Quando um filme trabalha algo tão atual, com uma pegada jovem, mas ainda consegue seguir de forma crítica bem acentuada, dando sua opinião sobre o assunto e ainda não fazendo com que a trama fique seca demais, temos, com toda certeza ,que tirar o chapéu para o diretor da obra, pois geralmente temas jovens costumam soar bobos e fúteis, sem muita desenvoltura e acabam entregando uma postura quase sempre inerte de opiniões, aonde o diretor não sabe (ou não quer) se expressar sobre o assunto, e o resultado soa bem morno e chato. E se antes não conhecia a filmografia de Aly Muritiba, agora após conferir "Ferrugem", com toda certeza irei atrás de outros trabalhos para ver mais sobre a coerência entregue aqui, desde mostrar o quão simples e viral anda sendo tratado assuntos de bullying nas escolas, como invasões de intimidades, e até mesmo sendo bem forte o trabalho de vivência em cima do sentimento dos pais dos jovens que sofrem e que também que fazem o bullying. Ou seja, é um filme com tantas nuances, que inicialmente até julguei como bobinho a entrega da personagem, a forma de condução, mas que vai num crescente tão grande para discutirmos tantas coisas que vem ocorrendo (como o próprio bullying, a exposição íntima dentro das mídias sociais, a possibilidade/utilidade de se ter uma arma dentro de casa, a forma de defesa exagerada de alguns pais em cima dos filhos ao ponto de esconder um crime, e por aí vai com outros grandes temas) que se quisermos podemos fazer uma mesa redonda imensa só com coisas que o longa trabalhou com sutilezas, e assim, afirmo que pode até não ser o melhor filme nacional do ano (pois ainda não acabou o ano e outros longas até me tocaram mais), mas sem dúvida é o que mais vale a pena se discutir em ótimas sessões comentadas, caso queiram fazer, e com toda certeza por ser um tema que acontece mundialmente, é o filme que mais vale a pena ser nosso concorrente na vaga do Oscar de Filme Estrangeiro.
A trama nos conta que assim como a maioria dos adolescentes, a jovem Tati ama compartilhar sua vida nas redes sociais e registrar todos os momentos. Porém, após perder o inseparável celular, ela se vê vítima da criminosa divulgação de seus registros íntimos no grupo de WhatsApp da turma do colégio, o que gera terríveis consequências.
É engraçado que não vemos com tanto impacto visual e interpretativo o trabalho do diretor e roteirista Aly Muritiba, pois felizmente os atores souberam se entregar e trabalhar cada cena de forma coesa, mas vemos sua mão passando em cada detalhe do longa, cada imagem fechada nas expressões dos personagens, no fundo cênico afastado sempre para termos um espaço para pensar, mas ao mesmo tempo o foco fica na reflexão do que ele deseja nos mostrar com sua opinião para cada ato de ser certo ou errado, não deixando margens para algo aberto como ele entrega em diversos planos cênicos. E com essa brincadeira de aberto para pensar, mas fechado para o que desejo que você pense como eu pensei, o diretor vai apontando os diversos moldes da trama, e nos entrega um filme de cerne, coisa que pouco vemos em dramas nacionais, que ou ficam exageradamente abertos sem opinião alguma, ou jogam algo sem pensamento algum que divaga e não sai para um nada, e aqui de forma alguma vemos isso, o que soa lindo e bem forte. Quando vi o trailer confesso que não esperava acontecer certas cenas, e logo de cara ao ver um parte 1 na tela já pensei em mil possibilidades do longa ficar estragado, mas não era nem necessário dividir ele em parte 1 e parte 2, pois ambas são bem complementares, e funcionaria sem qualquer identificação escrita na tela, ou seja, o filme tem sim diversos problemas para ser discutido, até tem um leve molde novelesco, mas foge de estereótipos e acaba entregando algo maior, que valha a pena sair da sala e discutir com outras pessoas (aliás até fiz uma postagem no meu Facebook pessoal que pode dar até conversa demais com minha opinião sobre um dos assuntos que o longa faz refletir, pois precisava me expressar sobre isso), e assim sendo, o filme funciona como algo a mais do que pensava, e certamente irei recomendá-lo para outras pessoas.
Um dos pequenos defeitos do longa se deve às escolhas feitas para o elenco mais jovem, e não digo que eles tenham sido ruins nas interpretações, mas talvez se colocado outros teríamos expressividades diferenciadas, pois a jovem Tiffanny Dopke nos entrega até uma Tati que vemos direto nas escolas mundo afora, mas ela entregou sua personagem de uma forma tão dúbia de personalidade, que até concordo de estar deprimida pelo ato em si que ocorreu, mas oscilou de trejeitos tão friamente, até antes do acontecimento, que poderiam ter exigido um pouco mais dela para agradar mais. Giovanni de Lorenzi foi mais sutil em sua interpretação, e até colocou um pouco de trabalho com olhares para seu Renet, mas poderia ter tido um ar menos infantil em algumas cenas, afinal estamos falando de um jovem de segundo colegial, e aqui ficou quase para um garoto de sétima ou oitava série, mas suas cenas foram bem envolventes ao menos. Enrique Diaz fez ao mesmo tempo um pai ultra protetor e um professor interessante para a trama, mas demorou demais para suas atitudes terem um efeito mais forte, e quando ocorre vemos que o ator foi muito bem encontrado para o que fez, ou seja, acabou sendo acertado para o final. Clarissa Kiste entra em cena praticamente nas últimas cenas, e trabalhou bem olhares para com o protagonista, de modo que sua Raquel vem quase como um afronte, mas que soou diretamente como a opinião do diretor funcionava para se expressar através de um personagem, e a atriz soube ser impactante e coerente.
O conceito cênico da trama foi bem detalhado, vivenciando praticamente poucas locações, mas com elementos bem colocados para serem representativos, como a casa rica da jovem cheia de coisas teen no quarto, mas claro com uma arma bem escondida, mas que a jovem localiza facilmente, uma escola bem colocada, mas que falha em vistorias de segurança por um deslize banal, mas que pode ocorrer, uma praia quase deserta, mas que funciona bem para momentos reflexivos, claro com muita chuva para termos quebras de pensamentos, uma falha na busca do celular (que muitos não pensam, mas hoje existem aplicativos de busca bem eficientes, e até ligar para o próprio talvez funcionasse na cena inicial), e claro que tudo isso não seria eficiente se o longa não trabalhasse bem a fotografia, sempre puxada no primeiro ato para tons mais vivos e impactantes para mostrar todo o conflito dentro da mente da garota, e no segundo ato todo puxado para tons pasteis para dar o mote reflexivo que tanto desejavam, e claro com um fechamento de atitude, com cores secas, e muitas fotos representativas, ou seja, muitos detalhes técnicos funcionais e bem resolvidos.
Enfim, como falei no começo é um longa que daria para discutir por horas e a cada palavra que digito me vem algo a mais que poderia falar, e sem me alongar e nem entupir o texto de spoilers, recomendo que assistam o filme, reflitam bastante, divulguem bastante pois é algo que merece ser trabalhado em escolas/famílias (e a divulgação do longa está bem fraca), e vamos ficar na torcida, pois o filme já tem ganhado muitos prêmios por onde tem passado, e quem sabe se chegar no Oscar, a chance seja bem alta. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, já aviso é claro que não darei nota máxima pelos pequenos detalhes, mas seria um 9,5, e sendo assim deixo meus abraços e até breve com mais textos.
Leia Mais
A trama nos conta que assim como a maioria dos adolescentes, a jovem Tati ama compartilhar sua vida nas redes sociais e registrar todos os momentos. Porém, após perder o inseparável celular, ela se vê vítima da criminosa divulgação de seus registros íntimos no grupo de WhatsApp da turma do colégio, o que gera terríveis consequências.
É engraçado que não vemos com tanto impacto visual e interpretativo o trabalho do diretor e roteirista Aly Muritiba, pois felizmente os atores souberam se entregar e trabalhar cada cena de forma coesa, mas vemos sua mão passando em cada detalhe do longa, cada imagem fechada nas expressões dos personagens, no fundo cênico afastado sempre para termos um espaço para pensar, mas ao mesmo tempo o foco fica na reflexão do que ele deseja nos mostrar com sua opinião para cada ato de ser certo ou errado, não deixando margens para algo aberto como ele entrega em diversos planos cênicos. E com essa brincadeira de aberto para pensar, mas fechado para o que desejo que você pense como eu pensei, o diretor vai apontando os diversos moldes da trama, e nos entrega um filme de cerne, coisa que pouco vemos em dramas nacionais, que ou ficam exageradamente abertos sem opinião alguma, ou jogam algo sem pensamento algum que divaga e não sai para um nada, e aqui de forma alguma vemos isso, o que soa lindo e bem forte. Quando vi o trailer confesso que não esperava acontecer certas cenas, e logo de cara ao ver um parte 1 na tela já pensei em mil possibilidades do longa ficar estragado, mas não era nem necessário dividir ele em parte 1 e parte 2, pois ambas são bem complementares, e funcionaria sem qualquer identificação escrita na tela, ou seja, o filme tem sim diversos problemas para ser discutido, até tem um leve molde novelesco, mas foge de estereótipos e acaba entregando algo maior, que valha a pena sair da sala e discutir com outras pessoas (aliás até fiz uma postagem no meu Facebook pessoal que pode dar até conversa demais com minha opinião sobre um dos assuntos que o longa faz refletir, pois precisava me expressar sobre isso), e assim sendo, o filme funciona como algo a mais do que pensava, e certamente irei recomendá-lo para outras pessoas.
Um dos pequenos defeitos do longa se deve às escolhas feitas para o elenco mais jovem, e não digo que eles tenham sido ruins nas interpretações, mas talvez se colocado outros teríamos expressividades diferenciadas, pois a jovem Tiffanny Dopke nos entrega até uma Tati que vemos direto nas escolas mundo afora, mas ela entregou sua personagem de uma forma tão dúbia de personalidade, que até concordo de estar deprimida pelo ato em si que ocorreu, mas oscilou de trejeitos tão friamente, até antes do acontecimento, que poderiam ter exigido um pouco mais dela para agradar mais. Giovanni de Lorenzi foi mais sutil em sua interpretação, e até colocou um pouco de trabalho com olhares para seu Renet, mas poderia ter tido um ar menos infantil em algumas cenas, afinal estamos falando de um jovem de segundo colegial, e aqui ficou quase para um garoto de sétima ou oitava série, mas suas cenas foram bem envolventes ao menos. Enrique Diaz fez ao mesmo tempo um pai ultra protetor e um professor interessante para a trama, mas demorou demais para suas atitudes terem um efeito mais forte, e quando ocorre vemos que o ator foi muito bem encontrado para o que fez, ou seja, acabou sendo acertado para o final. Clarissa Kiste entra em cena praticamente nas últimas cenas, e trabalhou bem olhares para com o protagonista, de modo que sua Raquel vem quase como um afronte, mas que soou diretamente como a opinião do diretor funcionava para se expressar através de um personagem, e a atriz soube ser impactante e coerente.
O conceito cênico da trama foi bem detalhado, vivenciando praticamente poucas locações, mas com elementos bem colocados para serem representativos, como a casa rica da jovem cheia de coisas teen no quarto, mas claro com uma arma bem escondida, mas que a jovem localiza facilmente, uma escola bem colocada, mas que falha em vistorias de segurança por um deslize banal, mas que pode ocorrer, uma praia quase deserta, mas que funciona bem para momentos reflexivos, claro com muita chuva para termos quebras de pensamentos, uma falha na busca do celular (que muitos não pensam, mas hoje existem aplicativos de busca bem eficientes, e até ligar para o próprio talvez funcionasse na cena inicial), e claro que tudo isso não seria eficiente se o longa não trabalhasse bem a fotografia, sempre puxada no primeiro ato para tons mais vivos e impactantes para mostrar todo o conflito dentro da mente da garota, e no segundo ato todo puxado para tons pasteis para dar o mote reflexivo que tanto desejavam, e claro com um fechamento de atitude, com cores secas, e muitas fotos representativas, ou seja, muitos detalhes técnicos funcionais e bem resolvidos.
Enfim, como falei no começo é um longa que daria para discutir por horas e a cada palavra que digito me vem algo a mais que poderia falar, e sem me alongar e nem entupir o texto de spoilers, recomendo que assistam o filme, reflitam bastante, divulguem bastante pois é algo que merece ser trabalhado em escolas/famílias (e a divulgação do longa está bem fraca), e vamos ficar na torcida, pois o filme já tem ganhado muitos prêmios por onde tem passado, e quem sabe se chegar no Oscar, a chance seja bem alta. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, já aviso é claro que não darei nota máxima pelos pequenos detalhes, mas seria um 9,5, e sendo assim deixo meus abraços e até breve com mais textos.