Slalom

11/30/2020 08:24:00 PM |

Sempre que um filme trabalha temas polêmicos ficamos esperando um algo a mais dele, seja por parte da vítima ou do culpado, mas quando não se atinge nenhum ápice acabamos desanimando da trama tão rápido que o resultado parece até desandar. Ou seja, a trama de "Slalom" tinha tudo para ser daqueles filmes imponentes e expressivos, pois ao trabalhar esporte de explosão juntamente com atletas jovens, e claro assédio por parte de técnicos, tudo era propicio para vermos algo que daria um soco em nosso estômago, ou veríamos a jovem denunciar ou se machucar no esporte, ou até mesmo algo diferenciado, mas a diretora estreante parece que ficou com medo de ir além, e dessa forma tivemos um primeiro ato genial, cheio de bons momentos, porém logo após a virada de eixo tudo passa a ficar morno e não fluir, o que é um desperdício imenso de estilo, pois o filme tinha como ir além, mas fazer o que, apenas reclamar agora, e esperar alguém mais corajoso para fazer algo melhor com a história, pois aqui não rolou.

A trama nos conta que aos 15 anos, Lyz acaba de se somar à prestigiosa equipe de esqui do colégio de Bourg-Saint-Maurice. Fred, ex-campeão que assume o papel de treinador, decide pôr todas as suas fichas na nova integrante. Entusiasmada pelo apoio recebido, Lyz se entrega de corpo e alma ao seu objetivo. Porém, após acumular sucessos, rapidamente ela começa a ficar abalada sob a pressão e o domínio exercidos por Fred.

Costumo dizer que diretores novatos tem de saber escolher filmes menos ousados para começar, e depois ir crescendo, e aqui a diretora e roteirista Charlène Favier até se propôs bem a ir com seu filme para rumos mais fortes, e mostrou isso com sutilezas simples e situações marcantes, porém quando ela precisaria ir pra cima do tema e fazer acontecer realmente, ela se escondeu, meio como acontece realmente com atletas que são assediados pelos seus treinadores, deixando tudo acontecer e ficando normal com os acontecimentos, ou seja, isso é algo que realmente rola no esporte, porém caberia a diretora em mostrar de forma mais forte e ousada talvez um pós ocultamento, aonde veríamos punições ao treinador, veríamos a jovem sofrendo mais, ou até mesmo algo mais chocante como rola realmente, e não apenas um ok, pois ficou parecendo que sua obra não foi bem acabada, e falha demais, o que certamente não era esperado.

Sobre as atuações, diria que a jovem Noée Abita se entregou bem para com sua Lyz, de modo que vemos ela fluindo do começo ao fim, fazendo boas expressões tanto de felicidade por ganhar as provas, como de dor pelo estupro, ou até mesmo de não saber realmente o que está acontecendo ali, ou seja, foi bem no que foi pedido, mas daria certamente para ir muito além com sua personagem. Jérémie Renier trouxe para seu Fred uma desenvoltura bem imponente, trabalhou um estilo forte de treinamento, e claro foi repugnante nos seus atos de abuso da jovem, que claro mostra algo como impulsivo, porém extremamente errado e infeliz, de modo que vemos acontecendo e vamos ficando com ódio dele, ao ponto de ser um grande acerto por parte do ator que sempre pega papéis polêmicos e se sai muito bem. Marie Denarnaud deu um bom tom para sua Lilou, sendo daquelas que desconfia de tudo, mas que não pode agir sem que lhe falem realmente o que está rolando, e a atriz foi simples, porém bem correta nos momentos certos da trama. Quanto aos demais, diria que foram bem secundários em tudo, não tendo grandes destaques, de modo que vale apenas reparar no ciúme mostrado pela personagem de Maïra Schimitt com sua Justine, o playboy que acha que vai pegar todas vivido por Axel Auriant com seu Maximilien, e claro Catherine Marchal como a mãe omissa da protagonista que deveria ter descoberto tudo antes se fosse mais presente.

Visualmente o longa é daqueles que adoro ver, envolvendo muita neve, frio, preparações para esportes de inverno, com tudo muito bem pontuado e detalhado seja nas competições, treinos, e claro nas cenas mais intensas do assédio rolando já desde o ato forte no carro, até chegar ao pior momento na academia, aonde chega a ser algo até explosivo demais, aonde a equipe de fotografia foi tão precisa na escolha das cores fortes ali, do ângulo de dor visual em close da protagonista que chega a ser desesperador, ou seja, tudo simples, mas muito bem feito.

Enfim, um filme intenso, que começou preparando bem o ambiente, fez momentos bem trabalhados, porém quando atingiu um ápice bem colocado desandou e ficou morno demais não indo para nem um rumo de denúncias, nem um rumo de explosões e causas chocantes, sendo omisso demais como geralmente ocorre em casos de assédios no esporte, ou seja, falhou em ir mais além não sendo algo ruim de conferir, mas sim algo que poderia ser muito melhor. Sendo assim até recomendo o longa pela denúncia em si, mas não espere nada de muito explosivo, então vá sem esperar nada que a chance de não se decepcionar tanto é maior. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas já vou para mais uma sessão do Varilux, então abraços e até logo mais.


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Trolls 2 (Trolls World Tour)

11/29/2020 10:01:00 PM |

Costumo dizer que se tem algo que é bem raro no cinema é uma continuação ser muito melhor que o original, pois como já conhecemos a ideia toda que foi introduzida, geralmente os roteiristas não conseguem encontrar algo mais envolvente para fazer com que o filme funcione novamente. Porém hoje felizmente "Trolls 2" conseguiu ser ainda mais colorido que o primeiro filme, com muito mais história, e claro com boas canções encaixadas, trabalhando bem a ideia de amizade, química, e claro diferenças entre as pessoas e gostos musicais, ao ponto que acabamos conhecendo mundo novos, personagens novos, e claro ritmos novos bem colocados dentro das personalidades de cada personagem, divertindo na medida, tendo boas piadas, e claro uma boa dublagem que acaba agradando pela sintonia com o tema, entregando um filme funcional, gostoso e bem interessante tanto para os pais quanto para os pequenos, de modo que no final já vai estar todo mundo batendo os pés e as mãos com a bela música de fechamento.

A sinopse nos conta que um membro da realeza do hard rock, Rainha Barb, auxiliada por seu pai, Rei Metal, quer destruir todos os outros tipos de música para deixar o rock reinar sozinho. Com o destino do mundo em jogo, Poppy e Tronco, juntamente com seus amigos - Bitelo, Chenille, Cetim, Cooper e Guy Diamante - partem numa jornada para visitar todos os outros territórios, buscando unir os Trolls em harmonia contra Barb, que está tentando passar por cima deles.

O diretor Walt Dohrn apenas co-dirigiu o primeiro filme e agora assumindo o posto principal oficialmente foi bem direto nas dinâmicas, não forçou tanto o filme em cima de algo musical exagerado, e deu ainda mais brilho para tudo, criando momentos coloridíssimos com muitos personagens em cena, fazendo toda uma história bem trabalhada em temas, com cada elo sendo desenvolvido com boa simplicidade e não forçando a barra, de modo que acabamos rindo das situações, dançando na maior parte do tempo, e claro se conectando com tudo o que é colocado, pois o filme acaba agradando desde quem gosta de música clássica, passando por pop, sertanejo e funk (não o brasileiro graças a Deus!), techno e claro o rock pesado, colocando inclusive grandes nomes de cada gênero para representar tudo, e ainda brincando com os subgêneros musicais como K-Pop e Reggaeton. Ou seja, o diretor e claro os diversos roteiristas souberam envolver o público com sínteses bem simples, porém elaborando algo que cativasse em cada momento e fizesse tudo remeter com graciosidade e leveza, agradando demais em tudo.

Sobre os personagens é claro que Poppy e Tronco tem bastante destaque, e a dupla manda bem em diversos momentos, sem forçar estilos, e ainda passando a mensagem romântica bem gostosa, mas claro que o destaque bem colocado foi a Rainha Barb com seu ar roqueiro de nível máximo, juntamente com seu pai Metal, que nem precisaria ver legendado para saber que era a representação de Ozzy já velhote. E falando em legendado versus dublado, como costumo ver somente animações dubladas, aqui todos foram muito bem nas vozes, agradando do começo ao fim, incorporando trejeitos para os diversos personagens, e claro passando um bom carisma para todos os novos personagens, ao ponto que a galera do country/sertanejo todos bem caipiras e calmos, o pessoal do techno mais ritmado, e claro os viajantes do funk com seus estilos marcados por rimas e cheios de gingado, além da boa cena de disputa de dança/canto entre k-pop e reggaeton muito divertida, e bem feita. Ou seja, o filme é repleto de bons personagens, com um estilo simples, porém muito bem feito, e claro bem colorido.

E já que falamos de coisas coloridas, é claro que o visual da trama é daqueles que brinca com todo tipo de coisas, desde personagens em formato de colagens, cores vivas contrastando com o dark, personagens com diversos tipos de texturas, muito glitter para todos os lados, além de bons simbolismos para todos os tipos de ritmos, criando algo que envolve e chama muita atenção em todos os momentos, ou seja, um filme bem completo que agrada pela sintonia, e claro pelo bom envolvimento. Diria que o filme até tem um bom conteúdo para ser exibido em 3D, mas como já falei em outro caso, devido a pandemia estamos sem exibições usando óculos, então a galera que comprar o longa depois com a tecnologia nos conte como foi a experiência.

Enfim, é um longa musical daqueles que as canções fazem parte da trama, e que quem quiser ouvir as versões originais aqui está o link, mas certamente vale mais a conferida completa vendo os bichinhos dançar e interpretar as canções do que apenas ouvir, então recomendo com toda certeza a conferida nos cinemas. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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Invasão Zumbi 2 - Península (Bando) (Train to Busan Presents: Peninsula) (Train to Busan 2)

11/29/2020 02:27:00 AM |

Filme que faz sucesso é fato, tem continuação, tem reboot, tem tudo o que se pensar, e isso é um fato que não temos como mudar, e quem é contra é daqueles que só reclamam sem nem mesmo ver o filme. E sendo assim, em 2016 o longa sul-coreano "Invasão Zumbi" fez muito sucesso seja de público ou de crítica, e todos já esperavam ver até mais uma versão americana dele aparecendo do que sua continuação, mas por um lado felizmente quem saiu primeiro foi sua continuação "Invasão Zumbi 2 - Península", e por um outro lado ficou meio que exagerado demais tudo o que quiseram mostrar aqui, pois se no primeiro filme tínhamos algo mais tenso e com uma história mais imponente, agora tivemos algo mais de sustos, tiroteios e corridas de carro, parecendo bem mais um "Velozes e Furiosos: Zumbis" do que qualquer outra coisa, o que não é ruim, mas que certamente poderiam ter ido mais além em tudo. Ou seja, ainda temos um bom filme de zumbis que correm muito desesperados, temos uma produção bem recheada de elementos cênicos mostrando um cenário pós-apocalíptico incrível, e claro temos momentos bem intensos, mas faltou um pouco mais de história e algo que fosse mais coerente dentro da trama, pois ver crianças praticamente praticando rachas contra mercenários e zumbis foi algo levemente bizarro de conferir, sendo algo divertido, mas meio bobo e cheio de furos.

A sinopse nos mostra que quatro anos após o surto de zumbis que atingiu os passageiros de um trem-bala com destino a Busan, a península coreana ficou devastada. Jung-seok, um ex-soldado que conseguiu fugir do país tem a missão de retornar e surpreendentemente encontra alguns sobreviventes. Ele será capaz de sobreviver novamente ao desastre?

O diretor e roteirista Sang-ho Yeon até imprimiu novamente seu estilo na trama, mostrando que de visual caótico ele entende bem, e felizmente não mudou a loucura dos zumbis desesperados, mas certamente poderia ter trabalhado mais a origem do vírus, poderia ter encontrado situações menos bizarras, e até poderia ter mantido as corridas de carros que colocou, mas sendo ao menos mais coerente com a realidade, pois ficou meio irreal demais ver as coisas que a garota faz no volante, mas quanto ao jogo de apostas a ideia ficou bem bacana, as loucuras no vidro, e até mesmo todo o envolvimento do personagem principal com a trama, mostrando seguir uma frieza desde o começo, mantendo ela bem colocada. Claro que podemos dizer até como o nome americano fez de colocar esse filme mais como um subproduto do que como uma continuação, apresentando uma loucura que acabou ocorrendo na península, meio como os produtos Star Wars vem lançando, pois não temos os personagens antigos presentes, nem mesmo algo bem conectado com a história do trem sem ser os zumbis, mas dizer que não é um filme bem divertido, isso já é abusar, pois é daqueles que você vibra a cada trombada do carro arremessando uns 20 zumbis pro alto meio como um strike.

Sobre as atuações, é bem interessante o estilo de cada personagem, pois todos se entregaram para os atos e conseguiram segurar cada desenvoltura ao máximo possível, claro que poderíamos esperar bem mais empolgação de Dong-won Gang com seu Jung Seok, pois como um militar, ao voltar para o campo de batalha deveria ser mais imponente e cheio de forças, mas foi dentro do aceitável, chamando a responsabilidade para si, e criando cenas interessantes principalmente nos atos finais. Min-Jae Kim trouxe para seu Sargento Hwang algo completamente insano, com um visual bem forte que a maquiagem conseguiu lhe deixar, e principalmente com um estilo mais pegado fazendo com que cada momento seu fosse icônico, ao ponto que diria até que se o filme fosse focado nele teria um vértice bem interessante de conferir. Jung-hyun Lee trouxe para sua Min Jung algo até bem intenso, mostrando que se no começo do filme parecia apenas uma mulher frágil, após 4 anos já se entregou bem para algo mais forte e sem pensar duas vezes sai atirando para todo lado, ou seja, foi muito bem no que fez. Kyo-hwan Koo trabalhou seu Capitão Seo de uma maneira meio boba e jogada demais, ao ponto que não conseguimos enxergar nele um líder de uma colônia, parecendo ser algo abstrato demais colocado ali, mas o jovem fez boas caras e bocas, e até agradou na finalização, mas certamente como um líder de algo intenso, poderia parecer mais vilão mesmo. Quanto aos demais, é claro que temos de dar todo o destaque para Re Lee pelo que fez pilotando o carro no meio de toda a bagunça cênica, e para a pequenina graciosa Ye-Won Lee que deu um show de carisma com sua Yu Jin, pilotando bem os carros de brinquedo.

Visualmente o longa deu show, pois mesmo tendo a maioria das cenas a noite, a equipe conseguiu mostrar muitos carros espalhados pelos ambientes, tudo completamente destruído, muitos personagens em forma de zumbi correndo para todos os cantos quando uma luz ou barulho aparece, e assim sendo o acerto acaba sendo genial, além de ótimos carrinhos de brinquedo com luzes e tudo mais, a grandiosa cenografia da colônia com seu grandioso estádio de jogos com zumbis muito bem montado, e claro embora tenha ficado algo completamente falso (por toda a barulheira, choro e tudo mais não aparecer um zumbi sequer) as cenas finais de resgate foram bem intensas e bem trabalhadas no conceito. A equipe de fotografia também soube dar show, pois sendo a maior parte do filme no escuro, vemos ambientes bem iluminados artificialmente, e o resultado inteiro é bem visto.

Enfim, é um longa bem bacana, que traz um bom envolvimento visual e que com muitas cenas de ação acaba não cansando em momento algum, porém esperávamos algo completamente diferente com tudo na continuação de algo que chamou muita atenção há quatro anos, então recomendo que vá conferir sem esperar muita coisa, que aí o resultado de toda ação pode ser que chame bem mais atenção. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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A Famosa Invasão dos Ursos Na Sicília (La Fameuse Invasion De La Sicile Par Les Ours) (The Bears' Famous Invasion of Sicily)

11/28/2020 08:01:00 PM |

Intencionalmente ou não, algumas animações têm puxado tanto para um lado mais dramático, e recaindo tanto para algo mais adulto que até ficam bem interessantes para pensarmos, emocionarmos e tudo mais, porém quando não encaixam a força suficiente para pegar o público mais adulto, o resultado final acaba mais cansando do que envolvendo, e isso é extremamente perigoso. E infelizmente foi o que acabou acontecendo com "A Famosa Invasão dos Ursos na Sicília", pois vemos um filme lindamente desenhado, com traços rústicos e uma história quase que inteira cantada pelos narradores, porém quando ocorre o complemento da história pelo urso, o filme tem uma queda de ritmo tão grande e desanimadora que acabamos não entrando mais no clima, o que desanda o resultado final e não atinge tudo o que aparentava fluir. Ou seja, como os próprios narradores iniciais dizem no final do longa, o filme não deveria acabar daquela forma, pois não agrada nem faz refletir, ao menos que o urso fosse o próprio Tonio, o que até fica implícito, mas não flui.

O longa nos conta que tudo começa quando, Tonio, o filho do rei dos ursos, é capturado por caçadores nas montanhas da Sicília... Alegando o rigor de um inverno que ameaça matar de fome o seu povo, o rei decide então invadir a planície habitada pelos homens. Com ajuda de seu exército e de um mágico, ele consegue obter a vitória e acaba por reencontrar Tonio. Porém logo chega à conclusão de que o povo dos ursos não foi feito para viver no país dos homens.

O diretor Lorenzo Mattotti até pode ter ido num rumo bem dosado para mostrar a trama do quadrinista Dino Bizarro, trabalhando mais a essência visual bonita do filme, brincando bem com desenhos aparentemente feitos em aquarela, porém o resultado do excesso dramático que a história tem acabou não caindo bem na forma contada, sendo uma virada de tempo excessiva de situações ruins que acabamos indo por um rumo meio que deprimente demais, ou seja, acabou não dando nem dinâmica para seu filme, nem fazendo algo que impressionasse de uma forma intensa comum de bons dramas. Ou seja, o diretor até tentou criar algo adulto desenhado para crianças ao ponto que os pequenos até gostarão dos ursinhos e tal, mas não irão empolgar com nada, e os adultos acabarão quase dormindo com tudo, e assim sendo a falha acaba sendo grande.

Quanto dos personagens, diria que tanto Tonio quanto Leonce possuíram personalidades de bons líderes, embora o pequenino urso ainda esteja em formação, e assim acabam fluindo bem nas dinâmicas colocadas, e até os narradores iniciais Gedeone e Almerina entregaram ritmo e diversão no estilo passado, porém nenhum acaba sendo marcante o suficiente para ir muito além, e o mago e o rei é melhor nem entrar em detalhes, pois acabam sendo ruins demais.

Como já disse o visual do filme mesmo sendo um 2D bem simples, aparenta ser inteiro pintado em aquarela, e assim sendo é algo que até chama muita atenção por todo o trabalho entregue, ou seja, a equipe de arte pensou bem no estilo pedido pela trama, e agradou bastante.

Enfim, é um filme simples demais, que até tem um monte de coisas para se pensar, mas é tão sem ritmo que o filme acaba não empolgando ninguém, e o resultado mais desanima que agrada, ficando mediano demais. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas já vou para outra sessão do Varilux, então abraços e até logo mais.


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Gagarine (Gagarine)

11/26/2020 01:19:00 AM |

Sempre é bacana conferir filmes que acabam trabalhando tanto o conteúdo social quanto uma ficção envolvente bem colocada, e com "Gagarine" temos praticamente algo que mostra um jovem tentando ao mesmo tempo que evitar a demolição do prédio em que viveu toda sua vida, e ainda manter viva seu sonho de ser um cosmonauta, ao ponto que a trama pelo elo social lembra um pouco o brasileiro "Aquarius", porém com muito mais ficção e fantasia, de modo que vemos a trama de uma forma bem emocionante, com toda a ideia de sustentabilidade do garoto, e claro também o surto pelo frio ao final. Porém o longa necessitou muito tempo para passar a mensagem que queria, e com isso acabou se alongando demais, ao ponto que os 95 minutos da trama poderiam facilmente ser cortados para uns 80, e ainda seria muito bem feito e bonito pela essência. Ou seja, é um filme bem trabalhado, porém alongado demais, e mesmo não cansando, acaba perdendo a dinâmica no miolo.

O longa nos conta que Youri, 16 anos, cresceu em Gagarin, uma enorme cidade de tijolos vermelhos em Ivry-sur-Seine, onde sonha em se tornar um cosmonauta. Quando ele descobre que a Gagarin está ameaçada de demolição, Youri decide se juntar à resistência. Com a cumplicidade de Diana, Houssam e dos habitantes, sua missão é salvar a cidade que se tornou sua “nave espacial”.

Os diretores e roteiristas Fanny Liatard e Jérémy Trouilh até foram bem no estilo, criaram diversas cenas com uma emoção bem colocada, trabalharam os personagens com uma vivência gostosa e imponente, e claro discutiram as famosas desocupações de casas, trailers e apartamentos populares que existem em todos os países seja pelo motivo que for, de maneira que causa diversos sentimentos no público que confere a trama. Ou seja, num primeiro momento o filme entrega algo duro, polêmico e cheio de questionamentos políticos e diretos, mas num segundo vemos o jovem como alguém esforçado, abandonado pela família e pelos amigos, mas que com muita força de vontade, e claro conhecendo bem a vida dos cosmonautas, acaba criando em seu apartamento sua nave preparada para a decolagem completa, só não contando com um inverno rigoroso, e claro os diversos produtos químicos que tinham no prédio, ou seja, é um filme inteligente e envolvente que funciona bem dentro do que se propôs, mas certamente poderiam ter ido muito além em ambas as discussões.

Sobre as atuações, diria que os jovens foram expressivos com uma certa timidez exagerada, ao ponto que Alseni Bathily fez um Youri introspectivo demais, sempre com um semblante tímido e até levemente triste, e mesmo nos atos mais românticos o jovem não se mostrou muito imponente, de forma que ele faz bem sua aventura particular, mas poderia ter interagido e chamado mais atenção pela atuação em si do que pelas dinâmicas do roteiro. Lyna Khoudri trouxe uma Diana já mais agitada, contrapondo bem com o protagonista, e até mais ousada nas atitudes, com uma síntese até que interessante pelo ato cultural em si, mas não foi usada ao máximo pela trama. Finnegan Oldfield acabou chamando atenção com seu Dali, de modo que o jovem traficante e usuário colocou boas expressões e mesmo não estando na classificação de protagonista, conseguiu chamar atenção, e agradou com simplicidade e certos exageros expressivos. Quanto aos demais, é até engraçado que o amigo Houssam vivido por Jamil McCraven não teve tanta explosão chamativa pela dinâmica do filme, já Farida Rahouadj trouxe um ar quase que de mãe para o protagonista com sua Fari, sendo assertiva em alguns atos, e até chegando a chamar atenção, ou seja, diria que ambos se destacaram um pouco, mas nada muito destacado.

Visualmente o longa tem momentos bem montados pela direção de arte, principalmente no segundo ato quando o jovem transforma seu apartamento em uma colônia espacial, com direito a muitos detalhes, muita sucata, e principalmente com uma coerência perfeita para com o que é desenvolvido realmente nas naves, ou seja, uma boa pesquisa e um trabalho bem minucioso, mas além disso tivemos uma boa representação do grandioso complexo de prédios, muitas imagens de arquivos, e claro toda a preparação para a demolição, além de mostrar a simplicidade de famílias estrangeiras que se aglomeram em trailers.

Enfim, foi um bom filme, que certamente poderia ter ido bem além, pois a proposta foi bonita, as interações funcionaram, mas ficaram presos demais pela introspecção do protagonista, e com isso o longa não fluiu tanto, porém ainda assim recomendo o longa pela essência bem mostrada, e claro pela discussão social passada. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, já quase encerrando os filmes do Varilux, voltando em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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Belle Époque (La Belle Époque)

11/25/2020 08:41:00 PM |

Chega a ser até difícil definir o quão maravilhoso é "Belle Epoque", pois o filme se verte em floreios deliciosos misturando a ficção dentro da ficção, numa sintonia tão gostosa de conferir, que quando achamos que os atores da cena toda dentro do filme não estão mais atuando, eles nos surpreendem e ainda estão em outro personagem. É brilhante a forma de condução, a teoria em cima da prática, mostrando algo que se alguém realmente inventasse (de fazer um cliente vivenciar completamente alguma época famosa ou de sua vida com atores fazendo tudo parecer real, incluindo falas ditas no passado) ganharia horrores de dinheiro e certamente criaria lindas magias nas vidas das pessoas. Ou seja, é daqueles filmes mágicos de conferir, aonde quem já trabalhou na produção de algo se sentirá no paraíso, vendo a criação dentro de outra, sendo tão perfeito que senti meus olhos brilhando apaixonados por cada momento do filme, ou seja, o melhor do Festival até agora, ao menos para mim.

A sinopse nos conta que Victor é um sexagenário desiludido com o casamento em crise. Quando ele conhece Antoine, um empreendedor de sucesso, que o sugere uma atração de parque de diversões diferenciada, que une encenação teatral com recriação histórica, sua vida vira de cabeça para baixo. Victor decide então reviver o que ele considera a semana mais memorável de sua vida, na qual, 40 anos atrás, ele conheceu seu grande amor.

Só diria uma palavra ao diretor e roteirista Nicolas Bedos se um dia lhe conhecesse: BRILHANTE, pois é algo que não consigo nem imaginar como alguém pode ter essa maravilhosa ideia de transportar algo quase teatral para algo cotidiano, ao ponto que nos conectamos com tudo o que é mostrado, entramos completamente no clima do protagonista, e da mesma forma que ele acaba se apaixonando novamente por algo que fez no passado, vamos nos apaixonando também por tudo, rindo de momentos bobos, fluindo com cada encenação numa perfeita alegoria gostosa de conferir e brilhante tanto na essência quanto na concepção, ou seja, é daqueles filmes que vou me lembrar sempre que desejar ter um brilho de cinema na minha mente, e certamente irei pôr o nome do diretor naqueles que sempre torço por novas produções.

Sobre as atuações diria que é incrível o que cada um faz em cena, ao ponto que todos fluíram tão perfeitamente que até mesmo os mais secundários acabam acertando em cheio seus momentos. É facílimo ver a beleza do olhar de Daniel Auteuil com seu Victor vivenciando cada momento que já viveu mais uma vez, ao ponto que o ator chega a se emocionar realmente com uma desenvoltura poética e bem encaixada, sendo perfeito demais. Guillaume Canet sempre entrega personalidade no que faz, mas aqui seu Antoine é o maestro da obra, criando e envolvendo com tudo, além claro de sua própria trama acontecendo com uma fluidez perfeita também. Doria Tillier trouxe a essência da verdadeira atriz para sua Margot, ao ponto que já nem sabemos mais quem é ela, ou quando ela não estava atuando dentro da atuação, numa magia brilhante e linda de ver. Fanny Ardant trabalhou sua Marianne com um ar forte, determinada a mostrar sempre mais, e acerta na forma e no conteúdo, sendo chamativa para cada momento seu, além de entrar completamente no clima ao final. Ou seja, falaria bem de todos, pois foi algo incrível que nem vale a pena ficar falando, mas sim recomendar demais que todos confiram o quanto antes.

Visualmente o longa é um luxo daqueles que qualquer diretor de cinema não pensaria duas vezes antes de assinar o contrato, pois tudo está disponível para as cenas, vemos uma cenografia incrível dos anos 70, vemos detalhes em tudo acontecendo, vemos ambientações de outras épocas no miolo, e principalmente figurinos e momentos perfeitos para cada ato, ou seja, vale entrar no clima e ver tudo acontecendo com uma precisão cênica tão incrível que mostrou desde uma boa pesquisa pela equipe de arte, quanto pelo envolvimento que cada situação/detalhe transmite para todos.

Enfim, um longa tão maravilhoso que permeia tanto a nossa mente visual quanto imaginária, ao ponto que mais do que recomendo o filme para todos, pois é daqueles que facilmente verei algum dia passando na TV e novamente meus olhos irão brilhar com tudo o que é mostrado. Até posso dizer que a trama tem algum defeito que eu não tenha enxergado por estar tão envolvido, mas não consigo pontuar ele, então vamos de nota máxima, e claro colocando ele como o melhor do Festival Varilux 2020 (ao menos até agora faltando 5 longas para conferir dos 17 no total). Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto daqui a pouco com mais um texto, então abraços e até logo mais.


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A Garota da Pulseira (La Fille au Bracelet) (The Girl With a Bracelet)

11/25/2020 01:31:00 AM |

Já posso dizer que é quase um clássico do Varilux ter pelo menos um filme de julgamento aonde o público tira suas conclusões sobre o acusado, tenta opinar na acusação e na defesa, e em algumas vezes o diretor entrega sua opinião também mostrando o ocorrido para quebrar a cara do público, mas não foi o que ocorreu dessa vez, pois em "A Garota da Pulseira" (que o nome do filme só vamos entender ao final!) apesar de tudo ser digladiado entre acusação e defesa, apresentarem as devidas provas e tudo mais, apenas temos o veredito, mas não um fechamento real do crime, ou seja, já adianto para não esperarem uma grandiosa reviravolta. Dito isso, é um bom filme, com situações bem contundentes por parte de todos, ao ponto que os pais chegam a ficar desolados ao saber de tudo o que a filha fazia e nunca foi conversado, e claro também muita tensão em cima dos depoimentos, de modo que a trama faz a cartilha tradicional do gênero de julgamentos e agrada bastante com tudo o que faz, mas certamente poderiam ter ido além no processo todo.

A sinopse nos conta que Lise, dezoito anos, é acusada pelo assassinato de sua melhor amiga. Como era de se esperar, seus pais ficam a seu lado. Durante o julgamento, porém, sua vida secreta começa a se desdobrar. A trama se adensa: quem é Lise, na verdade? Nós realmente conhecemos aqueles que amamos?

Diria que o diretor e roteirista Stéphane Demoustier trabalhou sua trama com uma desenvoltura bem direta e funcional, de forma que se baseando no filme argentino "Acusada", conseguiu manter a intensidade cênica do começo ao fim, e trouxe muitos elos interessantes para que o público pudesse tirar suas conclusões a cada momento da trama. Claro que o estilo de filmes de julgamentos é daqueles que não temos muitas aberturas para surpresas, e aqui o filme também foi bem seco nas situações, sem ter grandes pulos dos advogados de defesa e acusação, e até tendo uma promotoria fraca de estilo, mas a formatação escolhida funciona bem, e o resultado até chega a ser surpreendente no final. Porém uma coisa que o longa me fez foi ficar mais curioso para ver o original argentino do que o resultado realmente aqui, pois o cinismo da garota certamente lá será muito mais irreverente.

Quanto das atuações, diria que Melissa Guers até trabalhou bem sua Lise, fazendo olhares tensos, sabendo se portar perfeitamente fronte ao júri, e com ares até cínicos demais enfrentou bem a promotora com toda sua história, ao ponto que a jovem trouxe um ar bem forte, mas não evoluiu tanto no decorrer do julgamento, tendo claro sua cena mais marcante ao final, mas sem grandes atos. Chiara Mastroianni trouxe uma Céline pensativa demais, com dúvidas do que viu a filha fazer e falar, mas claro como toda mãe apoiando sua inocência, e os trejeitos da atriz são bem marcados chamando muita atenção, e merecia bem mais cenas do que acabou aparecendo. Já Roschdy Zem foi quase tão protagonista com seu Bruno quanto a jovem acusada, de modo que seus trejeitos imponentes, seus atos de desespero e destempero também mostram o que qualquer pai sente ao ver e ouvir tudo o que viu, e dessa forma o ator foi muito bem. Anaïs Demoustier soou levemente fraca como promotora geral do caso, ao ponto que seus ataques contra a ré foram quebrados muito facilmente, além da atriz não soar imponente como costuma ser alguém no papel, ou seja, não foi muito além, e isso pesou um pouco para a trama. Já Annie Mercier como advogada de Lise fez sua voz rouca chamar até mais atenção que as defesas que entregou, trabalhando tudo com boas atitudes, mas sem trazer algo a mais para a trama. E para fechar, Pascal Gabarine fez o tradicional juiz, que não impacta em nenhum caso, sendo arbitrário de atitudes, e se impondo tão pouco que nem vai muito além também. 

Visualmente a trama também não foi muito além, e embora seja um filme cheio de situações tensas, basicamente o filme todo se prende no tribunal e nas casas da família, seja na praia ou na cidade, mostrando claro elementos do crime, um vídeo erótico da garota, um vídeo de uma festa, a foto da garota morta, mas tudo sem criar realmente a cena do crime para chamar atenção, ao ponto que o filme poderia ter ido muito além tanto na história, quanto no visual, e claro o fechamento com o nome do filme, que acaba sendo uma grata situação da arte também se impondo.

Enfim, é um bom filme, que segura bem as pontas do começo ao fim, mas sabemos que o gênero pede sempre um pouco a mais, e isso facilmente poderia ter deixado o público com maiores dúvidas, com insinuações mais fortes, e principalmente com uma tensão ainda maior, mas o resultado final ainda assim de uma maneira mais simples acaba sendo agradável e vale a indicação. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos do Varilux, então abraços e até logo mais.


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Mais Que Especiais (Hors Normes) (The Specials)

11/24/2020 08:39:00 PM |

Não sei o nome do filme se refere às crianças ou aos cuidadores, pois ambos são muito "Mais Que Especiais", afinal ter paciência é um dom que poucos tem, e ainda passar todo o amor e cuidado para alguém que precisa disso, e muitas vezes nem tem como é algo que temos só que aplaudir, para dizer o mínimo, pois tudo que conseguiram mostrar no longa é tão impactante, tão coerente e necessário, que acaba resultando em algo tão bonito de ver que chego a nem ter palavras para descrever, sendo um filme forte e ao mesmo tempo sensível de propostas, mostrando a dificuldade de associações que cuidam de jovens autistas severos, e que além de cuidar, tratar e dar carinho, instruem jovens que não teriam um futuro emprego e nem uma certificação para fazer o mesmo, ou seja, algo incrível e belo, que ainda por cima tem de ouvir de órgãos governamentais que não possuem as devidas licenças. Ou seja, além de um belo filme, serve de crítica ao sistema, e agrada demais em tudo, valendo cada momento da trama.

A sinopse nos conta que há 20 anos, Bruno e Malik vivem num mundo à parte, aquele habitado pelas crianças e adolescentes autistas. Trabalhando cada um em uma instituição diferente, eles se dedicam à formação de jovens vindos de bairros problemáticos para tentar lidar com esses casos considerados “super-complexos”. Uma aliança pouco usual para personalidades fora do comum.

Os diretores e roteiristas Éric Toledando e Olivier Nakache mais uma vez acertaram em cheio no desenvolvimento de algo tão preciso, tão direto e tão belo de conferir que ao final você acaba não sabendo se aplaude, se chora ou se vibra com o que viu, pois só a proposta em si já é daquelas que valeriam diversas premiações pela entrega em si, afinal sabemos o tanto de organizações que existem dessa forma precisando de apoio, dinheiro e até licenças, porém mais do que isso, os diretores souberam trabalhar de uma forma tão limpa e funcional, que acabam nos envolvendo de tamanha forma a querer mais de tudo, querer opinar, querer participar e é um sentimento tão bem feito que mesmo estando numa ficção, a realidade transparece e agrada na medida certa. Ou seja, fizeram um daqueles filmes para lembrar, indicar e até ver outras vezes para sentir o sorriso no rosto de quem está sendo ajudado. Ou seja, mesmo tendo alguns problemas de técnica, e alguns atos bagunçados, a trama soa perfeita demais.

Sobre as atuações, mais uma vez Vincent Cassel se entrega com tamanha personalidade, com um vigor incrível, e principalmente com um carisma fora do comum para com seu Bruno, ao ponto que certamente todos cuidadores se verão no que ele entrega, e isso é lindo de ver, pois mostra tanto a pesquisa do ator, quanto de sua pessoa em si, e o resultado é nítido de tão incrível. Reda Kateb também foi muito bem com seu Malik, transparecendo olhares e sentimentos precisos, com uma desenvoltura própria bem colocada ao ponto de acertar até nos detalhes. Benjamin Lesieur teve bons momentos com seu Joseph, mostrando um bom carisma e acertando demais na inclusão. E claro Bryan Mialoundama foi tímido, porém preciso nós atos de seu Dylan, emocionando e envolvendo na medida certa. Quanto aos demais diria que todos foram muito bem, e valeria muito falar de cada um, porém estenderia demais o texto, então falo apenas uma coisa: perfeitos para tudo o que tinham de fazer e para com cada momento, pois precisaram demais se envolver, trabalhar com pessoas diferentes, e o resultado foi lindo de ver, tendo claro um leve destaque para os olhares bem emocionados de Catherine Mouchet com sua Dra. Ronssin.

Visualmente a trama é cheia de detalhes, desde mostrar a associação aonde tudo é improvisado desde quartos a escritórios por todos os cantos, aonde os jovens podem brincar e são cuidados da melhor forma possível dentro das limitações, e claro com o pouco dinheiro que conseguem, com a comida que ganham de amigos donos de restaurantes, inclusive mostrando esses restaurantes com os jovens que auxiliam comendo por lá em suas festas, vemos atividades com cavalos, com patinações, passeios, vemos jovens tentando trabalhar, confusões no metrô, muitas cenas nos hospitais, e claro a cena mais tensa numa movimentada rodovia, ou seja, a equipe de arte precisou de muitas autorizações, e acertou muito em diversos momentos.

Enfim, é daqueles filmes envolventes demais, que emocionam ao ponto de vir lágrimas aos olhos em diversos atos, e claro que funciona bem tanto como um bom longa para todos conhecerem o trabalho de cuidadores e associações de cuidado aos jovens autistas, quanto uma homenagem também a tudo o que fazem, e assim sendo vale demais a conferida, que mesmo tendo leves errinhos técnicos acaba sendo mais uma grande obra dos diretores de "Intocáveis" e "Samba", que já nos fizeram chorar em outros anos, e aqui foram incríveis novamente. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto em breve com mais um texto do Varilux, então abraços e até logo mais.


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Notre Dame (Notre Dame)

11/24/2020 01:08:00 AM |

Tem uma coisa que sempre me intriga em algumas comédias, que é o fato do roteirista saber o momento exato de parar de forçar a barra, ou inventar mais coisas para pôr na trama, e com isso acertar em cheio a proposta de fazer rir e agradar, porém a maioria acha que o mote principal não vai dar assunto, então resolve começar a colocar um pouco de tudo, aí começa a desandar e desanimar sem rumo de voltar a funcionar. E foi exatamente o que ocorreu com a comédia "Notre Dame", que inicia já com algo fantasioso e exagerado de uma maquete voando, até aí vai, liberdade artística, depois começa várias bagunças na reforma que é escolhida, aí ok afinal é o mote da trama, e então começa a bagunça com o conflito amoroso com uma paixão antiga, uma gravidez e o pai dos filhos que não quer sair de casa e vive pelado passeando pela casa, mesmo depois de separado, ou seja vai aceitaríamos como um fechamento bagunçado e tudo mais, mas aí entra músicas nada a ver, danças com letreiros estilo filme-mudo, um atentado químico, um passeio de bicicleta a lá "ET - O Extraterrestre", ou seja, se perderam completamente do segundo ato em diante, sem saber como terminar a história, e pra ajudar toda essa bagunça acabou praticamente apagando toda a história da reforma. Ou seja, é daqueles filmes que até tem uma proposta, mas resolveram arremessar um pouco de tudo para ver se dava certo, e nem lembraram mais qual era a proposta realmente, ao ponto que chega a desanimar na metade, e olha que o filme tem apenas 90 minutos (mas que pareceram pelo menos umas 3 horas com o tanto de coisa mostrada!).
 
A sinopse nos conta que Maud Crayon, arquiteta e mãe de duas crianças, conquista – graças a um mal-entendido – o grande concurso promovido pela prefeitura de Paris para reformar o pátio diante da catedral de Notre-Dame... Às voltas com essa nova responsabilidade, ela se vê em meio a uma tempestade ao ter de lidar ao mesmo tempo com um antigo amor da juventude que reaparece de repente e com o pai de seus filhos, a quem não chega a abandonar completamente.

Se tem uma coisa que costumo reclamar e quem me acompanha sabe bem é a pessoa querer fazer todas as funções possíveis e imaginárias, pois em 90% dos casos dá errado, e aqui a diretora, roteirista e protagonista Valérie Donzelli até foi bem com sua personagem, porém bagunçou demais no roteiro e na direção, ao ponto que qualquer outro diretor teria eliminado uns 30-40% da trama, e reescrito pelo menos uns 20% das situações para que o filme ficasse preso dentro da história da reforma, do julgamento do processo de construção e até talvez trabalharia alguma coisa inusitada do romance com o jornalista, mas só, tirando todo o restante desnecessário e bagunçado demais, ao ponto que ficaria um filme direto, divertido e bem trabalhado. Ou seja, vemos um resultado tão absurdo que ela fez, que até esquecemos quase da bagunça do projeto de reforma, e isso é triste demais, pois daria muito mais conversa, o julgamento poderia ser uma bagunça maior e funcionaria, mas o restante colocado não coube de forma alguma na trama, mostrando algo que ela tentou forçar para fazer rir, e acabou soando mais bizarro do que engraçado, e assim sendo desandou e desanimou demais.

Sobre as atuações, diria que ao menos aqui a diretora Valérie Donzelli acertou a mão, fazendo com que sua Maud tivesse uma boa dinâmica, olhares confusos e desesperados com tudo, e principalmente uma boa sintonia com todos os personagens, ao ponto que dosou todas as loucuras, e os acertos caíram bem na sua interpretação. Pierre Deladonchamps até teve alguns bons momentos com seu Bacchus, trabalhando bem as emoções mostrando uma paixão aguda pela protagonista, e claro um bom destaque na cena do julgamento, mas foi mal aproveitado, pois poderia ter ido além em muitas cenas como jornalista, mas ficou apenas atrás das câmeras quase sendo um enfeite ali. Thomas Scimeca acabou sendo abusivo e exagerado demais com seu Martial, ao ponto que chega até incomodar suas cenas bobas, mas foi uma opção do filme, eu teria eliminado ele logo na primeira cena, e pronto partiu para a próxima. Quanto aos demais, ainda tivemos boas cenas com Bouli Lanners com seu Didier cheio de vontade de ajudar, mas que acabou sendo usado num subromance desnecessário para a trama, e Virginie Ledoyen acabou caindo de paraquedas com sua Coco, sendo a tia que acaba cuidando das crianças e também acabou sendo jogada no romance desnecessário com Didier, ou seja, personagens extras usados para enfeitar a trama.

Visualmente a trama teve bons momentos na prefeitura de Paris e na frente da catedral de Notre Dame, alguns atos bobos no apartamento da protagonista (aliás o momento do aluguel de quartos e venda de gnochi foi algo para apagar da mente de tão bizarro, embora bem produzido pela equipe de arte), várias cenas de desenvolvimento dentro de uma agência, que também não vai muito além, mesmo com quase todo o projeto rolando ali dentro, e claro várias cenas dentro de um tribunal e na sala bem bagunçada de uma advogada, que até aparentava fluir para algum rumo, mas não chegou muito longe, ou seja, deram uma trabalheira imensa para a equipe de arte, mas tirando o lance da maquete voando, o restante das cenografias foi algo bem inútil.

Enfim, é daqueles filmes que de tão bagunçados até acabam fazendo rir, e como digo, o resultado forçado até tenta algo a mais com o espectador que gosta de filmes non-sense, mas com toda sinceridade não tenho como recomendar o longa para ninguém por todas as falhas possíveis e imaginárias colocadas no segundo e terceiro atos da trama, pois se seguisse mesmo com muitas bobagens a ideia do primeiro, o resultado seria ainda estranho, mas bom de conferir. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos do Festival Varilux, então abraços e até logo mais.


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O Capital No Século XXI (Capital in the Twenty-First Century)

11/23/2020 08:23:00 PM |

Sempre que falamos em acúmulos de riquezas e a forma de taxação de impostos, vem em mente tantas questões, tantas confusões, e principalmente a evasão de riquezas para paraísos fiscais para que ricos não mostrem sua lucratividade, porém isso anda fazendo com muitos de camadas inferiores não tenham acesso a serviços necessários que poderiam ser usados com essas melhores distribuições, ou seja, o documentário "O Capital no Século XXI" nos mostra através de vários depoimentos, exemplos com filmes e animações, além de muitos números, o que vem acontecendo ano a ano, século a século, de forma que cada dia mais aparece a formação tradicional de que os ricos cada vez ficam mais ricos e os pobres cada vez mais pobres, pois a transmissão de riquezas através de heranças só vem sendo incrementadas, enquanto o capital social cada vez mais tem sumido. Ou seja, o longa até tem uma base social interessante, mas que usa o meio capitalista forte para mostrar toda a necessidade de movimentação, senão o risco de algo muito ruim está bem próximo para os próximos anos.

O longa adapta um dos livros mais inovadores e poderosos de nosso tempo, O Capital no Século 21, sendo uma jornada reveladora pela riqueza e poder, que quebra a suposição popular de que a acumulação de capital anda de mãos dadas com o progresso social, brilhando uma nova luz sobre o mundo ao nosso redor e suas crescentes desigualdades. Viajando no tempo, desde a Revolução Francesa e outras grandes mudanças globais, até as guerras mundiais e até a ascensão das novas tecnologias hoje, o filme reúne referências acessíveis da cultura pop, juntamente com entrevistas de alguns dos especialistas mais influentes do mundo, apresentando uma visão perspicaz e poderosa viagem através do passado e em nosso futuro.

Diria que o diretor Justin Pemberton até foi mais ousado do que existiu no livro de Thomas Piketty que usou para se basear e montar toda a trama, pois ele soube escolher bons economistas, influenciadores monetários e jornalistas para ir contando tudo o que rolou desde o início de uma era capitalista, mostrando toda a história ocorrida, e mais do que isso soube ser preciso nas exemplificações usando fies de diversas épocas, mostrando como aconteceram guerras, quebras de paradigmas, rompimento de bolsas, e claro ainda exemplos fortes de situações polêmicas que podem rolar, como acabou usando o longa "Elysium" para mostrar um apocalipse funcional possível. 

Ou seja, é um longa bem polemico, porém bem explicativo das ideias tanto do diretor quanto do escritor, que embasado em números, históricos e tudo mais até pode dizer que é uma pessoa pessimista para um futuro longe de algo social forte, mas que acaba sendo até bem coerente para as discussões que botou para jogo, e que quem quiser utilizar as bases até pode ir para diversos outros rumos. Claro que é um longa que não vai atrair muitos interessados, pois economia nunca foi o forte da maioria, mas serve de bom exemplo para cursos da área, para reflexões e até mesmo para um conhecimento mais avançado da ideia toda, ao ponto que o fechamento até flui bem com propostas e funcionalidades mais interessantes, porém o miolo acaba sendo muito histórico e levemente cansativo após um dia inteiro de trabalho.

Enfim, é uma trama com muita coisa sendo falada e mostrada, que até vai agradar alguns, enquanto outros sairão horrorizados, mas vale a dica com disse acima para uma reflexão maior, pois conteúdo a trama tem aos montes e é bem válida para todos. Bem é isso pessoal, eu fico por aqui por enquanto, mas volto em breve com mais textos do Varilux.


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Enquanto Estivermos Juntos (I Still Believe)

11/23/2020 01:28:00 AM |

Se tem algo que tem me animado muito em conferir longas religiosos ultimamente nos cinemas é que os diretores finalmente enxergaram que não precisam colocar o culto/igreja em foco para mostrar a fé e o poder de cura na essência de uma trama, e aliando isso a longas com boas canções, um bom ritmo, romances e tudo mais acabam criando histórias tão boas, algumas reais, que o resultado acaba sendo filmes de qualidade, envolventes, e que principalmente trazem muita emoção com a síntese passada. E na estreia da semana, "Enquanto Estivermos Juntos" vemos a história real do cantor cristão Jeremy Camp com uma pegada musical gostosa de ver, uma história bem trabalhada cheia de boas dinâmicas, e principalmente um romance envolvente e com um carisma tão bem colocado nos protagonistas (que inclusive possuíram uma química tão boa), que o resultado final não poderia ser outro senão o sorriso no rosto de alguns, e claro lágrimas em outros pela emoção passada, funcionando muito bem do começo ao fim, agradando demais por tudo, e diria até que quase sem erros. Ou seja, alguns até vão achar a trama teen demais, mas ela funciona tão bem passando a mensagem de acreditar tanto no amor da vida quanto no amor e poder de cura de Cristo, que tudo o que acabam errando é bem suprimido, e o resultado agrada demais.

O longa conta a história real de Jeremy Camp, famoso cantor de rock cristão e indicado ao Grammy. A obra deseja focar como a religião foi essencial para o artista superar dores de sua vida, principalmente quando sua esposa Melissa é vítima de câncer.

Os irmãos diretores Andrew e Jon Erwin são conhecidos por diversos outros longas religiosos, e tem acertado a mão nas adaptações de histórias dos cantores religiosos, e se em 2018 foram muito bem com "Eu Só Posso Imaginar" contando a história de Bart Millard vocalista da banda MercyMe, agora  adaptando aqui a história de Jeremy Camp foram bem coesos nas escolhas, souberam segurar bem o envolvimento religioso novamente sem ser apelativo, e principalmente passando muita emoção, pois o filme tem toda a pegada que necessita para envolver do começo ao fim, e conta uma bela história tocando o coração seja de alguém religioso, de alguém que acredita num amor de conto de fadas, ou até mesmo quem gosta apenas de um bom romance, sendo certeiros no estilo escolhido e não pecando por falta de boas músicas, ao ponto que colocaram até o ator para cantar e o acerto acabou sendo bem trabalhado, pois inicialmente acreditei até ser uma voz falsa, mas depois o jovem soltou melhor e mostrou uma boa capacidade para tudo. Ou seja, uma perfeita harmonia entre canções, romance, religião e claro boa história, que vai agradar quem for disposto a conferir.

Diria que a escolha do elenco foi muito precisa, pois todos conseguiram passar uma certa verdade nos olhares e sentimentos, além claro de boas expressões e químicas entre si para convencer o público do que estavam mostrando, e mesmo o jovem ator não parecendo nada com o verdadeiro Jeremy Camp, o acerto foi bem bom para claro chamar um público mais teen cativo do ator. Dito isso, K.J. Apa mostrou algo que quem confere séries sabe que ele tem potencial cantando também, e de início confesso que achei que tivesse alguém dublando ele nos momentos das canções, mas não, o ator botou o gogó para jogo e entregou muita personalidade com seu Jeremy, seja cantando ou envolvendo nos atos mais românticos, passando até um ar de fé bem grande nos atos que foram precisos, e que com uma boa expressividade chamou a responsabilidade para si, e acertou na medida para fazer o personagem. Britt Robertson também foi muito bem com sua Melissa, ao ponto que a atriz se mostrou segura nas expressões tanto de paixão quanto de dor, fazendo atos bem duros, cortando seu cabelão (apesar de ter ficado linda também com ele curtinho!), e que vem mostrando um crescimento tão forte nas últimas atuações que logo mais deve estar brilhando em papeis maiores, ou seja, a garotinha meio que jogada de "Tomorrowland" já ficou bem longe do que anda fazendo agora. Quanto aos demais, cada um se entregou pelo menos um pouco, dando conselhos, fazendo conexões para os protagonistas, e acertando bem nos encaixes, ao ponto que vale destacar Nathan Parsons com seu Jean-Luc cheio de facetas (que inclusive achei ser realmente o vocalista da banda The Kry por não conhecer a banda e o ator mandar muito bem no estilão) e claro Gary Sinise com os momentos mais próximos do filho com um ar bem envolvente bem colocado, dando um bom tom para seu Tom, já os outros praticamente não reconheci Shania Twain com sua Teri, pois está muito diferente, e também não chamou tanta atenção na trama, além de não ter sua música tradicional de casamento fora da cena do casório.

Visualmente o longa teve momentos bem marcantes, com cenas em estúdios de gravação, em dormitórios estudantis, em muitos shows, e claro em um hospital, ao ponto que em cada um dos locais a equipe de arte foi bem direta e trabalhou com elementos cênicos marcantes para que cada ato fosse preciso e envolvente, desde os violões do protagonista, até o diário da protagonista sempre junto dela, que depois acabam sendo bem importantes para o fechamento do filme, ou seja, tudo é bem utilizado, e que junto de uma equipe de fotografia precisa nas iluminações coerentes cheias de sombras e contraluzes incríveis deram o tom correto e emocionante para a produção.

Claro que sendo um filme musical, a trilha sonora foi marcante e emocionante, ao ponto que não conhecia as canções de Jeremy Camp, mas que gostei bastante do que ouvi, e claro que lendo as letras ainda mostram algo muito a mais para cada momento do filme, ou seja, vale muito a conferida, e deixo aqui o link para isso.

Enfim, é daqueles filmes que é difícil não se emocionar e se envolver com o que é mostrado, ao ponto que mesmo tendo leves falhas de propostas, como alguns exageros tradicionais do estilo religioso, e claro o famoso romance de conto de fadas de pessoas bonitas que se apaixonam loucamente no primeiro olhar, o resultado acaba empolgando bastante e valendo muito a recomendação para que todos que possuem alguma fé, ou até mesmo a quebra dela por algum motivo possa pensar um pouco mais com o que é mostrado, além claro de ser um bom romance também, então vale para quem não for conferir com algum propósito religioso. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais longas do Festival Varilux, então abraços e até logo mais.


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Apagar o Histórico (Effacer l'historique) (Delete History)

11/22/2020 08:30:00 PM |

Diria que a ideia do filme "Apagar o Histórico" até é bem válida, por mostrar o mundo maluco dependente que temos por celulares, nuvens, inteligências artificiais e tudo mais que a tecnologia nós oferece, e também nos atrapalha, porém acaba soando tão forçado com tudo, exagerando em situações bobas e abstratas que acabamos mais desanimando do que ficando felizes com o resultado final, além de ser alongado demais. Ou seja, é daqueles que possuem uma proposta razoável, mas que não atinge o propósito, e precisa forçar o riso para não ser esquecido, e assim sendo, mais desanda que funciona.

A sinopse nos conta que em uma cidade do interior da França, três vizinhos são vítimas das novas tecnologias e das redes sociais. Há Marie, que sofre de chantagem com uma sextape, Bertrand, cuja filha é assediada no colégio, e Christine, uma motorista particular, irritada porque não consegue boas notas dos seus clientes. Juntos, eles decidem entrar em guerra contra os gigantes da Internet!

Os diretores e roteiristas Benoît Delépine e Gustave Kervern até tentaram ir além mostrando três situações bem fortes que andam ocorrendo, como assédio, bullying e gastos abusivos, além claro da necessidade de uma boa classificação para vender seus serviços, porém eles quiseram fazer algo exagerado demais, que não chegam a empolgar, nem chega a atingir algo, de forma que a todo momento ficamos esperando um algo a mais, mas como não chega lá, o resultado acaba não fluindo. Ou seja, até temos um bom roteiro, mas talvez uns 20 minutos a menos, e uma dinâmica mais divertida sem precisar forçar agradasse bem mais, além talvez de personagens e atores mais carismáticos para envolver melhor o público.

E já que comecei a falar das atuações, temos uma Blanche Gardin exagerada demais com sua Marie, de modo que acaba parecendo que não encontrou direito a personalidade de mulher que quando bebe se perde no que faz, e precisará de meios para apagar as encrencas que se meteu, ou seja, a personagem até tem algo a mais para mostrar, mas a atriz não foi além e resultou em algo bobo demais de ver. Denis Podalydès trabalhou seu Bertand de uma forma tão bagunçada que acabamos não entendendo o que ele quis mostrar, se é daqueles que caem em todos os golpes telefônicos possíveis ou se é bobo mesmo, ao ponto que soa estranho seus atos, além de ter cenas ruins e desnecessárias demais, como por exemplo a do burrinho, ou seja, falhou também. Corinne Masiero até tentou chamar atenção com a problematização de sua Christine, que depende de qualificações melhores para ganhar mais corridas no seu carro estilo Uber, e seus atos ajudando os amigos acaba encaixando bem, e sua dramaticidade funciona, mas como seu papel é semi secundário, o resultado não vai muito além. Quanto aos demais, são apenas encaixes, e nem vale destacar praticamente nenhum, pois todos apenas acabam entrando nos demais personagens e o resultado é uma bagunça completa.

No conceito visual a trama tem boas cenas, porém todas bem exageradas, com os protagonistas tentando hackers para apagar seus vídeos comprometedores, tendo algumas locações bem interessantes no meio do campo, na sede do Google, em empregos alternativos, bares e tudo mais, de modo que o melhor momento fica a cargo de um "Deus" da informática que minera bitcoins no meio de uma torre de energia eólica. Ou seja, a equipe de arte foi bem em tentar mostrar tudo que os diretores desejavam passar, mas não tinham como melhorar muita coisa no texto.

Enfim temos um filme forçado demais que até passa bem a mensagem, porém que não vai ser todos que irão curtir tudo, e mesmo tendo alguns momentos divertidos, o exagero acaba saindo dos limites, além de que poderia ter pelo menos uns 20 minutos a menos para agradar mais, mas como não rolou, nem sei se consigo recomendar ele para alguém, mas fazer o que, quem gostar de longas mais abstratos pode até tentar a sorte. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto em breve com mais textos.


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Meu Primo (Mon Cousin) (My Cousin)

11/22/2020 01:59:00 AM |

Confesso que ao ver o pôster, a sinopse e até mesmo o nome do filme "Meu Primo", fiquei bem temeroso com o que iria conferir hoje, pois ao mesmo tempo que parecia um longa sério demais, tinha uma pitada de ideias malucas, porém tudo foi tão bem conduzido, com um ar cômico tão gostoso do começo ao fim que o resultado foi algo surpreendente, cheio de boas desenvolturas, com momentos emocionantes e engraçadíssimos, fazendo com que o filme fosse uma grata surpresa, e divertisse demais todo o público da sessão, valendo por mostrar o famoso lado de empresários e até funcionários de grandes empresas que esquecem de viver um pouco só focando em resultados, em contraponto ao lado familiar cativo e bem dosado que as vezes respirar demais pode parecer uma loucura, mas se atendo aos detalhes tudo na vida passa a funcionar melhor. Ou seja, é um filme muito gostoso, com uma proposta diferente da usual, aonde os protagonistas se doaram muito aos personagens, e o resultado foi preciso e agradável demais.

A sinopse nos conta que Pierre é o CEO de uma grande empresa familiar. Prestes a assinar o acordo do século, ele deve acertar uma última formalidade: a assinatura de seu primo Adrien, dono de 50% da empresa. Este doce e idealista sonhador desajeitado fica tão feliz em encontrar Pierre que quer passar um tempo com ele e adiar a assinatura. Pierre, portanto, não tem escolha e embarca com seu primo em uma viagem de negócios agitada e surpreendente.

É até interessante observar a proposta que o diretor e roteirista Jan Kounen quis passar, pois hoje cada vez mais olhamos para as pessoas líderes de grandes empresas como pessoas de sucesso, que podem fazer o que quiser em sua vida e que raramente param para pensar no seu passado, na sua família, na natureza ao redor e tudo mais, e aqui ele abriu essa ideologia para ter uma comparação com primos que eram muito conectados na infância, mas que se afastaram com o andar da vida, e que no momento que mais precisou do outro julgou a capa do livro sem analisar o conteúdo, ou seja, o diretor quis brincar com muitas lições entregando um filme divertidíssimo, com boas sacadas, e principalmente com ideias simples, pois acabamos rindo muito em pequenos detalhes desesperadores que o primo passa a analisar, e o filme flui bem rápido, tanto que nem parece ter a duração que tem, e assim sendo o diretor mostrou que conhecia bem do meio, sabia como fluir, e acertou do começo ao fim, coisa que é rara de ver em um filme que nem dá para classificar como comédia pela essência, mas que entrega bem mais comicidade que muitas grandiosas comédias classificadas assim, ou seja, perfeito no quesito direção e roteiro.

Sobre as atuações é incrível como Vincent Lindon sempre se encaixa bem nos papeis que faz, pois ele é um ator com um semblante bem seco e sério, e os diretores são espertos em colocar ele sempre fazendo personagens desse estilo, porém aqui com seu Pierre o vemos mais livre de personalidade, e mesmo que seu ar seja de um empresário arrogante e com ideias monetárias superiores às ideias pessoais e familiares, vemos ele disposto a se abrir, e assim sendo seus momentos brutos e secos acabam soando engraçados e funcionais para a trama, tendo uma química de contraponto perfeita com o outro personagem. E falando no outro, temos o sempre brilhante François Damiens com seu Adrien perfeito tanto na execução dos atos, quanto na essência interpretativa que o personagem precisava, de modo que seu carisma acaba sendo tão grande, que mesmo irritando o protagonista com seus atos acaba conquistando o público com as situações que entrega, sendo gracioso, ousado, e principalmente muito ligado à família e a natureza ao redor de tudo, ou seja, perfeito. Alix Poisson trouxe ótimas cenas com sua Diane completamente vidrada em serviço também, mas caindo como uma luva nas cenas mais intensas do longa, ao ponto que seu ápice (ou melhor o ápice dos três personagens) é a cena do avião e tudo mais que acaba ocorrendo na sequência, e a atriz foi precisa nos trejeitos e agradou bastante também. Quanto aos demais, a maioria foi apenas conexões para com o filme, não tendo nenhuma grande cena que chamasse a atenção, mas Pascale Arbillot ao menos foi bem expressiva com sua Olivia, mandando muito bem nos atos com seu violino.

Visualmente a trama entrega uma casa bem nobre, cheia de cômodos bem decorados, com muito simbolismo moderno, temos uma empresa enorme toda decorada em vidro, com um primor riquíssimo e muitos detalhes, que nem são tanto usados, e claro temos uma última locação num castelo de cultivo de uvas e vinhos bem rústico e clássico, com bons detalhes também, além claro das cenas nos carros, a cena mais cômica de todas dentro e fora do avião, além de uma noite em um hotel com uma boa cena em uma sauna, ou seja, muitos ambientes e muitas desenvolturas, que ainda contaram com algumas cenas em sonhos muito bem trabalhados e detalhados, e alguns momentos com jovens atores representando o passado dos protagonistas em uma praia, que ao final voltam adultos, ou seja, é quase um road-movie pelo excesso de locações, mas tudo muito bem usado e simbólico para cada momento, funcionando bastante e mostrando que a equipe de arte teve bom gosto para tudo.

Enfim, é um longa que se pararmos para analisar a fundo é bem simples, mas tem todo um requinte, tem uma comicidade perfeita sem ser apelativa, e momentos amplos para discussão e diversão, ou seja, é perfeito na medida certa, tendo uma duração cadenciada que passa voando, e só não dou a nota máxima para ele pelo motivo de exagerar em muitos momentos espalhados, ao ponto que o filme ficou rico de detalhes, mas a história de fundo quase passa despercebida. Ou seja, é daqueles longas que rimos demais, que vale tudo que é passado, e que claro recomendo para todos. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos do Festival Varilux, então abraços e até logo mais.


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Minhas Férias Com Patrick (Antoinette Dans Les Cévennes) (My Donkey, My Lover & I)

11/21/2020 08:19:00 PM |

Geralmente filmes que envolvem caminhadas fluem por jornadas de autoconhecimento que comumente tem um início de pensamento, mas que acabam levando os protagonistas para outros rumos, e isso é sempre bacana de ver, de modo que se o diretor souber como conduzir bem o resultado agrada demais, e com "Minhas Férias com Patrick" tivemos um bom exemplar do estilo, pois casualmente aparentava que viraria uma comédia romântica boba, mas acabou fluindo para um road-movie bonito, de reflexão, e que com cenas bem engraçadas, por parte claro do jumento Patrick opinando na vida da protagonista, o resultado final acaba sendo bem agradável e gostoso de curtir.

A sinopse nos conta que Antoinette está esperando o verão há meses e a promessa de uma semana romântica com seu amante, Vladimir. Quando ele cancela as férias para ir passear nas Cévennes com a esposa e a filha, Antoinette não pensa muito: ela segue seus passos! Porém, em sua chegada, ela conhecerá Patrick, um burro atrapalhado que a acompanhará em sua jornada.

A diretora e roteirista Caroline Vignal foi bem esperta no desenvolvimento de sua trama, pois baseando no livro de Robert Louis Stevenson, aonde até um dos personagens nós conta a história real do livro, ela fugiu do casual e acabou entregando algo bem coerente de seguirmos, afinal ela colocou a história da protagonista como uma ambientação em cima de sua amizade com o jumento versus o clima romântico com o amante, e o melhor foi a forma de quebra do clima, pois acabamos sentindo toda a história formatada e também o desenvolvimento fluindo de maneira gostosa e prática, tendo um bom conflito, um bom envolvimento, e principalmente uma boa história.

Quanto das atuações, Laure Calamy trabalhou bem sua Antoinette, fazendo uma pessoa sutil, doce e claro desesperada com sua situação, e acaba brincando bem com a desenvoltura proposta pela trama, de forma que acaba acertando bastante e se entrega para todo tipo de momentos, sendo um bom acerto e que agrada bem no que fez. É até engraçado falar isso, mas praticamente todos os demais personagens acabam soando como encaixes, desde Benjamin Lavernhe com seu Vladimir que tem mais um desejo sexual pela protagonista do que um amor realmente, mas que faz mais caras bobas do que tudo, até os demais que apenas passam pela tela como Olivia Côte com sua Eléonore, Louise Vidal com sua Alice e já no final Jean-Pierre Martins com seu Shériff, mas nada que surpreenda.

Visualmente o longa é bem bonito, com locações incríveis numa região cheia de belos campos, com pousadas rústicas, mas bem colocadas dentro do que a trama pedia, brincando com todos os momentos, e claro dando todo o destaque para o super genioso jumento Patrick, que carregando as roupas da protagonista acaba agradando tanto pelas boas expressões, quanto pelas situações que foi colocado, ou seja, sai de ser um objeto do filme, mas sim o protagonista.

Enfim, é um filme simples, porém bem bonito de ver, e que até sendo curtinho (97 minutos) chega a dar uma leve cansada, mas nada que atrapalhe, valendo a conferida e a recomendação. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas já vou para mais uma sessão do Festival Varilux, então abraços e até logo mais.


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Convenção das Bruxas (Roald Dahl's The Witches)

11/21/2020 02:35:00 AM |

Houve tanta polêmica em cima da refilmagem de "Convenção das Bruxas" que estava até com medo do que iria ver na telona hoje, mas posso dizer que entregaram um filme bobinho, bem infantil, cheio de situações de aventura dos ratinhos, e que infelizmente não passou em 3D devido a pandemia, pois é notável o tanto de cenas que tem coisas saindo da tela. Porém tirando esse detalhe é uma trama divertida, com situações leves bem feitas, efeitos interessantes, e sacadas bem montadas mostrando boas atuações das protagonistas, e claro dos ratinhos, ao ponto que certamente a criançada vai curtir conferir, mesmo levando alguns sustinhos de leve, mas nada que traumatize, mesmo mostrando as bruxas com corpos estranhos. Ou seja, não é uma obra de arte memorável, mas que vale pela diversão passada, e que não vou comparar com o antigo pelo simples fato de não lembrar realmente de quase nada, e assim sendo, vou seguir como sendo algo novo.

O longa conta a história sombria e divertida de um jovem órfão que, no final de 1967, vai morar com sua amada avó na cidade rural de Demópolis, no Alabama. Quando o menino e sua avó encontram algumas bruxas enganosamente glamorosas, mas completamente diabólicas, ela sabiamente o leva para um resort à beira-mar. Lamentavelmente, eles chegam exatamente ao mesmo tempo que a Grande Rainha Bruxa do mundo reuniu suas colegas camaradas de todo o mundo - disfarçadas - para realizar seus planos nefastos.

O estilo do diretor Robert Zemeckis é daqueles que sempre fantasia algo a mais do que você realmente está vendo na tela, e aqui o diretor permeou uma dinâmica bem trabalhada, cheia de cores e magia, que funciona dentro do que se propõe, que é contar a história do jovem garotinho desde quando perdeu os pais até quando virou um herói mundial, e ainda nesse miolo ele brinca com a ideia do luto, trabalha a questão de órfãos, e até impõe o drama de jovens que os pais nem ligam se os filhos estão presentes, ou seja, criando dinâmicas morais fortes, ele traz para seu filme algo que serve para algumas discussões, mas que deixando tudo isso bem em segundo plano ele pode ousar brincar com aventuras pelos dutos de ventilação, passeios pela cozinha do hotel e muitas outras cenas bem sacadas com os ratinhos, ao ponto que quase esquecemos que o filme é mais sobre as bruxas do que tudo. Ou seja, Zemeckis não quis tornar o longa tenso demais (aliás nem a ideia original é tensa!), e brincou com tudo o que tinha em mãos, criando até algumas situações que são passíveis de discutir como o caso das deformidades das bruxas, mas que é um exagero discutir isso como acabou acontecendo, então ignorem tudo o que apareceu nas redes, e vá curtir uma trama bobinha, infantil, mas gostosa de assistir.

Sobre as atuações, basicamente temos Anne Hathaway detonando com muita expressividade, com um sotaque incrível e com trejeitos brilhantes que aliados a computação gráfica para mostrar uma uma abertura de boca fora dos padrões acaba até assustando, mas mais do que assustar a atriz se entrega numa personificação brilhante de Grande Rainha Bruxa, ou seja, detonou como sempre. Octavia Spencer também se doou bastante como uma avó cheia de ginga que gosta muito de dançar e está sempre pronta para auxiliar o neto seja em sua forma humana triste pós-morte dos pais ou já como o ratinho aventureiro, ao ponto que seus trejeitos clássicos acabam funcionando na medida, e a atriz agrada como sempre. Stanley Tucci acaba fazendo alguns trejeitos e sendo levemente atrapalhado como o gerente do hotel, mas sem ter grandiosas cenas para chamar atenção acaba ficando meio que secundário demais, e assim não vemos tudo o que o ator costumeiramente entrega. Jahzir Bruno começou meio quieto demais, como um garoto tímido e triste, mas ao parar de atuar corporalmente e só emprestar sua voz para o ratinho herói, o resultado é uma desenvoltura perfeita, que junto de uma computação de primeira linha acabou dando bons movimentos e muita astúcia para o personagem, agradando demais em tudo, ou seja, um grande acerto, e claro que sua voz adulta incorporada por Chris Rock foi uma personificação e tanto funcionando demais. Da mesma forma os dois demais ratinhos foram bem desenvolvidos e cheios de bagunça, que junto das vozes de Codie-Lei Eastick e Kristin Chenoweth resultaram em cenas bem bacanas e com dinâmicas precisas para os momentos que necessitavam aparecer mais.

Visualmente o longa entra claro no conceito mágico, que dentro de um hotel recheado de ambientes muito bem decorados, mostrando um capricho imenso da equipe de arte, resultaram em bons momentos para que tudo acontecesse, além claro de muita computação gráfica para as aventuras dos ratinhos, vários momentos com boas profundidades e elementos vindo em nossa direção (mesmo sem os óculos 3D, ou seja, quem comprar depois o material em 3D certamente irá ficar bem satisfeito com tudo), e que com muitas cores e bons efeitos ainda entregaram cenas bem feitas e moldadas para funcionar para entreter a garotada, ou seja, vale pelo visual mostrado.

Enfim, é um longa bem bacana, que está bem longe de ser perfeito para todos, pois como disse no começo é algo bem leve e bobinho demais, que praticamente funciona como um bom passatempo, mas que dificilmente virará um clássico como seu antecessor (embora eu pessoalmente não lembre muito dele, mas sei que vi algumas vezes na TV). Ou seja, vale a conferida com a garotada, e recomendo com toda certeza para todos que gostem desse estilo mais infantil com algumas tentativas de susto, mas muito mais aventura que tudo. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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