Tem filmes que possuem uma essência tão complexa quanto a história em si, e só para parar e analisar um pouco o que o longa deseja transmitir já se vai quase o tempo inteiro da projeção. Digo isso ao abrir o texto de "A Vigilante do Amanhã: Ghost In The Shell", pois muitos que forem conferir o longa nos cinemas provavelmente irão sair tão confusos quanto ao tentarem entender a história antes de ver completamente a ideia. Não digo que seja algo absurdo, pois tudo é muito bem explicado nas cenas finais, mas durante quase toda a duração do longa ficamos meio que perdidos com tantas imagens, tantas situações e diversas indagações pipocando na mente, o que acaba tornando o filme algo que daria para colocar num estilo de ficção bem cult, e remeter a uma mistura dos grandes clássicos do cinema como "Blade Runner", "Matrix" e até "A.I. Inteligência Artificial", ou seja, um filme bem cheio de ficção, mas que transmite muitas mensagens subliminares para se pensar e criar um vértice bem maior. Sendo assim, o filme conta com muitos efeitos, e mesmo tendo sido convertido, o 3D está interessantíssimo de acompanhar na sala do cinema.
O longa nos mostra que em um mundo pós-2029, é bastante comum o aperfeiçoamento do corpo humano a partir de inserções tecnológicas. O ápice desta evolução é a Major Mira Killian, que teve seu cérebro transplantado para um corpo inteiramente construído pela Hanka Corporation. Considerada o futuro da empresa, Major logo é inserida no Seção 9, um departamento da polícia local. Lá ela passa a combater o crime, sob o comando de Aramaki e tendo Batou como parceiro. Só que, em meio à investigação sobre o assassinato de executivos da Hanka, ela começa a perceber certas falhas em sua programação que a fazem ter vislumbres do passado quando era inteiramente humana.
Alguns dias atrás tive a oportunidade de ver o anime de 1995 que serviu de base para esse novo longa, e se lá a situação mostrada para quem não viu a série foi algo bem confuso, aqui esse problema ocorre quase que durante o longa inteiro, tirando o final aonde praticamente tudo é explicado e fica redondinho, mas foi com muita sagacidade que o diretor Rupert Sanders colocou uma história lúdica em seu segundo longa para funcionar bem com uma proposta enfática, criar um mundo tecnológico com cara japonesa, baseado em um anime/mangá japonês, gravando na Nova Zelândia, e com protagonistas americanos, ou seja, algo que poucos teriam coragem, e principalmente conseguiriam acertar. E por um grande milagre, acaba funcionando bem, mesmo que para isso você não possa sequer piscar durante toda a projeção, senão a chance de se perder no meio da história maluca é altíssima. O resultado é mais favorável devido à alta concentração tecnológica da trama, e pela história ser algo que faz o público ficar curioso, pois não é algo clássico de funcionar em filmes, já que o longa agradaria bem mais como uma série em 10-12 capítulos do que num filme de 107 minutos, pois ele tem de nos apresentar quem é cada personagem, como eles estão/se encontram nas atuais condições e tudo mais, de modo que fique funcional, entendível e principalmente, funcione como cinema, e o tempo é curto para tudo isso, então vemos um longa bem corrido, com situações praticamente jogadas, que quem gosta do estilo vai se esforçar para entender, mas quem não for fã do gênero ou dormirá, ou sairá da sessão falando que foi a pior coisa que já assistiu na vida, e de forma alguma o longa é algo para ser jogado fora.
Dentro das atuações, mesmo após as diversas polêmicas em cima da escolha de Scarlett Johansson como uma protagonista que originalmente é japonesa, podemos dizer que a jovem acabou saindo muito bem no estilo, dando boa dinâmica para as cenas de ação e agradando com suas facetas interpretativas/expressivas que costuma fazer, além claro do diretor dar uma ótima lição, afinal apenas o cérebro é de uma japonesa, o corpo inteiro é um robô, então poderia ser a Viola Davis ali que estaria tudo certo, ou seja, sua Major é bem trabalhada e funciona, mesmo que poderia ter sido um pouquinho mais extrovertida, pois a seriedade chega a ser dura demais. A caracterização de Pilou Asbæk para viver Batou foi algo incrível, pois deram um visual tão bem colocado se assemelhando tanto à animação que mesmo o ator não empolgando tanto com sua expressão rude, ele acaba chamando a atenção nas cenas mais impactantes. Juliette Binoche como sempre consegue mostrar seu potencial mesmo com poucas cenas medianas, colocando dinâmica e interesse em sua Dra. Ouelet, mas como a personagem funciona apenas como um elemento de quebra, tendo um momento marcante para acertar na expressão a atriz acaba não sendo tão boa como costuma ser. Takeshi Kitano faz um Aramaki bem colocado, principalmente nas cenas finais, mas pareceu um pouco perdido no longa, talvez por falar mais japonês no meio de tantos americanos e não se conectar tanto com a trama, pois certamente o personagem teria bem mais importância do que o que foi mostrado. Peter Ferdinando começa meio de lado com seu Cutter, mas vai sendo incrementado na trama e melhorando a cada novo ato de forma que ao final já está bem colocado e até agrada, mas poderia ter aparecido um pouco mais. Os demais apareceram menos ainda que esses e não tiveram grandes atos, com exceção de Michael Pitt que com seu Kuze acabou tendo uma história para contar, mas o modificaram tanto para ficar robotizado que por pouco não acabaram desaparecendo com sua interpretação.
Agora um dos melhores pontos sem dúvida do longa fica a cargo da produção incorporada à direção de arte, que claro usou demais computação gráfica, mas em momento algum isso atrapalhou o clima futurista, com diversos elementos passeando pelo cenário (e até pela tela com o uso do 3D), prédios, carros e tudo interagindo entre si com efeitos bem colocados, e principalmente, diversos objetos cênicos agradando como parte da história, não ficando disponíveis apenas como enfeite, e sim servindo para introduzir a história e cair dentro do contexto futurista que a trama tanto pedia. Com muitas cores espalhadas cenicamente, a trama até funciona com um tom vibrante, mas nas cenas de tensão o cinza azulado sempre predominou para criar o momento sem fugir do teor da trama. Quanto do 3D, temos sim muitas cenas desnecessárias do uso dos óculos, mas na maior parte sempre tem um ou outro elemento saindo da tela e muita profundidade sendo usada, mesmo sendo inteiramente convertido na pós-produção.
Enfim, o longa usou muitas coisas boas da animação, trabalhou bem uma história dentro do contexto completo, mas também teve muitos erros como pontuei acima, porém fica acima da média e agrada de certa maneira quem for fã desse estilo futurista mais complexo, principalmente pelo excelente trabalho visual e pela complexidade da história em si. Ou seja, não é um longa que vai fazer você gostar de ficção, mas certamente vai agradar quem já for fã. Bem é isso, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto de outra estreia da semana, então abraços e até mais.
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O longa nos mostra que em um mundo pós-2029, é bastante comum o aperfeiçoamento do corpo humano a partir de inserções tecnológicas. O ápice desta evolução é a Major Mira Killian, que teve seu cérebro transplantado para um corpo inteiramente construído pela Hanka Corporation. Considerada o futuro da empresa, Major logo é inserida no Seção 9, um departamento da polícia local. Lá ela passa a combater o crime, sob o comando de Aramaki e tendo Batou como parceiro. Só que, em meio à investigação sobre o assassinato de executivos da Hanka, ela começa a perceber certas falhas em sua programação que a fazem ter vislumbres do passado quando era inteiramente humana.
Alguns dias atrás tive a oportunidade de ver o anime de 1995 que serviu de base para esse novo longa, e se lá a situação mostrada para quem não viu a série foi algo bem confuso, aqui esse problema ocorre quase que durante o longa inteiro, tirando o final aonde praticamente tudo é explicado e fica redondinho, mas foi com muita sagacidade que o diretor Rupert Sanders colocou uma história lúdica em seu segundo longa para funcionar bem com uma proposta enfática, criar um mundo tecnológico com cara japonesa, baseado em um anime/mangá japonês, gravando na Nova Zelândia, e com protagonistas americanos, ou seja, algo que poucos teriam coragem, e principalmente conseguiriam acertar. E por um grande milagre, acaba funcionando bem, mesmo que para isso você não possa sequer piscar durante toda a projeção, senão a chance de se perder no meio da história maluca é altíssima. O resultado é mais favorável devido à alta concentração tecnológica da trama, e pela história ser algo que faz o público ficar curioso, pois não é algo clássico de funcionar em filmes, já que o longa agradaria bem mais como uma série em 10-12 capítulos do que num filme de 107 minutos, pois ele tem de nos apresentar quem é cada personagem, como eles estão/se encontram nas atuais condições e tudo mais, de modo que fique funcional, entendível e principalmente, funcione como cinema, e o tempo é curto para tudo isso, então vemos um longa bem corrido, com situações praticamente jogadas, que quem gosta do estilo vai se esforçar para entender, mas quem não for fã do gênero ou dormirá, ou sairá da sessão falando que foi a pior coisa que já assistiu na vida, e de forma alguma o longa é algo para ser jogado fora.
Dentro das atuações, mesmo após as diversas polêmicas em cima da escolha de Scarlett Johansson como uma protagonista que originalmente é japonesa, podemos dizer que a jovem acabou saindo muito bem no estilo, dando boa dinâmica para as cenas de ação e agradando com suas facetas interpretativas/expressivas que costuma fazer, além claro do diretor dar uma ótima lição, afinal apenas o cérebro é de uma japonesa, o corpo inteiro é um robô, então poderia ser a Viola Davis ali que estaria tudo certo, ou seja, sua Major é bem trabalhada e funciona, mesmo que poderia ter sido um pouquinho mais extrovertida, pois a seriedade chega a ser dura demais. A caracterização de Pilou Asbæk para viver Batou foi algo incrível, pois deram um visual tão bem colocado se assemelhando tanto à animação que mesmo o ator não empolgando tanto com sua expressão rude, ele acaba chamando a atenção nas cenas mais impactantes. Juliette Binoche como sempre consegue mostrar seu potencial mesmo com poucas cenas medianas, colocando dinâmica e interesse em sua Dra. Ouelet, mas como a personagem funciona apenas como um elemento de quebra, tendo um momento marcante para acertar na expressão a atriz acaba não sendo tão boa como costuma ser. Takeshi Kitano faz um Aramaki bem colocado, principalmente nas cenas finais, mas pareceu um pouco perdido no longa, talvez por falar mais japonês no meio de tantos americanos e não se conectar tanto com a trama, pois certamente o personagem teria bem mais importância do que o que foi mostrado. Peter Ferdinando começa meio de lado com seu Cutter, mas vai sendo incrementado na trama e melhorando a cada novo ato de forma que ao final já está bem colocado e até agrada, mas poderia ter aparecido um pouco mais. Os demais apareceram menos ainda que esses e não tiveram grandes atos, com exceção de Michael Pitt que com seu Kuze acabou tendo uma história para contar, mas o modificaram tanto para ficar robotizado que por pouco não acabaram desaparecendo com sua interpretação.
Agora um dos melhores pontos sem dúvida do longa fica a cargo da produção incorporada à direção de arte, que claro usou demais computação gráfica, mas em momento algum isso atrapalhou o clima futurista, com diversos elementos passeando pelo cenário (e até pela tela com o uso do 3D), prédios, carros e tudo interagindo entre si com efeitos bem colocados, e principalmente, diversos objetos cênicos agradando como parte da história, não ficando disponíveis apenas como enfeite, e sim servindo para introduzir a história e cair dentro do contexto futurista que a trama tanto pedia. Com muitas cores espalhadas cenicamente, a trama até funciona com um tom vibrante, mas nas cenas de tensão o cinza azulado sempre predominou para criar o momento sem fugir do teor da trama. Quanto do 3D, temos sim muitas cenas desnecessárias do uso dos óculos, mas na maior parte sempre tem um ou outro elemento saindo da tela e muita profundidade sendo usada, mesmo sendo inteiramente convertido na pós-produção.
Enfim, o longa usou muitas coisas boas da animação, trabalhou bem uma história dentro do contexto completo, mas também teve muitos erros como pontuei acima, porém fica acima da média e agrada de certa maneira quem for fã desse estilo futurista mais complexo, principalmente pelo excelente trabalho visual e pela complexidade da história em si. Ou seja, não é um longa que vai fazer você gostar de ficção, mas certamente vai agradar quem já for fã. Bem é isso, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto de outra estreia da semana, então abraços e até mais.