Alguns filmes conseguem trabalhar tão bem a essência e espalhar mais do que um simples roteiro, de forma que acabamos nos envolvendo nas musicalidades, torcendo para os protagonistas e tudo mais, mesmo sabendo que na maioria das vezes o fechamento vai ser com tudo dando certo. Ou seja, os diretores/roteiristas já fazem toda essa montagem correta para que nosso cérebro caia certinho na ideia e se desenvolva o carisma para cada ato, e dessa forma o longa francês da Netflix, "Let's Dance", consegue agradar bastante, brincando tanto com a desenvoltura seca dos protagonistas, como o descobrimento de novas frentes em suas danças, ao ponto de que um recomeço para alguns sai como mudança para outros, e usando bases de perseverança de grandes filmes, trabalhando com atitude e tudo mais, o resultado acaba sendo gostoso e motivacional de ver, ao ponto que vamos entrando no ritmo, e ao final já torcemos pelas conexões de tudo. Sendo assim, é daqueles filmes que vai agradar alguns tipos de pessoas, geralmente aqueles que gostam mais de dança, mas que também passa boas mensagens no contexto geral, e que vai funcionar para um público maior também.
A sinopse nos conta que a paixão de Joseph pela dança hip-hop o leva a rejeitar um emprego na empresa da família e a se mudar para Paris para tentar a sorte. Com sua namorada Emma e seu melhor amigo Karim, ele se junta a uma equipe formada pelo proeminente disjuntor parisiense Youri para tentar ganhar uma competição internacional de hip-hop. Na preparação para o evento, nada corre como planejado - Joseph é traído por Emma e Youri, e o grupo implode. Tomado por Rémi, um ex-dançarino de balé que se tornou professor, Joseph descobre o mundo da dança clássica e é apresentado à deslumbrante Chloé, que está se preparando para uma audição para o New York City Ballet. Através do encontro, orquestrando uma aliança improvável entre hip-hop e balé, Joseph aprende a desenvolver uma personalidade como dançarino, líder e legitimidade como artista.
Talvez a maior falha do longa tenha sido a falta de uma direção mais imponente, pois é o primeiro filme de Ladislas Chollat, que se baseou na franquia americana "StreetDance 3D", e acabou roteirizando uma trama até que envolvente, que passa uma verdade nos atos, e até cria um molde bem centrado em cima dos jovens que vivem (ou tentam pelo menos) de dança no mundo, buscando se encontrar como artista, como coreógrafos ou até mesmo professores de outros dançarinos, incorporando sonhos, e dando nuances suficientes para que os jovens sigam seus objetivos sem desistir por qualquer coisa. Ou seja, a ideia toda foi muito bem feita, a história foi bem amarrada, mas faltou aqueles momentos de arrepio que alguns diretores sabem fazer bem, aonde o clímax pegaria fundo e levaria a trama até o final perfeito, pois ao final temos sim uma bela dança e uma junção completa de tudo o que desejavam passar, mas fecha com isso, e talvez um pouco antes emocionaria mais. Sendo assim, não digo que foi algo ruim o que ele fez na sua estreia, mas que certamente daria para aprimorar um pouco mais e entregar algo ainda melhor.
Sobre as atuações, fiquei até assustado ao pesquisar e ver que ao menos os protagonistas eram atores mesmo dançando, e não algum grupo de dança formado, pois todos mandaram muito bem nos movimentos e chamaram bastante atenção do começo ao fim, começando com Rayane Bensetti (que por acaso ganhou o Dança dos Famosos da França), e aqui entregou um Joseph bem cheio de olhares, com boas dinâmicas, e criando coreografias bem inusitadas para seu personagem, indo bem tanto na interpretação do personagem com ares introspectivos, momentos de dúvida e tudo mais, quanto na dança. Alexia Giordano também trouxe personalidade para sua Chloé, dançando bastante, trabalhando sentimentos e funcionando com um ar tímido e gracioso, além de entregar muita química com o protagonista. Guillaume de Tonquédec deu o ar mais adulto para a trama com seu Rémi, ousando em atos mais diretos, encontrando trejeitos clássicos de professores, e principalmente incorporando lições para os demais, num correto e bem colocado personagem. Fiorella Campanella até trouxe algumas expressividades para sua Emma, mas sua personagem é daquelas que o público acaba não gostando, então mesmo indo bem no que faz, ficou bem em segundo plano. Agora os demais realmente eram dançarinos, e mesmo assim Mehdi Kerkouche entregou comicidade e sentimento para com seu Karim, mas pelo tanto que dançou já era esperado que não fosse um ator realmente, ou melhor um ator dramático, pois se você já jogou qualquer um desses jogos de dança modernos, ele é quem usaram para criar os movimentos, então brincou bastante e foi bem atuando também.
No quesito visual, montaram bem um estúdio de dança com ambientes comuns do estilo, usaram bem as ruas de Paris para brincar com as danças diversas, e principalmente criaram duas competições incríveis com público e tudo mais, além de ótimos figurinos, ou seja, uma composição que brincou bastante com luzes, com dinâmicas, e até menos com objetos, fluindo desde o balé clássico, passando pela ópera, até chegar no street dance/hip hop, ou seja, tudo muito bem usado para remeter a junção entre o clássico e o moderno, num trabalho simples, porém muito bem feito.
Enfim, é um longa que não faz muito a linha casual que alguns estão acostumados, e que muitos vão acabar até pulando ele nas indicações que a Netflix faz, por ser um longa de dança, mas que passa boas mensagens, e funciona bem dentro do conteúdo como um filme dramático/romântico, e assim sendo recomendo ele para todos, mesmo com as devidas falhas de dinâmica que o diretor teve em alguns atos. E é isso pessoal, eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.