis. Poderia falar todos com letras maiúsculas, pois ao mostrar que a cidade possui todos os ecossistemas possíveis, certamente se explorado cada lugar separadamente você irá conhecer e reconhecer diversos animais não apresentados (será que deixaram algumas brechas para um segundo filme??? Mas também servirá para algum grande jogo do filme, caso façam!). E usando dessa grande empolgação que os diretores e roteiristas tiveram, cada momento do longa acaba tendo um estilo de conexão diferenciado com o público, desde a saída do filho da calma cidade interiorana rumo a um lugar gigantesco cheio de perigos para trabalhar com algo difícil para seu tamanho, depois somos jogados à realidade de que nem tudo o que sonhamos acaba sendo feito como queríamos, juntam-se aos medos e lições que podem ser aprendidas, e claro impregnações de amizades/corrupções, ou seja, tudo foi colocado na trama pela equipe. E volto a frisar, que mesmo com esse bombardeio de informações e temas, não conseguiram deixar o longa chato de maneira alguma, ficando ainda mais divertido, pois para representar tudo isso sem cansar, utilizaram de tantas referências, que passaram desde nomes famosos como "Poderoso Chefão" e "Breaking Bad", junto de outros filmes da Disney que foram dando o tom cômico incrível para agradar e chamar atenção, e claro divertir os adultos também que conseguirem se conectar com tudo, ao dar a desculpa de estar vendo a animação apenas para levar os pequenos.

Claro que o ponto máximo além do grande roteiro, ficou a cargo da equipe dar excelentes personalidades para cada personagem, enchendo eles de carisma (mesmo os mais durões) e acertando na escolha dos dubladores, pois é difícil não se divertir com o sotaque interiorano que Monica Iozzi deu para a coelhinha Judd Hopps, e o tom calmo e sagaz que Rodrigo Lombardi deu para a raposa Nick Wilde, além claro de diversos outros dubladores profissionais que souberam trabalhar as piadas e ditados para o nosso idioma sem que o longa saísse da essência original. Além da personificação de cada animal dentro de seus estilos de trabalho, ou seja, temos os pequeninos como administrativos, os fortes como policiais, e cada um vivendo como desejar na grande cidade, que digo mais, a equipe se preocupou em colocar também os escritos em português para vender melhor seu peixe aqui no país e além disso, servindo de curiosidade, cada país teve um animal próprio seu, ou seja, a galera que baixa filmes provavelmente vai ver outro animal na bancada do jornal diferente da onça Boi Chá, que é dublada claro por Ricardo Boechat. Não sei que tipo de roedor é o mafioso Sr. Big, mas ficou tão bem caracterizado e com falas exatamente iguais ao clássico Poderoso Chefão, que não tenho como não dar um ótimo destaque para o personagem. Outro que merece destaque e já nos foi brilhantemente apresentado no trailer é Flecha, nossa querida preguiça funcionária pública (que ou em todo mundo funcionalismo público é lerdo, ou o pessoal da criação veio passar umas férias no Brasil e aprendeu muito bem). E certamente tivemos diversos outros bons personagens, mas como a maioria passa tão rapidamente por nossos olhos, acabamos focando mais nos protagonistas, mas vai ter os apaixonados pelos uivos dos lobos, pelo prefeito Leãonardo, e claro que não poderia esquecer de forma alguma a cantora pop de Zootopia, Gazelle, que é praticamente um clone animal de Shakira, dançando rebolante igual e cantando a música tema, interpretada também pela cantora.

E já que entrei no quesito musical, vamos falar um pouco sobre as nuances da ótima trilha do filme, que além de contar com "Try Everything" composta por Sia e interpretada por Shakira, o longa contou com diversas outras grandes canções (destaque para a cena que a coelhinha está pra baixo e assim como qualquer um que procura alguma música no rádio só acha músicas depressivas). Além das canções orquestradas apenas simbolizando cada momento do filme, dando um bom ritmo e criando um contexto mais abrangente dentro do que o texto tentou passar.

Embora o filme não conte com muitas coisas saindo da tela, o 3D imersivo foi muito bem aproveitado, pois como temos em todas as cenas muitos animais, se o efeito não fosse bem trabalhado acabaríamos vendo só os de primeiro plano, e isso não ocorre em momento algum, funcionando bem tanto com os pequeninos roedores quanto com as grandes girafas, ou seja, conseguiram trabalhar com as diversas camadas do cenário para realmente envolver o público e praticamente nos colocar junto da coelhinha e da raposa.

E como costumo falar também da direção de arte nos filmes de "humanos", nessa animação é um fator que merece ganhar um certo destaque, pois tiveram uma ideologia maravilhosa ao compôr os cenários da trama, cada um trabalhando um ecossistema próprio, com vegetações próprias, elementos cênicos próprios e até mesmo bairros minúsculos para os animais menores, trabalhando cada "locação" como algo incorporado e desenvolvido para que a cena ficasse gravada na memória de quem assistir, trabalhando luzes mais densas para criar tensão, visuais coloridos para envolver a criançada, e tudo mais, mas sempre de modo que nada ficasse jogado em cena apenas para criar uma perspectiva, mas sim bem pensado para o contexto real mesmo.

Enfim, é um filmaço que recomendo para toda família com muita certeza, e que vale muito a pena ver e rever, se apaixonando por cada detalhe. E utilizando da minha técnica milenar para saber se uma animação vale a pena para as crianças, todas ficaram quietinhas assistindo, pouquíssimas ficaram saindo para banheiro, e pedindo aos pais para sair, ou seja, agradou os pequenos também, e para os adultos a emoção come solta. Se você estava com receio de ir assistir e ver uma animação infantilizada, pode ir tranquilamente, pois é daqueles filmes que você não necessita arrumar desculpas para levar a criançada, podendo ir sozinho tranquilamente. Bem é isso pessoal, encerro aqui essa semana cinematográfica, mas volto mais cedo na próxima, já que teremos prés já na quarta-feira, então abraços e até breve.

Leia Mais

Mundo Cão

3/19/2016 01:47:00 AM |

Se tem uma coisa que gosto de descobrir num filme nacional é quem é o dono da arte que me comove ou me irrita, pois diferente de blockbusters que dão tanta ênfase no diretor, no Brasil os marqueteiros acabam deixando meio de lado o destaque que alguns diretores merecem ter. E se tem um nome que você que gosta de filmes intrigantes com boas surpresas deve anotar para conferir é Marcos Jorge. Claro que no ano passado acabou queimando um pouco ao sair do seu estilo, mas ao voltar para sua praia com "Mundo Cão", o diretor conseguiu fazer um daqueles filmes que você fica abismado a cada nova surpresa, e principalmente ao fazer jus à ambiguidade do título, a trama acaba nos mostrando o quanto tudo anda de uma forma cruel aonde as pessoas querem cada dia mais fazer vingança com as próprias mãos, independente do pior que pode acontecer. Ou seja, um filme com uma proposta diferenciada, com estilos bem pautados, mas que não força ninguém a pensar demais, servindo ao mesmo tempo como denúncia de como estamos tratando nossas vidas e simbolizando bem que o estilo dramático pode agradar também no mercado nacional.

O longa nos mostra que em 2007, antes de ser sancionada a lei que proíbe o sacrifício de animais abandonados, Santana é um funcionário do Centro de Controle de Zoonoses de São Paulo que trabalha recolhendo cães de rua. Certo dia ele captura um enorme cachorro raivoso cujo dono só aparece para recuperá-lo dias depois, quando já é tarde demais. Irado, o homem culpa Santana pelo ocorrido e trama uma cruel vingança.

Sempre é interessante ver quando procuram mudar um estilo no Brasil, pois chega até ser engraçado o público na sala hoje certamente esperava ver algum outro filme, mas felizmente a maioria saiu satisfeito com o que viu, pois o longa até possui uma cara semi-novelesca, mas ao jogar fora toda a ideologia de subtramas, deixando claro somente quem são os protagonistas e como eles vão desenvolver a história, o diretor e roteirista Marcos Jorge, junto de Lusa Silvestre, conseguiram transformar algo simples como uma vingança em uma trama envolvente cheia de reviravoltas. O longa até possui alguns defeitos que facilmente poderiam ser amenizados, mas todo o teor passado, juntamente com o estilo desenvolvido facilmente me remeteu ao estilo que alguns diretores europeus costumam desenvolver em seus longas de vingança. E digo isso com muito orgulho, pois geralmente longas nacionais que o diretor quer se destacar demais, acabam fazendo filmes confusos somente para enaltecer o próprio umbigo, e aqui Marcos fez um filme que pode chocar em alguns momentos, mas é tão bem trabalhado, tanto na história quanto no desenvolvimento, que saímos da sessão pensativos, mas sem dúvidas do que realmente nos foi mostrado, o que ao meu ver é um acerto imenso.

Um fator marcante do sucesso do longa também se dá pela escolha de dois excelentes atores para comandar a trama, de um lado Lázaro Ramos encarando um dos seus primeiros vilões, dando personalidade e até um certo carisma para seu Nenê (ou Babyface na sinopse em inglês), trabalhando a postura, a entonação dos diálogos e mostrando o quão bom é também para papéis dramáticos, ou seja, encaixou como uma luva dentro do que desejavam. E no outro lado temos Babu Santana, que vem já há algum tempo conquistando um espaço dentro do cinema nacional, colocando bons personagens e trabalhando seu estilo próprio, e aqui seu Santana foi do clássico funcionário bobão, passando por pai desesperado até impor seu estilo mais rígido, mostrando diversas facetas para um único ator, e isso é bem interessante de ver dentro do nosso cinema. Adriana Esteves é uma atriz que se dá bem sempre, mas se sobressai melhor quando é a protagonista, e como aqui sua Dilza fica meio de lado em boa parte da trama, não teve tanta oportunidade de mostrar suas expressões, mas claro que nos momentos mais dramáticos mostrou que não brinca em serviço e envolveu à todos na sala. Milhem Cortaz certamente é um dos maiores nomes do nosso cinema, e certamente merecia um papel melhor do que algo secundário do secundário, com frases jogadas e expressões quase nulas de seu Cebola, e isso é quase um pecado o que fizeram com ele, principalmente por não aproveitar sua capacidade artística, mas nem sempre dá para encher o filme de muitos protagonistas, então aqui ele fez apenas o que estava no seu texto, sem chamar atenção em momento algum. Thainá Duarte trabalhou muito suas expressões, afinal com o problema de sua Isaura, o jeito foi mostrar tudo com olhares e facetas expressivas, e a jovem deu show, principalmente nas cenas finais. O jovem garotinho Vini Carvalho até tentou ser expressivo nas cenas que pediram para demonstrar medo, desespero e tristeza, mas ainda é muito jovem para conhecer realmente os problemas da vida e impactar de modo que lembrássemos sempre de seu João, mas infelizmente não encaixou, sendo apenas simples demais para o que a situação realmente necessitava de expressividade.

O trabalho da direção de arte não foi algo que se diga primoroso, mas certamente foi coeso com o que a situação necessitava e envolveu bem nas cenas internas, trabalhando com poucos, mas bons elementos. Além disso as escolhas das locações, como uma casa bem popular, um canil velho para representar o caos que sempre foram os centros de zoonoses, e até belas panorâmicas no Estádio Pacaembu, deram representatividade para a trama e simbolizaram bem cada momento em que foram encaixadas, não exagerando para que o filme ficasse forte, mas que a ambientação simbolizasse a força do roteiro, e claro que o IML para dar o momento mais duro do filme, aonde com toda certeza, o trabalho de gravação foi maior, e o resultado ficou incrível. Embora queiram mostrar que a família possui muita fé, vive nos cultos e tal, e nos salões de beleza vendendo o trabalho manual das mulheres, se fosse o diretor, teria cortado as 4 cenas, pois não incrementaram em nada e apenas ficaram jogadas, gastando tempo, e claro, dinheiro da produção. A fotografia também trabalhou muito bem colocando sombras certas para dar preenchimento, e usando muita luz amarela para dar peso nas cenas, além claro da ótima cena aonde a luminária balança criando o jogo para cena seguinte, ou seja, um trabalho focado mais em segurar o tom da trama, não querendo realçar nenhuma cena, e principalmente não ser maior que a história em si.

A trilha sonora bem cadenciada, misturando a bateria tocada pelo protagonista em diversos momentos, com algumas trilhas para dar o tom de mistério na trama, resultaram em um filme com um ritmo gostoso e que passa rapidamente agradando os ouvidos sem abusar de firulas.

Enfim, é um ótimo filme que até possui defeitos que citei acima, mas que não desmereceram em momento algum todo o trabalho do restante, e dessa maneira recomendo ele demais para todos que gostem de um bom filme de vingança, e mais do que isso, por se tratar de um produto nacional bem feito, temos de valorizar mais ainda. Sendo assim, se o filme estiver passando em sua cidade, confira, pois foge bem das comédias novelescas que nos são jogadas diariamente nos cinemas, e principalmente mostra em que pé anda os ânimos das pessoas, pois vingança com as próprias mãos geralmente não funciona. Fico por aqui agora, mas volto em breve com a última estreia dessa semana nos cinemas do interior, então abraços e até breve.

Leia Mais

Ressurreição (Risen)

3/18/2016 01:27:00 AM |

Quando falamos em um filme religioso, já julgamos o público que ele pretende atingir, os que vão ficar questionando se devem ir ou não ver, e os que já fogem direto sendo contrários à qualquer coisa que possa ser mostrada. Mas como costumo falar, temos de ver de tudo para saber se vamos ou não gostar, e a parte da Bíblia aonde mostra a morte e a ressurreição de Jesus já foi mostrada por diversos ângulos e possibilidades, resultando em filmes fortes e também em alguns mais simples, e agora com a vertente sendo mostrada pelos olhares de um cético em "Ressurreição", acabamos vendo algo um pouco incomum, pois nem todos acreditam nas histórias contadas lá, e assim como o soldado romano Clavius vamos vendo aos poucos ele crer no que é mostrado e seguir mudando suas ideologias. Claro que por ter o vértice religioso, não podemos esperar algo diferente do usual, mas o filme consegue ter uma boa dinâmica e agradar dentro de um bom parâmetro, com uma cenografia bem montada, cenas de ação bem feitas e um roteiro bem trabalhado, e de um modo bem singelo acaba agradando com tudo o que é mostrado.

O filme nos mostra que às vésperas de um levante em Jerusalém, surgem rumores de que o Messias judeu ressuscitou. Um centurião romano agnóstico e cético é enviado por Pôncio Pilatos para investigar a ressurreição e localizar o corpo desaparecido do já falecido e crucificado Jesus de Nazaré, a fim de subjugar a revolta eminente. Conforme ele apura os fatos e ouve depoimentos, suas dúvidas sobre o evento milagroso começam a sumir.

Após um longuíssimo hiato de 10 anos, Kevin Reynolds("Robin Hood", "Waterworld", "O Conde de Monte Cristo") volta a colocar suas mãos em uma câmera para dirigir um filme e mostrar que ainda sabe fazer tomadas bem amplas para mostrar o bom trabalho tanto dos atores, quanto da equipe técnica envolvida, e até mesmo nas cenas mais velozes, o diretor conseguiu dar boas nuances controlando o enquadramento para que o filme (que não possui um orçamento monstruoso) não mostrasse falhas e ainda conseguisse agradar dentro da proposta. Ao pegar para desenvolver a história do roteirista estreante Paul Aiello, o diretor soube colocar a trama tanto dentro do cunho religioso que era a proposta original, quanto para fazer um filme de descobertas em meio à um vértice de suspense histórico, e assim acabou conseguindo não ficar preso à somente o público tradicional que iria ver um filme bíblico. Talvez o erro mais forte da trama tenha sido o de Clavius mudar completamente muito fácil, pois sendo um guerreiro, a ideologia mais comum seria de não acreditar no que está vendo, mas ainda assim manter-se mais tempo na dúvida do que estaria vendo, o que não acaba ocorrendo, mas isso não atrapalhou em demasia o resultado final, que acaba passando uma boa mensagem.

Sobre a atuação de Joseph Fiennes, um fato claro é que o ator soube apresentar um ar expressivo bem rígido durante a maior parte da trama, mostrando como alguns romanos eram duros e dispostos à tudo, e também deu um tom firme na voz de seu Clavius para que nos momentos de interrogatório, seu teor fosse levado à sério, talvez tenham sido brando demais em alguns momentos como disse no ponto de virada muito simplório e em algumas cenas que ele aliviou demais o estilo, mas no contexto geral agradou mais do que decepcionou. Agora um ator que anda perdido desde que acabou a saga "Harry Potter" e não consegue acertar a mão em personagem algum é Tom Felton, pois aqui seu Lucius foi claramente um personagem jogado na trama, quase sem importância alguma (tirando uma única cena mais dramatizada), e ainda por cima o ator fez diversas caras e bocas completamente fora do contexto da trama, ou seja, além do personagem não ser bom, o ator conseguiu piorar. Peter Firth caiu bem na personalidade de Pilatos e sempre pronto para dar ordens e mais ordens acabou sendo daqueles personagens que aparecem quase que o filme inteiro, mas acaba não sendo nem protagonista nem alguém que vá ser importante para a trama, talvez se o personagem fosse mais de ação do que ditatorial agradaria mais seus trejeitos, mas aí estaríamos mudando a história. Cliff Curtis fez um Jesus/Yeshua diferente, sem muitas palavras, trabalhando mais a expressividade do olhar e agradou bastante, e como o filme mesmo trabalhando a ideologia da ressurreição, o personagem ficou bem em segundo plano, trabalhado mais nos ideais do que exigindo do ator, e sendo assim ele fez bem quando precisou trabalhar mesmo. Dos demais atores, cada um teve seu momento expressivo bem rápido, e daria para destacar somente algumas cenas comoventes de Maria Botto fazendo Maria Madalena e Stewart Scudamore dando à Pedro uma personalidade bem amigável e bonita de ver.

Sobre a cenografia do longa, é notável que por ser um filme de baixo orçamento que conta uma história de época, a trama foi mais enxuta no desenvolvimento dos ambientes aonde se passa a história, mas nem por isso a equipe de arte ficou em segundo plano, trabalhando bem nos locais principais como o palácio de Pilatos, e o casebre aonde estão todos os seguidores de Jesus, além claro do túmulo e da cena da crucificação muito bem trabalhada nos elementos. Porém o ponto forte ficou a cargo das grandes escolhas de locações para os momentos rumo à Galiléia, com um visual desértico, mas muito bem trabalhado em ranhuras e erosões para dar camadas ao filme, ou seja, um trabalho de escolha bem feito pela equipe. A fotografia se baseou bem nas sombras e dando sempre contrastes em tons alaranjados/amarelos para dar um semblante mais vivo para a trama, não deixando que o filme ficasse pesado em momento algum.

Enfim, é um filme simples, mas bem feito e que de ponto principal acertou em não ficar tão em cima da religiosidade, embora a história seja religiosa, de modo que foi possível colocar um pouco de ficção para dar um ânimo maior e agradar quem não for tão fervoroso. As principais falhas ficam em cima das atuações que poderiam ser mais desenvolvidas, mas nada que tenha atrapalhado demais. E sendo assim recomendo o longa para todos que gostem de uma história simples, mas bem contada, afinal é não é sempre que algum trecho religioso é bem contado por outro ângulo, e nessa semana que é tão religiosa, acaba sendo uma boa dica nos cinemas. Fico por aqui agora, mas ainda faltam outras estreias para conferir, então abraços e até breve.

Leia Mais

Trumbo: Lista Negra

3/15/2016 01:20:00 AM |

Demorou, mas eis que apareceu por aqui "Trumbo: Lista Negra" por aqui, e embora seja um ótimo filme, é fácil descobrir o motivo de não terem colocado mais salas no seu lançamento, pois o filme é feito somente para os amantes de cinema, que gostam de saber mais histórias de bastidores, e com um adendo para que gostem de filmes verborrágicos, afinal o longa é daqueles que não há sequer 5 minutos sem que alguém esteja falando com outro alguém sem parar, não há um alívio respiratório, e muito menos um momento daqueles que você possa sequer parar para beber um gole de sua água sem perder algum diálogo. Não acho isso algo ruim, muito pelo contrário, tenho total respeito pelos roteiristas que são capazes de conduzir uma história inteira pautada nos diálogos, só que friso que não é toda pessoa que aguenta um longa desse estilo sem cansar, e isso acaba atrapalhando na bilheteira, e por consequência fazendo com que as distribuidoras lancem um filme em circuito reduzidíssimo. Agora se você se encaixa nesses dois pré-requisitos, dê um jeito de ver o filme, pois é algo muito bem feito, que envolve de uma maneira, e com muita certeza vai deixar você com raiva das imposições que muitos autores, e até pessoas de bem sofreram por serem colocadas na lista negra dos governo americano.

O longa nos mostra que o roteirista Dalton Trumbo tem uma história singular em Hollywood: apesar de ter escrito algumas das histórias de maior sucesso da época, como A Princesa e o Plebeu (1953), ele se recusou a cooperar com o Comitê de Atividades Antiamericanas do congresso e acabou preso e proibido de trabalhar. Mesmo quando saiu da prisão, Trumbo demorou anos para vencer o boicote do governo, sofrendo com uma série de problemas envolvendo familiares e amigos próximos.

Em suma, posso falar que é um filme que um roteirista fez para roteiristas sofrerem vendo a vida dura de um roteirista famoso. Claro que nem todos verão com esses olhos, mas baseado em fatos reais narrados no livro de Bruce Cook, o roteirista John McNamara trabalhou enfaticamente para mostrar o quanto diálogos são importantes para marcar sua história, e o diretor Jay Roach optou por um estilo mais fechado das situações, trabalhando bem a desenvoltura do personagem principal, mas deixando claro sempre para os atores mostrarem mais o impacto dos tons de voz com os diálogos do que uma cena mais sutil aonde todo o contexto cênico nos inserisse num contexto maior. E dessa maneira, o resultado do filme é algo até bem feito, mas demora tanto a cativar a atenção do espectador, que posso confessar o sono vindo em minha direção monstruosamente na primeira metade dele, mas assim que Trumbo sai da cadeia que a decolagem começa a ficar bem interessante e faz com que o público comece a conhecer mais sobre seus belos trabalhos. Portanto, alguns podem até dizer que há erros na forma de direção, mas não vejo isso como algo errado, e sim como uma proposta a ser seguida, que talvez se fosse um longa de algum personagem mais conhecido do público em geral, acabaria empolgando, mas como Trumbo só é algo que quem é do meio mesmo conhece, o resultado acaba demorando demais para conquistar alguém, e isso pode causar altos problemas para quem for mais desesperado.

De cara se perguntarem quem é Bryan Cranston, alguns não vão saber, mas basta citar "Breaking Bad" que qualquer um liga todos os pontinhos, mas claro que o ator já trabalhou e muito em sua longa carreira, boa parte na TV, mas também com bons filmes no currículo, mas agora em definitivo parece ter ficado mais amigo dos produtores de cinema e está com vários projetos em desenvolvimento, que certamente fará com grande classe, afinal é um ótimo ator que trabalha bem a personalidade dos papeis que lhe é entregue, e aqui seu Dalton Trumbo não foi diferente, de modo que incorporou a alma do roteirista e em diversos momentos usou de um estilo forte e bem fechado, enrijecendo bem a face e colocando toda o diálogo aonde deveria estar, no topo máximo da trama, para agradar e convencer de tudo o que desejavam passar, ou seja, perfeito numa atuação de magistral desempenho. Diane Lane mostrou também personalidade ao mostrar que a paciência de Celo Trumbo era algo além dos limites conhecidos pela ciência, e claro também muito amor para aguentar tudo, pois com o gênio de Dalton qualquer mulher teria pegado os filhos e sumido de casa com muita facilidade (não muito naquela época, mas hoje não pensariam duas vezes), e a atriz foi serena e agradou bem nos seus devidos momentos. Helen Mirren saiu da serenidade da realeza para fazer uma mulher marcante (para não falar irritante) e de muito impacto que foi Hedda Hopper, e abusando de olhares pomposos e poses chamativas, a atriz trabalhou de uma maneira bem diferente da forma que estamos acostumados, mas ainda agradando demais dentro da ideologia da personagem. Elle Fanning mostrou que já está chegando no momento de pegar grandes personagens para dar vida, pois não é mais aquela garota singela que todos atacavam no começo da carreira, já tendo personalidade suficiente para bater de frente com grandes nomes e segurar seu texto com a mesma tonalidade de como se estivesse soltando ele solo, e sendo assim sua Niki acaba chamando até uma certa atenção nas cenas em que aparece. Grandes nomes também estiveram presentes na trama, e cada um no seu momento junto do protagonista soube chamar a devida atenção e mostrar uma parte da História desse grande nome, destaque para a época que o roteirista apenas pagou contas entregando diversos roteiros para Frank King, bem interpretado pelo sempre ótimo John Goodman e seu estilo caricato; também tenho de citar o ótimo Christian Berkel colocando Otto Preminger como um diretor insuportável na cabeça dos roteiristas, impregnando até as datas mais familiares no aguardo de um bom texto; e Dean O'Gorman mostrando que sua época de anão já era, fazendo um papel icônico na sua vida, dando ar para Kirk Douglas, que foi sem dúvida um dos grandes nomes do cinema tanto como ator quanto como produtor da maioria de seus grandes filmes.

Sobre o conceito visual da trama, até nos é apresentado bons elementos de época, mas foram simplistas demais com tudo, desde o figurino dos personagens que ou estavam sem criatividade nenhuma, ou as pessoas só andavam de terno e vestido por aí, passando por casas e bares sem quase objetos decorativos para retratar o estilo de vida de cada personagem. Claro que as cenas na banheira foram icônicas e claro também os diversos momentos grudados na máquina de escrever junto de passarinhos, o que certamente é mostrado ao máximo nos livros e documentários já feitos sobre o personagem, mas não custava nada aflorar a criatividade com relação à outros momentos, deixando assim a arte mais valorizada também. Agora se no quesito artístico falharam bem, no conceito fotográfico a equipe mostrou o que um bom jogo de sombras é possível de causar em dramas também, pois sendo algo mais contextualizado em suspenses, aqui o diretor de fotografia caprichou em todas as cenas para sempre com uma luz de preenchimento por trás dos personagens, suas sombras fossem marcantes e dessem uma imposição maior para cada cena, e isso é algo que deu uma força maior para cada um quando impunham seus diálogos, ou seja, um trabalho diferente de ser visto, e que agrada chamando atenção.

Enfim, é um bom filme, mas volto a frisar, para quem não está acostumado com algo praticamente feito apenas de diálogos, sem muita ação para ser desenvolvido, pode acabar saindo da sessão bem cansado com o que será mostrado, porém a trama toda em si, funciona bem para conhecer mais do personagem e de como a época foi marcada por pessoas tentando calar quem não fosse a favor das ideias do governo. Poderiam também ter focado mais nisso, mas aí sairia da ideologia do personagem forte que Trumbo foi, então quem sabe façam mais algum filme em cima dessa época para aproveitar o contexto e trabalhar mais isso. Portanto, recomendo ele com ressalvas, deixando mais determinado para quem realmente gosta do estilo, pois o restante vai sair comentando que tudo foi chato demais, isso se conseguir sobreviver à primeira metade. Bem é isso pessoal, fico por aqui encerrando essa semana cinematográfica, mas volto na Quinta com mais estreias, então abraços e até breve.

Leia Mais

Little Boy: Além do Impossível

3/12/2016 01:17:00 AM |

Algumas vezes somos surpreendidos com produções pequenas, mas que conseguem passar mensagens bem grandes para o público que acaba assistindo, e "Little Boy: Além do Impossível" é um excelente exemplo disso, pois a produção mexicana trabalhou tanto o simbolismo de fé, imaginação e motivação que o resultado final acaba sendo tão comovente que certamente a trama acabará marcando nossas lembranças de um filme gostoso de assistir e que agrada sem forçar nada religioso, muito menos apelativo para qualquer lado, sendo muito bem feito e envolvendo o público com uma boa cenografia, uma atuação dinâmica tanto do garotinho quanto dos demais personagens, e principalmente com uma direção firme para trabalhar o imaginário além do que qualquer um simplesmente faria.

O longa nos situa nos anos 40, em O'Hare, Califórnia, onde vivia o pequeno Pepper de 8 anos. Alvo de brincadeiras com outras crianças da cidade devido a sua baixa estatura, o único amigo do Little é seu pai James. A vida de Little Boy é marcada quando seu pai vai para a Guerra e perde o seu grande parceiro de emoções. Inspirado pelo seu herói, com sua imaginação Little Boy crê que consegue fazer com que o seu pai volte da guerra.

É interessante observar que este é apenas o segundo longa do diretor e roteirista Alejandro Monteverde, e que ele trabalhou uma sensibilidade incrível na composição de cada personagem da história para que ela realmente comovesse e passe as lições familiares, de fé e de amor ao próximo, de modo que cada ponto do filme vai nos envolvendo com a doçura do jovem garotinho e fazendo com que assimilássemos cada ato dentro de um contexto maior. E esse trabalho bem feito fez com que o público se emocionasse, alguns mais que os outros, mas realmente duvido que alguém não se comova com as três últimas cenas, ao ponto de pelo menos dar uma engasgada, independente de ter fé ou acreditar em algo. E essa simbologia que souberam dosar tão bem é o ponto chave para que a trama funcionasse dentro de um ritmo gostoso, e principalmente não recaísse sobre qualquer religião, no caso aqui o garotinho vai conversar com um padre, e nos diálogos do padre com o japonês sempre tratam Deus como um amigo imaginário, o que pode até ser considerado ofensivo por alguns, mas poderia ser qualquer outro cunho religioso que o filme manteria a mesma essência interessante de envolver pela alta crença imaginária que existe na mente de cada criança, e que qualquer adulto que abrir sua mente para ir fundo na mesma simbologia vai acabar conectado com a trama.

Sobre as atuações, um fato curioso e bem interessante é que Jakob Salvati foi apenas acompanhar seu irmão nos testes para o protagonista, não pretendendo fazer o teste, e acabou sendo convidado para tentar a chance, e o resultado quem for conferir o longa vai ver que seu Pepper/Little Boy é incrível, cheio de doçura e completamente carismático, trabalhando expressões com naturalidade e incorporando cada cena com uma delicadeza única de se comover com ele, ou seja, um jovem talento que já apareceu bastante em séries e agora certamente vai decolar no cinema, por méritos próprios. Emily Watson entrega para sua Emma, uma personalidade materna forte e bem colocada, fazendo as expressões exatas que cada momento exigia, e por mais incrível que pareça segura a trama sem exagerar na dramaticidade, o que é algo que vale a pena ser notado, claro que não é à toa que já teve diversas indicações à prêmios, pois sempre consegue emocionar, e aqui além de ser forte nos momentos devidos, comoveu quando a sensação real bateu à sua porta. Passei uma boa parte do filme pensando em que filme já havia visto David Henrie atuar, e agora conferindo sua ficha não localizei nada que possa ter me marcado, mas como seu semblante é bem tradicional talvez tenha confundido ele com outro ator, principalmente pelo jeito seco que deu para seu London, tudo bem que todo jovem americano nos anos 40 desejava ir para a guerra, e sentia imensa revolta dos japoneses, mas seu semblante em diversos momentos parecia de alguém perturbado e não simplesmente alguém bravo, ou seja, acabou exagerando um pouco nas expressões, e talvez agradaria mais com sutilezas, como a que fez na penúltima cena. Cary-Hiroyuki Tagawa fez um trabalho incrível com a perspicácia que entregou para seu Hashimoto, de modo que não tem como acabar envolvido com o personagem e seus trejeitos bem feitos, certamente a química dele com o garotinho é algo que empolga a cada nova cena bem feita. Tom Wilkinson aparece em poucas cenas como o padre Oliver, mas mostrou ótimos ensinamentos e envolveu bem nas cenas mais pontuais do filme, então foi um grato encaixe de peso na trama para segurar a dinâmica do jovenzinho. Michael Rapaport prefere estar mais dentro da TV que no cinema, e isso se nota não apenas pela quantidade de filmes que faz, mas pelo jeito de atuar também, pois suas cenas sempre sendo mais curtas mostram que ele não segura o tempo mais alongado que um diálogo trabalhado necessita, suas cenas de guerra foram bem feitas, mas poderia chamar mais atenção para seu James. E para fechar os grandes nomes do longa, temos de falar de Kevin James que entregou um Dr. Fox bem canastrão disposto a arrumar uma nova mulher, e claro que com isso mostrou olhares saltados e trejeitos diríamos sedutores, o que ficou bem esquisito para seu estilo de atuação.

Sobre a questão artística, embora seja um filme com um orçamento baixo (estimado em torno de 20 milhões de dólares) para um drama que possui cenas de guerra e uma certa dose de efeitos especiais, a equipe de arte trabalhou bem colocando as cenas cruciais de modo correto, pois não temos uma guerra mostrada em peso, mas quando aparecem as cenas o enquadramento fica mais fechado e simbolizam bem o momento com muitas armas, um cenário mais escuro, com plantas e trincheiras de sacos de estopa como deveria aparecer realmente, mas a grande sabedoria ficou por conta dos elementos na cidade de época, com figurinos característicos para as crianças e jovens, as brincadeiras de rua, a casa do japonês bem repleta de elementos cênicos para chamar atenção e claro a beleza da ingenuidade de um show de mágica dentro de um cinema de rua, ou seja, clássico completo de uma sessão da tarde bem feita. Não posso afirmar com certeza o grande uso da luz natural na maior parte do longa, pois nas cenas próximas ao mar, o sol ficou numa textura tão bonita de se ver que aparenta ser digital, mas ainda assim lindo demais de ver, e se a equipe conseguiu fazer isso naturalmente então é algo de tirar o chapéu, e além dessa cena, diversas outras trabalharam com bons ângulos sempre valorizando o preenchimento cênico com sombras bem trabalhadas, outra cena que vale destacar pela ambientação criada é a da invasão à casa do japonês, pois somente com uma luz de contra e a fumaça soltada após fumar, a densidade acabou tomando uma forma incrível de ver. O maior defeito da trama podemos dizer que fica a cargo dos efeitos especiais, pois a chacoalhada de tela na tentativa de movimentação da montanha, e alguns momentos da guerra, ficaram levemente falsos, e isso se olhado com um olhar mais crítico acaba incomodando, então poderiam ter feito de forma mais simbólica que ainda funcionaria e seria talvez melhor, mas de um modo geral o resultado não atrapalhou em nada o contexto do longa.

Enfim, não é algo 100% perfeito, mas é um filme que com toda certeza recomendo para todos tanto pela linda mensagem que passa, quanto pelo ótimo trabalho completo da produção. Claro que vai ter muitos que não acreditam nessa simbologia e acabaram reclamando de diversos pontos, mas posso afirmar que é difícil encontrar erros em um longa simples e bem feito que nos foi entregue. Sendo assim, vá até um Cinépolis, afinal o longa é exclusividade deles no Brasil e se deixe emocionar pelo contexto completo do filme, e depois venha comentar o que achou aqui. Fico por aqui hoje, irei dar uma pequena pausa para respirar após duas semanas seguidas dentro dos cinemas, mas volto na segunda com o post do último filme que estreou por aqui nessa semana, então abraços e até breve.

Leia Mais

A Série Divergente:Convergente (The Divergent Series: Allegiant)

3/11/2016 01:05:00 AM |

Se vai ter um longa que as opiniões serão bem divergentes ("quase uma piada pronta com o nome da série") vai ser o terceiro filme da série "Divergente", denominado "Convergente". Primeiro por ser mais uma adaptação de um único livro dividido em dois filmes("Convergente" e "Ascendente"), e segundo e mais forte, por ser focado completamente em determinado público mais jovem, fazer com que quem não goste de longas com temáticas do estilo vá ao cinema somente para criticar qualquer vírgula que saia do lugar. Digo isso, pois mesmo o filme repetindo diversos pontos que os outros já focaram, a trama consegue envolver, divertir e até mostrar diversos outros assuntos que estão em pauta no momento (como justiça pelas próprias mãos, rebeliões contrárias ao movimento comum, e até mesmo alienação por meio forçado), mas claro que pela ótica mais juvenil, e isso incomoda e muito diversos pensadores que acreditam que só pessoas de longa idade podem refletir alguns assuntos. Então, quem for preparado sabendo que a história não se encerra nesse longa, e também gostar de tramas joviais com muita ação, certamente vai sair satisfeito da sala, mas se for esperando algo "cult" (o que o longa não passa nem perto e nunca quis atingir) certamente vai sair reclamando de tudo que verá na sessão. Portanto, compre um bom combo de pipoca e curta, pois vai valer a pena, e infelizmente vamos ter de esperar mais 14 meses para ver a conclusão do que fizeram com o restinho de livro que deixaram (e pelo o que andam falando ficou bem pouco).

O longa nos mostra que a sociedade baseada em facções, na qual Tris Pior acreditou um dia, desmoronou, destruída pela violência e por disputas de poder. E após a mensagem de Edith Prior ser revelada, Tris, Quatro, Caleb, Peter, Christina e Tori deixam Chicago para descobrir o que há além da cerca. Ao chegarem lá, eles descobrem a existência de uma nova sociedade, e Tris terá de lidar com novos desafios, aonde se vê mais uma vez forçada a fazer escolhas que exigem coragem, fidelidade, sacrifício e amor.

Antes de mais nada, volto a frisar para os talifãs que o filme é baseado no último livro da série, ou seja, não vai ter tudo o que vocês leram lá, e principalmente, vão mudar muita coisa, afinal para uma história de um livro virar dois filmes, os roteiristas precisaram ser bem criativos para transformar ambos em algo que não canse o público (e ainda conquiste mais fãs para o próximo filme). Dito isto, posso falar com toda certeza que um dos acertos foi manter a direção de Robert Schwentke, que já havia trabalhado bem em "Insurgente" e não destoaria em nada do que já fez na segunda parte da série (apenas fugiu da direção do último capítulo - o que será bem estranho), e ao trabalhar praticamente os mesmos assuntos, agora com uma pitada diferente, ele deixou claro que a revolução é um ponto que deve ser sempre discutido, e que não importa a forma que seja colocada em um filme, ou na vida, sempre vai trazer adeptos para ambos os lados, aí vai variar do espectador, ou da vontade de um roteirista, decidir qual lado vai vencer. A simbologia da trama é bem sutil, e agrada pela boa dinâmica, mas claro que há inúmeros furos de roteiro que poderiam ser resolvidos com um pouquinho mais de pensamento lógico tanto por parte dos roteiristas, quanto por parte da direção em arrumar (apenas um exemplo simples dando um leve spoiler, quando a nave cai, sem proteção alguma o caboclo consegue atravessar o deserto radioativo inteiro machucado e ficar 10, tá bom!!!), mas preferiram deixar pelo bem da ficção, e isso é algo que incomoda demais várias pessoas, principalmente os críticos, que acabam dando notas baixas pela falta de cuidado.

Sobre as atuações, um fato claro é que Shailene Woodley está desgastada na franquia, pois sua Tris no primeiro filme passava toda a preocupação da escolha, saiu-se bem com as cenas de ação e tudo mais, no segundo longa tentaram jogar ela como um elo forte, mas diferente do que ocorreu com Jennifer Lawrence que foi crescendo em "Jogos Vorazes", ela já não parece mais tão forte como uma líder deveria fazer, de modo que nesse terceiro filme, por bem pouco, ela acabou raspando de ficar tão insossa nas idas e vindas até o topo do prédio para conversar com David, que até Tori acabaria sendo mais importante no filme, mas voltou ao final para os bons momentos, e agora é esperar o que ela vai fazer no próximo, pois já disse isso várias vezes em outros filmes que ela atuou, e volto a dizer que expressão é algo que ela sabe fazer bem, mas precisa estar empolgada com o personagem, e dessa vez, certamente ela não empolgou com o que fez. Há boatos de que como sobrou pouca história do livro "Convergente" para o próximo filme, o roteiro acabe utilizando alguns trechos do livro "Quatro" que se baseia mais na história do personagem de Theo James, e vendo o quanto ele foi mais importante nesse terceiro filme, se duvidar até com mais tempo de tela que a protagonista, não duvido que isso seja uma verdade absoluta (mas só saberemos no ano que vem mesmo), mas independente dele ser o protagonista forte no próximo longa, aqui ele soube fazer o trivial dos demais filmes: ser o olhar para as mulheres que forem assistir ao filme, correr, pular, atirar para criar ação, e em momentos mais dramáticos fazer drama de forma expressiva, então o resultado foi positivo para o seu lado. Agora produtores de Hollywood, deem um papel de bom moço comovente logo para Miles Teller, pois o jovem já está virando um daqueles atores que o público pega ódio e vai torcer para morrer na primeira bala perdida de um filme, e se nos dois primeiros filmes o público já estava nervoso com seu Peter, aqui ele conseguiu atingir o ápice da vilania com bons diálogos e principalmente com boas expressões que vilões devem ter. Ansel Elgort até tentou trabalhar bem em algumas cenas de seu Caleb, mas o personagem não é daqueles que chamam tanta atenção, e somente em duas grandes cenas foi necessário trabalhar, e ele fez bem, pois é um bom ator, mas ainda não foi dessa vez que ele mostrou que iria agradar tanto quando fez "A Culpa é das Estrelas". Dos personagens novos, o destaque claro é em cima de Jeff Daniels, que até incorporou uma postura interessante para seu David, com diálogos bem focados e tudo mais, mas entregou tão fácil seu posto de vilão para Peter, que acredito que eliminaram coisas suas demais do livro no filme, e isso soou estranho. O ator sueco Bill Skarsgård fez caretas demais com seu Matthew, e isso não é algo positivo de se ver, de modo que poderia trabalhar mais a expressão nas diversas cenas em que aparece, mas sempre aparentava estar com dor de barriga. Gostaria de ter visto mais cenas de Octavia Spencer, afinal ela é uma grande atriz e sua Johanna está sendo jogada de lado desde o filme passado, e mesmo estando num confronto grande aqui, deixaram ela de lado novamente, preferindo uma Naomi Watts razoavelmente perdida com sua Evelyn.

Outro detalhe que merecia ser melhorado, aqui tivemos mais cenários computadorizados do que nos demais filmes da franquia, e poderiam ter pecado menos nas composições estranhas, pois cada cena digital acabava introduzindo tantos elementos cênicos que maquiados junto do cromakey ficaram absurdos e até destoando dos elementos reais, e isso não é bom de se ver. Claro que vão falar, mas como passar o conceito futurista da trama sem ser digital? Não reclamo de fazerem um filme inteiramente digital, mas estamos falando de algo que tem um orçamento monstruoso, afinal é uma franquia de sucesso, e poderiam ter caprichado mais nos detalhes, não apenas ter elaborado cenários estranhos e impregnando cores diferentes como acabaram fazendo. E desse modo, a trama até cria bons momentos dentro da cenografia criada, mas merecia algo melhor que envolvesse mais o público, e não fosse apenas símbolos jogados em cada área do filme. Tudo bem que já vimos os lugares diferentes de Chicago, a destruição da cidade por parte da guerra, e queríamos algo a mais do deserto radioativo, da organização isolada que até possui um visual interessante, e principalmente da cidade que possui um visual incrível de cima, mas que é mostrado apenas uma sala fechada, ou seja, economizaram demais nos recursos. A fotografia até trabalhou com angulações bem abertas para tentar mostrar algo a mais, mas sempre ficou amarrada no conceito digital e isso não engloba nem metade do que o filme anterior ousou.

Enfim, saí da sessão falando que achava melhor que o segundo filme, mas ao escrever acabei achando tantos defeitos que a nota vai ser inferior à que dei para o segundo longa!!! Ou seja, ainda acho que esse novo filme trabalhou melhor as situações, mas explorou pouco ao gastar "menos" nos recursos visuais e na capacidade dos atores para chegar a um ápice maior para o próximo filme. Claro que vai existir muitos fãs reclamando, afinal sempre que mexem com livros há aqueles que queriam tudo fielmente exposto na tela, e aqui não foi o caso, e também vamos ter aqueles que vão reclamar de ser uma história apenas para jovens e que o filme roubou salas de longas artísticos e tudo mais, mas como gosto de grandes produções, achei o resultado empolgante e me agradou bastante, então recomendo ele para todos. Fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais posts sobre os outros dois longas que apareceram pelo interior, então abraços e até mais.

Leia Mais

A Ovelha Negra (Rams) (Hrútar)

3/08/2016 01:03:00 AM |

Não me lembro de ter visto nenhum outro filme da Islândia até hoje! Aliás, vou dar uma olhada no mapa que nem sei direito aonde fica a Islândia, e mesmo parecendo um lugar bonito pelas montanhas no filme, me pareceu ser um lugar chato demais de se viver, só ovelhas, pastores de ovelhas, e reuniões para ver qual a ovelha com mais massa muscular para ser premiada!!! No longa "A Ovelha Negra", a premissa da trama é bem interessante, afinal diversas brigas de família acabam indo até limites inimagináveis, e ainda mais num lugar ermo, aonde a competição entre as ovelhas é o único passatempo anual entre os moradores. Mas ver que rumos tomaria a decisão de fazer algo errado, e até onde a loucura de dois senhores chegaria é algo que instiga o público e faz junto com os diversos conceitos de moralidade, chegarmos à diversas conclusões possíveis para a trama. Porém como estamos falando de um longa artístico feito para não ser tão comercial, infelizmente os diretores desse estilo preferem abandonar o fechamento com aberturas para que o público tire sua própria conclusão, ao invés de dar a deles, e isso certamente incomodou todos na sessão e incomodará à todos que forem assistir.

O longa nos mostra que na Islândia, a população de ovelhas é maior que a de seres humanos. Os animais têm grande importância no país, em boa parte composto por grandes fazendas destinadas a criá-los. Um dia, após ser derrotado no concurso anual do melhor cordeiro, o fazendeiro Gummi decide investigar o animal vencedor e logo desconfia que ele tenha scrapie, uma doença contagiosa entre os animais. Quando a ameaça se confirma, todas as fazendas das redondezas são obrigadas a matar suas ovelhas, o que para muitos é considerado uma verdadeira tragédia. Só que, decidido a proteger seus animais prediletos, Gummi elabora um plano para que eles escapem da matança.

Sem conhecer muito da cultura local, o filme pode até parecer um pouco bobo com o começo apresentado, mas logo que entra a ideologia crítica da briga familiar, o filme começa a tomar proporções tão impactantes, que vemos todo o trabalho do roteiro que o diretor Grímur Hákonarson teve para desenvolver cada momento da trama, e principalmente sem precisar ficar explicando cada detalhe, afinal como vemos logo de cara, os personagens não são muito de ficar dialogando. E com o mote sempre colocando o enfrentamento moral de estar fazendo certo ou errado, que pode ser vista pelo menos cinco vezes, o diretor cria perspectivas com rumos cada vez mais indecifráveis para aonde ele quer chegar, ou como ele vai finalizar sua trama, o que acaba empolgando o público com tudo, mas aí entra a tradição de filmes artísticos e que esse Coelho que vos digita havia esquecido, e ele fecha seu filme com uma cena completamente aberta para que você querido leitor que irá conferir o filme, tire suas próprias conclusões e fique feliz ou triste com seu próprio final!!! Confesso que isso quebra qualquer um, e poderia reclamar de diversas maneiras, mas vou preferir hoje deixar minha opinião sobre o final, depois deixem as suas, pois com certeza serão várias (pode até ser um quase spoiler, mas garanto que isso não é mostrado no filme, então pra mim, os irmãos se conciliaram no seu momento de quase morte, e ponto).

Sobre a atuação, os dois atores principais do filme poderiam facilmente fazer qualquer filme natalino, pois lembram muito o tradicional Papai Noel (não era da Islândia que vinha o Noel? Ou é muita coincidência?)... e com expressões bem fechadas, a rixa fica bem trabalhada com seus semblantes e acabamos se conectando com cada um, principalmente claro com Gummi, que é interpretado por Sigurour Sigurjónsson, afinal a trama fica bem mais focada nele, e assim sendo seu estilo nos leva a torcer de certo modo para que consiga fazer seus planos (mesmo que alguns maquiavélicos)... o destaque fica para seus momentos chamando o cachorro do irmão, e seu semblante triste em meio às ovelhas caídas. E quanto a Kiddi, que é interpretado por Theodór Júlíusson, seu jeito arrogante também consegue chamar atenção, e seu momento de maior feitio, tirando a cena final é a da espingarda que ficou muito bem colocada na trama. Os demais posso até estar enganado, mas são aqueles amigos da equipe que apareceram para dar uma forcinha no longa, pois vai fazer caras sem sal lá na Islândia, em um filme maior nem para figuração serviriam.

O contexto cênico da trama é bem simples, assim como o filme todo, e o maior acerto foi arrumar um lugar bem isolado (volto a afirmar que não sei se toda Islândia é assim, somente composta em maioria de campos de pastagem), com duas casinhas, alguns tratores grandes e pequenos, muitas ovelhas, bastante lã para as cenas mais tensas, e um bom marceneiro para construir e destruir os currais das ovelhas (que descobri se chamar aprisco, mas se colocasse isso no texto quase ninguém saberia o que é) após a doença, ou seja, nem precisaram ser muito minimalistas com o trabalho do filme, pois já era um longa simples e se enfeitassem demais, acabariam saindo do contexto geral. A fotografia é um caso a parte, afinal já disse diversas vezes que adoro o branco da neve nos filmes, e aqui temos branco até demais, mas souberam enquadrar de forma que a iluminação não ficou ofuscante, e assim sendo, os ângulos foram trabalhados no melhor estilo para que agradasse visualmente.

Enfim, é um filme bem interessante que vale muito a pena ser visto, claro se você não for daqueles revoltados que exigem um final para tudo (eu me incluo nesses, mas como nesse filme até consegui tirar vários, só reclamei por não saber a opinião do diretor/roteirista), pois a ideia moral é jogada de uma maneira tão legal de acompanhar, que mesmo esse detalhe acaba ficando em segundo plano frente à tudo o que é mostrado. Portanto recomendo sim, esse filme da Islândia, que foi o vencedor de uma das mostras de Cannes (e só por isso já merece muita atenção) e vamos torcer para que apareçam mais filmes de lá, para que não seja o único que vou falar quando me perguntarem se quais filmes conheço do país algum dia. Bem é isso pessoal, encerro aqui essa semana bem agitada, mas a próxima vai ser mais curtinha infelizmente, afinal vem blockbuster roubador de salas, então o jeito vai ser se contentar com pouco. Fiquem com meus abraços e até breve com mais posts.

Leia Mais

Apaixonados - O Filme

3/07/2016 01:37:00 AM |

Nunca imaginei que um dia gostaria de ver algo que parecesse tanto com um capítulo de novela no cinema. Digo isso pois sempre reclamei de longas novelescos, mas isso ocorre mais quando um filme tenta não parecer uma novela, mas quando já vem com essa proposta e agrada bem, certamente dá para acompanhar e agradar com o resultado. E "Apaixonados - O Filme" logo pelo pôster é possível ver que o que nos entregariam seria esquetes soltas mas que seriam interligadas pela mesma proposta: o amor no Carnaval. E felizmente nada do que é apresentado acontece de forma forçada, mas claro que de certa maneira tudo é bem improvável de ocorrer num dia-a-dia comum, mas ainda assim, como a proposta do longa é mostrar amores carnavalescos improváveis, o resultado agrada bastante quem for disposto, e principalmente, gostar do estilo.

O longa nos mostra que três casais se encontram e se unem em pleno Carnaval, tentando ficar juntos em meio a diversos conflitos que surgem tendo a maior festa do Brasil como cenário - e muitas vezes como causa. Cássia é a porta-bandeira de uma escola de samba e além de se dividir entre as responsabilidades carnavalescas e a preocupação com o pai, que está internado, ela se envolve com o médico Léo. Outro casal improvável se forma com Soraia, uma cabeleireira da comunidade, e Hugo, jovem abastado que é controlado pelo pai. O terceiro casal é formado pelo americano Scott, que odeia samba e não consegue deixar o Rio de Janeiro, com a vendedora Uitinei, que faz de tudo para conquistá-lo.

Se nos dois longas anteriores de Paulo Fontenelle, eu reclamei que ele apenas nos apresentava os personagens e não desenvolvia bem a história, pela primeira vez posso dizer que aqui aconteceu exatamente o inverso (e não de uma forma ruim), pois não somos apresentados praticamente a nada de cada personagem, eles apenas surgem na história através de acontecimentos, e o desenrolar é o romance e todo o andamento da história, e isso funciona bem, pois não somos obrigados à saber de como foi a vida da porta-bandeira até o momento que seu pai é internado, não precisamos saber o motivo da cabeleira em não querer desfilar (embora seja contado rapidamente por uma pessoa), e não precisamos também saber de onde surgiu a vendedora de latinhas no bloco, muito menos os lados opostos de como o médico resolveu querer buscar seu amor após brigar com sua namorada (e se o romance já estava desgastado), se o gringo que veio trabalhar e ficou preso no meio da loucura que é o Carnaval, e mesmo não gostando de samba resolve viver um dia diferente, e até mesmo se um playboy mimado vai resolver viver sua vida após encontrar o amor em uma moça de periferia, como disse não precisamos saber de nenhum antecedente para viver aquele dia com aquelas pessoas, pois se precisássemos, aí sim teríamos de ter uma novela completa, mas a proposta do diretor e roteirista não é essa de fazer uma novela, mas sim, isso o que acabei de dizer: termos o momento carnavalesco e o romance que dali poderia ocorrer. E sendo assim, o filme agrada e muito com boas músicas encaixando bem com os momentos, e atores empenhados em viver cada cena, agradando na medida do possível para que assim como ocorre num desfile de Carnaval, o ensaio completo ocorra e os jurados vejam que tudo o que foi feito no ano inteiro valeu a pena para dar boas notas. Além disso, o diretor soube captar bem cada momento com ângulos próximos sem precisar exagerar na cenografia, principalmente para manter o desfile da Grande Rio normal, sem que o enredo do desfile precisasse encaixar com sua trama, ou seja, união de duas artes nacionais sem quebrar nenhum dos lados.

Falar da atuação aqui é algo que até poderia ser complexo, pois como disse, ao meu ver, tudo que ocorre na trama é algo completamente impossível de acontecer, mas dizem as más línguas que em muitos carnavais surgem amores eternos, e nos créditos até nos é mostrado um desses casos, portanto vou aceitar como um padrão e vou falar um pouco de cada um dos protagonistas. Nanda Costa é uma das atrizes que mais tem se destacado nas novelas, séries e ultimamente tem trabalhado bem no cinema também, virando uma artista mais completa, e sua Cássia embora faça dramalhão demais sobre desfilar ou não, com direito a cara triste e tudo pelo pai estar doente, se mostra bem dinâmica nas cenas que precisou mostrar mais expressão, e isso mostra que pode encaixar bem em papéis mais trabalhados, o que não é o caso aqui, mas de modo geral, saiu bem com o que fez. Raphael Viana entregou personalidade para o médico Léo, trabalhando um semblante apaixonado bem interessante na busca pela amada, claro que seria melhor que suas cenas ficassem fora do hospital, pois ali foram as atuações mais bobas que um médico faria (além claro da falha máxima dos aparelhos estarem completamente soltos do peito do paciente), mas sempre no carro ou até mesmo no desfile, e no elevador, seu ar expressivo já dizia tudo. Roberta Rodrigues é uma das atrizes mais versáteis da TV e do cinema atualmente, e tem agradado bem por mostrar seu estilo sempre nos papeis que pega, aqui sua Soraia possui um gênio forte e determinado do que quer, mas se molda bem e com a expressividade da atriz, o resultado acaba sendo agradável de ver. O par de Roberta, João Baldesserini até possui bons momentos, mas ficou afoito demais na maioria das cenas, parecendo sempre querer acabar rapidamente cada ato, e isso não é bacana de ver em uma comédia romântica, portanto embora seu resultado seja correto, o ator poderia ter ido com mais calma, e nas cenas com o pai, tudo aparentou artificial demais. No lado mais bagunçado do filme temos Danilo de Moura tentando enganar o público como o engenheiro americano Scott, com um sotaque estranho que para fechar com chave de ouro poderia ao final dizer que nunca foi americano e estava somente usando o personagem para pegar mulheres no Carnaval, mas infelizmente não trabalharam isso, deixando apenas a afirmação dele ser americano o longa inteiro. E Evelyn Castro entregou para sua Uitinei o jeitão popular que tanto agrada o público em novelas, de modo que se o filme fosse uma novela, sua personagem começaria como quase uma figurante, mas o público iria adorar tanto sua expressividade que ao final a trama estaria completamente voltada para sua personagem com algo bem importante para acontecer, ou seja, a atriz saiu tão bem que ganhou o público. Os demais apenas serviram de encaixes e não chegam a incomodar ninguém, nem aparecer demais para envolver, com um pequeno destaque para Paloma Bernardi que sendo uma rainha de bateria que pisa nas costureiras da comunidade, acabou mostrando algo que acontece muito nos bastidores do Carnaval.

Sobre o conceito cênico, como disse o diretor foi bem esperto em entrar no meio de um Carnaval acontecendo, claro que isso certamente deixou as filmagens bem agitadas para encaixar tudo, então rolando festa de bloco, lá estava a produção gravando, desfile ocorrendo, lá vai a equipe novamente, fechamento de carros no barracão da escola na cidade do samba, também partiu gravações, e com isso a equipe artística teve "pouco" trabalho para criar elementos cênicos próprios, mas somente encaixando detalhes aonde não haveria muito o que mostrar, só tendo a maior falha nas cenas do hospital como já disse acima, de eletrodos soltos que soaram extremamente falsos, mas no restante tudo acabou bem feito e funcional. A fotografia certamente foi a que teve maior trabalho com esses encaixes dentro de tudo o que estava ocorrendo fora do filme, pois encaixar iluminação aonde tudo já está bem iluminado, ou numa festa de bloco e depois na junção de tudo tentar colorir igualmente, o trabalho da equipe foi suado, mas agradou, afinal os ângulos escolhidos ajudaram bastante.

Um ponto bem interessante que não costuma ocorrer em longas nacionais, foi o trabalho da equipe musical, pois ao escolher diversas músicas para cada situação, acabaram criando uma trilha completa com músicas novas e regravações por meio de grandes artistas de nossa música, então será possível ouvir Daniela Mercury, Thiaguinho, Anitta, entre outros, cada um dando ritmo para o filme e música própria para cada personagem, o que é mais comum de ver em novelas e longas estrangeiros.

Enfim, fui pronto para tacar diversas pedras no longa, afinal já tinha o histórico do diretor, a chance de ser uma novelona que não faz meu estilo, mas acabei envolvido com a produção e gostando bastante do resultado, de modo que posso com certeza recomendar ele para quem gosta do estilo, e até mesmo para aqueles que não estão tão acostumados com novela, mas queiram ver boas esquetes românticas num longa nacional. Claro que não é um longa perfeito, mas dentro da proposta o resultado foi bem trabalhado e agradável de ver. Fico por aqui agora, mas nessa segunda confiro a última estreia que veio para o interior nesse final de semana agitado, que o que era previsto surpreender acabou sendo mediano e o que era previsto ser ruim acabou agradando, então abraços e até breve pessoal.

Leia Mais

Cinquenta Tons de Preto (Fifty Shades of Black)

3/06/2016 07:45:00 PM |

O estilo de paródias sempre funcionou no cinema, e por mais incrível que pareça, as equipes conseguem reproduzir o estilo do filme original em detalhes, gastando bem menos e com isso acabam lucrando bastante com o público que vai rir das sátiras feitas. Marlon Wayans já pode considerar quase que o rei do estilo, pois se surge um novo blockbuster que dá para ser zoado, lá está ele pronto para azucrinar a vida dos produtores do longa original. Em "50 Tons de Preto", o ator e roteirista brinca não só com o longa erótico como azucrina a vida de outros filmes e cantores, e claro que quem entende as referências acaba se divertindo bastante, mas não posso defender tanto a trama, afinal ela é daquelas extremamente apelativas que só divertem no momento em que forçam a barra, enquanto nos demais momentos, os quais tentaram criar uma história mais elaborada, o filme acaba ficando morno e sem graça de acompanhar.

O longa nos mostra que Christian Black é um empresário milionário, que recebe a estudante Hannah em seu escritório. Insegura e simplória, ela foi no lugar da amiga Kateesha para fazer uma entrevista para o jornal da faculdade. Não demora muito para que eles flertem entre si, apesar das trapalhadas cometidas por Hannah. Black passa então a rondá-la, disposto a atraí-la ao mundo secreto e cheio de brinquedinhos que armazena em seu luxuoso apartamento.

Embora possa parecer maluquice, esse é um dos estilos que não reclamo de não ter uma história desenvolvida no roteiro, afinal é feito apenas para esculhambar os demais filmes, e não para criar alguma coisa mais presente. E por incrível que pareça, o erro maior do longa foi tentar criar um conteúdo maior para juntar as histórias, e com isso, ao invés de divertir apenas com piadas sujas, o filme acabou ficando morno demais, não convencendo nem para um lado, nem para o outro, pois nos momentos aonde aparecem as piadas, quem entender as referências aos demais longas vai rir bastante, mas logo em seguida temos um período alongado de história fraca, para só mais na frente voltarmos com alguma nova piada boa. E assim, o contexto da trama ficou oscilante demais para ser considerado como um bom filme e falhou demais ao colocar poucas piadas para que fosse considerado uma boa paródia, e assim sendo Rick Alvarez precisa sentar melhor com Wayans para decidirem que rumos querem atingir, afinal segundo o próprio Wayans já começaram a escrever a continuação do clássico do humor dos anos 2000, "As Branquelas", e se estragarem esse aí sim a coisa vai ficar preta pro lado deles. Quanto à direção de Michael Trades, ele não é nenhum inexperiente em paródias e deveria ter trabalhado melhor o estilo no filme, mas deve estar querendo filmar algo mais clássico, e gostou da história ter um viés linear também, aí foi onde caiu forçado e errou feio, mas sem dúvida alguma, se separarmos do besteirol que é a história somente as esquetes, aí sim podemos dizer que seu trabalho foi preciso e bem feito.

Marlon Wayans é um ator expressivo, e consegue fazer diversos tipos de caretas, micagens e afins, trabalhando sempre com bastante desenvoltura os seus personagens, e aqui não foi diferente, pois estava disposto à mostrar que seu Black é bem melhor que o modelo Gray, sendo assim malhou para estar com o corpo em dia, e fez até poses "sedutoras" para convencer as mulheres fãs do original, mas seu momento mais engraçado, que já está inclusive no trailer, sem dúvida alguma é a tortura máxima de ler o livro original para sua namorada amarrada. Kali Hawk também tentou ser melhor que Dakota Johnson, mas ficou tão insossa quanto, e por não ser humorista como os demais, ainda não conseguiu ter nenhum momento para destacar, ou seja, ficou bem perdida no meio de saber se atuaria ou brincaria com a personagem. Um dos destaques humorísticos da trama com toda certeza ficou a cargo de Affion Crockett com seu Eli ou melhor Weekday (parodiando o cantor Weeknd com seu cabelo irreverente), claro que pra isso abusou também de mostrar sexologias forçadas, mas me diga uma paródia que não tivesse isso, então o acerto foi bem feito. Jenny Zigrino tentou ser a gordinha chamativa por sexo que certamente seria feita por outra atriz famosa, afinal é seu estilo, mas a atriz até que fez bem as expressões forçadas de sua Kateesha, e nas suas cenas conseguiu chamar mais atenção que a protagonista.

Sobre o conceito visual da trama, a equipe de arte trabalhou bem nos elementos dos cenários para que cada filme mostrado ficasse bem representado, e principalmente, o público conseguisse distinguir facilmente. Claro que muitos filmes passarão despercebidos de todos, mas a equipe colocou elementos fáceis de serem conectados por todos, usando até o recurso de etiquetar os chicotes usados por diferentes filmes de escravos. Não diria que foi o mais original nesse quesito de paródias, mas souberam trabalhar bem ao retratar o filme principal com clareza e verossimilhança. A fotografia foi feita do modo mais tradicional possível, sem muitas firulas colocou a câmera de modo estático e os atores fazendo as mesmas cenas do original, sem muito envolvimento, claro que dando um ou mais closes nos elementos sujos para que o filme cadenciasse como queriam.

Enfim, não é a melhor paródia que já fizeram, porém num contexto geral diverte, mas volto a frisar que precisam decidir se vão fazer uma paródia ou vão querer criar uma história maior com roteiro, toda bonitinha, pois senão o risco de uma próxima paródia ficar ruim de história e também sem piadas vai acabar frustrando o público que gosta do gênero. Então se você gosta de ligar referências com diversos filmes e não liga de ver alguns pênis passeando pela tela, pode ir ao cinema que irá rir com certeza em diversos momentos do filme, mas não espere algo excelente, pois aí a frustração será grande. Fico por aqui agora, mas volto em breve com mais um post no site, então abraços e até breve.


Leia Mais