Netflix - O Silêncio do Pântano (El Silencio Del Pantano) (The Silence of the Marsh)

4/30/2020 01:46:00 AM |

Acho que daqui a alguns anos os alunos de cinema da Espanha vão estudar essa época como o estouro dos filmes de suspense no país, pois praticamente a cada 15-20 dias surge um novo exemplar do estilo, e o melhor, todos bem bons, com temáticas tensas, cheias de desenvolturas, e até os mais fracos em alguns quesitos entregam situações que acabam empolgando em algum momento ao ponto de ficarmos esperando o desenrolar. E hoje resolvi conferir um dos lançamentos da semana da Netflix, "O Silêncio do Pântano", que pode até ter alguns defeitos, não ter o melhor fechamento possível, mas consegue envolver bastante na brincadeira de quem é o personagem e quem é o escritor, e até onde vai toda a loucura da mente em pensar nas situações todas - além que mesmo o final sendo estranho, quem lembrar do que a jovem que pede autógrafo no começo pergunta, fará muito sentido com o que ocorre. Ou seja, é daqueles filmes intensos, que tem um ritmo meio que calmo, mas que aguça bem a percepção de assassinos, juntamente com as ideias malucas da mente de um escritor, e o resultado acaba agradando bastante.

O longa nos conta que Q é um ex-jornalista reconvertido em um escritor de livros de romances policiais. Ele é um homem de sucesso respeitado por seus fãs, mas na vida real, Q é um psicopata de sangue frio. O escritor vive em uma compulsão por matar que, eventualmente, ele traduz a seus romances, escrevendo sobre isso como se fosse ficção.

Vi muita gente reclamando do longa logo que saiu na Netflix, e até por esse motivo acabei deixando ele como o último filme da semana, mas talvez o que muitos tenham se irritado é com o final meio jogado que o diretor Marc Vigil acabou colocando, e é fácil entender sua proposta, pois como sempre fez séries durante toda sua carreira, ele quis fechar com algo aberto para quem sabe ter uma continuação, porém mesmo que isso não ocorra, afinal é baseado no livro homônimo de Juanjo Braulio, como disse acima se lembrarem de alguns momentos faz todo o sentido o que ocorre, ou seja, o diretor brincou com ideias amplas, e fez várias jogadas para confundir o espectador se o protagonista era realmente o assassino na vida real ou se era apenas um personagem do escritor, e em momento algum ele deixou algo aberto para conseguirmos identificar isso, o que é bom, pois a confusão acaba dando nuances. Porém dando a versão desse Coelho, o escritor apenas se veste como o protagonista, mas o personagem que também é escritor está na história e tudo ocorre por lá, ou seja, ambiguidades para todos os lados, que junto de um bom suspense policial, com ideias fixas sobre a podridão da alta sociedade valenciana junto com a podridão do tráfico e da polícia da cidade acaba se desenvolvendo e se misturando em algo bacana de ver pelo estilo escolhido do diretor, e principalmente pelos acontecimentos bem moldados que agradam, mas que vai deixar muitos confusos e bravos com tudo.

Sobre as atuações temos que ponderar que o protagonista Pedro Alonso soube brincar demais com os trejeitos de seu Q, deixando realmente uma interrogação no público, fazendo olhares certeiros, se movimentando igualmente com o personagem do livro e o escritor, e principalmente sendo violento na medida nos atos fortes, de forma que praticamente ele quase não dialoga, mas encaixa tudo no momento certo com a ferramenta correta de interpretação, ou seja, não é à toa que o povo ama tanto ele na série "La Casa de Papel". Nacho Fresneda deu um tom forte para seu Falconetti, encontrando estilo para cada ato, e principalmente para suas cenas violentas com seu pé de cabra, mas seu personagem é meio que jogado na trama, e isso não o ajuda muito, o que é uma pena. Da mesma forma Carmina Barrios traz para sua La Puri uma personalidade intrigante, tem um grande momento de falas, mas sua chefe de tráfico não se encaixa muito nem na atriz, nem no estilo que o filme tem, ficando estranho de ver. José Angél Egido fez seu Carretero tradicional como político, cheio de nuances que poderiam ter sido melhor usadas, mas não estraga o andamento, pois seus atos seriam melhores usados caso o filme fosse mais longo, porém aqui ele fez bem o que precisava. Quanto aos demais, todos foram usados para as cenas necessárias, e não fluíram em nada para a história, e desde a delegada vivida por Maite Sandoval, quanto o irmão do personagem principal vivido por Raúl Prieto apenas fizeram seus atos, mas nem lembraremos deles por nada.

Visualmente a trama tem atos bem marcados, com casas sujas para mostrar a degradação que o filme tanto chama, como a casa no meio do nada no pântano que acaba servindo de cativeiro, o apartamento do capanga, a casa simples (porém recheada) da traficante, temos também as cenas no gabinete da delegada e na procissão como símbolos interessantes para as reflexões de justiça cega, e claro temos os momentos malucos e violentos com o protagonista, aonde tudo é bem forte e imponente, cheio de detalhes também, ou seja, a equipe de arte sofreu um pouco para retratar tudo que certamente está bem detalhado no livro, mas o resultado flui ao menos.

Enfim, talvez o maior problema do filme seja alguns pulos de tempo, alguns atos cortados, e claro que o fechamento duplo que dá para tirar mais do que uma conclusão, mas isso sozinho não mata todo o bom trabalho do restante, e quem gosta de um bom suspense certamente se envolverá com a trama, e talvez até goste mais do que muitos outros, mas como disse, terá de relevar alguns problemas de continuidade (principalmente no final que o diretor resolveu acabar rápido demais), e assim sendo recomendo o filme com ressalvas, mesmo gostando dele. Bem é isso pessoal, eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.

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Netflix - Alelí

4/29/2020 12:28:00 AM |

É interessante observar que o pessoal anda gostando muito de fazer comédias com pitadas dramáticas para dar ênfase em alguns temas, e geralmente as relações familiares após a morte de algum ente próximo sempre rendem situações delicadas tanto cômicas quanto dramáticas, e se tem um país que gosta bastante do estilo e do tema é o Uruguai. Dito isso, quem for conferir o longa da Netflix, "Alelí" irá ver contextos corriqueiros do dia a dia de brigas entre irmãos, verá brigas de vizinhos, e claro todo aquele drama familiar que já vemos quase que diariamente em nossas famílias, de ciúmes por um ter uma chave de um lugar que o outro não tem, de um namorado/marido da irmã que você não gosta por ser um inútil na vida, aquele almoço de família que um leva uma comida que nem precisava levar, e acaba que ninguém come, entre muitas outras coisas, porém se pararmos e voltarmos no começo da trama, a situação toda era uma venda de casa de praia para uma construtora, e isso quase que some do longa, pois a interação com a venda e os sentimentos da casa até ficam, mas bem em segundo plano, ou seja, o filme roda demais e não entrega nada além das emoções, o que não é ruim, mas passa bem longe de algo bom. Ou seja, mesmo sendo uma coprodução uruguaia e argentina, vemos bem mais a mão uruguaia que não sai de pontos fixos, do que algo argentino que instigaria muito cada momento.

A sinopse nos conta que após a morte do pai, os irmãos Ernesto, Lilián e Silvana passam a disputar entre si a propriedade da antiga casa de praia. Dispostos a tudo para conseguir o que querem, eles colocam as lembranças da infância e a união da família à prova.

A diretora e roteirista Leticia Jorge foi simples e direta na trama familiar, brincando praticamente com os atos comuns que vemos em quase todas as famílias, como discussões nos almoços, debates de quem fica com o que nas heranças, e claro o famoso saudosismo da época em que eram mais novos, além dos cuidados com a matriarca da família que ninguém quer assumir. Ou seja, ela tinha sua base na mente, e acrescentou a ideia cômica da venda da casa de praia para ter um algo a mais com um engenheiro maluco e tudo mais, porém logo se vê que a ideia da venda serviu apenas para dois atos e evaporou, ficando mesmo o lado familiar bagunçado, e isso funcionaria bem se ela tivesse fechado mais o cerne da trama, pois acabou virando uma novela com tantos personagens, tantos dilemas e situações, de forma que seu filme é curto, rápido, mas sem nada para se discutir, e isso cansa de tal maneira que certamente esqueceremos o filme tão rápido quanto leio esse texto que escrevi, e isso não é algo que gostamos de ver, mas ao menos sua direção foi sincera, e isso vemos de cara o que ela desejava mostrar.

Quanto das atuações, é até bacana ver a desenvoltura de alguns personagens, que mesmo sendo pessoas mais velhas acabam parecendo crianças mimadas brigando pelo único toddynho da geladeira, mas acredito que isso tenha sido a opção da diretora mesmo em cima do texto, então foi um acerto ao menos. Néstor Guzzini trouxe para seu Ernesto o lado do filho que deu certo financeiramente, mas não aceita nada que não seja de sua opinião, além claro de estar aborrecido com tudo e todos na família, e isso é notável em todos os trejeitos do personagem do começo ao fim da produção. Mirela Pascual já foi para o outro lado com sua Lílian, mostrando aqueles que casaram bem cedo já são avós e vivem sob terapia, já não aguenta mais o marido e os filhos, e quer se ver livre dos problemas da família, e a atriz entregou bem um semblante cansado, e foi direta em todos os seus diálogos, acertando também, embora seja ranzinza demais para alguém que está exercendo hobbies para desestressar. Já Romina Peluffo jogou com sua Silvana aquela caçula da família que ficou jogada, só arranja namorados enroscados, vive casando e separando por acreditar num amor inexistente, e seu estilão largado caiu bem para a personagem, mesmo que soasse forçado tudo o que faz, mas acabou funcionando ao menos. E a matriarca Alba vivida por Cristina Morán fez até algumas cenas bem ligadas a cada um, mas não chamou atenção como deveria, deixando muito nas mãos dos filhos, e com isso a atriz acabou sendo quase carregada por todos, o que é ruim, visto que ela tem personalidade e saberia dominar melhor suas cenas. Quanto aos demais foram apenas enfeites, então melhor nem entrar em detalhes.

No conceito visual, a casa de praia é simples, está abandonada por fora, mas ainda arrumadinha por dentro, com detalhes casuais de uma casa abandonada como umidade no teto, muitas folhas e grama alta, mas nada que mostrasse um real abandono, tem elementos simples de detalhes, mas todos passando bem o que o filme desejava mostrar: os elos de cada um. Na casa da irmã ou nos carros, o filme também tinha detalhes de sobra para mostrar o lado nostálgico dos personagens, com CDs e fitas antigas de música, cadeiras de praias velhas guardadas, e tudo mais que remetesse um passado, inclusive nas roupas, ou seja, funcional.

Enfim, falei bem de tudo praticamente, ou seja, você deve estar achando então que darei uma nota ótima para o filme, mas não, a trama não nos cativa ao ponto de emocionar por algo, ou rir dele, de modo que é algo comum demais, que hoje vemos e amanhã esquecemos, e como costumo falar em filmes assim, é preferível nem ver, pois tem técnica, mas não tem estrutura suficiente para chamar atenção em nada. Ou seja, não recomendo ele, mas se não tiver mais nada para ver, até dá para perder um tempo. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.

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Netflix - A Escalada (L'ascension) (The Climb)

4/26/2020 11:59:00 PM |

Tem muita gente que ao ver escrito baseado em fatos reais num filme de terror já gela a espinha sem nem ver o filme inteiro, e da mesma forma tem aqueles que ao ver o mesmo escrito em um drama cômico romântico francês já coloca o lençol do lado, pois sabe que vai chorar muito. Dito isso já dá para imaginar o que vai rolar ao final do filme da Netflix, "A Escalada", que mostra a incrível história de um jovem do gueto de Paris que decidiu arranjar um patrocinador e ir escalar o Monte Evereste sem nunca ter feito nenhum esporte nem nada, apenas por uma conversa com uma paixão da infância afirmar que daria chances para ele se ele escalasse o monte, ou seja, uma loucura total que conseguiram fazer tudo soar emocionante, engraçado na medida certa pelo tom leve que trabalharam, além de mostrar que as grandes amizades estão nos corações e situações mais simples de ver, como o que ocorre entre o protagonista e seu xerpa na montanha. Diria que é um filme comovente, com ótimas mensagens, que consegue trabalhar cada ato com uma desenvoltura tão bem colocada que você acaba nem vendo o tempo passar, e como costumo falar, se tem um país que sabe acertar a mão em quase 99% dos dramas cômicos é a França, então veja e delicie-se.

O longa nos mostra a seguinte frase que algum maluco certamente já falou numa cantada amorosa: "Por você, eu escalaria o Monte Everest!". Teria sido melhor se Samy tivesse ficado quieto naquele dia ... Especialmente porque Nadia realmente não acredita em sua conversa nobre. E ainda ... Por causa de seu amor por ela, Samy deixa os projetos onde vive e decide escalar os míticos 8848 metros que fazem do Everest o teto do mundo. Sua partida excita seus amigos, depois todo o bairro, e em pouco tempo toda a França, que se envolve na emoção gerada pelos feitos desse jovem rapaz comum que está apaixonado. Sua aventura é uma mensagem de esperança: cada um de nós pode inventar nosso futuro, porque tudo é possível.

Em sua estreia na direção, Ludovic Bernard, que já foi diretor de segunda unidade e assistente de direção de diversas obras famosas, conseguiu ser singelo, trabalhar na medida certa o humor e a dramaticidade, e até o romance sem pesar a mão em nenhum dos pontos, fazendo com que seu filme envolvesse a todos de uma maneira tão certeira que os 103 minutos literalmente voam, e quando vemos a trama já acabou e estamos todos emocionados e felizes com o que vimos. Ou seja, a trama poderia ser feita de inúmeras maneiras, pesando mais a dificuldade da escalada, as diversas mortes que ocorrem por ali, poderia virar uma comédia pastelão besta com um maluco querendo subir uma montanha, mas não, ele optou por mostrar a beleza de uma amizade inusitada entre um senegalês radicado na França e um xerpa, em mostrar que por amor muitos fazem loucuras, e claro ver como o povo gosta de apoiar pessoas simples em loucuras ou programas de TV/rádio, ou seja, o filme tinha tudo para dar certo, e deu, pois sem forçar a barra em momento algum, sendo simples de atitudes e de atos, sem correr com a trama nem enrolar com besteiras, podemos dizer que o diretor irá bem longe se seguir essa linha.

Sobre as atuações, é fácil notar o carisma de Ahmed Sylla, de modo que seu Samy acaba entregando cenas com olhares e trejeitos bem marcados, cheios de nuances gostosas de ver, e que mesmo nos momentos mais cansativos se doou completamente para o projeto (não sei se ele chegou a escalar realmente ou usaram um dublê, mas fez muito bem tudo como se estivesse lá mesmo), e com isso o seu resultado flui e encaixa da maneira mais coerente possível para o filme, e certamente iremos gostar de ver ele em outros filmes também. Alice Belaïdi foi bem colocada no papel de Nadia, aparecendo em cenas mais soltas, mas sabendo entregar olhares emotivos para as atitudes do rapaz, chamando atenção e acertando sem forçar. O jovem Umesh Tamang foi gigante com seu xerpa Johnny cheio de sorrisos, mostrando dinâmicas bem colocadas, e mesmo sendo sua estreia trabalhou com vivência cada ato, agradando bastante. Nicolas Wanczycki trabalhou todo o lado mais rancoroso com seu Jeff, mas ao final temos uma ótima cena sua que acaba agradando bastante, e mostrando personalidade. Os malucos da rádio Kévin Razy e Waly Dia também foram certeiros nos atos, embora bem largados com seus Ben e Max. Ou seja, todos se deram um pouco para mesmo nas cenas mais simples agradar.

Visualmente o longa é bem bonito, passa por diversas paisagens até chegar ao Monte Everest, de forma que foi filmado em uma época com bem menos neve que o usual para ter as nuances visuais melhores captadas, colocando bons momentos e elementos cênicos característicos das expedições, como mochilas enormes, apetrechos de escaladas, e tudo mais, além disso a rádio foi organizada na melhor maneira jovem possível de debates, e claro as casas dos pais e da amada foram feitos de forma bem simples para mostrar a origem deles, ou seja, um trabalho simples bem feito que acaba agradando bastante.

Enfim, é um filme que não tem nada surpreendente demais, que agrada pela simplicidade em si, e emociona ao mostrar todo o elo de superação do jovem, que sendo baseado em uma história real acaba sendo como ver uma loucura completa, afinal sabemos que para escalar esses montes gigantescos precisa de um verdadeiro treinamento de atleta, e o jovem aqui contou somente com um patrocinador e sua força de vontade, além de amigos que fez na montanha, e assim sendo o resultado acaba sendo algo bem bonito de ver, que quem gosta de filmes simples acabará bem feliz com o que verá na tela. Sendo assim, fica minha recomendação e volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.

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Netflix - Tempo de Caça (Sa Nyang Eui Si Gan) (Time To Hunt)

4/26/2020 02:24:00 AM |

O cinema sul coreano sempre teve grandes obras interessantes, mas não tinha tanta divulgação/distribuição, mas com o sucesso de "Parasita" agora certamente veremos mais longas imponentes do país aparecendo por aqui, e eis que o novo lançamento da Netflix, "Tempo de Caça", já traz no elenco o jovem do filme premiado, trabalhando em um país praticamente destruído, aonde um crime simples, porém forte de amigos acaba virando uma caça sem rumo, aonde todos precisarão lutar por sua vida. A ideia é bem interessante, temos atos fortes, temos uma história bem contada e montada, só acaba sendo meio louco o caçador sair sem rumo atrás deles, não colocando uma meta do que ele deseja (a não ser matar todos), mas ainda assim ficamos tensos com vários atos, e até torcemos pelos jovens conseguir ir para um lugar melhor, o caso é se conseguirão chegar lá vivos. Diria que o longa tem um pouco de vários outros filmes que já vimos, mas ao ser tratado como um filme mais denso, acabamos curtindo ele de uma forma diferente. O único porém do longa é que ele é levemente arrastado, pois o assassino quer brincar com sua caça (no caso os jovens), e assim o filme de 135 minutos parece ter até mais tempo de tela.

A sinopse nos situa em um suspense distópico cheio de ação e ambientado na Coreia do Sul pós-capitalista de um futuro próximo, aonde depois de três anos na prisão, Jun-seok convence seus companheiros a roubar um cassino. O assalto é bem sucedido, mas então os jovens bandidos se tornam os caçados.

O diretor Sung-hyun Yoon soube desenvolver sua história segurando cada elo, conseguiu deixar ao mesmo tempo o filme violento e humano, e com um ar futurista sem exagerar em algo muito além ele trabalhou o tema da desvalorização do dinheiro, do desespero de conseguir ter algo, e ter alguém para confiar suporte, de forma que acabamos mesmo que os jovens sejam ladrões criar um carisma em cima deles. Ou seja, é um filme que tem uma abrangência forte, que trabalha temas pesados, e ainda assim passa mensagens num mundo maluco que estamos vivendo, e quem sabe o que irá acontecer num futuro. Outro grande acerto do diretor foi criar tomadas rápidas, pois volto a frisar que é um filme longo que parece não ter fim, mas com a dinâmica rápida dos personagens, toda a história se amplia, e isso deu um tom bem trabalhado e interessante de ver.

Se o diretor soube dar carisma para os personagens, é claro que as atuações de todos foram bem encaixadas, e isso é algo que tem mudado muito o conceito dos atores orientais para nós, pois antes ou eram vistos como personagens exageradamente sérios ou lutadores, e com esses estilos mais dramáticos estamos vendo todo tipo de personalidade nos jovens atores atuais. Lee Jehoon trabalhou seu Jun-seok com muita garra e ao mesmo tempo que se mostrou um sonhador, também mostrou dinâmica para com as armas e claro defendendo sempre que possível seus amigos, e o ator jovem teve bons atos para se mostrar, segurou o protagonismo e foi bem até o fim, que soou exagerado para talvez ter uma continuação, mas foi correto no que fez ao menos. Woo-sik Choi ficou muito famoso pela dinâmica de seu personagem em "Parasita", e por todos os demais filmes sul-coreanos que tem estourado por aqui ("Okja", "Invasão Zumbi", entre outros) e daqui a pouco vão perguntar se só existe ele na Coréia do Sul de ator, mas o jovem é bom demais de trejeitos, possui um carisma fora do comum e tem destreza de inverter os problemas de seus personagens para o ambiente todo, tanto que aqui seu Ki-hoon é o único com família na trama, e ele com muita destreza traz esse ambiente familiar para o grupo de ladrões, consegue criar envolvimento e agrada demais, ou seja, dá show também. Jae-hong Ahn trouxe o famoso gordinho para o crime também, coisa rara de vermos, e seu Jang-ho consegue comover até o fim, com uma cena marcante e muito bem trabalhada, mostrando que seu personagem não era mero enfeite em tudo. O caçador Han vivido por Hae-soo Park é daqueles que não morre de forma alguma e que sabe até onde você respirou para te achar, fazendo quase que trejeitos de "O Exterminador do Futuro", e indo pra cima com toda força dos protagonistas, e embora dê muita raiva do que faz, ele foi muito bem em cena. Quanto aos demais a maioria foi encaixe cênico, desde o traficante de armas que tem um irmão gêmeo (algo meio bizarro que arrumaram para fechar a trama!) até o jovem do cassino que ajuda no roubo por ser conhecido do protagonista, e nenhum teve lá grandes expressões para valer um destaque.

No conceito visual, a trama foi bem inteligente em criar um futuro distópico, com uma Coréia destruída pela quebra da moeda local, com partes inteiras da cidade destruídas e abandonadas, outras com protestos frequentes, vários cassinos clandestinos escondidos trabalhando só com dólar, e claro muitas armas, com pessoas dando tiros dentro das casas, cidades inteiras abandonadas na beira-mar, e claro muita violência, com ares fortes, fumaças, neblinas e tudo mais para criar um clima forte e intenso, ou seja, cada detalhe conta para a trama, desde a bombinha de ar de um dos protagonistas, até os carros elétricos cheios de efeitos. Ou seja, é um filme de baixo orçamento, mas que foi moldado de uma maneira forte e bem colocada, que faz o público enxergar algo a mais do que só a violência dos personagens, mas a possibilidade de um futuro daquela maneira e não com carros voadores como imaginávamos nos filmes antigos.

Enfim, é um filme bem denso, com propostas marcantes e com uma pegada bem trabalhada em cima de dinâmicas, com ações fortes, porém contidas, e com uma desenvoltura digamos alongada, pois o filme parece ser muito maior do que sua duração. Ou seja, é daqueles que quem gosta de um bom filme de tiros, de dramaticidade, de roubos e fugas vai gostar bastante, mas com a ressalva clara de que o cinema sul coreano é totalmente diferente do usual que muitos costumam ver, então mesmo aqui tendo um tino mais comercial não vá esperando ver um longa do mesmo estilo e formato americano. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.

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Netflix - Resgate (Extraction)

4/25/2020 02:57:00 AM |

Se você gosta de longas cheios de tiros, com muita ação, cenas de velocidade com câmeras seguindo em plano sequência para tentar tirar o fôlego do espectador, certamente o nome da vez na Netflix é "Resgate", pois junta Chris Hemsworth (o famoso Thor) em uma história de Joe Russo (diretor de "Vingadores - Ultimato") porém feita em Bollywood por um diretor estreante na função, mas que sempre dirigiu dublês, então para quem gosta de pancadaria é um prato cheio. Ou seja, muito do que você lerá aqui vai achar que o filme é uma tremenda bomba, e é, porém como gosto muito desse estilo meio "Rambo", meio "Duro de Matar", o resultado funciona e entretém, só que a história é deprimente, e as atuações da galera indiana é para desistir (de forma que o vilão é alguém tão inútil que nem para servir café serve). Ou seja novamente, é uma trama bem bagunçada que vale pela ação entregue, e nada mais, então se você gosta disso pode conferir que vai valer a pena, do contrário, se prepare para reclamar de tudo.

O longa nos conta que Tyler Rake é um agente especial que recebe a difícil missão de libertar um garoto indiano que é mantido refém na cidade de Dhaka. Apesar de estar preparado fisicamente, ele precisa lidar com crises de identidade e com seu emocional fragilizado por problemas do passado para que consiga designar sua tarefa da melhor maneira possível.

Em sua estreia na direção, Sam Hargrave mostra algo que já vimos acontecer em "John Wick", quando um diretor de dublês assume o posto principal, e vê a necessidade de mil pulos, tiros, socos para todo lado, pessoas sendo jogadas de escadarias, correria para todo lado, carros trombando, explosões e tudo mais que possa levar a testosterona a mil, e isso funciona muito bem no roteiro de Joe Russo, pois a história é praticamente de um mercenário que por ter perdido a família não tá nem ligando se vai viver ou morrer no próximo desafio, desde que ganhe um bom dinheiro, e com isso o diretor brinca com planos sequências de embates maravilhosos de ver, a cena da fuga de carro é linda com a câmera girando para todos os lados e acompanhando eles, na sequência já sobem escadarias e vão entrando nos apartamentos populares chutando tudo e todos que surgir na frente na mesma frenesi, ou seja, a primeira metade do filme quase não vemos a câmera se desligar, e isso dá um boom imenso, mas aí surge o segundo ato, e embora ainda tenhamos muitos tiroteios, resolveram dar a chance para o elenco secundário indiano, e com isso aparecer vilões ridículos de interpretações e com motivações ainda piores, e desde o traficante inexpressivo e bobo que apenas ordena, até o garoto que quer subir de vida matando e até dá um presente inusitado para o traficante, vemos crianças de milícias tentando parecer maus e o resultado desanda lindamente, ou seja, claro que a grana de Bollywood foi boa para que todos os americanos migrassem para lá para fazer o filme, mas exigissem um elenco inteiro de americanos, ou pelo menos alguns atores mais imponentes da cidade, pois esses foram de doer. Sendo assim o resultado da direção que já é nova e não tem tino para controlar atores com atores fracos acabou desandando bem, e só quem não ligar para falta de história e de interpretações irá suportar ver essa versão de "Rambo" na Índia.

Já que critiquei as atuações acima, tenho de dar uma certa relevância ao menos para o protagonista, que resolveu entrar também como produtor executivo do longa, ou seja, vai levar também parte dos lucros do filme, Chris Hemsworth (mais conhecido como Thor) que se jogou literalmente na trama com seu Tyler, se sujou bastante, teve diversos hematomas e cortes (pelo menos cenográficos!), e que está até feliz com as comparações de seu personagem com Rambo, mas é basicamente o que o personagem faz de atirar, brigar, pular, rolar, e pelo menos ele fez ainda algumas caras e bocas, botou seus poucos textos de forma uniforme na tela, e ainda acertou bem seus trejeitos, ou seja, foi bem no papel. O jovem Rudhraksh Jaiswal praticamente só correu atrás do protagonista com seu Ovi, mas fez boas expressões de desespero, e quando precisou trocar alguns diálogos fez bem também, ou seja, teve dinâmica para não parecer perdido, e isso no meio de tanta bagunça é um acerto também. Randeep Hooda deu uma personalidade meio ninja para seu Saju, de forma que vemos suas nuances e desesperos para conseguir buscar o garoto de volta para casa, enfrentando tudo e todos, e mesmo fazendo alguns trejeitos estranhos acabou se dando bem com o personagem no segundo ato pelo menos. Golshifteh Farani é uma tremenda atriz indiana por toda sua carreira, tem feito grandes papeis tanto em longas americanos quanto franceses, mas aqui foi muito mal aproveitada com sua Nik, de modo que não sabemos quem é ela, nem o motivo de estar como agenciadora de mercenários, e faz tão poucas cenas de nuances que acabamos quase ignorando ela se não fosse uma bazuca monstruosa e um rifle na mão nas cenas finais, ou seja, poderiam ter trabalhado melhor sua personagem. David Harbour também é outro que surge do nada com seu Gaspar, faz algumas cenas bem colocadas, mas já era esperado suas atitudes secundárias, e sua melhor cena é a última não por suas expressões, mas sim a do garoto a sua frente, de modo que é melhor ele voltar para os filmes que não aparecem tanto sua cara. Agora o trio desastre ficou a cargo de Priyanshu Painyuli como o traficante Amir, que não serve nem para assustar fantasmas em cemitério com sua cara inexpressiva e atitudes ridículas, Piyush Khati como Arjun, um jovem de rua que quer ser um matador e só faz cara de mal para aparecer, e claro Pankaj Tripathi como o pai do garoto que está preso e aparece por dois segundos como a pessoa mais malvada da prisão, botando medo até nos guardas, mas que não serviu para nada além da cena inicial, ou seja, um desastre triplamente qualificado.

No conceito visual da trama tivemos atos bem imponentes, cheios de explosões, carros sendo destruídos, muita correria em prédios simples com os atores derrubando portas e entrando para todo lado, muitas armas (algumas estranhas com sons estranhos que pareciam mais de paintball do que de verdade), helicópteros, tanques, e claro um grande trabalho da equipe de maquiagem para criar ferimentos e muito mais, ou seja, é uma trama que os elementos cênicos nem foram tão simbólicos para a estrutura em si, mas criaram bem o ambiente mostrando uma cidade controlada pelo crime, aonde a polícia obedece mais o traficante que tudo, e que acabou sitiada em meio a toda confusão que o protagonista causa, funcionando bem o resultado mostrado na tela pelo menos. Junto disso para dar um clima mais tenso, a trama foi quase toda gravada num tom amarelado sujo, aonde tudo parece estar pegando fogo e dando uma dinâmica ainda mais forte para o longa, ou seja, um funcionou nesse quesito também.

Enfim, é um filme que funciona bem como entretenimento, que traz boas cenas cheias de ação na essência, e que quem gosta do estilo cheio de pancadaria ficará bem feliz com o resultado da maioria das cenas, mas que certamente poderia ter sido melhor trabalhado tanto nas interpretações quanto no desenvolvimento de uma história mais coerente, de forma que o resultado seria ainda melhor. Sendo assim vale a recomendação com ressalvas demais, mas não é um tempo perdido na frente da TV ao menos. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.

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Netflix - Morte às Seis da Tarde (Plagi Breslau) (The Plagues of Breslau)

4/24/2020 12:43:00 AM |

Se tem um gênero que não morre nunca e é um dos mais gostosos de conferir (ao menos para esse Coelho que vos digita sempre!) é o suspense investigativo, que desde bem mais novo já me atraia os olhos com "Seven", "Zodíaco", toda a saga "Jogos Mortais" e por aí afora apenas para citar os mais conhecidos, e felizmente a Netflix também gosta do estilo e tem investido bem em algumas produções do gênero de vários países, e nessa semana lançou um novo exemplar que aqui foi chamado de "Morte às Seis da Tarde", ou traduzindo o título ao pé da letra, "As Pragas da Breslávia", que conseguiu trabalhar bem cada um dos elementos investigativos da trama, ter mortes violentas, e ainda encontrar situações bem amarradas para ficarmos tentando pensar quem é o assassino e quais as motivações para os crimes, além de ao final termos uma grande reviravolta para impressionar tudo. Ou seja, é o clássico do gênero, que funciona bastante, mesmo com algumas atuações frouxas e situações desnecessárias, mas que acabam empolgando do começo ao fim numa dinâmica precisa e cheia de desenvoltura, que fazem valer muito a conferida.

Um misterioso assassinato na Breslávia dá início a uma investigação de uma policial polonesa pouco ortodoxa que leva a suspeita de um serial killer. E quando novas mortes se sucedem, conectando os crimes aos eventos ocorridos na cidade no século 18, a polícia precisa correr contra o tempo para descobrir o próximo passo do assassino.

O diretor Patryk Vega mostrou técnica e estilo, e mesmo quem não conhecia nada dele, se olhar a filmografia verá que quase todos seus longas possuem o mesmo estilo e quase o mesmo poster, ou seja, ele provavelmente adora filmes policiais, e aqui mostrou bem o domínio da linguagem, ousando em mostrar mortes fortes, intrigantes momentos investigativos, e até colocar marcas fortes em cada um dos mortos, que se comparei a trama à "Seven" que usava os pecados capitais para cada morte, aqui temos tipos de pessoas (degenerado, ladrão, corrupto, caluniador, opressor e mentiroso), ou seja, sem dar spoilers o filme brinca com algo bem interessante que funciona bastante do começo ao fim. Claro que a trama tem muitas cenas com atuações fracas, e bem rapidamente percebemos quem é o assassino, mas ir a fundo para saber suas intenções acaba valendo a sequência, mostrando que mesmo errando o diretor acaba acertando.

Já que falei sobre as atuações serem fracas em muitos momentos, vamos aos culpados, ou melhor, aos problemáticos, pois todos na polícia parecem bobos demais para estar investigando algo, com vozes calmas demais para as situações, e alguns atos até fazendo trejeitos bem jogados, o que ao final até é um pouco explicado. Dito isso, Malgorzata Kozuchowska trabalhou sua Helena com um certo ar de superioridade exagerado, que talvez poderia ser melhor desenvolvido, pois sua personagem sempre está cansada, tendo deduções diretas, e em alguns momentos até ficamos pensando em quais problemas ela teria, mas seu resultado ao menos é bem efetivo. Daria Widalska entregou bem sua Iwona de modo que seus primeiros atos soaram imponentes, seus trejeitos foram bem marcados, e já no segundo ato não apareceu tanto suas qualidades, mas sim algo mais desesperado em si, de modo que funciona, mas não vai muito além. Agora sem dúvida alguma o promotor vivido por Andrzej Grabowski foi completamente desnecessário no filme, fazendo somente caras e bocas ridículas, querendo realmente aparecer tanto o personagem, quanto o ator, e seria melhor ter eliminado ele em alguma cena. O parceiro da protagonista vivido por Tomasz Oswiecinski até teve atos bem divertidos no começo, mas depois passa o resto do filme no hospital, e isso não é legal, e até sua cena de acidente foi bem forte, mas poderiam ter usado melhor ele. Quanto aos demais, a jornalista é boba demais, os demais policiais enfeites cênicos, o primeiro ministro fraquíssimo, mas os mortos/vítimas foram bem colocados em cena ao menos, de modo que não fizeram nada além de serem bonecos talvez pelos pedaços, mas foram moldes bacanas de ver.

Já que falei dos bonecos que representaram os mortos, temos de falar do primor da equipe de arte para as concepções dos mortos, das autópsias, com muitos detalhes violentos e fortes que o estilo pede, além de cenas de ação bem colocadas com muitos carros, animais, objetos rolando (aliás tanto as cenas com os cavalos quanto com o barril foram ridículas com as pessoas correndo e caindo para todos os lados, era só desviar, mas não teria a mesma dramaticidade talvez!). Ou seja, uma direção de arte cheia de elementos, que chamaram a atenção pelo menos.

Enfim, é um filme bem feito, que empolga pelas mortes, que tem uma boa reviravolta final, mas que também não é uma grandiosa obra-prima, apenas funciona bem para o estilo de suspense investigativo, e tem um tom bem interessante para os fãs do estilo. Confesso que esse mesmo texto nas mãos de algum diretor americano ou argentino, o resultado seria muito melhor, mas ainda assim vale a conferida. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.

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Netflix - Os Irmãos Willoughby (The Willoughbys)

4/23/2020 01:38:00 AM |

Já tinha visto filmes malucos, mas animações não imaginava que iriam fazer algo tão bizarro, mas fizeram, e lançou hoje na Netflix, "Os Irmãos Willoughby", que baseado em um livro bem maluco conseguiram deixar uma trama bem colorida, com vozes imponentes, mas que quem não entrar no clima louco da trama certamente irá odiar cada momento do filme. Ou seja, é daquelas animações que não possuem uma historinha casual, que vai ser tudo bonitinho, mas que se verte ao mundo maluco, com bizarrices, ideias maquiavélicas, e que depois tudo acaba ficando bonzinho para um fechamento mais bonitinho, porém é algo bem doido de ver, que até envolve de certa forma e tem uma boa pegada por mostrar algo muito atual de pais omissos e crianças carentes por qualquer coisa, ou seja, para se pensar. Sendo assim é uma animação que não foi feita para os pequeninos, mas que talvez alguns até curtam pelas maluquices completas, e claro pelo colorido total.

A trama nos mostra que os Irmãos Willoughby, Tim, Jane e seus irmãos gêmeos Barnaby, possuem pais com temperamentos egoístas. Para se livrar deles e formar a família que desejam, eles bolam um plano para enviá-los em uma viagem de férias. Nessa aventura, os irmãos acabam descobrindo o verdadeiro significado da palavra família.

Claro que com as devidas restrições malucas, a trama passa uma boa mensagem familiar, entrega a famosa frase do momento que pais são quem criam e não quem botam no mundo, e claro que ao jogar muito com o abstrato o resultado acaba tendo alguns vértices que vão além, mas isso já tínhamos visto no longa anterior do diretor Kris Pearn ("Tá Chovendo Hamburger 2"), que claro sendo uma produção muito maior acabou ousando mais e trabalhando mais situações do que aqui, porém aqui tendo um livro como base ficaram mais amarrados na criatividade e o resultado embora maluco funciona para quem gosta desse estilo ousado. Não posso ser incoerente que a trama (ao menos legendado, pois talvez tenham amenizado na versão dublada!) tem uma pegada de humor negro em muitos momentos que talvez algumas crianças entendam e outras passem em branco a loucura toda, mas deixaram bem subentendido muitas mensagens subliminares, e sendo assim o resultado é um pouco além do que muitos gostariam de ver na tela, já que não é apenas um filme tão bobinho.

Sobre os personagens é engraçado que o carisma todo vai para o gato narrador dublado por Rick Gervais, que conseguiu dar o tom da trama, botar as nuances em cada momento e ainda tirar onda, inclusive na brincadeira pós-crédito, ou seja, é um personagem de fora da trama, mas que funciona demais. O protagonista Tim tem insegurança demais para chamar a trama para si, de forma que Will Forte até colocou trejeitos bacanas na voz do garoto, e em alguns momentos o personagem até faz algo além, mas poderia ser mais divertido. A jovem Jane que é dublada pela cantora Alessia Cara até brincou mais em cena, teve momentos mais marcantes, e claro cantou a música tema do filme com muita graciosidade, mas poderiam ter dado mais canções para ela que o filme fluiria até mais. Agora os gêmeos Barnaby são o ponto alto do filme com suas invenções, seus trejeitos e diálogos malucos, além claro das jogadas que fazem a todo momento, de modo que se o filme focasse mais neles e no bebê doido que surge o filme iria muito além. Terry Crews e Maya Rudolph brincaram bastante com seus Melanoff e Babá, sendo os personagens que puxam a trama mais para o lado familiar, e os acertos dos personagens são bonitinhos para dar um carisma maior no filme, ou seja, são aqueles que não deixaram a loucura explodir. Enquanto os pais são personagens completamente fora de eixo, que estragam o filme, mas a proposta era essa, e até os aliens esquisitos do comando de proteção aos órfãos ficaram estranhos de ver, então não funcionou muito.

Visualmente a trama tem um colorido bem bacana, usa diversas técnicas misturadas, usando stop-motion em alguns momentos, em outros computação gráfica tridimensional, e tem até alguns momentos que remetem ao tradicional desenho de mão, o que deu um tom bacana tanto de técnica quanto de texturas, usando muita modelagem e brincando bastante com elementos como invenções, doces, e toda uma loucura mais cheia de detalhes, de modo que o filme acaba tendo algo a mais para passar, mas nada que seja um absurdo de ver, e sim elementos chamativos para funcionar cada ato, com muita ambientação e símbolos claro.

Enfim, é um filme bacana, que muitos vão amar e outros vão odiar, com uma canção tema bonitinha, mas que não vai muito além de passar a mensagem de união familiar e sonhos, e que funciona dentro do que foi proposto. Claro que acredito que o imaginário em cima do livro tenha sido bem fantasioso, pois como é uma originalmente uma história para crianças, aqui jogaram um tom acima, e assim sendo alguns pais vão se sentir meio receosos com os filhos vendo, enquanto outros vão curtir de boa, e sendo assim fica a recomendação com ressalvas. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.

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Netflix - Operação Final (Operation Finale)

4/22/2020 01:29:00 AM |

Chega a ser interessante o tanto de filmes que fazem em cima do Holocausto, afinal sempre tem alguma história nova que não usaram da fonte, ou algum ato que aconteceu e tudo mais, porém felizmente sempre saem boas tramas, e no longa da Netflix, "Operação Final" vemos como foi todo o processo para conseguir capturar um dos únicos responsáveis pelas mortes dos judeus por Hitler que não se matou e fugiu da Alemanha e veio para Buenos Aires. Ou seja, uma tremenda história investigativa, cheia de movimentações para dar certo, pois um mero erro destruiria toda a operação, e que funciona bastante tanto como material real, como uma história incrível de ficção, de modo que entramos bem no clima dos personagens e o resultado funciona, porém, a dinâmica toda ficou muito amarrada pelos acontecimentos, e com isso em alguns atos faltou um pouco mais de emoção, mas nada que atrapalhasse o resultado final.

A sinopse nos conta que quinze anos se passaram desde a Segunda Guerra Mundial. Os principais líderes nazistas, como Adolf Hitler, evitaram a justiça através do suicídio, mas o arquiteto responsável pela ideia dos campos de concentração, Adolf Eichmann, conseguiu escapar e vive escondido em alguma parte do mundo. Quando a equipe liderada pelo investigador judeu Peter Malkin descobre o paradeiro do homem na Argentina, eles são encarregados de sequestrar Eichmann e levá-lo vivo a Israel, onde será julgado por seus crimes. Mas fugir com um dos homens mais procurados do mundo não será uma tarefa fácil.

Geralmente diretores costumam seguir uma linha de filmes que aceitam dirigir, casualmente do mesmo gênero, ou até mesmo com temas parecidos para manter seu tom, mas Chris Weitz já fez de comédia escrachada, passando por fantasias místicas, romances com vampiros, até chegar nos dramas, e aqui ele fez algo completamente diferente de todos os seus longas anteriores, pois segurar a onda em um filme de captura, com uma história real para ser mostrada, e principalmente com diálogos intensos é algo que não é bem fácil de fazer, mas ele conseguiu ao menos transparecer bem sua essência, pois vemos atores bem encaixados nos personagens, cada um com atitudes fortes e bem colocadas, porém faltou para ele algo que sabe bem: que é fantasiar a história, pois mesmo sendo baseado em algo que aconteceu, ele poderia ter enfeitado mais o miolo, ter dado uma dinâmica mais tensa e trabalhada, e feito com que seu filme chamasse mais a atenção, pois mesmo a forma que o protagonista convence o outro de assinar é boba demais. Ou seja, é um filme bem feito, isso não tem o que negar, que conta uma história intensa e forte para muitos, mas ficou faltando aquele algo que chamamos de filme de cinema mesmo, daqueles que você emociona com algo, que gruda na cadeira, o que é uma pena, pois os "vilões" neonazistas poderiam ter feito muito mais na trama, e acabaram ficando de lado.

As atuações foram todas bem encaixadas na trama, fazendo com que os protagonistas chamassem mais atenção pela interação dos textos em si, pois se olharmos a fundo os líderes das equipes praticamente ficaram apagados, e isso é algo muito estranho de ver acontecer em um filme, ou seja, até tentaram criar uma romantização a mais para o personagem principal, mas não deu muito certo. Dito isso, ver um Oscar Isaac mais limpo de expressões, sem trejeitos forçados, sem precisar criar muito para sua personalidade foi algo muito bom de ver, de modo que seu Peter tem dinâmica e intensidade, mas faltou aquele algo a mais para sentirmos o que ele estava sentindo em cada cena, e isso pesou um pouco. Já pelo outro lado Ben Kingsley como sempre dá show com suas múltiplas faces, tanto que de cara demoramos um pouco para reconhecê-lo no papel de Eichmann, mas conforme o longa vai se desenvolvendo ele vai se entregando mais na personalidade e o resultado fica muito bom, de forma que seus últimos atos ainda no esconderijo são fortes e perfeitos. Mélanie Laurent também fez uma Hanna bem colocada, mas ficou bem apagada no papel, aparecendo pouco em cena, e mesmo eles no começo falando da sua grande importância no ato, só foi responsável mesmo por drogar o antagonista, e nada mais que realçasse tanto. Quanto aos demais, todos tiveram algum ato imponente, mas nada que impressionasse muito, tendo leves destaques para Michael Aronov com seu Aharoni imponente, e para jovem Joe Alwin com seu Klaus característico dos neonazistas que surgiram pós-guerra e ainda existem espalhados mundo afora.

Foram coesos também no desenvolvimento visual da trama, mostrando praticamente duas locações base, como o esconderijo e a casa do protagonista, além de uma rápida cena em um cinema no começo e outra no tribunal ao final, além de algumas memórias rápidas bem montadas dos acontecimentos do Holocausto, de forma que tudo foi feito com cenas fechadas, figurinos simples e tomadas bem simples para que o orçamento não fosse muito grandioso. Claro que tudo funciona bem e mostra um certo cuidado com a época, e com detalhes simples, porém efetivos, mas certamente poderiam ter ido muito além, afinal mostraram uma reunião dos neonazistas, mostraram as buscas deles em alguns cantos, e isso poderia dar um tom bem mais forte para a produção, mas aí certamente o orçamento aumentaria bem.

Enfim, é um filme bem interessante pelo tema, com uma dinâmica simples demais, que até envolve e bate um certo desespero na cena do avião (se o filme fosse inteiro naquela pegada seria incrível!), mas que não tem grandes ápices durante todo o longa, e isso faz ele cansar um pouco, porém ainda vale a conferida. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até lá.

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Netflix - A Terra e o Sangue (La Terre Et Le Sang) (Of Earth and Blood)

4/21/2020 02:12:00 AM |

Costumo dizer que um filme deve ter pelo menos um motivo para seja considerado um filme, que ele tenha alguma lógica de um começo, que o miolo ocorra devido aquele começo, e que se encerre o que começou, e que independente da ordem que ocorra tudo isso, faça sentido para quem está conferindo entenda ou ao menos tente entender, pois é impossível ser algo jogado que começa do nada, ficam brigando por aquele nada, se matam todos por algo que não precisaria, e pronto fim. Ou seja, só nessa abertura do texto praticamente disse para vocês tudo o que ocorre na nova produção da Netflix, "A Terra e o Sangue", aonde talvez até alguém enxergue algo além que eu não vi, talvez que o protagonista já foi inimigo dos traficantes, ou que ele queira defender algo a mais, pois era muito mais fácil ele devolver a bolsa e pronto, caso resolvido, mas não ele arruma uma espingarda, sai atirando para todo lado, matando os vilões das formas mais bizarras possíveis, a menina surda e muda correndo junto com um inútil que quis esconder a droga no serviço, ou seja, uma bagunça sem precedentes que não tem motivo algum para ser um filme. E sim, enchi o primeiro parágrafo de spoilers, pois é algo que não recomendo nem para meu pior inimigo, quanto mais para quem lê meus textos, ou seja, fuja desse filme, mas ainda tentarei falar algo a mais daqui pra baixo.

O longa nos conta que Saïd é o dono de uma serraria perdida no fundo de uma floresta que ele decidiu vender. Mas isso sem contar com um de seus aprendizes que, encurralado por seu irmão, não tem escolha a não ser esconder uma grande quantidade de cocaína lá. Quando chega a quadrilha de quem a droga foi roubada, Saïd entende que ele está lidando com homens implacáveis e determinados. E se eles têm a vantagem dos números, ele conhece o lugar como ninguém. Indo e voltando para proteger sua filha Sarah, Said transforma a serraria em um verdadeiro acampamento entrincheirado. À medida que os cadáveres se acumulam, a sede de vingança está no auge ...

Chega a ser até difícil de pensar no que escrever de algo desse estilo, pois o filme sai completamente de eixo ao não seguir as linhas normais, parecendo claramente que o diretor e roteirista Julien Leclercq imaginou algo que seria muito subjetivo para o público, e saiu fazendo, ou então numa loucura maior eliminou algo na montagem que desandou completamente o filme, pois sim, o protagonista bate uma das barras de cocaína e a quebra, mas ele não faz isso com tudo, ou seja, ao ver que a merda iria acontecer bastava devolver o restante, entregar o empregado burro e pronto, mas não, ele vai, tranca o moleque, pega a espingarda e vai passear na cidade, depois volta e fica correndo tentando matar os caras que nem ligação com ele tinha, ou se tinha não ficamos sabendo. Ou seja, uma bagunça sem tamanho que quem gosta de longas violentos até pode se divertir com as mortes, mas garanto que tem filmes mais violentos com pelo menos alguma história para conferir que é anos-luz melhor que esse.

Continuando a ideia, os trejeitos de todos são aflitivos e desesperados, completamente sem nexo algum com o momento, tendo o protagonista Sami Bouajila olhares meio confusos e desconfiados para seu Saïd, mas sem chamar atenção, apenas sendo um bom estrategista para tentar sobreviver no conflito armado, ou seja, fez bem seus atos, mas sem nexo algum. Também tivemos a jovem Sofia Lesaffre fazendo uma Sarah desesperada sem saber o que está acontecendo e fugindo sem parar com um jovem no meio de um tiroteio, mas suas expressões ao menos foram certeiras. O jovem Samy Seghir é daqueles que também não sabia o tipo de expressão que deveria fazer, e isso mostrou que o diretor também estava perdido ao passar para eles o que fazer, de forma que seu Yanis só correu desesperado também. Dos traficantes é melhor nem falar, pois além de loucos faziam todos as mesmas nuances de caras do tipo vou ser esperto e ir por aqui, agora por ali, ou seja, risível!

Logo de cara que os traficantes chegam e veem uma serraria cheia de madeira e não acham suas coisas, a lógica maior é tacar fogo, e ficam embaçando, tentando fazer tocaia, andando e andando, ou seja, a equipe de arte até moldou tudo bem feito, mas certamente ficaram com dó de queimar rápido demais, mas visualmente nem muito organizado foi tudo, e isso mostrou uma preguiça, pois arrumaram uma serraria, uma floresta, e uma casa para o final que nem foi tanto explorada, ou seja, fraco demais, além das cenas no começo com um assalto bizarro que nem foi utilizado direito, uma consulta médica que diz logo que o cara tá morrendo, e uma ida num teatro completamente inútil, ou seja, leram o roteiro e fizeram sem se perguntar o porquê

Enfim, é daqueles que se aparecem na seleção por alguma razão do algoritmo da Netflix tirar logo colocando vários outros para nem correr o risco de dar play, pois não tem nada que se aproveite sem ser as mortes violentas, que aí sim foi um belíssimo trabalho da equipe de maquiagem junto com a computação gráfica, pois é notável alguns efeitos em cima, mas de resto é lastimável o tempo perdido vendo o longa (pelo menos é bem curto!). Sendo assim fica minha total não recomendação para o longa, e vou torcer para amanhã conseguir ver algo melhor (o que vai ser bem fácil!), então abraços e até logo mais.

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Netflix - Altos Negócios (Betonrausch) (Rising High)

4/20/2020 01:31:00 AM |

Já falei isso essa semana, e volto a falar, pois se antes as comédias alemãs eram cheias de bizarrices e coisas estranhas de ver, agora andaram se aproximando mais do estilo americano, e o resultado tem dado certo, ao menos começam a trabalhar de uma forma comercial mais comum de entender para todos os públicos. Dito isso novamente, o longa da Netflix, "Altos Negócios", se encaixa bem no estilo de filmes de golpes bem feitos, com declarações para jornalistas por um ou outro motivo (que aqui será dito ao final da trama), que brinca com o público a todo momento mostrando as loucuras que muitos fazem por mais e mais dinheiro sem pensar no futuro, ou até mesmo no famoso "fisco", e a ideia intercalada com sim algumas loucuras acaba soando bem divertido e resulta em uma trama sem grandes bagunças no roteiro, mas que fecha de forma inteligente bem dominada para caso queiram fazer uma continuação mais para frente.

O longa nos mostra que Viktor Steiner, Gerry Falkland e Nicole Kleber projetaram um sistema sofisticado para financiar imóveis. Então, o trio encontrou uma maneira de ficar rico em muito pouco tempo. No entanto, há um problema na coisa toda: com sua abordagem, eles estão rompendo os limites da legalidade. E, portanto, não demora muito para Viktor, Gerry e Nicole lutarem contra problemas cada vez maiores - e se aprofundar cada vez mais em um redemoinho de mentiras, fraudes e drogas. Os três mergulham em seu próprio mundo, ameaçando cada vez mais perder o contato com a realidade e logo enfrentam a grande questão que mudará suas vidas para sempre: o que é realmente importante para eles?

O diretor Cüneyt Kaya fez um trabalho bem dinâmico, cheio de vértices para brincar com a ideia toda, e principalmente soube mostrar a velha história de que o dinheiro sobe para a cabeça, e que quando alguém vê uma oportunidade acaba indo nela até a máxima consequência, de forma que acabamos entendendo bem todo o propósito do protagonista (claro que meio exagerado pelo fator de ver o pai sofrer alguns atos no começo da trama!), e assim a trama e o estilo que o diretor escolhe para fazer tudo, com cortes rápidos, cenas esquematizadas de uma maneira coerente, até chega a parecer um pouco a ideia de diversos outros filmes americanos, porém aqui com a pegada alemã de brigas com o fisco. Ou seja, é um filme com muitas similaridades com outros filmes, mas tem sua própria pegada, e felizmente funciona, de modo que em alguns pontos nos vemos até conversando com a tela falando: "ele não vai fazer isso!", e vai e faz, ou seja, ainda mantendo um pouco o estilo do absurdo tão comum nas comédias alemãs mais antigas, mas aqui funcionando para o contexto completo, e isso agrada bastante, mostrando que o diretor tanto se atenta para o novo, quanto se mantém firme para os moldes antigos do país, criando algo moderno no ponto de vista dele.

Sobre as atuações, concordo com a fala de Gerry no filme, pois David Kross tem o perfil charmoso para que todos acreditem nele, e o jovem ator fez seu Viktor bem trabalhado, cheio de dinâmicas, e claro ambicioso e maluco ao máximo, de forma que acabamos rindo e não acreditando no que ele faz, ou seja, trabalhou bem os trejeitos e acertou bastante no que fez, agradando na medida. Frederick Lau trabalhou seu Gerry com virtudes de trambiqueiro nato, mas mais do que isso sabendo até que ponto é hora de fugir da confusão ganhando, e esse é o acerto do personagem, e para isso vemos olhares corretos, trejeitos malucos e muita abstração no que ele faz, ao ponto de acharmos ele maluco, mas um maluco esperto ao menos. Janina Uhse de cara parecia uma simples personagem que não faria muita coisa na trama, mas na sua segunda cena ela botou as cartas na mesa, e deu um show de trambiqueira também, mostrando acertada demais para o personagem, fazendo bons trejeitos, e fazendo com que tudo fluísse com uma beleza visual ao menos no meio da bagunça toda. Quanto aos demais a maioria apenas fez conexões para a trama, tendo até atos bem marcados, mas sendo na maioria apenas figuração, ou seja, melhor falar apenas dos protagonistas.

A equipe de arte brincou bastante com o luxo, trabalhou com cenas bem moldadas nas mansões, mostrou bem o funcionamento de leilões de prédios, colocou em pauta as obras mundo a fora cheias de imigrantes ilegais, e ousou mostrar as festas dos ricos regadas a bebidas caras e muitas drogas, ou seja, usaram muito do que conhecem desse submundo e retrataram bem cores e nuances bem marcadas para funcionar.

Enfim, é um filme bem divertido, que lembra muitos outros filmes de comédia bizarros, com bagunças incontáveis, cagadas de personagens que levam ao erro, e muita loucura, que quem gosta do estilo certamente ficará bem feliz conferindo, mesmo que tenha erros enormes e coisas exageradas que poderiam ser menos forçadas, além claro que as cenas do personagem criança serem completamente desnecessárias. Sendo assim recomendo ele para todos, pois é algo que funciona mesmo apelando em diversos atos. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.

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Netflix - Sergio

4/19/2020 02:54:00 AM |


É engraçado como lembramos de coisas que estudamos tanto de outras épocas mais antigas, mas não lembramos de fatos que ocorreram há 17/20 anos, e para isso claro surgem algumas biografias incríveis que conseguem entregar filmes belíssimos e muito bem feitos. Digo isso, pois, o longa "Sergio", que estreou na Netflix, será daqueles que certamente ficarão na mente de quem não lembrava da história do atentado em 2003 na sede da ONU, e ao entregar uma montagem completamente diferente, cheia de momentos espalhados, diversas ações fortes de diplomacia e discussões acaloradas, juntamente com um romance bem bonito de ver, isso tudo sendo lembrado debaixo de escombros é para emocionar, envolver, e entender um pouco mais das missões da ONU, e claro motivos fortes de a entidade desde aquela época brigar ferozmente com diversos países. Ou seja, um filme cheio de nuances bem feitas, dirigido e atuado com uma precisão cirúrgica de bons momentos, e que com uma produção primorosa certamente merece ser lembrado em premiações mundo afora, pois ficou perfeito.

O longa nos entrega um drama arrebatador que se passa nas caóticas consequências da invasão americana do Iraque, onde a vida do alto diplomata da ONU Sérgio Vieira de Mello está em jogo durante a missão mais traiçoeira de sua carreira.

Em sua primeira ficção, o documentarista Greg Barker mostrou um pouco do que já fez, afinal documentários são biografias sem enfeites, e aqui apenas trabalhou o lado sentimental, as nuances e envolvimentos dos personagens, e que junto de uma montagem incrível acabou desenvolvendo a trama baseada no livro de Samanta Power com algo tão preciso que acabamos conhecendo bem mais a história desse brasileiro que desejava melhorar o mundo aonde pisava, enfrentando até mesmo os líderes mais rebeldes e ricos, ou seja, souberam utilizar tudo de bom (e também de ruim, afinal foram felizmente bem imparciais em alguns momentos para mostrar também o ego, os erros com a família, entre outros) que o personagem fez e criaram um personagem que teve carisma suficiente para envolver a todos, com uma história forte, falada em várias línguas, e que com uma dinâmica precisa de estilos acabaram desenvolvendo sem pensar em regras e moldes, de forma que o filme sai completamente da caixinha, e mostra bem a diferença entre um diplomata e um homem verdadeiro, num resultado perfeito de ver, e que até vale a torcida para cair em alguma premiação mundo afora.

Sobre as atuações, todos sabemos do potencial de Wagner Moura em qualquer filme que faça, e aqui deu um tom tão bem colocado para seu Sérgio com uma postura elegante, uma força nos trejeitos tamanha, uma precisão de falar em quatro línguas diferentes quase que em sequência, trabalhou as dinâmicas do personagem em todas as cenas para poder entregar paixão e força no que fazia, e a cada ato se erguia mais ainda nas atitudes coesas para que o personagem ficasse como alguém fora do comum, ou seja, foi perfeito do começo ao fim, e agradou demais. Olha, não sei onde essa Ana de Armas estava escondida, pois se nos outros filmes que fez ela estava bem sem sal e usando expressões bem simples, aqui a jovem se entregou de corpo completo para o papel da argentina Carolina Larriega, com dinâmicas expressivas belíssimas, com uma postura certeira para todas as cenas, e claro com muita emoção nos olhares tanto apaixonados quanto de desespero nas cenas finais, ou seja, acertou bem demais. Brían F. O'Byrne também foi certeiro demais nos atos de seu Gil Loescher, de modo que a parceria e a química dele junto do protagonista é algo tão marcante, que no momento em que Sérgio fala que Gil seria sua consciência vemos no olhar que os dois trocam aquela amizade precisa e certeira que poucos atores conseguem demonstrar, ou seja, um lorde perfeito para o clima do filme. Clemens Schick embora apareça menos com seu Gaby Pichon também foi certeiro no estilo do personagem, colocando dinâmicas e atitudes coesas para a equipe do diplomata ao ponto de tudo coexistir junto. Ainda tivemos outros bons personagens menos chamativos na produção toda, mas que tiveram atos bem fortes, como dos socorristas do exército tentando tirar os sobreviventes com olhares fortes e bem colocados de forma que acabamos nos conectando com eles, e também tivemos o imponente Bradley Whitford fazendo o temível Paul Bremer, que muitos dizem ter sido o responsável por muitos erros no Iraque, e que mesmo aparecendo em poucos momentos foi bem chave para o filme.

Quanto da parte cênica da trama, tivemos locações incríveis na Jordânia que representou Bagdá, no Rio de Janeiro e na Tailândia que acabou representando o Timor Leste, com cores bem representativas em cada um dos atos, usando muito material de arquivo também para realçar alguns pontos, escolhendo certo o visual da época, os momentos certeiros para dar o ar romântico entre os protagonistas, e sabendo encontrar detalhes até onde não existiria para representar tudo, de modo que até mesmo as cenas debaixo dos escombros tiveram seu luxo, e o acerto da equipe de arte acaba sendo notável demais em todos os atos. A fotografia conseguiu encontrar praticamente três grandes paletas de cores para dominar os atos fortes e tristes da trama, outro para os momentos alegres e românticos, e ainda os lados de lembranças/imaginações/delírios do protagonista debaixo dos escombros, de forma que vamos sentindo a força visual em cada um deles pela ótima escolha de tudo, ou seja, um filme forte, muito bem produzido, que para um drama foram muito além em tudo.

Enfim, é um filme denso, porém muito gostoso de ver, aonde sentimos cada momento, e que claro recomendo não ser visto dublado, afinal a grande sacada aqui além de todo o contexto é ver o protagonista falando em diversas línguas com cada personagem diferente. Ou seja, um filme que vai muito além da história do personagem, que consegue passar uma mensagem forte, e que mostra muita precisão por parte de toda a equipe, pois o filme acabou aparentando ser até maior que a própria biografia do homenageado. Sendo assim recomendo ele para todos mesmo com uma ou outra falha, e caso tenhamos premiações (o que já está ficando bem difícil de imaginar com o mundo da forma que está!) irei torcer muito para a trama. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto, então abraços e até logo mais.

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Netflix - Legado Nos Ossos (Legado En Los Huesos) (The Legacy of the Bones)

4/18/2020 02:19:00 AM |

Onze dias atrás acabei vendo na Netflix, "O Guardião Invisível" e como gostei bastante do que vi fui pesquisar um pouco e descobri que era parte de uma trilogia, e que felizmente a segunda parte iria ser lançada em breve na plataforma também, pois bem, hoje após conferir "O Legado dos Ossos" posso certamente comparar a franquia espanhola com grandes sucessos americanos como "O Código da Vinci" pelo estilo de sequências, mas como já tinha falado no primeiro longa, a trama se assemelha mais a "Seven" e "Zodíaco", e isso é um tremendo de um elogio, pois são grandes filmes de suspense investigativo. Dito isso, a segunda parte da trama felizmente seguiu o mesmo tom que o primeiro filme, a mesma formatação, tons e claro estilo, além claro de ter começo, meio e fim nessa parte (embora tenha deixado mais coisas abertas do que o primeiro filme!). Ou seja, muitos irão falar que é mais do mesmo, então eu digo: que bom, pois se o primeiro foi bom, esse também foi muito bom, deixando tenso da metade para frente novamente com a quantidade de chuva que fizeram na produção... sério preciso de um vídeo completo de bastidores dessas cenas finais, pois não é possível que gravaram com tanta chuva!

O longa nos mostra que um ano se passou desde que Amaia Salazar solucionou os crimes que aterrorizavam o vale de Baztan. Grávida e determinada a deixar para trás o que aconteceu em Elizondo, a vida da inspetora é novamente alterada por um evento inesperado: o suicídio de vários prisioneiros que deixam uma única palavra escrita na parede de suas celas, Tarttalo. Os perigos que Amaia acreditava ter deixado para trás retornam com mais força do que nunca e o inspetor terá que enfrentar esse novo caso em uma investigação vertiginosa ameaçada pela presença de sua própria mãe.

Novamente tenho que pontuar o excelente trabalho do diretor Fernando González Molina, que deu um tom tão preciso para a trama literária que o filme acabou ficando denso, cheio de personagens bem encaixados em diversos momentos, muitos elementos cênicos e principalmente um ambiente completo que ao juntar tudo sob uma perfeita maestria acabou resultando em um filme completo, que sim traz muitos elementos semelhantes ao primeiro filme, mas isso é o que deve acontecer em uma trilogia: a permanência dos mesmos elos. E dessa forma com tamanha produção, certamente ele será lembrado por ser quase que um louco, pois geralmente diretores não pegam trilogias literárias e as desenvolvem completamente para o cinema, e caso façam são grandes nomes, e aqui ele pegou e abraçou a causa dos livros de Dolores Redondo, que foi magicamente adaptada por Luiso Berdejo, e fez algo muito cheio de detalhes, e que mesmo com tantas cenas escuras, debaixo de muita chuva, com personagens ensopadíssimos, resultasse em um filme intenso e preciso, que certamente será lembrado mais para frente. Porém minha única raiva com ele, (e nem é tanto com ele, mas sim com filmes intermediários de trilogias) é que acabou ficando muitas pontas abertas e interessantes para serem desenvolvidas no capítulo final, e aguardar para o lançamento daqui há vários meses será bem tenso.

Sobre as atuações, Marta Etura ainda segura bem a onda como a protagonista Amaia Salazar, movimentando bem o filme e entregando cenas bem densas e fortes com sua personagem, porém aqui ela exagerou no ar materno, que sabemos bem que acontece com todas as mães de querer estar grudados ao filho, mas no filme isso chega a ficar chato de ver acontecer, mas acaba funcionando bem para o final da trama. Carlos Librado continua bem com seu Jonan, mas aqui suas deduções foram menos trabalhadas, e ele funcionou mais como elo de apoio da protagonista, de forma que poderiam ter usado melhor o personagem. Leonardo Sbaraglia trabalhou seu juiz Javier de uma maneira meio estranha, pois o personagem aparece praticamente no filme inteiro em diversas cenas, mas não vemos importância nele, e isso acaba soando meio estranho, que talvez até funcione para o terceiro filme, mas aqui não agradou muito. Imanol Arias entregou um Padre Salazar bem intenso, mas que poderiam ter aproveitado bem mais para cenas mais fortes, de modo que a briga entre a protagonista e ele pareceu meio jogada demais. Benn Northover entregou seu James da mesma forma que no primeiro filme, um elemento cênico romântico para as quebras do filme junto da protagonista, e se expressou tão bem quanto um abajur do cenário. Itziar Aizpuru trabalhou bem com sua Tia, fazendo caras e bocas, e chamando uma certa responsabilidade no filme, mas sem muita dinâmica acabou ficando de lado. Susi Sánchez trabalhou sua Rosaria de maneira forte, e se no primeiro filme apenas deu um susto na sua cena, aqui trabalhou bem mais a personagem, deixando o gran finale para o terceiro filme. E mais uma vez continuo sem entender o personagem de Colin McFarlane como o mentor da protagonista Aluisius Dupree, de modo que parece ter muito mais importância para quem leu os livros do que aqui no filme. Ou seja, todos tiveram bons momentos, mas aqui aparentemente no segundo livro cada personagem tem muito mais detalhes do que conseguiram passar para o filme, e o sentimento de falta é maior, o que mesmo a trama prendendo muito ficamos a cada momento esperando algo a mais de todos.

Visualmente volto a frisar que a vila que arrumaram para as filmagens é incrivelmente cênica, de modo que se realmente existe foi um achado e certamente podem fazer milhares de filmes por ali, pois é simpática para determinado estilo de filme, é assustadora para outros, e aqui encontraram a densidade correta para que o filme ficasse tenso com a quantidade imensa de chuva ocorrendo, que nesse acabou virando uma tempestade monstruosa com direito a inundações e tudo mais, e que junto de muitos elementos cênicos como berços estranhos, investigações familiares com muitos elementos, ossos e outros casarões resultaram numa produção imensa e muito bem feita.

Enfim, não digo que é melhor que o primeiro longa, pois a história do primeiro filme foi melhor contada sem depender de tantas coisas como ocorre aqui, porém o nível de tensão desse é bem mais forte e pesado, afinal a história mexe com coisas mais macabras e intensas, ou seja, na soma dos dois pontos temos algo que compensa a outra parte, e sendo assim é mais um filmaço que vale a pena ver, e que provavelmente iremos aguardar muito a última parte da Trilogia Baztan, pois o filme prende bastante, e queremos saber o desfecho de tudo. Dessa forma recomendo ele com toda certeza para todos que gostam do estilo suspense investigativo, e fico por aqui hoje, então abraços e até logo mais.
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Netflix - Isi & Ossi (Isi i Ossi)

4/17/2020 01:28:00 AM |

Sempre reclamei muito dos filmes alemães pela falta de ritmo ou por diversas coisas estranhas que costumam entregar, e por esse motivo fiquei com muito receio de conferir o longa "Isi & Ossi" que estreou nas últimas semanas na Netflix, mas como sou persistente peguei ele hoje para conferir e olha até que conseguiram entregar um longa bonitinho, cheio de sacadas e clichês tradicionais do estilo, com uma pegada bem colocada do famoso negócios que acabam virando um romance, e dessa forma o acerto é bem trabalhado. Claro que temos muitas coisas bizarras no meio do caminho, como o avô rapper que sempre vai preso completamente desnecessário, a mãe que tem um posto mas nunca está lá, os amigos riquinhos fúteis, ou seja, vários pontos que estão apenas para encher linguiça na trama, mas se ignorarmos esses problemas a trama fica gostosa e bem dinâmica, valendo a conferida, principalmente para quem gosta de comédias românticas leves e bem produzidas ao menos, pois aqui a família rica esbanjou sem dó (e o melhor, a história deles nem foi contada, apenas a moça diz que tudo começou por um parafuso, e seja feliz com essa informação!).

A sinopse nos conta que a filha de um bilionário quer ser chef de cozinha. O filho de uma pobre mãe solteira quer ser boxeador. Para realizar seus sonhos, os dois vão ter que formar uma improvável aliança.

O trabalho do diretor e roteirista Oliver Kienle pode ser visto como uma trama dinâmica de classes se relacionando e tendo problemas, pois são completamente opostos que acabam se atraindo, e principalmente logo após o ponto de virada vemos a conversa entre mãe e filha que dá uma nuance meio que jogada, porém bem explícita para a ideia da trama, ou seja, o filme em si tem muitos elos forçados que temos de ignorar, porém o diretor soube usar cada momento para que seu filme funcionasse, divertisse e tivesse ainda os elos românticos casuais, de forma que tudo possa até parecer grandes clichês que já vimos em diversos longas americanos e franceses, mas que da forma meia doida da academia alemã de cinema pareça mais próprio deles. Ou seja, o diretor mesmo usando coisas desnecessárias demais acabou acertando, e o filme tem ritmo e acaba sendo gostoso de conferir, de modo que até podemos lembrar algum dia quando nos perguntarmos sobre alguma comédia romântica alemã, mas ainda assim tem exageros demais que poderiam ser eliminados.

Sobre as atuações, é bacana dizer que o casal embora bem jovem soube conduzir bem as dinâmicas, e mesmo que não entregassem personagens incríveis, foram coesos no que precisavam fazer. E dessa forma Lisa Vicari acabou brincando bastante com sua Isi, fazendo trejeitos desajeitados para uma riquinha, mas sabiamente ousou em alguns atos mais a vontade, de maneira a estar mais solta na metade do filme, saindo bem pelos cantos com acertos mais simples. Já Dennis Mojen já foi exagerado demais com seu Ossi, não ficando nem um brucutu generalizado pelo boxe, nem um par chamativo, recorrendo sempre a trejeitos rápidos e situações que fossem de fácil esquiva para não se perder tanto, mas ao final e nos momentos mais românticos acabou se saindo bem. Quanto dos demais, tivemos os maiores problemas do longa, com pais meio que jogados com Christina Hecke e Hans-Jochen Wagner pelo lado da garota e Lisa Hagmeister pelo lado do garoto, um avô malucão, um amigo desengonçado, ou seja, é melhor nem detalhar a bagunça que foram os atos com eles, pior ainda se pontuarmos algo dos atores da lanchonete, que bizarro é pouco para definir.

Agora sem dúvida alguma a equipe de arte junto com a produção fez um filme de primeira linha, com uma mansão monstruosa, um lado todo cheio de luxo para os ricos da cidade, e um lado não diria pobre, mas com coisas mais bagunçadas, um estilo mais comum de ver, de forma que para os ricos é quase como entrar num mundo paralelo, e fizeram bem com festas em boates e bares meio barra pesada, colocaram um posto caindo aos pedaços para ser algo da família, e até a casa do jovem com mofo, alimentos já bem velhos, mas a jovem ainda fez mágica no melhor estilo Masterchef como um desafio para criar algo com os alimentos dali, além claro de uma hamburgueria completamente maluca com personagens bizarros e cenas com elementos cênicos mais malucos ainda, ou seja, é um filme aonde precisaram desenvolver muito o ambiente para chamar atenção em cada momento.

A trilha sonora contou com muitos canções e trilhas bem colocadas, puxando bem para o lado de rap e hip hop, numa pegada bem dinâmica que deu um tom a mais para o filme, e que claro quando colocam no Spotify, eu deixo o link aqui para vocês, então curtam a vontade após ver o filme!

Enfim, é um filme bem bacana, que tem dinâmica, e que mesmo lotado de clichês do estilo e bizarrices tradicionais dos filmes alemães, o resultado acaba funcionando bem dentro do que foi proposto, e sendo assim quem gosta de comédias românticas acabará gostando do fechamento da trama, e assim acaba sendo a indicação, pois do contrário não é um filme que fará outros gostarem do estilo. Bem é isso pessoal, eu fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até lá.

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Netflix - Girl (Girl)

4/16/2020 12:53:00 AM |

Certamente se você já viu muitos filmes envolvendo balé saberá o quanto de esforço as jovens fazem e se dedicam para conseguir aparecer na frente da apresentação, ou até mesmo estar numa apresentação, e entrar em grandes escolas do esporte, então pensar num filme que mostre não apenas isso, mas a aceitação de um garoto trans, em processo de mudança corporal na adolescência, tomando seus hormônios, e ainda longe de fazer a operação definitiva, em um meio de inúmeras comparações e tensões. Pois bem, o longa "Girl" trata bem disso, e tinha colocado ele na minha lista da Netflix logo que foi indicado ao Globo de Ouro do ano passado e ganhado diversos prêmios em Cannes, e havia esquecido de conferir, e hoje resolvi pegar para ver, e olha, o longa é daqueles tensos, com uma dramaticidade intensa e cheia de vértices, que vai acontecendo e causando sensações fortes que nem pensávamos em ver num filme, quiçá na vida de alguém, além de uma cena de fechamento daquelas que você começa a sentir pela preparação dela, e torce para não ocorrer, mas o diretor entrega, e meus amigos, você sente a dor tanto física quanto psicológica do protagonista. Ou seja, é um tremendo filmaço, que vai comover muitos, mas mais do que isso, ele serve de exemplo de reflexão, pois muitas vezes julgamos alguns por motivos tão amenos, enquanto outros sofrem com o isolamento psicológico de seu próprio corpo.

O longa nos conta que Lara (Victor Polster) é uma jovem menina de quinze anos, seu maior sonho é tornar-se uma bailarina profissional e, com a ajuda do pai, ela busca uma nova escola de dança para desenvolver sua técnica. No entanto, a menina encontra dificuldades para adaptar-se aos movimentos executados nas aulas por conta de sua estrutura óssea e muscular, já que Lara nasceu no corpo de um menino.

Já disso isso algumas vezes, mas é bem raro um diretor acertar a mão em seu primeiro longa metragem, e aqui temos uma dessas exceções com o belga Lukas Dhont que não só acertou como levou um pacote de prêmios pelo excelente trabalho que fez, conseguindo construir sua narrativa de uma maneira tão intensa, tão viva, tão cheia de momentos chaves perfeitos, que ele acaba nos colocando praticamente juntos da personagem principal, fazendo com que os diversos sentimentos que a protagonista sente sejam passados através de olhares, de gestuais, e principalmente de momentos, pois mesmo que ele não entregue através de falas, vemos os ares nas nuances, vemos tudo presente, além claro de servir para mostrar algo que raramente é falado em filmes, que é o caso das pessoas trans, do seu sofrimento em não conseguir aceitar o corpo, não se ver ali, e ainda no caso do filme, de querer algo que comumente não tem como acontecer naturalmente. Claro que o diretor teve uma boa base real para se inspirar para escrever a história através do que ocorreu com a bailarina Nora Monsecour, e com isso o resultado foi bem além, e assim vale demais a conferida por tantos motivos quanto possa imaginar.

Quanto das interpretações, é fato claríssimo que Victor Polster não deu show, ele fez do filme o seu show pessoal, com uma interpretação tão minuciosa de sua Lara, que chega a arrepiar em diversos momentos, de tal forma que em raríssimas cenas sequer desconfiamos de ser realmente um garoto ali (não havia pesquisado antes se era realmente um menino ou menina), e tirando o fato de mostrar as genitálias em alguns atos (que poderia ser por algum tipo de computação caso fosse uma garota), o ator só precisou de olhares para que seu sentimento e sofrimento fosse passado, ou seja, ele foi incrível realmente. Quanto aos demais atores, tivemos muitas participações praticamente, com muitos jovens que vivem com a garota na escola, no balé, os diversos professores, vários médicos, e tudo mais que possam dar alguma conexão para que o jovem se destacasse ainda mais, porém as atitudes praticamente se vertem somente ao protagonista, e claro seu pai vivido por Arieh Worthalter, que tem bons momentos, consegue transcender cenas com uma boa química com o jovem, e vale muito o destaque.

No conceito visual vemos muito do mundo do balé, com cenas fortes de pés machucados, muita dança, muita precisão de movimentos, tudo ocorrendo em academias e claro na escola, cenas fortíssimas vividas em cada banheiro aonde o jovem tira seus esparadrapos, e tenta tomar um banho sem ser julgado, e claro os diversos atos no apartamento da família e no do vizinho, com algumas festas bem montadas através da simplicidade cênica, mas bem contundentes para cada ato, além claro de alguns atos no trânsito até os médicos ou escolas, que refletiam boas conversas e momentos, ou seja, um filme simples de locações, simples de detalhes cênicos, mas com momentos em locais estratégicos, até claro a cena de impacto fortíssima ao final.

Enfim, é um filme fora do comum, que muitos não verão por preconceito, por cunho sexual e muitos outros motivos bobos, mas que vale certamente parar um tempo para conferir, refletir sobre os casos e se envolver com tudo o que é passado, pois o filme entrega uma das melhores histórias do tipo, e mesmo forçando um pouco, tendo alguns atos meio travados, o resultado ainda sobressai e fica forte na medida certa para ser trabalhado. Sendo assim fica minha recomendação e volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.

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