Meu Malvado Favorito 3 em Imax 3D (Despicable Me 3)

6/30/2017 02:02:00 AM |

Quando vamos ao cinema conferir uma animação, o mínimo que esperamos é uma boa diversão com toda a história, e que por ser uma continuação ela mantenha a essência original, e com "Meu Malvado Favorito 3" não temos dúvida que a meta foi cumprida, pois diverte do começo ao fim, principalmente pela ideia oitentista com as canções do vilão do longa, faz boas piadas com os bichinhos amarelos, e consegue desenvolver bem uma história bem paralela (talvez alguns arcos a menos e um maior desenvolvimento de outros) para envolver o público desde o começo e  fazer com que a criançada (e claro muitos adultos também) entrem no clima e saia feliz com o que é apresentado. Não digo que foi o melhor que poderiam ter feito, pois diferente dos outros que o 3D foi bem explorado, aqui temos pouquíssimas cenas com a tecnologia, e talvez tenham exagerado no enfoque do vilão, esquecendo um pouco os demais personagens bacanas da trama, mas isso é algo que quem quiser mais história irá reclamar, pois quem for querendo ver as bagunças, essas sim existem aos montes. Ou seja, uma boa sessão pipoca para levar a garotada, gastar alguns trocos com os brindes das bombonieres, lanchonetes, supermercados e afins, e se divertir sem pensar em nada.

A sinopse do longa nos conta que nos anos 1980, Balthazar Bratt fazia muito sucesso através de sua série de TV, onde interpretava um vilão chamado EvilBratt. Entretanto, o tempo passou, ele cresceu, a voz mudou e a fama se foi. Com a série cancelada, Balthazar tornou-se uma pessoa vingativa que, nas décadas seguintes, planejou seu retorno triunfal como vingança. Gru e Lucy são chamados para enfrentá-lo logo em sua reaparição, mas acabam sendo demitidos por não terem conseguido capturá-lo. Gru então descobre que possui um irmão gêmeo, Dru, e parte com a família para encontrá-lo no país em que vive.

A grande sacada para manter a essência dos demais filmes da franquia está sendo manter os mesmos roteiristas, diretores, artistas gráficos iniciais e ir subindo os melhores para posições melhores, e tem sido assim desde o segundo filme, passando pelo derivado "Minions", agora no terceiro longa, e já confirmado os mesmos em "Minions 2", ou seja, enquanto der para tirarem boas piadas com os bichinhos amarelos, eles vão explorar e se mantiverem a diversão nem iremos reclamar, ou melhor, vamos falar um pouco também, afinal o que vimos nesse longa foi um exagero sem precedentes a quantidade de tempo que deixaram para com o vilão, mas apenas em duas cenas rápidas mostraram que Gru já tentou pegar ele outras vezes, ou seja, acabou ficando um pouco jogado isso, além de que tentaram também mostrar rapidamente as tentativas de Lucy em ser realmente uma mãe, e deixaram pouco tempo para isso, ou seja, poderiam ter explorado mais coisas familiares ou atacar de vez a briga com vilões, não ficando nem lá, nem cá. Agora quanto dos minions, foram sábios em manter quase um longa paralelo com eles, não necessitando estar junto dos personagens principais, e por mais incrível que possa parecer, o arco "dramático" deles funcionou demais, mostrando seu desespero por comida, sua participação num show, seus momentos na cadeia, o momento do líder com seu malvado favorito, e claro sua volta para casa, ou seja, algo com começo, meio, flashback e fim perfeitos, de modo que certamente a continuação do seu filme solo irá funcionar muito bem (talvez usando a forma como encerra o longa, ou não!).

Quanto dos personagens não vou ser hipócrita que os amarelinhos chamam toda atenção para si, e divertem sozinhos como já disse acima, porém temos de falar dos demais também, e certamente o destaque vai para a pequena Agnes com sua fofura, ternura e desenvoltura na busca por seu unicórnio, e claro que vemos ela como uma pequena minion mulher, e isso nos diverte demais, e claro que as suas aventuras ainda cabem bem junto da irmã Edith que tem idade próxima. Já Margot também consegue sair muito bem na sua desenvoltura já de adolescente, e mesmo que aqui tenha funcionado o que fizeram, talvez num próximo longa já comece a ficar complicado, afinal teremos ela praticamente adulta (seria uma nova vilã ou agente?). Gru e Dru literalmente se complementam, como praticamente todos os gêmeos do mundo, um é rico, o outro está desempregado, um é fracassado como vilão para o pai, o outro adorado, ... e por aí vai, e suas trapalhadas em equipe acaba sendo bem colocadas na trama, mas a grande sacada ficou por Leandro Hassum (dá para ele ficar apenas dublando que é muito melhor que atuando?) usar dois tons semelhantes de voz, mas pontuando formas de fechamento sonoro para diferenciar, o que ficou muito legal de ver em uma dublagem, ou seja, ele mostrou a que veio e que o personagem já recaiu totalmente para sua persona. Maria Clara Gueiros deu um bom tom para sua Lucy, mas como sabemos bem da atriz, ela é uma ótima comediante, e talvez um tom mais cômico em sua voz agradaria bem mais de ouvir, embora sua personagem aqui não seja tão divertida, mas sim desesperada em ser algo. Agora sem dúvidas foi bacana, embora volte a frisar exagerado de tempo de tela, conhecermos Balthazar, com sua história, desesperos por manter a fama, ótimo contexto de época que foi trabalhado, visual lembrando ícones da época, e claro o bom tom de voz de Evandro Mesquita (quer alguém mais retrô para o papel???) que deu um show de dublagem, sem apelar para trejeitos, e deixando o personagem bem curioso de acompanharmos, ou seja, talvez se o filme ficasse só na sua briga com Gru seria algo genial.

No conceito visual, a trama trabalhou muitos elementos dos anos 80, como bonecos articulados, videos com ranhuras, joysticks de palito, jogos antigos como genius e cubo, entre outras coisas, e com isso montaram todo o ambiente de Balthazar, já do outro lado exploraram bem a riqueza de Dru, mostrando uma casa imensa, carros e elementos de vilania de primeira linha, tudo em meio a um país onde os porcos e queijo dominam a paisagem, ou seja, algo que poderia muito ser explorado, mas não foi, e quanto dos minions, as cenas na prisão são as melhores, mas muita coisa bacana foi usada de elemento cênico, mostrando que claro que ao subir diretores de arte para postos de direção geral, vão trabalhar bem a cenografia. Sobre o 3D, mesmo vendo numa tela imensa como é a Imax, ficou algo bem a desejar, com pouquíssimas cenas de profundidade e algumas cenas com elementos vindo em nossa direção, mas é notável a quantidade que poderiam ter trabalhado em cima, ou seja, talvez seja exagero, mas as crianças gostam de ver coisas pulando pra fora da tela, e certamente funcionaria bem dentro da proposta, portanto quem quiser ver sem a tecnologia, pode ir bem tranquilo que não vai perder nada.

Outro que merece os parabéns é o brasileiro Heitor Pereira, que sempre arrasa nas trilhas sonoras das animações hollywoodianas, e que aqui não decepcionou de forma alguma nas escolhas junto de Pharrell Williams pegando só a nata dos anos 80, e que claro vou deixar o link para todos escutarem muito. E claro que com tudo o que foi composto para o longa ainda tivemos um ótimo ritmo com as faixas solo, que você também ouve aqui.

Enfim, é algo bem divertido que poderia ser melhor ainda, mas que vai agradar a todos que forem esperando o básico de uma boa animação, e que sempre agrada pelas trapalhadas dos amarelinhos, então prepare o bolso ao ir para o cinema com alguma criança (alguns adultos também), pois é certeza de quererem souvenires dos cinemas, das lanchonetes, de mercados e por aí vai, afinal ficar só no filme vai ser bem difícil, mas não vá esperando um longa excepcional, pois não vai encontrar aqui. Ou seja, a diversão é garantida, mas faltou decidir de qual lado da diversão iriam explorar melhor. Bem é isso pessoal, fico aqui com a única estreia que não tinha conferido (afinal as demais já vieram no Festival Varilux) e volto na próxima quinta com mais textos (ou antes caso decida conferir o longa legendado também para comparar), então abraços e até breve.

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Meus 15 Anos

6/26/2017 12:40:00 AM |

Se você tem menos de 15 anos, sonha em ter seu primeiro relacionamento, uma bandinha e fazer uma festa de princesa ao completar seu debute, pode ir correndo para os cinemas conferir "Meus 15 Anos", caso contrário, tem outros filmes bons passando, inclusive nacionais. Digo isso sem nenhum pesar, pois o filme não é ruim, e sendo muito bem produzido vale como um bom entretenimento, porém é algo que só quem estiver dentro desse público alvo (ou seja mais velho e se sinta dentro dessa faixa também) vai conseguir gostar do longa teen lançado nessa última quinta-feira. Não digo que o longa não vá agradar pessoas mais velhas, mas é um filme muito fraco para isso, e só quem adentrar de espírito mesmo, gostar de produções singelas sobre bailes e brincadeiras da adolescência vai gostar da proposta, mas como frisei no começo do texto, o longa foi feito para um público-alvo fechado e nada mais, e sendo assim, vai dar a bilheteria e divertir esses, o resto, verá por tabela ao levar as pequeninas jovens.

O longa nos mostra que aos 14 anos de idade, Bia descobre que vai ganhar uma grande festa de 15 anos. Mas tem um problema: a garota sonhadora e apaixonada por música não tem muitos amigos para convidar ao evento, por ser pouco popular na escola. Ela conta com a ajuda do único grande amigo, Bruno, e do pai Edu para consertar a situação.

Em seu primeiro longa metragem, a diretora Caroline Fioratti não demonstrou muita ousadia, deixando tudo fluir de uma maneira bem simples para que a produção apenas acontecesse, não entrando em detalhes de nenhum momento, mas acertando principalmente no conceito de não fazer uma novela, nem algo seriado demais, trabalhando exatamente a trama como cinema, ou seja, uma história bem contada com começo/meio/fim em 103 minutos. Porém com uma "pretensão" musical, a trama poderia ter sido facilmente mais ousada e interessante para um público mais abrangente, não sendo feito apenas para os pequenos fãs de Larissa Manoela, pois talvez se trabalhasse mais as nuances de diversão, de cantoria da protagonista, e interagisse toda a dramaticidade para isso (seria completamente possível com o mesmo roteiro), teríamos algo tão empolgante nos melhores moldes de longas teen hollywoodianos de mesma temática e não apenas um filme romantizado para meninas florescerem sua ideia de maturidade emocional e de uma festa de 15 anos perfeita ou não. Não digo que ela tenha errado, pois ela fez o que estava previsto em roteiro, sendo algo básico de mostrar e atingir quem desejavam atingir, mas que certamente quem pegar a mesma história e desenvolver ela melhor com nuances e propostas maiores, certamente fará um longa incrivelmente belo e mais emocionante, pois aqui tudo anda numa reta quase sem emoções nenhuma.

Sobre as atuações, hoje ao pesquisar desconhecia que Larissa Manoela foi a garotinha do longa "O Palhaço", que já havia falado tão bem e que teria um grandioso futuro, pois bem, sua voz está cada dia melhor para cantar atuando, e já não comete tantos deslizes de expressões como mostrava nos dois longas "Carrossel", de modo que aparenta ter atingido um estilo singelo de olhares e pode ainda crescer bem mais para ficar ainda melhor de estilos, veremos que futuro terá mais a frente, pois aqui com sua Bia, o resultado expressivo agradou. Rafael Infante é comediante, e sabemos que faz isso muito bem, mas seu Edu ficou bobo demais, mesmo que o papel de pai da protagonista fosse alguém que anima festas infantis, pois talvez alguém mais sério chamasse menos atenção e agradasse mais. Embora não tenha feito nada de muito grandioso com seu Bruno, o jovem Daniel Botelho até agradou bem com sutilezas nos olhares, e mostrando uma amizade bonita com a protagonista, desenhando algo que pode ser que venha acontecer com um segundo filme (16 anos? 18 anos?? vai saber!!), mas por enquanto apenas mostrou boa perspectiva. O jovem Bruno Peixoto também agradou de modo geral com seu Thiago, sendo o tradicional bonitão do último ano que as garotas mais novas se apaixonam, mas que geralmente é o que menos presta, só poderiam ter trabalhado um pouco mais seu visual, pois ficou meio jogado demais na trama, e o garoto ter um pouco mais de falas. Victor Meyniel e Priscila (Polly) Marinho exageraram demais na interpretação dos organizadores da festa, e poderiam sem menos enfeitados, mesmo sabendo que geralmente pessoas desse grupo costumam ser histéricos desse jeito, mas em filme soa forçado demais.

O contexto visual da trama não é lá aquelas mil maravilhas, mas escolheram bem um colégio interessante para algumas interações, um local bacana para uma festa tradicional (usaram uma sacada bem jogada para não precisar criar realmente uma festa imensa de 15 anos, colocando docinhos num lugar, palco em outro e externa em outro, fazendo tudo parecer mais amplo, porém gastando bem menos) e ainda teve a festa na piscina que também abusou de pequenos ângulos para não realçar erros externos, ou seja, o filme foi esperto em simplicidade cênica, mas também faltou com a ousadia para criar vértices maiores.

Musicalmente o longa escolheu boas canções para representar cada momento, e o acerto foi bem encaixado, talvez a jogada de marketing na escolha de Anitta tenha sido bacana, afinal ela apenas cantou e não precisou interpretar nada, e ainda levará alguns fãs para conferir o longa só por ela, ou seja, uma ótima jogada!

Enfim, como disse logo no começo, se você tem garotas nessa faixa de idade, certamente vão ver o longa e curtir, portanto pode levar sem medo, agora caso contrário, guarde dinheiro que semana que vem tem minions e aí é garantia de acerto. Para os adultos certamente o longa mesmo bem produzido ficou faltando muita coisa para chamar atenção, ficando bem mediano, que será a nota que acabarei dando. Fico por aqui encerrando essa semana cinematográfica (depois de 20 dias diretos no cinema sem folga nenhuma - não que eu ligasse para isso!!), e volto na próxima quinta com mais textos, então abraços e até mais.

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O Círculo (The Circle)

6/24/2017 03:09:00 AM |

Sinceramente fico pensando o que leva o público ao cinema: entretenimento ou questões filosóficas? Pois antes de ir conferir "O Círculo" só ouvia pessoas falando de suspense raso, que não adentra muito às situações propostas, que falha em mostrar os conflitos em questões amplas, e por aí vai, tanto que fiquei até receoso do que veria na tela do cinema. Mas hoje ao conferir, acabei curtindo tanto a proposta, que "ataca" a essência de mídias que querem cada vez mais o público saindo do privado/particular e exponha toda sua vida, o que deseja fazer, o que está fazendo, em quem votou, como votou, e sendo obrigatório usar a rede para tudo (pagar contas, votar, escolher leis, etc), ou seja, algo que já vimos alguns dos peixões da internet (Google e Facebook, entre outros) tentarem fazer, de modo que ou o pessoal da crítica anda meio maluco e se perdeu na ideia completa querendo algo mais explícito e forçado, ou os peixões andam pagando alguns por aí e ainda não chegou dinheiro aqui no bolso do Coelho, pois o filme é muito interessante e bem trabalhado, claro que de modo fictício e utópico demais, e que talvez não necessitasse alguns excessos e a deixa para um segundo filme, mas de resto é algo incrível de ver e imaginar se fosse realmente real tudo da forma mostrada nele.

O longa nos mostra que "The Circle" é uma das empresas mais poderosas do planeta. Atuando no ramo da Internet, é responsável por conectar os e-mails dos usuários com suas atividades diárias, suas compras e outros detalhes de suas vidas privadas. Ao ser contratada, Mae Holland fica muito empolgada com possibilidade de estar perto das pessoas mais poderosas do mundo, mas logo ela percebe que seu papel lá dentro é muito diferente do que imaginava.

Talvez o pessoal tenha lido o livro e lá contenha um aprofundamento maior na ideologia da trama, e assim sendo esperavam bem mais do longa, mas posso dizer que o trabalho do diretor e roteirista James Ponsoldt foi algo inteligente e que consegue fluir bem, claro que ele poderia ter atacado muito mais essa moda que temos de compartilhar tudo de nossa vida e estar sumindo com o lado mais privado de tudo, acusado mais as empresas grandiosas que procuram saber de tudo e mais um pouco sobre seus usuários, mas para isso ele acabaria caindo em ataques de patrocinadores, o que sabemos que não é algo nada saudável, ou seja, de modo geral temos um filme que vai bem, é bem dirigido e cria uma leve "franquia" no molde de outras que trabalham um pouco com o modo de vida das pessoas. Claro que o livro de Dave Eggers é apenas um, mas o desfecho da trama aqui moldou uma possibilidade para o público ver muito mais num segundo filme, que aí sim seria algo bem perigoso de se mostrar, e aí veríamos se o diretor é realmente ousado e corajoso de atacar, mas isso só veremos se der bilheteria, pois se depender da crítica especializada, o longa vai ser bem esquecido, e como já frisei, é uma besteira imensa, pois quem for disposto a acreditar (e já conhecer um pouco do que ocorre no mundo das mídias sociais de conteúdo) vai ficar bem indignado com tudo o que fazem para saber e influenciar cada vez mais o público comum. Se posso apontar um defeito técnico, que nem é bem um defeito, seria algo que já vimos em outros filmes que é de traduzir textos que aparecem na tela, pois costuma ficar bem legal, claro que aqui quiseram mostrar que haviam diversas línguas falando com a protagonista, mas quem não souber um pouco de inglês (ao menos) perderá muita coisa bacana visual que aparece na tela.

Sobre as interpretações, podemos dizer que Emma Watson está cada vez mais próxima de ser presença confirmada na maioria das produções, pois depois de fugir um pouco dos cinemas para esquecermos sua Hermione, agora andamos vendo ela fazendo todo tipo de personagem possível, e aqui sua Mae é alguém bem intrigante e cheia de nuances expressivas, porém um pouco ingênua demais em alguns momentos, apática demais em outros, e exagerada em outros, oscilando demais de personalidade para um único papel, e talvez isso pudesse ser melhor trabalhado com uma direção mais efetiva de elenco. Digo isso de problemas de direção de atores, pois Tom Hanks que não costuma falhar, fez excessos de caras e bocas também com seu Bailey, e se talvez tivesse aparecido mais no longa iria soar até estranho, não digo que o que ele fez seja algo ruim, mas parecia um personagem inferior fronte a toda sua potência, tanto que em sua melhor cena de apresentação (no melhor estilo Bill Gates de ser) chega a arrepiar, mas depois fica morno demais. John Boyega foi quase um fantasma no longa com seu Ty, aparecendo e sumindo das cenas misteriosamente (isso é explicado por ele mesmo em determinada cena), e caso haja um segundo filme certamente será muito importante sua participação maior, pois o ator como bem sabemos é muito bom, e precisa aparecer mais para explodir. Diria que a personagem Annie de Karen Gillan é a que mais oscilou de personalidade na trama, parecendo ser dirigida em dois momentos completamente diferentes, no começo com uma empolgação completamente insana (mesmo demonstrando dormir pouco e sob efeito de muito energético), e depois numa apatia tão icônica que chega a ser desesperador de ver, nem parecendo ser a mesma pessoa interpretando, e embora seja plausível dentro da trama isso, ficou estranho por não parecer a mesma atriz fazendo os dois momentos. Ellar Coltrane finalmente pode esquecer seu personagem de 12 anos filmando "Boyhood", e o mais engraçado é que seu personagem Mercer tem aversão de câmeras, foge de redes sociais e tudo mais, numa grandiosa ironia frente a alguém que passou muitos anos tendo sua "vida" fictícia filmada por um único diretor, mas ainda precisa melhorar muito para agradar de trejeitos, pois estava duro demais nos momentos "não" romantizados. Em seu último filme gravado (já que morreu em Fevereiro/2017 após complicações em uma cirurgia cardíaca) Bill Paxton teve até que uma boa homenagem se mostrando (mesmo que não como desejava) que pessoas doentes (aqui com esclerose múltipla) também se divertem entre quatro paredes, de modo que seu Vinnie (ou pai da protagonista) acaba sendo interessante e poderia até ter sido trabalhado um pouco mais em cima disso na trama.

O visual do longa é um pouco bagunçado, pois ao mesmo tempo que mostramos um lugar maravilhoso como central da empresa Círculo (remetendo muito as centrais maravilhosas do Google e do Facebook) com festas, pessoas trabalhando e se divertindo e tudo mais, com uma cenografia incrível, computadores e celulares da marca própria da empresa e por aí vai, tivemos uma lagoa/mar completamente sujo e estranho (poderiam ter optado filmar em algum lugar mais interessante) que depois fica completamente diferente na cena seguinte (embora explicado o motivo de estar tão prateado) e acaba resultando em algo destoado, parecendo assim como disse nas atuações, sendo feito em dois momentos completamente diferentes. Porém de modo geral, tudo acaba bem ousado e divertido de acompanhar se formos conectando as grandes empresas que já citei aos montes. Quanto do conceito fotográfico, tivemos boas cenas bem iluminadas dentro da empresa, nas apresentações com luzes de celulares ficando como parte da iluminação, mas as cenas na lagoa necessitariam ser melhores pensadas, pois no escuro completo não quiseram fazer uma iluminação falsa e ficou escuro demais, estragando a ideia que a protagonista conta de sua visão, ou seja, com problemas técnicos para serem pensados numa continuação.

Enfim, é um filme bem interessante de se acompanhar, e que de uma maneira bem utópica se não levado como entretenimento fictício pode mostrar muito de que o mundo está tomando um rumo problemático com tanta invasão de privacidade alheia que vemos por aí. Claro que volto a frisar que a ideia do filme não é acusar nada nem ninguém, mas dá para se refletir bastante divertindo com a proposta completa e assim funcionando como deveria. Friso que como disse na maior parte do texto temos diversos defeitinhos, e aparências de ser filmado de duas maneiras completamente diferentes em épocas diferentes o que causou uma leve estranheza, mas nada que atrapalhe a experiência e diversão propostas. Portanto se você gosta de um filme interessante que vai trabalhar seus pensamentos, sem exigir que você se aprofunde no assunto, esse vai ser seu filme, e certamente gostará muito do que verá, mas se você gosta de algo mais elaborado, que realmente possa servir de base para mostrar problemas da sociedade atual, o resultado aqui vai ser decepcionante. Bem é isso pessoal, deixo assim minha recomendação para qual tipo de público o longa foi feito, e veremos se vão ter culhões para uma continuação mais ousada, ou se vamos ficar apenas com a ideia em nossa mente do que foi mostrado no final do longa. Encerro aqui esse texto, mas volto em breve com a última estreia da semana, então abraços e até logo mais.

PS: Fiquei tentado a dar nota 8, mas como pontuei tantos defeitinhos, achei melhor ficar com 7, mas é um bom filme para quem não reparar tanto em erros técnicos.

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Ao Cair da Noite (It Comes at Night)

6/23/2017 01:48:00 AM |

Vou ser bem sincero e começar o texto contando a grande sacada de "Ao Cair da Noite", que é o de deixar você esperando o filme inteiro com luzes quase na penumbra, e nada (ou quase nada) acontecendo, de modo que podemos apelidá-lo de o filme do "agora vai", pois a cada novo momento falamos: "agora vai dar merda", "agora vai aparecer alguém", "agora o cara vai trair ele", "agora ele fica doente", "agora vai rolar algo", e é assim o longa inteiro, pois a trama cria uma tensão em si, mas só cria e nada conclui, deixando de um modo simples a tensão dominar o espectador e não causar nada mais do que o simples medo de algo acontecer (que nada mais é do que o medo tradicional das pessoas, de que a qualquer momento estando protegidos ou não em nossas casas, o mal pode acontecer). Claro que aqui temos o medo da doença (que não chega a ser explicada qual é, pode ser qualquer uma bem contagiosa e que está acabando com o mundo), o medo do desconhecido, o medo da floresta, o medo da falta de comida, vários medos rondando a família principal e até mesmo a família visitante/secundária, porém assistimos o filme esperando tanto acontecer algo, que o não acontecer (ou melhor sem dar spoiler, o que acontece) é pouco demais para sairmos vibrando do longa e muito demais para falarmos que gostamos do que vimos. Ou seja, é daqueles filmes que críticos que amam filosofar vão falar horrores sobre todas as causas efêmeras da vida cotidiana, da realidade abstrata dos elefantes voadores, de teses sobre filósofos que nunca ouvimos falar sobre, mas que o Coelho que já vai no pé do ouvido diz: "não sei se gostei, e tenho mais certeza ainda que muitos vão odiar!", pois até dá para filosofar muito (aliás o primeiro parágrafo já está imenso), mas o longa é mais simples do que gastar tanto tempo falando, e vai ser o tradicional ame-o ou deixe-o, e haverá os malucos como eu que vão ficar em cima do muro sem saber o que achou.

A sinopse nos conta que Paul mora com sua esposa e o filho numa casa solitária e misteriosa, mas segura, até que chega uma família desesperada procurando refúgio. Aos poucos a paranoia e desconfiança vão aumentando e Paul vai fazer de tudo para proteger sua família contra algo que vem aterrorizando todos.

Não posso em momento algum falar que o que o diretor e roteirista Trey Edward Shults fez em seu segundo longa seja algo ruim, pois ele consegue causar tensão, mas faltou fazer algo com essa tensão ou trabalhar um pouco mais a história para que o filme ficasse realmente completo, não sendo apenas um esquete barato de situação. Claro que isso é uma opinião de quem gosta de longas mais colocados, aonde tudo vai acontecer, aonde o protagonista busca um mote, etc, mas para quem gosta de longas 100% abertos aonde tudo fica ali sem muita dinâmica, o resultado chega a ser incrível. Como vocês devem estar percebendo, esse Coelho que vos digita já se contradisse umas 3 ou 4 vezes enquanto escreve o texto, e essa é a segunda sagacidade da trama, ela ao mesmo tempo que faz você odiar o que viu, também faz amar a ideia inteira em si, pois é ao mesmo tempo completa como um longa de tensão, e extremamente falha como longa de situação, ou seja, seria melhor o diretor ter definido o que desejava com a trama e ter entregue algo pronto para agradar um estilo só, não deixando que as duas frentes florescesse, e sendo assim, lhes garanto que o trabalho dele seria espetacular, não que aqui tenha entregue algo ruim. Diria que o longa se assemelha muito no estilo de "Sinais", "A Vila", entre outros e quem gostar desse estilo, talvez saia muito feliz com o longa, pois acredito que o diretor tenha se embasado nessas obras para complementar sua ideia. Outro detalhe que pode até ser considerado um spoiler sobre a doença é que vemos em determinado momento uma obra de arte sobre o desespero tomado pela peste negra, aonde todos estão se matando para tentar se salvar, e o filme toma bem essa dimensão mesmo em diversos momentos, ou seja, salve-se quem for mais esperto.

Sobre as atuações, diria que todos se expressaram bem, demonstrando medo, tensão, nervosismo, raiva, tristeza e até desejo em alguns momentos, transmitindo bem os sentimentos através de olhares, trejeitos e muita expressão corporal, de modo que no devido tempo de tela de cada um conseguiram ser coerentes com o que a trama desejava passar. Joel Edgerton é um ator de renome, e consegue fazer bem os papeis que caem em suas mãos, mas aqui ele aparentou uma idade bem mais velha do que ele possui, e ficou um pouco estranho, claro que como produtor do longa ele faz o que quiser, mas talvez um ator desconhecido mais velho caísse melhor no papel de Paul. Kelvin Harrison Jr. tem tudo em suas mãos para ser um daqueles atores que se encontrar o papel certo irá despontar como um dos grandes nomes do cinema, pois sabe dosar suas emoções, mudando-as rapidamente, e seu Travis embora abusado demais, é um personagem que ele soube trabalhar bem. Outro que soou um pouco estranho no papel foi Christopher Abbott, pois seus momentos embora dúbios ficavam sempre enrolados em trejeitos jogados ao ar, de modo que começou bem com seu Will, fluiu mediano e terminou fraco demais para chamar a atenção. Quanto das mulheres, podemos dizer que tanto Carmen Ejogo com sua Sarah quanto Riley Keough com sua Kim foram determinantes nos momentos mais impactantes, forçando as expressões para que tudo impressionasse e não ficasse jogado como o diretor tanto queria no início, claro que poderiam ter feito muito mais, mas ainda assim conseguiram um bom destaque.

Por ser um filme de baixíssimo orçamento, "apenas" 5 milhões, a trama ficou com uma casa em meio a uma floresta, uma caminhonete, algumas madeiras, pratos, lanternas, desenhos, giz de cera, e nada mais, trabalhando claro um pouco com a maquiagem nas cenas mais "aterrorizadoras" e alguns panos espalhados pela casa, deixando a arte do filme bem crua de elementos, e trabalhando com quase nada para demonstrar simbolismo (que é o que mais falta no longa), tirando claro o momento do sonho do garoto com o quadro que citei no começo, que aí é talvez o ponto mais chamativo para a doença em si. Detalhe, ainda não achei um significado alegórico possível para uma porta vermelha, talvez alguém possa filosofar mais a respeito nos comentários! Agora como todo bom longa de terror/suspense, a fotografia é quem mais trabalha, e a trama só funciona pelo ótimo trabalho de Drew Daniels que com pouquíssima luz criou as boas cenas de tensão e deixou que o imaginário do público trabalhasse por ele, usando bem as sombras da lanterna de mão e da arma, conduzindo as jogadas de luzes dentro da floresta, e tudo mais que pudesse criar um clima, ou seja, um grandioso acerto que pode lhe render convites para filmes maiores do gênero.

Enfim, é um longa que não apela para nada, e que vai fazer o público sair da sala pensando realmente se gostou ou não por tudo que falei acima. Não digo que foi o melhor longa do gênero, mas também ficou muito longe de ser o pior. Como disse, aparecerão diversos críticos filosóficos sobre cada momento da trama, e sim, o longa tem esse objeto de ser mais pensado, porém prefiro escolher ele como algo do quase, do "agora vai", e que com isso conseguiu criar uma certa tensão sem precisar de cenas com sangue, espíritos, monstros, bruxas e afins, mas que poderia ser imensamente maior e melhor (ao menos na minha opinião!). Portanto se você gosta de criar tensão imaginária, refletir sobre medos, e não se assustar com nada, talvez esse seja um dos melhores filmes do estilo, mas se você gosta de suspenses/terrores daqueles para sair arrepiado do cinema, esse não vai lhe agradar de forma alguma. Sendo assim, veja qual estilo lhe agrada mais, e vá ou fuja do longa. Por enquanto fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais uma estreia, então abraços e até breve.

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Um Perfil Para Dois (Un Profil Pour Deux)

6/22/2017 01:43:00 AM |

Já refleti diversas vezes aqui sobre a leveza cômica que alguns longas franceses conseguem ter, e digo mais, a maioria sabe como fazer um longa romântico ficar muito gostoso de assistir. Digo isso mais uma vez para "Um Perfil Para Dois" que brinca muito com a ideia dos relacionamentos pela internet, mas felizmente só usa isso para a base inicial, depois deixando que a brincadeira completa ficasse a cargo de conversas duplas, que servem tanto para um lado como para o outro, e é inegável a quantidade de risos que ele consegue tirar do público do começo ao fim, tendo um ou dois momentos que dá uma leve desligada, para no final conseguir surpreender num nível máximo de uma reviravolta tão incrível que a vontade que temos é de levantar e aplaudir (bati palmas contido, meio que escondido, mas bati!), pois é algo que o filme vai nos levando para um lado, e muda completamente, tanto que na sessão aonde assisti, algumas pessoas já estavam levantando para sair (sem nem começar os créditos - achei muito estranho!) e voltaram para sair da sessão mais encantados ainda. Ou seja, é raro o ano que temos muitos filmes praticamente perfeitos no Varilux, mas esse ano posso citar 4 grandes nomes, e esse estará entre eles.

A sinopse do longa nos conta que Pierre é um viúvo e aposentado que não sai de casa há muitos anos, e que descobre as alegrias da internet graças a Alex, um jovem contratado por sua filha para lhe ensinar o básico de computadores. Em um site de namoro, uma mulher jovem e bela, que usa o codinome flora63, é seduzida pelo romantismo de Pierre e o propõe um primeiro encontro. Apaixonado, Pierre volta a viver feliz, mas em seu perfil ele colocou a foto de Alex e não a sua. Pierre deve agora convencer o jovem Alex de encontrar Flora em seu lugar.

O mais incrível da trama, é que se observarmos bem o trabalho do diretor e roteirista Stéphane Robelin veremos que o longa não possui nada de mais, é bem simples, e ao trabalhar toda a situação com uma desenvoltura bem singela ele acaba conseguindo envolver cada um com um trabalho preciso, cheio de boas sacadas e que funciona, pois a trama poderia ser vista por alguns como boba demais, cansativa pela forma que Yaniss Lespert entrega seu Alex, e até mesmo floreada demais, mas conforme vamos nos afeiçoando com tudo, e entrando na grande brincadeira ousada que acabam propondo, de tudo parecer que vai dar muito errado e se vira da forma mais incrível possível, principalmente pela ótima atuação de Pierre Richard, o resultado vai numa crescente que não parece acabar. Claro que no miolo essa crescente dá uma bela desabada, pois o ângulo volta a recair em Yaniss, e friso, um ator melhor ali seria perfeito para o longa, mas a virada final (que não vou dar spoiler) muda tudo e faz com que você saia maravilhado com o que lhe foi entregue, ou seja, um longa incrivelmente agradável e muito gostoso de conferir.

Podemos colocar Pierre Richard como o melhor ator do Varilux desse ano né? Pois foi perfeito nos dois melhores filmes do Festival, primeiro no "Perdidos em Paris", e agora demonstrando um carisma incrível com seu Pierre, trabalhando olhares apaixonados, olhares de voyeur, entre muitos outros trejeitos que conseguiu eximir, e sempre com uma fala bem colocada, agradável e uma personificação ímpar da proposta que lhe foi entregue, não teve como falhar, agradando num nível pra lá de ótimo. Em compensação, mesmo personagem Alex sendo alguém deprimente e sem muitas expectativas durante praticamente todo o filme, o ator Yaniss Lespert poderia ter dado uma desenvoltura melhor para o papel, pois nos momentos que a trama acabou dependendo dele, o resultado despencava, e sendo assim, volto a pontuar que talvez tenha sido uma escolha bem errada para o papel, felizmente não conseguiu estragar o longa, pois é notável a quantidade de cenas suas que foram eliminadas, senão seria uma pena o estrago no resultado final. Fanny Valete foi bem doce e interessante com sua Flora, trabalhando bem induzida ao estilo necessitada emotiva, com uma desenvoltura agradável e serena de ver, o que acaba agradando bastante. A interação entre Stéphanie Crayencour e Stéphane Bissot com suas Juliette e Sylvie para com os protagonistas é algo que também merece muito destaque, pois mostra bem uma realidade do jeito que algumas mulheres tratam homens e velhos, não acreditando em seus potenciais, desdenhando e até mesmo debochando, o que acaba soando divertido dentro da proposta, e mostra o quanto as duas também são boas atrizes.

Quanto do visual do longa, o destaque é claro fica para o apartamento de Pierre, com muitas "velharias", mas tudo com um simbolismo incrível que foi colocado com toda certeza em minúcias pela equipe de arte, desde pequenos vasos, quadros, fotos, passando pelo estilo dos móveis antigos, das roupas, chegando até ao ponto de um projetor de película muito bem encaixado para remeter ótimas lembranças num granulado incrível para remeter o velho do cinema funcionando bem encaixado com o novo, ou seja, tudo muito bem pensado, agradando na medida certa, depois passando para o estilo da casa de Sylvie, com muita modernidade, mas fios para todos os lados, sem que ninguém nem soubesse como usar, ou seja, muitas contraposições que a equipe de arte trabalhou muito bem, usando claro da mesma síntese do longa inteiro de palavras/objetos/sintaxes duplas que agradaram demais, inclusive na conotação de elementos em mandarim, que ninguém entende, mas que estão lá para mostrar uma cultura nova que está adentrando em todos os lugares. No conceito fotográfico a trama colocou tons mais escuros no início para mostrar o protagonista angustiado, sem vida, sem muitas expectativas, e conforme vai empolgando, se apaixonando e tudo mais, as cores vão ficando mais vibrantes e claras, até brincar com isso em alguns momentos para dar choques de tom sobre tom, o que é muito agradável e interessante de ver por parte de uma direção de arte teoricamente cômica, ou seja, um luxo raro de se ver.

Enfim, é um filme incrível, que mais do que recomendo para todos os gostos possíveis, que vai agradar, divertir e emocionar com muita simplicidade, e que só não foi perfeito pelo personagem coadjuvante ter ficado com um ator tão fraco, pois senão seria daqueles longas que mereceriam prêmios e mais prêmios em todos os tipos de Festivais. Pena que quem não conferiu ele no Festival Varilux terá de esperar até 28/09, mas se aparecer em sua cidade não perca de forma alguma, pois lhe garanto que a diversão vai valer muito a pena. E assim acaba minha cobertura de quase todos os longas do Festival Varilux (perdi apenas 1 pela corrida entre dois cinemas não encaixar com o tempo da bilheteria lenta do Cinemark, mas vou torcer para que apareça pelo interior para conferir mais para frente), desde já agradeço ao pessoal do Cinema de Arte e do Cinépolis Santa Úrsula pelo apoio no Festival, e amanhã já volto com novos textos da primeira estreia dessa nova semana, então abraços e até breve.

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A Viagem de Fanny (Le Voyage de Fanny) (Fanny's Journey)

6/21/2017 02:12:00 AM |

Confesso que quando vi o pôster lotado de crianças, já imaginei "A Viagem de Fanny" como um longa monótono, bobo e sem graça alguma, mas com muita graciosidade, tensão e emoção o longa acabou me conquistando demais, transformando toda a dureza da Segunda Guerra, agora vista pela ótica de crianças judias em algo tão inteligente, bem feito e dosado na medida certa que acabamos ficando apaixonados por tudo o que é mostrado, fazendo com que o longa se tornasse a grande cereja do bolo do Festival Varilux, pois de uma maneira bem simples a trama é construída e desenvolvida, não pecando em nada nem por falta nem por excesso, mostrando que sim, um longa de Guerra pode ser muito bem interpretado por crianças!

O longa nos mostra que do alto de seus 12 anos, Fanny é cabeça dura! Mas é, sobretudo, uma jovem menina corajosa que, escondida em uma casa longe de seus pais, toma conta de suas duas irmãs mais novas. Ao ter que fugir precipitadamente, Fanny vai à frente do grupo de oito crianças, iniciando uma perigosa peripécia através da França ocupada durante a Segunda Guerra Mundial, em direção a fronteira com a Suíça. Entre medos, risadas compartilhadas e encontros inesperados, o pequeno grupo aprende a independência e descobre a solidariedade e a amizade

A peripécia que a diretora e roteirista Lola Doillon fez em cima do livro de Fanny Bel-Ami (que viveu realmente toda a situação mostrada no longa) é algo tão impressionante que ficamos realmente deslumbrados, pois a cada cena a tensão só aumentava, a criatividade das crianças se desenvolvia bem, e principalmente a dinâmica do longa nos conduzia exatamente para onde ela desejava mostrar, ou seja, o filme fluía, que é algo que tanto reclamo da maioria dos filmes dramáticos franceses. Sendo assim, cada plano bem escolhido mostrava ângulos precisos para que estivéssemos quase junto das crianças vivendo aquele medo da polícia nos capturar, estando com fome, frio, desejo (esperança) de ver novamente nossos pais, mas principalmente sobreviver e ajudar nossos irmãos/amigos a conseguir sobreviver também. Claro que por ser baseado em algo real, a história teve um conteúdo impressionante, mas mais do que isso, a sintonia escolhida pela diretora para que a garota protagonista tivesse essa vivência foi o ponto certo para que seu longa empolgasse e agrasse demais.

Sobre as atuações temos de aplaudir a estreia de Léonie Souchaud nos cinemas, pois a garotinha foi singela, e bem dirigida conseguiu transformar sua Fanny em uma personagem única, com medos, emoções, trejeitos bem pontuais, e principalmente usar de sua doçura envolvente para cativar os demais personagens a segui-la, certamente veremos mais dela em breve. Ryan Brodie também conseguiu conduzir muito bem seu Victor e com uma desenvoltura carismática que foi construindo, pois inicialmente parecia arrogante num nível altíssimo, ele conseguiu chamar a atenção e agradar bastante com o que fez. A pequenina Juliane Lepoureau foi tão bonitinha com sua Georgette, vivendo um encantamento único e com leves desenvolturas acabava sempre chamando atenção, sem errar olhares. Os demais pequenos também foram muito bem colocados na trama, cada um de sua maneira encantando e agradando, mas sem grandes destaques. Victor Meutelet foi bem colocado com seu Elie, e talvez poderia até ter tido mais tempo de tela para chamar mais atenção, mas acabaria roubando as desenvolturas dos pequenos, e assim sendo sua fuga é mais justificada do que tudo. Cécile De France foi inicialmente dura com sua Madame Forman, mas trabalhou tão bem seus poucos momentos, mostrando que os adultos também tinham medos na época da Guerra, e mesmo que não demonstrassem de cara, os olhares não escondiam seus desejos mais fortes de sobrevivência. Stéphane De Groodt também foi bem com seu Jean, e principalmente na cena junto dos alemães mostrou uma faceta expressiva tão eloquente que chegamos a ter o mesmo desespero de seu personagem.

Quanto do visual, as escolhas foram perfeitas, com trens antigos andando e fazendo várias desconexões, pensões/casebres/albergues escolhidos na medida certa para mostrar o quão pobre viviam as pessoas na época da Guerra, e que davam o melhor que tinham para ajudar as crianças, figurinos bem pobrinhos para realçar a fuga judaica que mesmo quem tinha dinheiro escondido não tinha como utilizar frente aos nazistas (que muito bem encaixado na visão das crianças como monstros que deviam fugir), e claro, ótimos descampados, florestas, casas destruídas e tudo mais para simbolizar toda a dramaticidade e pontualidade que o longa desejava passar, ou seja, precisão em cima de precisão. A fotografia segurou bem os tons marrons para manter a época, mas também usou muito do verde das matas para esconder leves defeitos de tons, e junto da precisão das cenas escuras para criar tensão montou-se um quebra-cabeça incrível de iluminação para que os realces felizes (a doçura das crianças decorando a casa destruída foi algo incrível de ver no tom sobre tom ali) ficassem na memória de cada um.

Enfim, é um longa que até possui leves defeitos, mas é tão bonito, soando tão agradável, que faz fluir diversos tipos de emoções, de modo que com muito louvor (mesmo faltando conferir 1 longa ainda do Festival) coloco esse como o melhor do Festival Varilux, e só não dou a nota máxima (esse ano vai ser difícil rancar um 10 coelhos desse que vos digita) pelo simples fato da trama ser rápida demais, pois merecia um desenvolvimento maior das cenas na floresta, merecia ter mais cenas nos orfanatos para conhecermos o dia a dia dos pequenos ali, merecia sim aparecer mais alemães em cena, e nesse quesito para também reduzir os custos, acabaram cortando muita coisa que certamente deve estar no livro de Fanny. Portanto caberia bem um 9,5 aqui, mas como não tenho, vai acabar sendo um 9 com louvor, e digo mais, quem puder confira esse longa para se emocionar e ver o quanto era difícil sobreviver naquela época. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com o último texto do Festival Varilux, então abraços e até lá.

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Amanhã (Demain) (Tomorrow)

6/19/2017 11:06:00 PM |

É interessante como muitos acreditam num mundo melhor, que dá para melhorar toda a bagunça que já fizeram e as consequências que isso trará para o futuro das próximas gerações, e o documentário "Amanhã" que fez um enorme sucesso na França, vencendo inclusive o Cesar de melhor documentário, vem mostrar propostas que andam sendo feitas na agricultura, na energia, na economia, na democracia e na educação, mas tudo mostrado de uma forma tão empolgante que quase dá para sentir o ar de palestras motivacionais por trás de tudo e que com tanta explanação só quem gosta de grandes palestras mesmo consegue segurar o sono que o longa acaba entregando. Não digo que seja algo ruim, muito pelo contrário, é um longa que conseguiram ir atrás de muita coisa positiva, mas assim como digo sempre em documentários, poderiam ter ido atrás dos dois lados da moeda, não ficando somente com algo tão motivacional, pois acabamos não vendo outras possibilidades se não que todas grandes corporações são imensos monstros, que devemos só comer coisas produzidas por pequenos e dentro de nosso bairro, e por aí vai, ficando algo utópico demais de se acreditar, caso você não seja do meio.

A sinopse nos diz que se mostrar soluções e contar uma boa história fosse a melhor maneira de resolver as crises ecológicas, econômicas e sociais que atravessam nossos países? Após a publicação de um estudo que anunciava o possível desaparecimento de parte da humanidade até 2100, Cyril Dion e Mélanie Laurent partiram com uma equipe de quatro pessoas por dez países para entender o que poderia provocar essa catástrofe e, sobretudo, como evitá-la. Durante a viagem, encontraram pioneiros que reinventaram a agricultura, a energia, a economia, a democracia e a educação. Todas juntas, estas iniciativas positivas e concretas, já contribuem para definir o mundo de amanhã…

O trabalho de pesquisa dos diretores Cyril Dion e Mélanie Laurent foi algo bem trabalhosos e interessante, que com muita coleta por 10 países acabou virando algo de um portfólio maravilhoso para se trabalhar, e claro que o documentário em si é um formato de portfólio para jornalistas, mas esse estilo de panfletagem precisa ser mais comedido e trabalhado para que não soasse aberto demais. Ou seja, é um filme muito bem feito, que vai motivar muita gente a tentar fazer coisas boas para um futuro melhor, mas que em contrapartida quem não for deveras fã de documentários, ainda mais do estilo motivacional buscando coisas bonitas para dizer, vai achar mais cansativo que tudo. Volto a frisar que os depoimentos são ótimos, o estilo visual trabalhado muito bonito de se ver, a ideia maravilhosa, mas falta o contra-argumento para que a situação toda ficasse mais crível e menos panfletária, assim como acaba acontecendo nos longas do Michael Moore ou do Al Gore, que pesam para o lado negativo apenas, ou seja, um filme feito para palestras, cada um mostrando o seu lado positivista ou negativista.

De documentários não posso falar sobre o estilo de atuações, ou estilos da fotografia, direção de arte, etc, portanto é melhor fechar o texto apenas voltando a frisar que o material todo foi incrível, são ótimos estilos de filmagem, com pessoas bonitas falando bonito, mas faltou muito para convencer que tudo tem solução como tentaram passar, e principalmente encontrar um ritmo mais envolvente, pois palestras motivacionais são cansativas demais. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas amanhã volto com mais textos, agora de um documentário feito aqui em Ribeirão Preto que terá a premiere gratuita no Cauim, então abraços e até amanhã.

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O Filho Uruguaio (Une Vie Ailleurs) (Life Beyond Me)

6/19/2017 02:53:00 AM |

O que acontece quando um diretor francês resolve fazer um filme usando o estilo uruguaio de dramas como base? Se você nunca imaginou essa situação, procure conferir "O Filho Uruguaio" o quanto antes, pois podemos certamente incluir esse longa como um dos melhores do Festival Varilux desse ano, pois trabalhou tensão, trabalhou um tema extremamente polêmico e principalmente prendeu o espectador com o coração na mão a cada nova desenrolada da situação toda, afinal já ouvimos tantas histórias parecidas em jornais, já imaginamos as situações que poderiam acontecer com qualquer um dos possíveis desfechos, e tudo o que acaba acontecendo vai num desenrolar tão bem encaixado que não conseguimos nem piscar, pois o filme é incrível, possui um estilo único que poucos longas conseguiram passar e quem tiver filhos certamente irá pensar muito mais sobre cada momento da trama, isso é evidente, mas quem não tiver também irá refletir muito, ou seja, perfeito!

O longa nos conta que é no Uruguai que Sylvie finalmente encontra a pista sobre o paradeiro de seu filho, sequestrado há quatro anos pelo ex marido. Com a ajuda preciosa de Mehdi, ela vai recuperá-lo, mas ao chegar lá, nada acontece como previsto: a criança, criada por sua avó e sua tia, parece feliz e radiante. Sylvie percebe que Felipe cresceu sem ela e que agora sua vida é em outro lugar.

Chega a ser interessante pensar como o diretor e roteirista Olivier Peyon chegou até essa história para contar, pois já tivemos diversos casos desse estilo sendo mostrados nos noticiários, e até hoje não havia visto nenhum filme trabalhar bem com a situação, pois a trama em si poderia virar um dramão pesado, poderia virar um terror/suspense fortíssimo, mas aqui a situação foi trabalhada de uma maneira tão leve pelo diretor (claro que ainda assim tencione todos os espectadores) que vamos entrando na mesma toada que o protagonista e quase já não sabemos o que fomos fazer ali, se seguimos o rumo inicial, se damos algum jeito de mudar tudo, e assim sendo a trama se desenrola de uma maneira bem bonita e interessante de acompanhar, o que digo ser a famosa arte da escola uruguaia de cinema de drama, que leva o público para uma área, prepara ele, e o faz mudar de opinião num leve piscar de olhos, que junto do lado tocante do cinema francês que o diretor tão bem conhece resultou em algo gigantesco e interessante demais de ser acompanhado.

Inicialmente pensamos que a protagonista da história seria Isabelle Carré com sua Sylvie, mas embora a atriz esteja ótima, principalmente nas cenas finais, ela abre o filme, some um bom tanto no miolo, e volta a ficar bem encaixada no final, o que não é ruim, mas deixou um pouco a desejar tanto pelas cenas desesperadas, quanto pela falta de um olhar mais terno, pois sei que muitas mulheres ficariam desesperadas na mesma situação que ela, mas a adrenalina tende a descer e funcionaria bem mais um choro do que gritaria como maluca. Agora sem dúvida alguma o show ficou por conta de Ramzy Bedia como Mehdi que trabalhou tão bem colocado, dosando o estilo interpretativo para que seu personagem não se revelasse de cara, sendo o boa praça, encantando aonde deveria, para ao final ser singelo para com seus sentimentos, só não foi melhor no momento exato de revelar para Norma, pois ali ficou sério demais para tudo o que já havia mostrado, mas do restante mostrou ser um grande ator de renome. María Dupláa também conseguiu chamar bastante atenção com sua Maria, desinibida nas cenas iniciais, e quase uma onça ao descobrir tudo, sua cena após a descoberta juntamente com a da polícia chegando é de cortar o coração, mostrando trejeitos muito clássicos e bem escolhidos. Virginia Méndez trouxe para sua Norma todo o sentimento de culpa enraizado com uma destreza perfeita, mas expressou tudo isso mais corporalmente, faltando trabalhar mais os olhares, o que seria a perfeição completa. Agora se o garotinho Dylan Cortes continuar estudando interpretação, mantendo essa expressão gostosa e viva que fez com seu Felipe, certamente daqui alguns anos veremos um nome certo nas premiações, pois que simpatia, que destreza para com as câmeras, fazendo tudo tão bem colocado que muitos profissionais com anos de renome não conseguiriam fazer o que ele fez em cena. Agora o maior ponto negativo da trama foi a escolha da produção nas cidades, pois certamente arrumaram uma vila com pouquíssimo movimento, aonde todo o barulho de produção fez com que o público ao redor ficasse olhando para as câmeras, não sabendo para onde se mover e por aí vai, e isso aconteceu não só na cidade de Florida, como também na capital Montevidéu, deixando um lado amador demais no quesito figurativo, e não digo que todos os momentos cheguem a atrapalhar, mas na maioria que possui qualquer pessoa próxima da cena, o resultado fica estranho de ver.

Quanto do visual do longa, a trama foi bem singela de elementos cênicos, não ousando muito para também não soar falso, mas o grande destaque ficou por conta da caminhonete velha sem porta, das locações simples e bem colocadas para remeter diversos sentimentos (destaque para o cemitério com roubo de flores, e o túmulo da mãe), e assim sendo, a equipe mais orquestrou a dinâmica cênica (como o tradicional churrasco de pós-comunhão na praça) do que precisou criar algo mais visceral mesmo com objetos e tudo mais, deixando isso mais para o primeiro ato aonde vamos aprendendo com tudo o que o protagonista terá em mãos para achar o paradeiro do garotinho. A equipe de fotografia também ousou pouco, pois como a maioria das cenas são externas, tiveram mais que se preocupar com a iluminação natural para ter um contexto real interessante, do que com sombras e densidades, e não digo que isso seja algo ruim, mas talvez mais cenas como a da mãe no final passeando pela casa simples, com um tom abaixo durante outras cenas também, faria o público desabar.

Enfim, é um filme muito bonito, totalmente bem colocado com muitas realidades que vemos mundo afora, e que sem dúvida alguma recomendo, afinal esse pode ser colocado entre os três melhores do Festival Varilux, devido ao conjunto completo da obra, ou seja, não sei se em sua cidade ainda haverá sessões dele nos próximos 3 dias de Festival, mas se não já comece a cobrar os gerentes dos cinemas, pois esse é um dos que ainda não possui data de estreia no Brasil pela Bonfilm. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto do Festival Varilux, então abraços e até breve.

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Baywatch - S.O.S. Malibu

6/18/2017 08:47:00 PM |

É surpreendente quando uma comédia boba consegue divertir tanto o público, pois "Baywatch - S.O.S. Malibu" não tem nada demais senão cenas de mulheres sofrendo com maiôs minúsculos (nem ligamos pra isso, mas pra elas no final mostra o quão tenso foi), diversas tosquices e ação pra todo lado, afinal filme com "The Rock" é impossível existir sem ter muita adrenalina. Ou seja, se você gosta de um pastelão bem divertido que vai apelar sem precedentes para fazer rir, mas que faz isso da maneira mais correta possível, esse sem dúvida alguma é o seu filme, senão nem vá, pois mesmo homenageando a série original dos anos 80 (inclusive com as duas lendas originais fazendo pequenas pontas), a trama não traz a sina policial apenas bem humorada, mas sim algo totalmente tosco que faz rir sem parar do começo ao fim.

A sinopse nos conta que Mitch Buchannon (Dwayne Johnson) é um devoto salva-vidas, orgulhoso do seu trabalho. Enquanto está treinando o novo e exibido recruta Matt Brody (Zac Efron), os dois descobrem uma conspiração criminosa no local que pode ameaçar o futuro da baía.

Claro que não poderíamos esperar outra coisa de um longa dirigido por Seth Gordon ("Uma Ladra Sem Limites", "Quero Matar Meu Chefe"), pois o estilo dele é sempre algo mais forçado e que funciona bem divertido, porém o que não era esperado era o excesso de câmeras lentas, misturadas com dinâmicas aceleradas que deram um tom muito bem colocado na trama, deixando o filme com a cara da série, mas como algo feito para cinema mesmo, não necessitando lembrar do que vimos la em 1989, nem que estilo era a série em si, só se deixando levar pelo tom divertido que optaram e pelas desventuras dos protagonistas. Talvez se desenvolvessem novamente a série integral com esses personagens o resultado ficasse bem ruim e alongado, pois cada um de sua forma foi bem trabalhado aqui, mas confesso que fiquei com uma leve expectativa de continuação com o que mostraram em cena. Não digo que o longa foi perfeito, mas o resultado diverte bem mais do que esperávamos e assim sendo, como é o dever de uma comédia, o acerto foi grande.

Quanto das atuações é fato que a escolha de Dwayne Johnson como Mitch Buchannon foi exagerada, pois ele é muito bom, sim, mas o papel não exigia um monstrão em cena, e com essa colocação acabaram tendo de reverter todas as piadas para cima de força e impacto, e com isso a trama teve uma reversão total, não digo que isso seja ruim, e muito menos que Dwayne não tenha sido sensacional como sempre é, mas chega a ser fora do comum ver um salva-vidas do tamanho dele, porém volto a dizer, que prefiro ele em longas cômicos do que fazendo ação, pois seu estilo é engraçado por natureza, e ele já consegue fazer piada em cima dele mesmo. E falando em piada, a química de Johnson com Zac Efron foi algo fora do comum de se ver na telona, pois o Matt Brody de Efron inicialmente só quis se mostrar, mas depois acabou se conectando tanto com a trama, que a cada nova banda de mocinhos bonitinhos que tentam cantar que Johnson citava para "ofender" o estilo do personagem soava mais e mais divertido, além claro que ele soube dosar bem as caras e bocas (coisa rara de se ver) e trabalhou bem cada momento para empolgar com o personagem. A indiana Priyanca Chopra caiu muito bem como uma vilã sedutora, charmosa, mas também impactante com sua Victoria Leeds, e mostrou que pode cair bem também no estilo americano de filmes, pois antes só vista em Bollywood, agora começa a abrir sua porta para um novo mercado, e com sua beleza e estilo pode chamar muita atenção, que foi o que fez aqui, mesmo que com bem poucas cenas. Alexandra Daddario é lindíssima, e já está acostumada com o estilo de The Rock, de modo que quando estava ao lado do monstrão com sua Summer Quinn, ela ia bem, mas ao lado de Efron, a jovem parecia meio inibida e um pouco perdida, talvez por causa do biquíni pequeno e tudo mais, mas parecia incomodada com algo em cena. Kelly Rohrback pelo contrário já estava completamente descontraída com sua C.J. Parker, brincando sedutoramente com Jon Bass e trabalhando o estilo visual que virou marca de Pamela Anderson (que faz uma leve pontinha no final com sua personagem mais famosa no cinema tradicional), de modo que a garota acertou em cheio no estilo. Jon Bass fez um Ronnie bobo demais e acabou forçando além dos limites, caindo bem para o estilo que a trama pedia, mas longe demais de como era simples a série. Ilfenesh Hadera também mostrou um estilo bem colocado com sua Stephanie, mas teve tão poucos momentos para se mostrar que ficou abaixo na trama, tendo uma ou outra cena mais evidente junto dos protagonistas, o que deixa bem como secundária mesmo. Yahya Abdul-Mateen II fez de seu Sargento Ellerbee, outro personagem bobo e desnecessário para a trama, pois um policial com mais impacto chamaria a diversão para si e ainda agradaria sem abusar da inteligência do espectador. Tivemos uma leve ponta também de David Hasselhoff como O Mentor do protagonista, para claro mostrar que o protagonista da série original envelheceu, mas ainda pode dar conselhos.

O visual praiano tradicional da série foi mantido, com festas bem pontuais e cheias de requinte, muita roupa de banho para agradar os homens, tanquinhos malhados para as mulheres, barcos e lanchas com muita dinâmica e claro mar pra todo lado. Não digo que tenha sido um longa simples de se filmar pelas altas cenas de ação, mas o filme em si visualmente é bem singelo, deixando como comédia colocada para entretenimento apenas e não gastando muito dinheiro.

Enfim, é um filme simples, que diverte demais do começo ao fim, e que aparece sem pretensões gigantescas, sendo claro colocado como um besteirol americano sem limites, mas que quem desejar rir (mesmo que seja de forma forçada a isso), não deve perder de forma alguma, e que quem desejar algo mais elaborado acabe fugindo dele. Portanto fica minha dica de diversão e recomendação para essa semana, e agora vou para mais uma sessão do Festival Varilux, então abraços e até amanhã.

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Tudo e Todas as Coisas (Everything, Everything)

6/17/2017 07:41:00 PM |

Quando vemos um drama romântico, logo de cara o que esperamos é se emocionar ao menos com alguma cena, pois esse estilo de filme costuma pontuar situações duras que nunca imaginamos passar, mas que se refletem em alguma situação esperada de acontecer, e infelizmente com "Tudo e Todas as Coisas" sequer passamos perto de qualquer comoção com a história leve que acabaram nos entregando. E quando digo leve, enfatizo que ela sequer consegue trabalhar qualquer situação mais enfática, trabalhando de maneira bem morna e sem carisma de querermos rever o filme qualquer dia. Claro que temos situações bonitas dentro do contexto completo, mas o primeiro ato do filme é tão demorado e com uma apresentação tão alongada que quando realmente as coisas começam a acontecer já é tarde demais, pois o filme chega ao seu final. Não posso afirmar que o livro também foi sem sentimentos como o filme acabou sendo, mas faltou muita dinâmica para empolgar, e do jeito que acabaram entregando o longa só adolescentes talvez gostem do resultado final.

A sinopse do longa nos conta que Maddie está prestes a fazer 18 anos, mas ela nunca saiu de casa. Desde a infância, a jovem foi diagnosticada com Síndrome da Imunodeficiência Combinada, de modo que seu corpo não seria capaz de combater os vírus e bactérias presentes no mundo exterior. Ela é cuidada com carinho pela mãe, uma médica que constrói uma casa especialmente para as necessidades da filha. Um dia, uma nova família se muda para a casa ao lado, incluindo Olly, que se sente imediatamente atraído pela garota através da janela. Maddie também se apaixona pelo rapaz, mas como eles poderiam viver um romance sem se tocar?

O trabalho que a diretora Stella Meghie fez foi algo bem subjetivo para um longa juvenil, pois geralmente costumam fazer romances bem adoçados para que as mulheres suspirem, ou então já atacam logo de cara a dramaticidade em um nível profundo para que todos chorem e lavem o cinema, e o que ela fez com o roteiro de J. Mills Godloe que se baseou no livro de Nicola Yoon, foi simples demais, não atingindo nenhum dos dois casos, e como costumo dizer, errar fazendo pra mais é algo que empolga, pois vemos produção, vemos enfatização e tudo mais, mas quando se erra pra menos, ficamos apenas esperando, esperando, esperando... e nada acaba acontecendo. Ou seja, é um filme que se duvidar amanhã nem iremos lembrar de ter assistido, e friso, isso é o pior que pode ocorrer com um longa.

Quanto das atuações, lembra daquela garotinha que todos gostaram em "Jogos Vorazes" e até Katniss fez seu famoso sinal, pois bem, Amandla Stenberg cresceu, e deixou sua Rue no passado para ficar bem interessante com sua Maddie aqui, e talvez se ela quisesse o longa poderia até ser mais empolgante, pois a jovem ficou um pouco inexpressiva demais, sempre indefesa, sem sal nem açúcar, o que não prova do erro do filme ser seu, mas faltou vitalidade na essência da garota. Nick Robinson até tentou um pouco mais fazendo olhares e desenvolturas com seu Olly, mas não conseguiu ser um daqueles jovens que as garotas se apaixonam de cara, ficando singelo e bacaninha durante o miolo, mas nada que impressione e faça alguém ter um carisma maior tanto pelo ator quanto por seu personagem. Anika Noni Rose tem uma carreira meio instável no cinema, optando por ficar mais próxima de séries e filmes para TV, e não deveria, pois, seu estilo interpretativo possui trejeitos bem marcados e interessantes, tanto que aqui a maior cena dramática dela conseguiu aflorar sentimentos maiores que qualquer outro feito pelos demais personagens, e talvez se sua Pauline ficasse mais em cena, o longa seria bem diferente. Ana De La Reguera até foi bem com sua Clara, mas seu personagem era tão pequeno dentro do longa que nem teve muito o que interpretar para chamar atenção. Agora os demais, não sei se no livro tinham falas, mas aqui acredito que até a porta de correr fez mais barulho que eles.

Sem dúvidas o melhor do filme ficou a cargo do conceito visual, pois montaram uma casa bem tecnológica e bonita para a garota ficar o maior tempo ali dentro, e nas cenas externas foram espertos o suficiente para escolher uma das locações mais bonitas de oceano que se possui, que é o Havaí, e com isso, as cenas ali foram todas bem iluminadas naturalmente, com ares bem colocados e tudo tendo uma ótima sintonia visual, o que acaba agradando ao menos na segunda parte do filme, mas ainda assim, poderiam ter trabalhado um pouco mais para que a primeira também não decepcionasse. Agora no conceito cênico o grande destaque fica para as cenas de imaginação da personagem com um astronauta passeando por diversos ambientes que ela mesma desenhou, e isso sim poderia ter sido desenvolvido de maneira mágica que agradaria demais tanto cenicamente quanto na história. Outro detalhe que temos de nos ater, é a falta de uma iluminação mais densa, característica de longas aonde a dramaticidade perpetue, e que o filme até talvez tenha uma leve semelhança, como "Como Eu Era Antes de Você", "A Culpa é Das Estrelas", "O Quarto de Jack", mas diferente desses que citei que a trama e a fotografia nos pegam com um afinco emotivo maior, o resultado aqui não atinge ninguém.

Enfim, é um filme que até deve ter uma bilheteria razoável por levar algumas garotas pela ideia do livro (que foi um estouro de vendas), e até pelo trailer bonitinho, mas que vai soar singelo demais para empolgar, e com resultado a venda de mídia física após o filme passar pelos cinemas deve encalhar bastante. Não posso dizer que recomendo o longa, pois achei ele fraco demais para cativar alguém, mas também está bem longe de ser algo completamente não aproveitável, portanto, se você gosta de filmes bem leves mesmo, talvez até goste do resultado, mas no conceito geral de drama romântico passa bem longe. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais uma estreia e também com mais longas do Festival Varilux, então abraços e até mais.

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Tour de France (French Tour)

6/17/2017 03:08:00 AM |

Posso dizer que "Tour de France" é o longa mais contemporâneo do Festival Varilux, pois ele permeia bem todo o racismo que tanto se aflora na Europa, de árabes, argelinos, etc. e une a ideia do novo com o velho, do jovem cantor de rap franco-árabe com o pintor branco, da modernidade que usa fones caros com a pintura do século XVIII feita com espátulas, ou seja, várias misturas que certamente pensaríamos que nunca daria certo, mas acaba ficando tão incrível que entramos na sintonia perfeita do estilo musical do longa e quando vemos não queremos mais parar de acompanhar a saga do garoto e do velho, da experiência e da novidade, do passado com o presente, ou seja, de tudo o que se possa combinar para envolver numa trama muito bem encaixada com o momento, e que mais do que recomendar, todos deveriam assistir o longa para abrir suas mentes e se adequar à tudo o que anda acontecendo no mundo.

O longa nos apresenta Far’Hook, um jovem rapper de 20 anos. Após um acerto de contas, ele é obrigado a sair de Paris por algum tempo. Seu produtor, Bilal, propõe a ele que o substitua e acompanhe seu pai Serge numa volta pelos portos da França, seguindo os passos do pintor Joseph Vernet. Apesar do choque de gerações e culturas, uma amizade improvável surgirá entre o rapper promissor e esse pedreiro do norte da França durante um périplo que os levará a Marselha para um show final, o da reconciliação.

Chega a ser tão belo o trabalho deito pelo diretor e roteirista Rachid Djaidani que o filme acaba tendo uma fluidez tão grandiosa que vai além do esperado, pois os momentos vão oscilando em nossa mente com a determinação do pedreiro/pintor que vai cumprindo sua promessa de pintar todos os portos da França e com isso junto da sina do jovem em ser seu motorista também vai aprendendo a gostar dele, e da mesma forma o jovem músico vai refletindo seus erros durante a viagem, se conhecendo mais e adquirindo também experiência junto de uma pessoa completamente oposta a ele, ou seja, uma brincadeira genial de nuances que nos faz refletir até quanto conhecemos de nós mesmos, ou até onde iríamos para encontrar a paz e defender alguém que nem conhecemos direito e é de outra religião/raça/estilo de vida. Com essas possibilidades de permear a mente, o diretor conseguiu envolver num longa ao mesmo tempo duro pela realidade, mas singelo pela beleza que consegue transmitir, ou seja, algo que dificilmente veríamos acontecer em um longa de qualquer outro país, pois mesmo a França sofrendo com ataques, racismos e tudo mais, é lá que eles apontam o dedo para si mesmos e conseguem num único filme dar uma lição no mundo e para eles próprios ouvirem e mudarem.

Sobre as atuações, temos de ser sinceros e dizer que Gérard Depardieu é um mestre e quem cair em suas mãos não tem como dar errado, pois mesmo fazendo um papel mais duro com seu Serge, ele praticamente colocava a bola nos pés do rapper Sadek para que ele apenas chutasse para o gol, e assim sendo entregou um personagem incrível de ver, que de cara não nos afeiçoamos, mas que com o andar da trama vamos na mesma linha do rapper, conhecendo mais sua personalidade e se conectando com muita desenvoltura para o ótimo fechamento. Como primeiro trabalho interpretativo do cantor Sadek, podemos dizer que foi muito bem encaixado, trabalhou expressões de diversos estilos, e principalmente, se deixou levar pelo conceito que a trama desejava para seu Far'Hook, demonstrando um carisma próprio e que leva muito jeito para as câmeras (tanto filmando com seu celular, quanto ao interpretar). Mabô Kouyate colocou uma personalidade até irritante demais para com seu Sphynx, mas sabemos que brigas de rappers geralmente tem essa mesma levada, então com um certo estudo ele acabou se saindo bem no que fez. Louise Grinberg entrou na reta final com sua Maude, e demonstrou uma boa simpatia, e um estilo gostoso que poderia ter acompanhado mais partes da viagem, pois a jovem traria uma dinâmica interessante para o filme e claro muita beleza. Nicolas Marétheu apareceu pouco em cena como Bilal, mas demonstrou ter uma dinâmica de olhares bem interessante e que valeria ter investido um pouco mais no personagem dele na trama.

Como é de praxe, uma tour envolve quase que um road-movie, e nessa pegada, a equipe artística teve um belo trabalho de arrumar boas locações para as paradas nos portos temáticos da França (principalmente no século XVIII) e criar as diversas situações sendo com alimentos, com policiais, com motos, e tudo mais, para que o objeto cênico fosse a paisagem em si, junto dos elementos para pintura do protagonista, o velho caminhão e claro os telefones e fones do protagonista mais jovem, e com isso, o longa conseguiu se desenvolver sozinho incorporando bons momentos e boas cenas visuais. É claro que para uma boa pintura, é necessário uma boa fotografia, e com road-movies sempre estão dispostos à intempéries climáticas, e o longa brincou bastante com a iluminação natural que deu diversas nuances para que o filme fluísse muito bem.

Não sou o maior fã de rap, mas a toada da batida do longa inteiro foi tão agradável de escutar, que ajudou muito a dar um ritmo propício para que o filme se desenvolvesse bem, e claro que o fechamento cantado com uma canção misturando tudo o que o protagonista viu em sua viagem, resumindo a trama completa foi o show máximo.

Enfim, não diria que é o filme mais técnico do Festival Varilux, mas é o que mais fez refletir e envolver numa única tacada, agradando demais. E sendo assim coloco ele por enquanto no top filmes do Festival, recomendando com toda certeza para todos verem, e sentirem (quem não conseguir ver no Varilux, ele já estreia dia 29/06, só resta saber em quais cidades aparecerá!). Por enquanto fico por aqui, mas volto amanhã com mais um texto de alguma das estreias da semana, afinal os longas do Festival Varilux desse sábado já conferi todos, então abraços e até breve.

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Um Tio Quase Perfeito

6/16/2017 09:20:00 PM |

Sempre digo que quando se quer agradar no cinema cômico brasileiro, a fórmula é não apelar e conseguir transmitir uma boa essência para a família toda, pois geralmente quem gosta de diversão nacional, procura longas divertidos e não apelativos, e com uma boa simplicidade "Um Tio Quase Perfeito" consegue ser agradável e transmitir uma boa dinâmica. Claro que está bem longe de ser algo perfeito, que faça você gargalhar e sair recomendando como a melhor comédia nacional dos últimos tempos, mas de uma maneira bem gostosa ele consegue transmitir lições familiares e ainda divertir com uma comoção leve no final para tentar apagar os erros de um roteiro simples demais.

O longa nos mostra que Tony é um malandro trambiqueiro que adora se disfarçar para ganhar dinheiro de inocentes. Ele já foi estátua viva, pastor, cartomante - tudo com a ajuda de sua mãe, Cecília. Depois de serem despejados de casa, os dois procuram Angela, outra filha de Cecília e com quem eles não falam há anos, que cai na lábia dos dois e se oferece para dividirem o mesmo teto. Após receber uma promoção no emprego que a obriga a passar um tempo viajando, Angela decide deixar os seus três filhos sob os cuidados do Tio Tony - o que vai ocasionar muitas confusões.

Podemos dizer que o diretor Pedro Antônio é alguém bem corajoso, pois começar no cinema com uma comédia, e ainda buscar inspiração em um clássico de família que foi "Uma Babá Quase Perfeita", é algo para bem poucos, mas ele foi singelo ao mostrar que só teve a inspiração mesmo, pois seu longa é infinitamente mais simples e menos eloquente que a trama americana, e principalmente acabou mostrando os defeitos de uma primeira direção, que é ser curto e objetivo para não errar a mão. Portanto se você viu o trailer muitas vezes provavelmente ao conferir o longa você vai rir das piadas que já foram mostradas lá, e nada muito além disso, porém o que não consta ao menos do primeiro trailer é a dose emotiva e familiar da trama, que essa sim compensa e foi mostrada um pouco no segundo trailer, e se talvez o diretor tivesse focado mais ali, o acerto seria maior ainda, já que Majella possui uma veia cômica, mas seu ar família é muito mais inspirador que suas piadas sem graça.

Falando um pouco mais do primeiro protagonista que Marcus Majella faz no cinema, seu Tonny não chega a ser caricato, e isso é bom, pois conhecendo um pouco dos seus papéis, meu maior medo era de que ele saísse gritando, girando e fazendo mil firulas, mas ele foi centrado e pôs a cara a tapa puxando bem a responsabilidade da protagonização para que seu filme convencesse e agradou de modo geral. Ana Lucia Torre apareceu até menos do que imaginava com o trailer, aparentando que sua Cecília chega até sumir de cena num certo período, o que soa estranho, mas também não vemos nenhum grande erro na sua interpretação, o que já é satisfatório. Leticia Isnard deu um bom tom para os poucos momentos de sua Angela, e sem ousar nem fazer expressões muito chamativas agrada nas cenas mais impositivas frente as atitudes do irmão e acerta para dar ao menos algumas lições. Agora certamente temos de dar parabéns para as crianças João Barreto como João, Sofia Barros como Valentina e Jullia Svacinna como Patricia, principalmente para o estilo mais marcado dessa última, que já desponta trabalhar mais olhares e feições, e certamente em breve deve despontar em novelas, filmes e afins, iremos marcar seu nome. Dos vilões é quase uma piada falar algo, pois apareceram, cobraram e sumiram, e sendo assim melhor nem contar que estiveram no longa. Quanto do pai, só temos de pontuar o tiro certeiro da produção em mostrar o quão difícil é para as crianças viver com pais ausentes, e assim sendo o ator nem precisou fazer muito em suas duas cenas.

Visualmente, a equipe de arte foi esperta em pegar diversas inspirações em vídeos da internet, como o da trança com aspirador que viralizou e já está no trailer, mostrar bem a bagunça que pode virar uma casa sem alguém tomando conta realmente, e até mesmo brincar com a ideia da peça misturando Shakespeare com vampiros, o que é uma moda recorrente de modernidade contemporânea, e sendo assim foram simples, mas bem colocados com os trambiques do protagonista e acertaram em não pulverizar o longa com situações grotescas ou apelativas de estilo, o que foi de bom tom. A fotografia também não ousou muito, apenas deixando os tons bem coloridos para divertir e iluminação no nível máximo para não errar, botando apenas um momento em semitom para destacar o momento mais forte da atuação do garotinho frente ao pai, mas nada que chegue a chocar, sendo apenas um bom acerto.

Enfim, poderia ser algo bem pior, pois pelo trailer aparentava algo mais apelativo, e felizmente não fizeram isso, mas também poderiam ter ousado um pouco mais para que ficasse algo mais forte e impactante ou que realmente divertisse ao ponto de gargalharmos, mas como disse o resultado familiar acaba agradando e valendo o ingresso de quem for disposto a ver algo leve e simples. Portanto fica assim minha recomendação, e agora vou para mais uma sessão do Festival Varilux, então abraços e até mais tarde.

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Rodin

6/16/2017 12:36:00 AM |

Sempre questionamos o motivo das obras de Rodin serem quebradas, faltando pedaços, e até estranhas de se interpretar, e claro que ao sabermos que fariam um longa contando sua história, a maioria do público já ficou interessada em conferir "Rodin". Porém esqueceram de dizer ao diretor que desejávamos conhecer mais sobre a obra, seu estilo e tudo mais, não que fizesse um longa no mesmo estilo das obras do artista, ou seja, com muitas quebras de cenas (sendo diversas começadas e inacabadas), num ritmo de construção cênica que faz o público quase dormir de tão devagar nos diálogos/encenações, e principalmente na falta de algo mais determinante que contivesse algum ponto de clímax, afinal o cinema de ficção precisa de uma estrutura para amarrar, senão vira algo histórico e didático apenas. Não digo que o filme no todo seja ruim, pois a beleza das cenas e da estrutura de produção com muitas obras, mostrar o feitio de estátuas a partir de argila e gesso, apenas observando modelos rapidamente e depois criando formas é algo muito belo de se ver, mas que com certeza um diretor mais dinâmico faria um longa incrível, aonde todos desejariam ir a um museu ver as obras do artista, o que não aconteceu de forma alguma aqui.

O longa nos situa na Paris de 1880, onde Auguste Rodin finalmente recebe, aos 40 anos, sua primeira encomenda do Estado: "A Porta do Inferno", obra composta de figuras que farão sua glória, como "O Beijo" e "O Pensador". Ele divide sua vida com Rose, sua eterna companheira, quando conhece a jovem Camille Claudel, sua aluna mais talentosa, que rapidamente torna-se sua assistente e, em seguida, sua amante. Dez anos de paixão, mas também dez anos de admiração e cumplicidade compartilhada. Após a dissolução, Rodin continua a trabalhar com determinação. Ele deve encarar a rejeição e o entusiasmo que a sensualidade da sua escultura provoca e assina com seu Balzac, rejeitado enquanto vivo, ponto de partida incontestável da escultura moderna.

O trabalho do diretor e roteirista Jacques Doillon chega a ser aberto demais para a proposta, pois ao decidir fazer um filme "histórico" cabe a ele optar pela melhor ação possível de modo que seu filme flua, e ele acabou desenhando algo abstrato demais para seguir a linha do artista, e simples demais para que seu filme tivesse uma vida maior, pois a cada novo fade-out (cenas sendo fechadas com imagem em preto para uma nova cena seguinte) ele mostrou que não sabia como amarrar uma ponta na outra, deixando tudo jogado demais na tela, e isso é um dos erros mais amadores do cinema, ou seja, ou ele poderia ter feito algo mais didático com datas e tudo mais para mostrar os vários anos da vida do artista, ou ele poderia simplesmente ter escolhido uma época e desenvolvido bem ela, com brigas e afins, criando algo mais visceral e propício para agradar um público maior. Claro que irá ter os que saem apaixonados pelo estilo do diretor de criar uma obra quebrada e autêntica como era a essência do artista, mas volto na seguinte frase, que cinema precisa contar uma história ao menos, e aqui não tivemos uma finalizada ao menos.

Quanto das atuações, podemos dizer que Vincent Lindon caiu bem como Auguste Rodin, trabalhando um visual bem contextualizado, impositivo e que só com o olhar conseguiu dizer bem mais do que com palavras, e claro que também teve de aprender bastante sobre esculturas para com muita dinâmica ir criando algumas coisas em cena, porém faltou um pouco de atitude para chamar o longa para si, deixando escapar as cenas mais fáceis, e se concentrando demais na simplicidade cênica das cenas mais fortes. Izïa Higelin fez de sua Camille Claudel, uma rebelde sem causa que quer tudo e todos para si, principalmente a atenção, e como já vimos em outros filmes sobre a artista, ela era sim impositiva, mas não exagerada como a moça fez aqui, não posso afirmar qual é a verdadeira face da artista, afinal não conheci pessoalmente, mas prefiro a outra com toda certeza, principalmente a de Juliette Binoche. Séverine Caneele apareceu pouco como Rose Beuret, mas foi ao menos singela nas cenas que necessitaram mais expressão por parte da esposa oficial de Rodin, e com isso, vemos uma atriz simples escondida atrás de um papel simples também.

O ar visual que a equipe de arte encontrou para retratar o ano de 1880 foi bem interessante, pois colocou a dramaticidade envolvida em locações simples, e ao mesmo tempo cheias de muita arte para se expressar, com personagens famosos, obras famosas e claro que assim sendo tiveram de ter o capricho para que nada ficasse falso demais, o que acabou exigindo tanto da equipe artística, quanto dos protagonistas, que precisaram meter a mão na lama mesmo e fazer ao menos poses cênicas bem contextualizadas. A fotografia do longa é praticamente um dos maiores fatores de dar cansaço e sono no público, pois exageraram no marrom, chega a ser escuro demais cada cena com a dramatização toda e quase sem tonalidade alguma de contraste fazendo com que o filme além de não ter ritmo, ficasse apagado nas telas, ou seja, um erro crucial.

Enfim, é um filme que até possui uma proposta interessante, mas que acabou perdido entre estilos de linguagens e não alcançou nem metade do que poderia conquistar, o que é uma pena imensa, pois o artista Rodin merecia uma melhor homenagem, tal qual a última cena do filme chega a mostrar que sua obra-prima mais afetuosa acabou ficando jogada no Japão. Bem é isso pessoal, não recomendo o filme, pois com tantos outros bons longas passando no Festival Varilux, esse acaba sendo daqueles que ficamos esperando algo acontecer, saímos da sessão refletindo sobre ele, mas não conseguimos chegar até onde ele aconteceu mesmo, ou seja, fraco e com falhas demais para agradar. Fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais posts por aqui, então abraços e até logo mais.

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