Confesso que acreditava que o longa "Golda - A Mulher de Uma Nação" seria um pouco mais da vida da imponente primeira-ministra israelense e não apenas seu último ano no poder, doente e tendo de enfrentar uma guerra surpresa em pleno dia santo no país, mas ainda assim vemos toda a imponência dessa mulher que deixou muitos líderes espantados com sua força, vemos todo o sofrimento físico e emocional que viveu nesses quase 30 dias de guerra, e principalmente vemos uma tremenda atriz se entregando ao máximo para que sua personagem brilhasse na tela, de tal forma que deram um ar mais emotivo para ela, mas ainda assim suas atitudes e desenvolturas acabam chamando atenção do começo ao fim, os sons das bombas ecoando e todo o envolvimento cênico sendo marcante e muito mais, de tal maneira que diria que a trama passa longe da perfeição por focar apenas em um período, porém foi nesse período que ela realmente apareceu mesmo para o mundo, e assim sendo o filme funciona demais.
A sinopse nos conta que primeira-ministra israelense Golda Meir, também conhecida como a "Dama de Ferro de Israel", deve tomar decisões extremamente importantes e é responsável pela segurança de seu país em 1973, quando Egito, Síria e Jordânia lançam um ataque surpresa contra Israel em seu dia santo. Durante a Guerra do Yom Kippur, as vidas de muitas pessoas são de sua responsabilidade e ela deve prevalecer contra os membros do gabinete exclusivamente masculinos que são hostis a ela.
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O diretor Guy Nattiv ganhou muitos olhares dos produtores após ganhar o Oscar de Melhor Curta-Metragem em 2018, e assim foi escolhido para esse projeto bem amplo da História, afinal muitos países na época de Meir não considerava Israel como um país, e somente com muitos conflitos entre defesas e ataques, aliados e inimigos, conseguiram ser chamados como desejavam, e diria que o jovem diretor usou bem o roteiro de Nicholas Martin para desenvolver um lado ainda bem rígido da personagem, mas como já estava tratando seu câncer, sofrendo da velhice e tudo mais, acabou no meio de um conflito tão marcante dos vários ministros de segurança e guerra, que mesmo não se impondo tanto ainda foi longe. Ou seja, o diretor soube aproveitar bem a época em que o filme se passa para mostrar toda a argumentação de guerra, os bastidores de um conflito aonde os líderes ficam bem escondidos negociando as coisas enquanto os peões se matam, e ele soube conduzir a emoção da protagonista para um estilo bem trabalhado, o que acaba chamando muita atenção.
Sobre as atuações, ainda estou me perguntando se teve mais alguém que conseguiu ter algum destaque e aparecer na tela sem ser Helen Mirren, pois a atriz que passou mais de três horas e meia se maquiando cada dia de gravação para entregar uma Golda perfeita, pegou o papel com toda a imponência que ela sabe fazer bem, desenvolveu olhares, trejeitos, gestuais e tudo mais que pudesse para que em momento algum tirássemos os olhos dela, e mais do que isso entre milhões de cigarros e discussões presenciais ou via telefone, marcou cada ato seu com algo incrível de ver, que certamente será mais um grande nome no seu currículo. Quanto aos demais, vale claro colocar Camille Cotin bem direcionada como a auxiliar pessoal de Golda, Lou Kaddar, que auxiliou demais a personagem nos atos difíceis de lidar da doença, e a atriz foi bem doce em seus atos; Rami Heuberger com seu Moshe Dayan, ministro da defesa de Israel, desesperado após ver o conflito de perto; Lior Ashkenazi bem empostado com seu David 'Dado' Elazar, chefe de Estado que arquitetou bons momentos da guerra; e claro Liev Schreiber como Henry Kissinger, chefe de Estado americano que arquitetou o cessar-fogo da guerra conversando e tendo muita intimidade com Golda. Esses foram os que mais apareceram, mas sem dúvida vale citar ainda a emoção de Ellie Piercy como uma datilógrafa das reuniões que tem o filho no meio da guerra desaparecido e é comunicada pela própria primeira-ministra do que ocorreu com ele, numa cena bem forte.
Visualmente a trama tem um bom estilo, ficando bem mais concentrada em elementos da época, mostra muito da desenvoltura do julgamento de Golda pelo que fez na guerra, mostra meio que subjetivamente o conflito usando mais sons e explosões, sem mostrar realmente tanques, tiros e mortos, e claro muitas reuniões de ministros em vários lugares, seja num centro de guerra, seja na casa da protagonista, aonde vemos muita simplicidade e comida, nos é mostrado o tratamento do câncer da personagem num lugar meio que estranho ao lado de um necrotério que começa vazio e vai enchendo conforme vai rolando a guerra, e os dois principais elementos cênicos: os muitos cigarros que ela mesmo doente fumava, inclusive dentro do hospital e o caderninho de anotações aonde marcou dia a dia a quantidade de mortos. Ou seja, a equipe de arte foi muito direta no que desejava mostrar, e claro junto com a equipe de maquiagem conseguiu deixar a protagonista idêntica a verdadeira Golda, e isso certamente será muito falado nas premiações.
Enfim, é um filme que não é perfeito só pelo motivo de quem não viveu a época e não conhecer tanto a história da protagonista ver apenas seus últimos anos no meio de uma grandiosa guerra, mas ainda assim é algo que envolve bastante e funciona bem dentro do recorte escolhido, valendo a recomendação, e ainda por cima ele fecha com a música "Who By Fire" de Leonard Cohen de uma forma bem bonita incorporando uma oração dos judeus durante a guerra acaba dando ainda mais um bom tom para a trama. E é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.