É interessante observar o quanto "Justiça Brutal", que entrou em cartaz na Amazon Prime Video nesse final de semana, lembra os longas policiais dos anos 80/90, aonde policiais corruptos acabavam entrando no mundo do crime para arrebatar um extra, e acabavam sofrendo as consequências de algo insano, e aqui a trama trabalhou tantas situações para serem imponentes que ficamos pensando até onde vai a justiça brutal que o nome tanto coloca, ao ponto de tudo ser violento e questionativo, mas bem funcional. Ou seja, é daqueles filmes que tudo pode ser um agravante para as cenas mostradas, mas que certamente funcionaria bem também com pelo menos uns 30 minutos a menos, pois com 159 minutos alongaram algumas situações desnecessárias, e mesmo o ritmo lento sendo algo importante para o filme, o resultado acabaria sendo mais dinâmico e imponente. E sendo assim, não digo que não gostei do que vi, muito pelo contrário, me vi vendo os filmes nas noites de domingo nas férias quando garoto, que tinha tiros para todos os lados, cenas bizarras acontecendo, e tudo mais, mas que certamente um pouco mais de atitude na edição resultaria um filme ainda mais forte e direto na mensagem.
A sinopse nos conta que i veterano policial Brett Ridgeman e seu parceiro mais jovem e volátil, Anthony Lurasetti, são suspensos quando um vídeo de suas táticas de trabalho brutais vira notícia. Sem dinheiro e sem opções, eles decidem entrar para o mundo do crime. Porém, o que eles encontram na criminalidade é algo muito mais obscuro do que esperavam.
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Diria que o diretor e roteirista S. Craig Zahler fez de seu filme uma obra completa e direta de atitudes, aonde soube desenvolver cada ato separado e bem trabalhado de cada um dos personagens, ao ponto que vemos tudo acontecer e não precisar de respostas para nenhum dos momentos da trama, porém, faltou para ele sintetizar tudo o que filmou em algo mais dinâmico e envolvente, pois vamos acompanhando tudo acontecer e por diversas vezes ficamos esperando um algo a mais na cena. Ou seja, é um filme bem interessante de proposta, bem ousado pelas cenas violentas, e com uma trama bem amarrada com uma história completa, porém faltou aquele detalhe que fizesse o filme ir além (apesar do final ser bem bacana), pois ficou muito preso na investigação, muitos momentos enrolando para cada situação, e com isso o longa ficou lento demais, e embora isso seja algo interessante dentro da proposta, para dar o clima realmente de uma investigação fora da lei, tudo com mais dinâmica acabaria explosivo, cheio de nuances, tiros e tudo mais, que resultaria mais em um filme de ação policial do que um drama policial, e isso é algo que é de gosto do público, mas que de qualquer forma agrada pelo resultado final.
Sobre as atuações, é até engraçado ver o jeito canastrão que Mel Gibson entregou para seu Brett Ridgeman, de forma que o personagem parece um estatístico ambulante com seus percentuais para tudo, e com uma desenvoltura meio seca e direta ficou parecendo que estava ali apenas por estar, não dando grandes nuances que um ator menos imponente conseguiria dar para o papel, ou seja, não é um personagem ruim, nem uma atuação ruim dele, mas não combinou muito. Já Vince Vaughn tem uma personalidade mais fanfarrona sempre em seus personagens, e aqui seu Anthony tem dúvidas demais do que fazer, e isso não é algo comum em um detetive, ou seja, talvez pudesse ir mais além com o papel, porém deu um tom cômico gostoso para o personagem, e assim o resultado acaba agradando ao menos. Tory Kittles deu um estilo bem marcado para seu Henry, colocando tanto força explosiva em algumas ações, como boas sacadas em trejeitos e falas, ao ponto que não imaginava um final assim para seu personagem, mas acabou sendo bacana de ver. Quanto aos demais personagens, tivemos algumas boas cenas de Michael Jai White com seu Biscuit, e até deram uma certa importância para a personagem de Jennifer Carpenter com sua Kelly, por infelizmente não seguir seu instinto maternal, mas nada que seja alguém imponente na trama, quanto do restante, até tentaram aparecer, tiveram algumas cenas chamativas, mas sem explosões nem atitudes que ficassem marcadas, e mesmo a família do policial com toda a dramaticidade de uma doença e de ataques apenas serviu para dar o mote para o envolvimento do policial.
Visualmente o longa é cheio de nuances de todos os tipos possíveis, com conversas sobre cafés da manhã e locais para ir comer, tivemos boas cenas de perseguição com altas discussões dentro do carro, boas cenas de assalto tanto em banco quanto em locais menores para arrumar dinheiro, e claro tivemos uma cena impressionante de briga entre os policiais e os sequestradores num ambiente cênico propício quase para um duelo de faroeste, com muitos tiros, muitos momentos marcantes, e que claro a equipe de arte trabalhou cheia de símbolos para representar tudo, dando um final perfeito para a trama. Ou seja, é daqueles longas que tudo é bem entregue pela equipe de arte, seja uma arma diferente, um carro pronto para tiros de todos os lados, uma maquiagem para mudar os personagens, alguns personagens sem rostos apenas mascarados e sem alma, e que junto da equipe de fotografia souberam criar muitas sombras e cenas densas para dar o tom correto para o filme não ficar cansativo mesmo sendo bem alongado.
Enfim, é um filmão daqueles que quem gosta de tramas policiais envolventes nem vai ligar tanto para a duração, mas que volto a frisar que se fosse melhor montado com uns 30-40 minutos a menos seria explosivo, dinâmico e certamente acabaria virando um clássico policial daqueles que todos citariam quando pensassem numa trama do estilo, e sendo assim por todas essas qualidades, ainda recomendo ele com certeza. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.