Tudo bem que a comida feita no longa não tem cara de ser algo gostoso, mas certamente o preconceito de ver uma senhora cozinhando com uma mão não muito bonita vai ser algo que vai dominar as discussões frente ao sabor do doce estranho de feijão. E é bem isso a proposta do longa "Sabor da Vida", discutir todo tipo de preconceito e trabalhar bem mostrando de uma forma meiga que o preconceito por qualquer coisa só amarga o sabor da nossa vida. E a cada novo dia que é passado na trama, ficamos mais cativados com tudo, e mais conectados com a velhinha da trama, e mesmo que por algum momento você saia preconceituoso com algo do longa, você certamente vai se emocionar com o final da trama.
O longa nos mostra que Sentaro dirige uma pequena padaria que serve dorayakis - panquecas recheadas com pasta de feijão vermelho doce. Quando uma senhora de idade, Tokue, se oferece para ajudar na cozinha, ele relutantemente aceita. Mas Tokue prova ter um toque de mágica quando se trata de fazer “an”. Graças à sua receita secreta, o pequeno negócio logo floresce e com o tempo, Sentaro e Tokue abrem seus corações para revelar velhas feridas.
Se praticamente um ano atrás eu estava somente reclamando do que a diretora Naomi Kawase tinha feito com "O Segredo das Águas", hoje sinceramente ela conseguiu meu respeito por seu trabalho, pois certamente o livro de Durian Sukegawa deve ser duríssimo ao inserir todo o preconceito que pessoas com hanseníase sofre e para impactar isso em um texto a dureza tem de vir com tudo, e ela pegou o livro e adaptou em algo tão simbólico e lindo que qualquer elemento mostrado acaba tendo um simbolismo tão mágico que é difícil você não emocionar e se prender a trama. A diretora foi concisa em todos os momentos, deixando os detalhes para cada olhar e sentimento expressado pelos personagens, de modo que ficamos comovidos e apaixonados pelo estilo de sua câmera com ângulos bem fechados, afinal as locações são pequenas, mas quando tem oportunidade para mostrar a vida da natureza (algo que ela adora retratar em todos os seus longas), ela abre a lente e a beleza das cerejeiras dominam o ambiente e agradam demais.
Falar das atuações de japoneses é algo sempre muito difícil, pois eles são muito centrados e seu estilo de expressão é algo completamente diferente do que estamos acostumados, mas isso não impede de ver a comoção de todos em cena. Masatoshi Nagase entrega um Sentaro que logo de cara vemos que tem muitos problemas e mesmo que demore para nos ser falado qual o seu real problema, já ficamos com a pulga atrás da orelha pela forma que conduz tudo, e seu jeito bem rígido frente às emoções, quando desabrocha é algo que não temos como não cair junto com ele, ou seja, um ator que mostrou muito bem quem é e o que sabe fazer. Kirin Kiki é uma graça total, e sua Tokue é incrível de modo que ela não foi falsa em momento algum, envolvendo cada espectador com sua singela e calma forma de atuar, e a cada cena mais estávamos conectados com sua presença, e mesmo depois de saber seu problema, ficamos ainda do seu lado, e quando desaparece de cena é algo triste demais de se pensar, ou seja, incrível. A personagem Wakana de Kyara Uchida inicialmente parece meio fora da proposta do longa, mas ela vai trabalhando bem e acabamos nos afeiçoando a ela para que no encerramento da trama seu trabalho seja bem visto, ou seja, é daqueles atores que são jogados metade do filme para que feche bem a trama, e ela agradou dessa forma.
No conceito artístico, a trama trabalhou bem tanto nos elementos cênicos mais simples e que foram colocados para representar cada situação e cada reviravolta, como na cenografia completa ao mostrar o ambiente todo em que tanto os leprosos estão separados e vivem sua vida, como a beleza dos parques da cidade com suas árvores extremamente floridas, ou seja, boas escolhas para simbolizar tudo. A equipe de fotografia trabalhou com poucas sombras, e deu um ar mais duro para a maioria das cenas, liberando somente algumas cores fora do tom escuro nas cenas com árvores, e isso é algo estranho de olhar, pois mesmo o ambiente da padaria sendo forte, poderiam ter amenizado em algumas cenas, mas no geral agrada bem.
Enfim, é um filme que vai agradar bastante, mas que muitos podem estranhar, afinal o estilo japonês de fazer dramas não é algo comum de vermos por aqui. O longa trabalha um tema duro de maneira bem sútil, então deve comover à todos que forem dispostos a embarcar na trama, e dessa maneira acabo recomendando ele para todos. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, praticamente encerrando a semana cinematográfica, mas nesta segunda mesmo já começo com as prés da próxima semana, então abraços e até breve.
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O longa nos mostra que Sentaro dirige uma pequena padaria que serve dorayakis - panquecas recheadas com pasta de feijão vermelho doce. Quando uma senhora de idade, Tokue, se oferece para ajudar na cozinha, ele relutantemente aceita. Mas Tokue prova ter um toque de mágica quando se trata de fazer “an”. Graças à sua receita secreta, o pequeno negócio logo floresce e com o tempo, Sentaro e Tokue abrem seus corações para revelar velhas feridas.
Se praticamente um ano atrás eu estava somente reclamando do que a diretora Naomi Kawase tinha feito com "O Segredo das Águas", hoje sinceramente ela conseguiu meu respeito por seu trabalho, pois certamente o livro de Durian Sukegawa deve ser duríssimo ao inserir todo o preconceito que pessoas com hanseníase sofre e para impactar isso em um texto a dureza tem de vir com tudo, e ela pegou o livro e adaptou em algo tão simbólico e lindo que qualquer elemento mostrado acaba tendo um simbolismo tão mágico que é difícil você não emocionar e se prender a trama. A diretora foi concisa em todos os momentos, deixando os detalhes para cada olhar e sentimento expressado pelos personagens, de modo que ficamos comovidos e apaixonados pelo estilo de sua câmera com ângulos bem fechados, afinal as locações são pequenas, mas quando tem oportunidade para mostrar a vida da natureza (algo que ela adora retratar em todos os seus longas), ela abre a lente e a beleza das cerejeiras dominam o ambiente e agradam demais.
Falar das atuações de japoneses é algo sempre muito difícil, pois eles são muito centrados e seu estilo de expressão é algo completamente diferente do que estamos acostumados, mas isso não impede de ver a comoção de todos em cena. Masatoshi Nagase entrega um Sentaro que logo de cara vemos que tem muitos problemas e mesmo que demore para nos ser falado qual o seu real problema, já ficamos com a pulga atrás da orelha pela forma que conduz tudo, e seu jeito bem rígido frente às emoções, quando desabrocha é algo que não temos como não cair junto com ele, ou seja, um ator que mostrou muito bem quem é e o que sabe fazer. Kirin Kiki é uma graça total, e sua Tokue é incrível de modo que ela não foi falsa em momento algum, envolvendo cada espectador com sua singela e calma forma de atuar, e a cada cena mais estávamos conectados com sua presença, e mesmo depois de saber seu problema, ficamos ainda do seu lado, e quando desaparece de cena é algo triste demais de se pensar, ou seja, incrível. A personagem Wakana de Kyara Uchida inicialmente parece meio fora da proposta do longa, mas ela vai trabalhando bem e acabamos nos afeiçoando a ela para que no encerramento da trama seu trabalho seja bem visto, ou seja, é daqueles atores que são jogados metade do filme para que feche bem a trama, e ela agradou dessa forma.
No conceito artístico, a trama trabalhou bem tanto nos elementos cênicos mais simples e que foram colocados para representar cada situação e cada reviravolta, como na cenografia completa ao mostrar o ambiente todo em que tanto os leprosos estão separados e vivem sua vida, como a beleza dos parques da cidade com suas árvores extremamente floridas, ou seja, boas escolhas para simbolizar tudo. A equipe de fotografia trabalhou com poucas sombras, e deu um ar mais duro para a maioria das cenas, liberando somente algumas cores fora do tom escuro nas cenas com árvores, e isso é algo estranho de olhar, pois mesmo o ambiente da padaria sendo forte, poderiam ter amenizado em algumas cenas, mas no geral agrada bem.
Enfim, é um filme que vai agradar bastante, mas que muitos podem estranhar, afinal o estilo japonês de fazer dramas não é algo comum de vermos por aqui. O longa trabalha um tema duro de maneira bem sútil, então deve comover à todos que forem dispostos a embarcar na trama, e dessa maneira acabo recomendando ele para todos. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, praticamente encerrando a semana cinematográfica, mas nesta segunda mesmo já começo com as prés da próxima semana, então abraços e até breve.