Paraíso Perdido

5/31/2018 07:11:00 PM |

É engraçado como alguns filmes conseguem a façanha de nos surpreender, de tal maneira que acabamos indo conferir por encaixar o horário, mas sem nenhuma pretensão por ter visto o trailer apenas uma vez e achado que seria estranho demais para gostar, mas que ao conferir acabamos ficando tão envolvidos que a trama passa a funcionar e agradar tanto que precisamos recomendar para que outros vejam. Não sei se isso já ocorreu com vocês, mas principalmente com filmes alternativos, raramente algum tinha me conquistado como ocorreu com "Paraíso Perdido", e olha que o formato dele pode ser facilmente transformado em uma novelona mexicana da melhor qualidade, mas que coube em quase duas horas com uma perfeição cirúrgica da melhor qualidade, nos envolvendo com boas músicas para remeter aos diversos sentimentos de cada personagem, e amarrando tudo para um desfecho incrível de se imaginar, ou seja, um longa bem pensado, dirigido com paixão, e que torço para ser visto, pois mesmo sendo pequeno, merece muito mais que outras grandes produções nacionais.

A sinopse nos conta que Paraíso Perdido é um clube noturno gerenciado por José e movimentado por apresentações musicais de seus herdeiros. O policial Odair se aproxima da família ao ser contratado para fazer a segurança do jovem talento Ímã, neto de José e alvo frequente de homofóbicos, e aos poucos o laço entre o agente e o clã de artistas românticos vai se revelando mais e mais forte - com nós surpreendentes.

Após um longo tempo longe das telonas, a diretora e roteirista Monique Gardenberg voltou com atitude e acabou entregando uma trama cheia de detalhes, mas sem eliminar a simplicidade e os símbolos, que são suas marcas registradas, usando e ousando trabalhar com temas duros e que andam muito em pauta atualmente, como a linguagem dos sinais para surdos, homossexualismo, aborto, entre outros, de tal forma que tudo acaba soando verdadeiro sem soar jogado na trama apenas para conquistar determinado tipo de público, ou seja, um encaixe preciso, que colocado com um ritmo bem cadenciado pelas músicas acabou ficando gostoso de conferir e ainda conseguiu passar toda a mensagem. Dessa forma que ela encontrou, o longa passa bem próximo ao de um musical, mas sem que ficasse preso à cantoria, nem que a música fosse o elo mais importante, ou seja, funcionando para timing e dando cadência para a dramaticidade, mas todos os artistas mostraram personalidade cênica de grandes cantores e também botaram o gogó para jogo, envolvendo a todos com boas vozes e entregando as canções, ora conhecidas com novas roupagens. Ou seja, no conceito roteiro e direção foram perfeitos, só um adendo, que talvez tenha tratado de temas demais para um único filme, quase virando uma novela realmente, e assim tratando pouco alguns dos temas, como por exemplo a doença de José, que se não mostrassem o hospital nem saberíamos de sua existência, mas felizmente isso não estragou o restante, é o resultado acaba sendo mais do que perfeito.

Sobre as atuações, o que posso dizer, num modo mais global, é que todos foram extremamente bem expressivos nos gestuais, entregando alma para as canções e dando seu show de personalidade para que cada ato retratasse bem cada elo dramático do filme, e assim acabamos nos envolvendo com cada um, montando os diversos nós na nossa cabeça, e até conhecendo mais a personificação que cada ator tentou entregar para seu personagem, ou seja, mesmo que alguns tenham aparecido menos, conseguiram agradar na mensagem passada. Para começar, temos de falar do performático cantor Jaloo, que aqui em seu primeiro longa se entregou de corpo e alma para o personagem Ímã, de tal maneira que mesmo quem nunca tenha ouvido sequer uma música sua irá procurar na internet após ouvir performances incríveis de belíssimas canções na sua voz, e ainda ver com trejeitos fortes e bem colocados cada momento seu, ou seja, tem tudo para estourar ainda mais em sua carreira, e como ator deve chamar atenção para outros bons trabalhos, pois fez por merecer o destaque. Na sequência tenho de pontuar outro susto, que fiz pouco caso de um longa contando com Erasmo Carlos como ator, era algo de se assustar, mas o tremendão soube dosar olhares e agradar bastante com seu José, mesmo estando com dramaticidade e falas em poucas cenas, ou seja, foi bem sem fazer muito. Lee Taylor vem se mostrando como um dos grandes nomes do cinema nacional, e aqui seu Odair tem seu estilo, marrento, mas cheio de disposição para ajudar o próximo, e ainda claro dar uns pegas, ou seja, fez de tudo na trama. Júlio Andrade é outro dos monstros do cinema nacional, e aqui seu Ângelo é daqueles que ficamos admirados pelo estilo e pela dinâmica que consegue entregar, fazendo olhares, trejeitos e envolvendo pela sua história apaixonada pela amada e claro pela família também, ou seja, perfeito como sempre, além de dar um sotaque maravilhoso para seu personagem. É um filme aonde os atores fizeram a cena, então passaria horas aqui falando de cada um, então vou preferir pontuar que todos foram muito bem, desde Seu Jorge com seu Teylor cheio de ginga e parceiro da família, Humberto Carrão como Pedro que entregou um professor de inglês que ainda não saiu do armário, mas que teve um processo grande na trama e agradou muito, Hermila Guedes com sua sedutora e envolvente Eva, Julia Konrad como a doce e singela Celeste, e até mesmo Marjorie Estiano participou rapidamente com simplicidade cênica e envolveu com sua Milene. E para fechar não posso esquecer da ótima Malu Valli como a mãe surda de Odair que entregou emoções em olhares e teve um fechamento incrível.

No conceito cênico, a trama ficou praticamente o tempo inteiro dentro da boate, passando pelos camarins e nas ruas da redondeza, mas longe disso se tornar algo pobre, teve uma bela simbologia com os figurinos, e com cada elemento cênico mostrado ali nesse ambiente, de tal maneira que ao irmos para a cadeia ou para a casa de Odair e sua mãe, ficamos com vontade de voltar para o clube e ficarmos vendo mais daquele ambiente, mesmo que os demais também foram cheios de detalhes. A fotografia brincou bastante com as cores e cheio de detalhes em destaque, procurou cobrir a escuridão do inferninho com elementos próprios para realçar cada momento.

A trilha sonora embala cada momento do filme passando força e sentimento exatamente para criar as nuances que o longa necessitava, e mesmo que não seja algo tão comum de ouvirmos vale demais escutar no filme e fora dele, tanto que deixo aqui o link para todos conferirem.

Enfim, fui pronto para conferir o longa e tacar mil pedras, mas adorei cada detalhe, e mesmo com o formato novelesco, com muitos personagens e histórias paralelas que poderiam ser mais desenvolvidas, o qual não gosto muito, acabei me redimindo ao filme e recomendo ele por demais para todos. Espero que fique um bom tempo em cartaz para que muitos confiram, pois vale a pena. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas já vou para outra sessão para aproveitar o feriado, então abraços e até logo mais.

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Antes Que Eu Me Esqueça

5/27/2018 02:07:00 AM |

Alguns estilos de filmes são difíceis de aceitarmos ver no Brasil, pois sempre acabam ou destoando para um ar novelesco, ou acabam não indo para rumos que poderiam emocionar e ficar perfeitos. Um deles é o drama familiar por doença, que estamos acostumados a ver vindo de longas europeus e até mesmo dos nossos vizinhos argentinos, e quase todas as vezes saímos lavados do cinema de tanto chorar. Pois bem, eis que temos um exemplar nos mesmos moldes feito no Brasil, e temos que falar logo de cara de "Antes Que Eu Me Esqueça" felizmente fugiu do mote novelesco e entregou um ar bem clássico para a trama, com personagens determinados a entregar um bom fluxo e tudo mais, mas faltou aprenderem um detalhe: como emocionar! Pois a trama flui tão segura, sem vértices melosos, que nem o problema do protagonista sendo algo que geralmente emociona, o resultado do longa acaba passando em branco, e isso faz dele um filme seco, que até entrega bem o que se propõe, mas que não atinge um ápice em momento algum. Ou seja, o longa fica longe de ser algo perfeito, mas felizmente também fica bem longe de ser uma bomba completa, o que mostra que ao menos estamos tentando ser diferenciados, e logo quem sabe esse estilo possa nos dar até grandiosos prêmios.

A sinopse nos conta que aos 80 anos, Polidoro decide acabar com a estabilidade de sua confortável vida de juiz viúvo aposentado tornando-se sócio de uma boate de strip-tease. Diante de tal situação, sua filha Beatriz decide interditá-lo judicialmente. Em audiência, Paulo se declara incapaz de opinar sobre as decisões do pai porque não fala com ele há anos. O juiz determina que seja feita uma avaliação de Polidoro por Paulo, em encontros regulares entre pai e filho, forçando uma reaproximação que transformará suas vidas.

Em sua estreia na direção de longas de ficção Tiago Arakilian soube contrabalancear bem os atos dos protagonistas no mesmo peso que o ato cenográfico em si, de tal maneira que a trama se mostra bem equilibrada de situações, fazendo com que o filme não saia nem com atores chamando a atenção demais, nem com uma proposta ousada demais cheia de devaneios (mesmo que pareça loucura um juiz aposentado querer ter uma boate de strip-tease, sem uma lógica mais elaborada), e com isso seu filme acabou soando gostoso de acompanhar, com personagens bem divertidos e pontuados na medida certa, mas que ficou a todo momento esperando alguma quebra de ritmo ou alguma reviravolta que realmente chamasse o público para dentro do longa. Ou seja, o filme embora tenha alguns floreios, acaba soando linear demais, e com isso andamos junto com ele de lado sem surpresas, o que é bom, mas não nesse estilo, aonde o público espera se chocar ou surpreender com algo na trama.

Dentre as atuações temos de começar falando da ótima expressividade claro de José de Abreu, que sempre bem colocado nos momentos consegue entregar toda a situação de seu Polidoro com simplicidade e muito carisma, de modo que acabamos até torcendo para ele em diversos momentos, só diria que ele poderia ter conseguido chamar a responsabilidade mais forte para si e emocionar mais em diversas cenas, mas que de resto ele foi perfeito. Muita gente acha que é implicância minha com a família Mello, mas Selton não tem expressividade nenhuma em seus papeis, e seu irmão Danton até tenta entregar um pouco mais, mas geralmente acaba fazendo os mesmos personagens mudando um ou outro floreio, e aqui seu Paulo até começa mostrando uma certa dinâmica, se mostra com uma desenvoltura bem encadeada no miolo, mas volta para as cenas finais forçando demais, e acaba ficando estranho, ou seja, poderia entregar uma personalidade emotiva bem pontuada, de modo simples, emocionando que agradaria demais. Embora seja um papel menor, Guta Stresser dá literalmente um show com sua Joelma, trabalhando um palavreado mais chulo por ser uma prostituta, mas que destrói as cenas com carisma e encaixe em cada momento chave, de modo que se o longa tivesse apostado mais nela, é capaz que seria incrível. Dentre os demais, tivemos cenas destacadas com Augusto Madeira como o pianista David que deu bons conselhos musicais envolventes para o protagonista, Mariana Lima como Maria Pia seca e bem colocada, e também bem de leve com Letícia Isnard como a filha Beatriz, mas que por aparecer bem pouco quase some do longa.

No conceito visual arrumaram um apartamento bem cheio de detalhes para mostrar mesmo que rapidamente a vida em grande estilo que o juiz tinha, fizeram um tribunal simples, mas bem colocado para as duas cenas que ocorrem ali, a tradicional pracinha aonde velhos jogam, mas o destaque e onde o longa passa a maior parte do tempo é o clube de strip-tease, que foi muito bem trabalhado no colorido cheio de detalhes, no feitio das bebidas, e até mesmo quando fica mais elaborado no decorrer da trama ainda conseguiu manter o ar tradicional, ou seja, foram boas as pesquisas da equipe de cenografia. A fotografia brincou um pouco com tons mais opacos para segurar a dramaticidade, mas não conseguiu atingir muito um ponto correto de emoção como disse no resto do texto, de modo que poderiam ter ousado um pouco mais.

Enfim, é um filme bem feito, com uma qualidade acima dos padrões, mas que não entregou tudo o que poderia, e isso é uma falha bem grande, de tal maneira que o longa finaliza morno demais para algo que poderia ser de emocionar e deixar o público sem palavras. De certo modo até recomendo ele, mas adoraria chegar aqui e falar que era mais do que obrigatório todos verem, e isso não ocorre. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje encerrando a semana cinematográfica, mas talvez ainda confira uma pré-estreia que já está rolando há duas semanas, mas que ainda não tive coragem de ver dublado, então abraços e até breve.

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O Processo

5/26/2018 07:38:00 PM |

Sempre costumo dizer que documentar um fato ou processo é colher informações para retratar sua opinião e passar para o público tirar a dele, e com isso mesmo os mais afins de política podem acabar cansando com a forma escolhida pela diretora para mostrar em seu filme "O Processo", toda a movimentação do processo de impeachment de Dilma, pois mesmo sendo contra ou favorável à tudo o que ocorreu, no longa não chegamos a atingir uma boa opinião sobre o assunto, de tal forma que acabamos vendo tudo o que as TVs mostraram (alguns trechos a mais), e soando a opinião partidária dos criadores, o que acaba saindo meio sem embasamento crítico. Ou seja, não ficou um documentário realmente, mas sim uma coletânea de imagens que mais cansa do que cria política responsiva do que desejavam mostrar, e assim sendo, mesmo sendo algo importante que vejamos sobre o nosso País, o longa acaba dando mais sono do que agradando realmente.

O documentário oferece um olhar pelos bastidores do julgamento que culminou no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em 31 de agosto de 2016. O filme testemunha a profunda crise política e o colapso das instituições democráticas no país.

A diretora Maria Augusta Ramos passou meses no Planalto e no Congresso Nacional captando imagens sobre votações e discussões que culminaram com a destituição da presidenta Dilma Rousseff do cargo, mas diria que faltou para ela uma pesquisa mais detalhada sobre o assunto (ao invés de apenas pegar o que viu por lá) e também pegar mais depoimentos sobre o que cada um achava sobre o processo, mixando ai sim com imagens dos acontecimentos para expressar, que aí teríamos um longa efetivo, com opiniões e politizações que entregariam um vértice mais documental, pois seu longa sim documenta um fato, mas não critica ou favorece algo.

A trama sim causa revolta dos contrários à Dilma que forem assistir, mas como esse não é, nem nunca foi o público-alvo do filme, não estarão nem ligando para isso, então se você for desses nem vá, que a chance de odiar é alta. Diria que para os demais (os que não viram nada pela TV), sairão apaixonados pelas imagens, e irão sair da sessão falando que deveria estar mais lotada a sessão, que deve passar em todos os canais e tudo mais, mas poderiam ter melhorado mais para aí sim valer a pena, e aí sim esse Coelho que vos digita sempre também recomendar demais ele.

Enfim, poderia me expressar mais e até dar minha opinião sobre o assunto, mas como a diretora não fez isso, também vou me manter omisso, e com isso não diria que recomendo o longa, apenas digo que quem não acompanhou tudo pela TV, agora é uma boa coletânea dos acontecimentos. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas já vou conferir outro longa hoje, então abraços e até logo mais.

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Acertando o Passo (Finding Your Feet)

5/26/2018 01:53:00 AM |

Já disse algumas vezes que diretores precisam antes de fazer um filme decidir qual tema atacar, pois quando vão para muitos rumos costumam errar e falhas evidentes acabam atrapalhando mais do que ajudando a concepção completa de um longa. Dito isso, já falei logo de cara o maior problema de "Acertando o Passo" e você nem deve estar mais lendo o que vou continuar falando, mas peço que siga, pois esse é apenas um detalhe do filme que me fez molhar o olho mais que uma vez com situações tão bem colocadas e interpretadas, que certamente vão fazer o público se remeter a algo que já viram e a chance de precisar de lenços é altíssima. Ou seja, um filme que possui muitos defeitos, mas é tão lindo e comovente, que a frase que comecei o texto pode ser esquecida tão rapidamente que é melhor você conferir com o corpo aberto para os sentimentos, e deixar fluir tudo para que a emoção faça o trabalho que desejaram na criação da trama.

O longa nos mostra que ao descobrir que seu marido quarentão e sua melhor amiga têm um caso, ‘Lady’ Sandra Abbott, vai para Londres morar com a “diferente” irmã mais velha Bif,Timot libertária e namoradeira. Sandra é, por sua vez, um peixe fora da água. E sentindo que o que a irmã precisa, Bif a leva para aprender a dançar em um salão para pessoas da terceira idade. E, surpreendida, Sandra percebe que a vida tem ainda muito a lhe oferecer ao conhecer os amigos de sua irmã: Charlie, Jackie e Ted.

O diretor Richard Loncraine teve um grande acerto na trama ao desenvolver não um filme musical sobre dança, mas sim sobre amizade, problemas na terceira idade, casamentos infiéis, entre outras coisas, o que facilmente poderia ser discutido em diversos outros longas ou até mesmo em uma série com episódios variados sobre cada tema, mas a grande faceta dele foi encontrar uma forma que tudo combinasse bem e se diluísse em uma história tocante e muito bem interpretada que vai se desenvolvendo e emocionando a cada vértice. Claro que o público não vai chorar de soluçar pelas diversas quebras de assunto, e isso é um erro bem forte, pois vamos dizer que o longa focasse somente no problema de Bif, ou até mesmo no problema de Charlie, que são os dois mais impactantes, certamente lavaríamos o cinema, e o longa seria incrível, mas volto a frisar que o erro passa fácil, apenas faz as quebras, e isso é algo técnico que reclamaria muito, mas como conseguiu me tocar, diria que o diretor fez o trabalho soar bem decente ao menos.

Sobre as interpretações, diria que é um elenco de peso da terceira idade realmente, se divertindo sem frescuras para que o longa agrade na medida certa, de tal maneira que todos entregam bons olhares, textos colocados em minúcias e emoção pronta para cada expressão, ou seja, perfeição! Imelda Staunton faz de sua Sandra a tradicional mulher que muda a vida completamente por um homem e depois para se achar novamente após a separação acaba precisando de muita reflexão, e com uma desenvoltura incrível a atriz se soltou do começo ao fim, agradando mesmo nas cenas mais duras aonde não colocou uma personalidade mais intrigante e deixou que o fluxo rolasse sozinho. O mesmo podemos dizer de Celia Imrie como Bif, que foi de uma doçura tão forte que acaba nos socando com singeleza no momento mais forte da trama, e ao trabalhar sua fala nesse momento, por mais que imaginássemos algo do estilo acabamos nos comovendo com a cena, ou seja, perfeita e muito dinâmica. Timothy Spall desenvolveu seu Charlie como uma grande forma mutante durante o longa, entregando o forte nas cenas de dança, junto dos amigos, porém mantendo uma fraqueza imensa guardada em outro lugar, e nessas cenas quem já conheceu quem tem o problema de sua mulher vai ver um trabalho tão bem feito de Sian Thomas como Lilly que a conexão entre os dois chega a doer no peito e arrepia só de pensar, ou seja, dois monstros interpretando e agradando. Como disse no começo o longa tem vários momentos, e vários problemas sendo discutidos, e cada um com um bom ator desenvolvendo que acabam se conectando, mas para não alongar muito o texto, vou dar destaque apenas para a amizade de David Hayman com seu Ted, aonde o ator foi doce em mostrar suas fraquezas, tivemos a forte advogada Jackie interpretada por Joanna Lumley, e até mesmo o marido traidor Mike conseguiu ter boas cenas feitas por John Sessions, ou seja, um show completo de atuações.

A trama no conceito visual é bem simples, mas homogênea em relação às escolhas de locações, principalmente para poder contrabalancear a vida que cada protagonista escolheu para sua velhice, com Sandra mostrando inicialmente a preparação de uma aposentadoria bem rica com viagens junto do marido, em um bairro bem nobre cheio de casas de luxo, aonde tudo é organizado nos mínimos detalhes, Bif já possui um apartamento simples na periferia completamente bagunçado para realçar a bagunça despretensiosa que é a sua vida, Charlie possui uma casa-barco por ter se abdicado para um bem maior ao vender sua casa, e que assim como algo duplo já que pode-se morar e também navegar, mostra sua duplicidade, e assim vamos conhecendo cada momento pelo teor de moradia, mas também pelo projeto bacana de dança da terceira idade, mais ao fim vamos para a eterna Roma, cheia de pontos turísticos gastronômicos aproveitados para mostrar o que os velhinhos gostam de fazer quando passeiam, e claro temos a simbologia de nadar no inverno no lago gelado para realçar o contraponto da vida, ou seja, tudo usado como referência criativa do roteiro, que acaba envolvendo na ideia completa. A fotografia brincou bastante com tons, colocando sempre mais escuro na dramaticidade e muitas cores nos momentos de diversão para dar vida jovem para os protagonistas idosos, de modo que tudo acaba em festa, ou seja, uma fotografia também preocupada para que o tema não destoasse, mas que não seguiu padrões muito duros.

Enfim, confesso que esperava muita coisa proveniente desse longa desde que vi o trailer, e imaginava que seguiria uma linha mais musical que muitos até se incomodariam, mas como o diretor mesmo disse em uma entrevista, a trama poderia se passar num curso de gastronomia, de artesanato ou de qualquer coisa, pois a música vem apenas como um complemento de descontração tanto para os personagens, quanto para o público, de modo que o grande mote são os problemas da vida de cada um dos protagonistas e como se desenvolvem, ou seja, uma lição realmente para se aproveitar e refletir. Como disse mais para cima, poderiam facilmente criar uma série em cima do longa desenvolvendo cada problema de uma forma mais ampla, mas talvez não teria um impacto tão grandioso quanto tudo junto como fizeram aqui, então como costumo dizer em longas desse estilo, abstenha dos defeitos e deixe sua emoção fluir, pois como falei no comecinho do texto, a chance de precisar de lenços é bem grande. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje recomendando demais esse longa que segue a semana na sessão Cinema de Arte do Cinépolis Santa Úrsula, e você pode ver outras sessões do projeto aqui, então abraços e até breve, pois ainda tenho outras estreias para conferir.

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Han Solo - Uma História Star Wars em 3D (Solo)

5/25/2018 01:59:00 AM |

Os produtores certamente perguntaram como fazer uma franquia render mais do que poderia, e a resposta de algum estagiário maluco certamente foi fazer spin off do spin off do spin off, contando origens e colocando mais e mais coisas para interligar os filmes originais que possuem aberturas explicativas confusas, ou seja, resolvendo problemas que não foram explicados naquele momento por não precisar de explicação. Mas aí resolvem fazer, e o resultado até que sai razoável, afinal você vai conferir sem muita expectativa, e acaba agradando, e assim posso dizer facilmente que "Han Solo" funciona como uma história Star Wars como o subtítulo já diz, em que uma aventura é contada com sacadas cômicas razoáveis e a dinâmica ao menos não cansa, pois poderiam até ter enrolado mais, mas foram coesos e entregaram ao menos uma boa origem de Han Solo e como acabou conhecendo seu melhor amigo Chewbacca. Ou seja, fui com pedras na bolsa para tacar, mas apenas fiquei comendo pipoca e o tempo passou bem dosado, de modo que posso até recomendar ele para quem não tiver mais nada para conferir, e como pai Coelho Dinah previu, provavelmente será o flop do ano, pois salas semi-vazias são encontradas em quase todas as sessões, mesmo não sendo um longa ruim.

A sinopse nos conta que desde os 10 anos, Han Solo se especializou em aplicar golpes. Rebelde e ambicioso, o contrabandista quer ser o melhor piloto da galáxia. No seu caminho aparece o wookiee Chewbacca, que vira copiloto e amigo de Solo. A bordo da nave Millenium Falcon, eles embarcam numa jornada.

Já falei isso aqui algumas vezes, mas quando um filme troca de diretor no meio das filmagens, nunca espere um resultado que impressione, pois, a chance de termos problemas é bem alta. Porém, felizmente, Ron Howard assumiu antes de não ter como colocar sua mão no filme, e com isso ele transformou uma história rasa em um filme que tem até uma certa dinâmica bem moldada, mas que falha um pouco em não ser nem um faroeste mercenário, nem uma história de rebelião, nem um romance proibido, muito menos uma aventura intergaláctica, ou seja, tentou ser tantas coisas e ficou no meio do caminho. Ou seja, por ter de tudo o longa consegue divertir e agradar um pouco cada público, e também não decepciona os fãs de Star Wars que estavam morrendo de medo do longa virar uma bagunça completa, mas faltou uma consistência mais forte para que o diretor entregasse um filme épico que fosse lembrado realmente como um filme da saga mais forte e clássica das antigas.

Sobre as atuações, estava realmente com muito medo do que o jovem Alden Ehrenreich faria com um personagem tão icônico que acostumamos a ver na personalidade descontraída de Harrison Ford, e felizmente o rapaz não decepcionou com seu Solo, entregando bons momentos que oscilavam bastante desde momentos mais sérios, passando por trejeitos cômicos envolventes e até tentando um pouco de desenvoltura nas cenas que pediam ação, ou seja, foi completo e não decepcionou, mas certamente poderia ter chamado a responsabilidade em diversos momentos e entregado alguém mais cheio de personalidade. Sei que deixaram bem subentendido o que aconteceu com a Qi'ra de Emilia Clarke das cenas iniciais até o momento que tem seu reencontro com Han, mas a atriz mudou tanto os trejeitos e personificações da personagem que cheguei até a pensar que tinham trocado a atriz, e isso tem pontos bons e ruins, o bom é que mostra um amadurecimento forçado da personagem que até poderia ser melhor mostrado (será que farão o spin do spin do spin?), mas o ruim é que demorou para o segundo ato dela desenrolar e aparentou uma certa insegurança em diversos momentos, coisa que sabemos que a atriz não tem em outros papeis, ou seja, a mudança de direção pode ter influenciado um pouco aqui. Woody Harrelson foi Woody Harrelson com seu Becket, de modo que vemos o ator ali e sequer dá trela para que o personagem seja alguém diferenciado, e mesmo nos momentos de maior impacto, vemos ele ali, o que é estranho, não digo que isso seja ruim, pois é bacana um ator entregar sua personalidade para um personagem, mas os melhores sabem criar mais, e ele sabe fazer bem quando quer, o que não ocorreu aqui. Agora invertendo o lado, por bem pouco sequer imaginamos ver Paul Bethany como Dryden, entregando uma personalidade forte e trejeitos bem pontuados, que se tivessem mais cenas suas talvez até chamaria bem mais atenção que muitos dos protagonistas, ou seja, foi muito bem. Donald Glover também soube colocar um carisma gigante para seu Lando, de modo que o personagem já começou bem e só foi crescendo em todas as cenas, agradando com cenas divertidas e principalmente entregando trejeitos clássicos, ou seja, perfeito. Dos demais, não vemos os atores, mas podemos dizer que Chewbacca é fora de série com seus grunhidos que não entendemos nada, mas que com olhares e movimentos acaba nos conquistando, e a droide rebelde L3 foi muito divertida, de tal maneira que se o filme tivesse um âmbito maior, amanhã teríamos memes espalhados afora do Brasil com os movimentos sindicalistas dela.

No conceito visual, tivemos boas locações tanto dentro da nave, quanto nos momentos de guerra no início, uma boa criatividade nas cenas da cidade mostrando um aeroporto bem moldado, nas cenas nas minas a rebelião ficou muito interessante de ver com personagens bem colocados funcionando quase como algo cênico realmente, e depois no planeta com praia ao final fomos agraciados com uma fotografia ampla e que deu tons incríveis para o longa. Além disso, a nave-iate do vilão ficou com um charme bem pautado clássico para envolver o público e mostrar algo a mais caso quisessem. Como já falei, a fotografia brincou bastante para dar os tons do longa, com tons mais densos e escuros nas cenas mais de impacto e dramaticidade maior, e um deslumbre visual nas cenas mais descontraídas, de modo que tudo parece funcionar bem até que, vem a hora de falarmos do 3D do filme, pois nada, repito nada tem profundidade, nem um elemento saltante, nem um conceito que faça o longa ter preenchimento, com pouquíssimas cenas que dão um certo embaralhamento visual, mas que com certeza quem hesitar e remover os óculos é capaz de ver o mesmo filme que quem tiver com os óculos pretos na cara, então economize e veja em 2D.

Enfim, como costumo dizer, ir ao cinema sem nenhuma expectativa, ou melhor, esperando o pior, a chance de gostar de algo simples é alta, e aqui até fui surpreendido por sair feliz com o resultado, com as conexões/referências com outros filmes, de tal forma que quem for conferir sairá ao menos satisfeito com o resultado final. Como fiz questão de pontuar no texto, o longa está bem longe de ser perfeito, e possui muitos defeitos técnicos, mas tem uma boa levada que acaba divertindo mais do que incomodando. Claro que não posso recomendar ele para todos, pois é um filme feito somente para os fãs da série Star Wars, e mesmo contendo elementos de faroeste, de comédias, de dramas, e tudo mais, quem não for um "iniciado" no meio e chegar de supetão na sessão sairá de lá sem entender nada, e mais perdido que tudo, portanto se você já viu (ao menos a série original dos 6 primeiros filmes) pode ir tranquilamente para o cinema que vai gostar do que verá, agora do contrário, recomendo pelo menos que veja os demais, ou saia da sessão e já engate tudo para entender melhor. Bem é isso, por hoje fico aqui, mas volto amanhã com mais uma estreia, então abraços e até logo mais.

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A Abelhinha Maya - O Filme (Die Biene Maja 2 - Die Honigspiele) (Maya the Bee: The Honey Games)

5/19/2018 07:36:00 PM |

Não posso dizer que "A Abelhinha Maya - O Filme" tenha sido a melhor animação que já vi, mas passa bem longe de ser algo ruim como imaginava que seria, pois o filme possui uma essência bacana para passar lições de amizade, de competitividade e até trabalhar o espírito de equipe, mas ao brincar bastante com o formato infantil e não se preocupar em satisfazer nem o grupo dos pequeninos nem o grupo dos maiorzinhos, ficando no meio do caminho acaba pecando um pouco, e isso é algo que acaba complicando principalmente pelo início lento. Diria que o público demora para criar carisma pelos personagens, mas ao final já estamos torcendo por todos e as crianças já estão até dançando com os protagonistas. Ou seja, passou longe de ser aqueles filmes infantis bobinhos demais que amarram as crianças na frente da telona e você sai parecendo que foi abduzido, mas consegue soar gostoso mesmo que falte texturas para chamar atenção e ser uma animação primorosa.

O longa nos conta que a abelhinha Maya e seu amigo Willy vão participar dos Jogos do Mel. Vencer é muito importante, caso contrário a colmeia estará ameaçada. Por isso, os dois unem forças com um grupo de insetos para a competição. Porém, eles são bem desastrados e têm pela frente bichinhos bem fortes e com sede de vitória.

Ia dizer que o longa cometia uma falha grande em não apresentar direito os personagens, mas descobri que esse é a continuação de um longa de 2014 (que teve inclusive o mesmo nome, ou seja, sem facilidades para esse Coelho!!), mas por incrível que pareça, essa falta de apresentações não atrapalha em nada, pois os diretores conseguiram direcionar tudo de uma forma bem divertida e com rumos claros para que fôssemos conhecendo cada personagem pela sua interação dentro do longa, e isso é algo bacana de se valorizar, pois dependendo do estilo veríamos o filme e iríamos sair da sala sem conhecer o que desejavam passar realmente, mas aqui tudo flui, vemos a forma intrometida, mas doce, da abelhinha Maya de se meter em confusões, vemos o amiguinho medroso Willy, mas que acaba enfrentando seus medos para estar com a amiga, e vemos também que a colmeia deles é algo mais simples, se comparado com a grande colmeia aonde acontecem os jogos, ou seja, tudo muito bem explicado através de símbolos que acaba funcionando. Ou seja, os pais que forem levar os pequeninos poderão curtir a historinha e sair até sem reclamar, pois felizmente não ficou um longa bobo de conferir.

Sendo assim, podemos dizer que o acerto dos diretores e roteiristas em criar um filme bem trabalhado foi perfeito, e que só faltou melhorar um pouco mais nas texturas e na condução das provas para que o filme ficasse digno de ser lembrado por todos, mas isso já é exigir demais. Outro detalhe que foi um pouco exagerado, foi a forma que os demais competidores da equipe de Maya foram escolhidos, como se tivessem feito um corte seco e jogassem eles ali para competir, mas são detalhes técnicos de um roteiro que também tem muitos furos, mas que como animações aceitam invenções maiores acabaram não se preocupando tanto. Ou seja, temos um pacote completo para divertir os pequenos, com muitas cores, personagens conversando e divertindo bastante, e até boas sacadas para os maiores, fazendo com que o resultado final funcione bem. No conceito da dublagem diria que ficou um pouco estridente as vozes dos personagens, pois de cara até assusta um pouco os gritos e interjeições de cada um, o que fez no começo que a criançada partisse para o choro querendo ir embora da sessão, mas depois que acostumamos o fluxo segue bem e agrada de um modo geral.

Enfim, fui pronto para chegar em casa e atirar diversas pedras por ter conferido um longa exclusivo para bebês, mas acabei me divertindo com a proposta e fiquei feliz em ver as lições que o longa trabalhou, claro que ainda bem longe de ser uma animação que lembrarei muito de ter visto daqui uns meses, mas ao menos não foi uma bomba. Recomendo ele para os mais pequenos, mas não será ruim para os maiores também não. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje encerrando a semana, mas volto em breve com mais estreias.

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Em Um Mundo Interior

5/19/2018 01:37:00 AM |

Acho que já posso considerar 2018 como o ano que mais apareceu documentários nos cinemas do interior, e isso é bom, pois conseguimos ver um estilo de produção que tem melhorado e consegue cada vez mais abranger diferentes tópicos, e o melhor, a maioria saindo do estilo jornalístico. Com o longa "Em Um Mundo Interior", temos uma delicada e bem feita pesquisa para tentar explicar para leigos como são crianças, adolescentes e até adultos com autismo, como se desenvolvem, mostrar suas formas de estudo e convivência com outras crianças, mas principalmente tentar desmitificar que seja uma doença, pois muitos acabam condenando dessa forma. Diria que é algo que vale muito a pena para todos, foi feito de maneira tocante, mas que poderia ter abrangido uma gama de classes sociais maiores, pois aqui focaram praticamente o longa inteiro em famílias abastadas que podem ter cuidadores, babás, e tudo mais para que a criança se desenvolva melhor, mas é apenas um detalhe, pois de resto o longa é bem dinâmico e agrada bastante.

O longa nos conta que no mundo, 70 milhões de pessoas são autistas. No Brasil, são 2 milhões. Neste cenário, o documentário acompanha a rotina de um grupo de crianças de diferentes regiões e classes sociais. Os pais falam de seus medos, das limitações que seus filhos têm e o que o futuro pode reservar para eles.

Costumo dizer que o trabalho de direção de documentário é quase uma reflexão dentro da pesquisa que conseguem fazer, e que acabam entregando para o público sua opinião sobre o assunto, pois diferente de uma ficção que ele acaba dependendo dos atores e das tramas do roteiro, aqui eles precisam sentir para entregar algo que convença e/ou emocione o espectador. E aqui Flávio Frederico e Mariana Pamplona foram a fundo para criar algo que envolvesse toda a temática, conseguisse romancear dentro de uma boa perspectiva, e claro funcionasse também como um aprendizado, e foram bem felizes com o resultado final, pois mesmo com o defeito que citei no começo de pegarem uma gama de autistas que possuem um certo zelo social, com babás, cuidadores e tudo mais, eles acabaram entregando um filme dinâmico que consegue passar sua mensagem, não cansando em momento algum, e principalmente, não virando algo jornalístico que certamente poderia virar, ou seja, um bom acerto que vale a pena a conferida pela sensibilidade das imagens.

Um ponto bacana das entrevistas foi que os pais não fizeram seus filhos de coitadinhos, e ainda foram bem condizentes em todas as cenas, mostrando claro poucos momentos de crise, os jovens tentando se conectar com o mundo e com os câmeras (é notável o incômodo que muitos sentiram), e até foi bacana a tentativa de deixar que os pequenos gravassem cenas para o documentário (o que pelo pouco usado não deu muito certo!), mas certamente poderiam ter trabalhado um pouco mais para que o documentário ficasse completo, e mostrasse também um pouco mais de problemas sociais com os jovens, as crises mais fortes, um pouco mais de explicações médicas, e aí sim teríamos um longa 100% imparcial e que mais do que emocionar, seria de uma valia maior ainda, porém em momento algum digo que o longa foi ruim, muito pelo contrário, me comoveu e fez com que o resultado completo fosse agradável de ver.

Enfim, deixo a dica para que muitos confiram o longa, principalmente pais, pois com certeza em algum momento seu filho pode ter um amiguinho autista na escola, e sempre é bom saber um pouco mais para não dar vexame, e muito menos ensinar errado para os pequenos, e o longa trabalha tudo com uma forma bem serena e gostosa de ver, então fica a dica. Bem é isso fico por aqui hoje, mas ainda faltam algumas estreias para conferir, então abraços e até breve.

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Submersão (Submergence)

5/18/2018 12:40:00 AM |

Sabe quando você começa a explicar algo difícil (tipo o sentido da vida) para alguém, e começa a florear tanto que lá para a metade nem sabe mais o que estava tentando explicar, esse é o estilo de cinema que o diretor Wim Wnders gosta de entregar, pois costuma encantar pela beleza cênica, e acaba se aprofundando em temas que afundam o espectador em pensamentos de onde ele pretendia chegar, e por diversas vezes o público acaba saindo sem saber onde ele chegou, de modo que vai trabalhando sempre o poético com o duro, e geralmente acertando. O caso é que em "Submersão", ele floreou com duas áreas tão complexas (espionagem e biomatemática oceânica) para trabalhar religião e abstração da vida que acabamos flutuando no oceano junto com suas ideias, e até podemos dizer que ficamos perdidos, mas que servirá para muita reflexão e quem sabe até se envolver mais com o que é passado! Ou seja, o filme é o tradicional dele, bem bonito, com um romance instigante, mas que brinca de uma forma aberta demais, tem uma quebra de tempo bem desnecessária, e acaba não fechando como poderia para emocionar ou causar realmente, apenas entregando o básico com algo aberto demais.

A sinopse nos conta que a biomatemática Danielle Flinders, que busca concretizar um projeto de exploração dos oceanos à procura da origem da vida no planeta, em férias num resort remoto na Normandia, conhece o engenheiro hidráulico James More, surgindo uma paixão arrebatadora. Ele decide engajar-se ao seu projeto e, enquanto ela desce num submersível em um perigoso e desconhecido abismo no Ártico, ele, em uma missão na Somália, sob a acusação de ser um espião, é preso e torturado por jihadistas africanos. Com suas vidas em perigo, buscam conectar-se numa jornada espiritual.

Muitos vão reclamar, outros vão amar, mas o fato claro é que o estilo do diretor Wim Wenders é esse, que costuma até ser bem diferenciada por romancear situações não tão românticas e criar perspectivas bem direcionadas, mas aqui o principal ponto que acaba soando um pouco estranho é o fator de termos dois vértices bem diferentes ocorrendo com pensamentos conectados, e com uma edição bem quebrada tudo aparenta fluir de forma mais estranha embora seja compreensível. Não diria que isso soe errado, mas acaba mais cansando do que emocionando realmente, e ao final o público fica com a dúvida de se deu certo ou não. Mas se tem algo que é clássico no estilo de Wenders é o foco de cenas bem fotografadas, com cores marcantes para representar cada instinto e sensação, e aqui o ambiente foi muito bem escolhido, afinal são coisas que poucos costumam falar como biomatemática oceânica, engenharia hidráulica no meio de países dominados por terroristas, ou seja, ver um romance nesse meio já é algo complexo, com diversos recortes então, mas certamente se ele tivesse feito uma montagem diferente com um romance mais evidente realmente talvez o longa ficasse lindo e mais comercial.

Sobre as interpretações, é fato que a escolha de dois grandes atores do momento foi algo completamente acertado para que o filme fluísse bem e ainda garantisse uma bilheteria maior por onde passasse, pois são dois excelentes artistas que conseguem passar toda uma expressividade fora do comum para a telona. James McAvoy se entrega de corpo e alma para seu James More, criando cenas bem limpas e com um charme mesmo quando está sendo torturado, talvez mais cenas como a última soariam mais emocionantes ainda, pois o ator faria o melhor que é se expressar com olhares. Alicia Vikander também mostrou que não estava para brincadeiras com sua Danielle, mas aqui diferente de seus últimos projetos que precisou colocar o corpo para jogo fazendo muita ação, foi mais dinâmica com olhares e diálogos, voltando um pouco para suas origens e sendo sublime até mesmo nos momentos mais duros e desesperadores. Dos demais, podemos dizer que todos foram encaixes, e isso é um dos problemas do longa, pois quando precisou de outros, como nas diversas cenas dos jihadistas, ou até mesmo nas cenas no barco, ninguém estava pronto para chamar a responsabilidade e colaborar com os protagonistas.

No quesito visual, estamos falando de algo vivo quase, e mesmo no fundo do oceano, na parte mais escura, deram um jeito de algo chamar a atenção, então temos locações bem colocadas, barcos imponentes, cativeiros cheios de detalhes e tudo mais para que o filme conseguisse envolver cenicamente, e como o trabalho foi bem floreado de ideias, o resultado geral acaba ajudando a trabalhar cada ato com o cenário, não dependendo dos atores dizer aonde estão, e sim os elementos falando por si. A fotografia brincou com os tons, entregando diversas sensações tanto para os personagens, quanto para o público imergir na ideia que o diretor desejava, mas ainda vou bater na tecla que a última cena inteira em branco quase transparente acabou deixando aberto demais o longa, e poderia ser completamente diferente e ousado caso quisessem.

Enfim, é um filme interessante, mas que pelo trailer aparentava ser muito melhor e muito mais romântico com um envolvimento ímpar, porém a montagem não ajudou a desenvolver como poderia deixando a história um pouco exótica, mas rasa demais de entregas condizentes, ou seja, é daqueles que muitos verão sem entender se gostaram do que viram ou não, de modo que recomendo ele com ressalvas. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas ainda tenho mais algumas estreias para conferir, então abraços e até logo mais.

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Deadpool 2

5/17/2018 02:00:00 AM |

Manter a essência, sempre digo que esse é o sucesso de franquias que investem pesado em continuações, e com "Deadpool 2" não foi diferente, começando da mesma forma com uma cena não inicial que necessita voltar para ser explicada como chegou ali, muita desenvoltura com todos os personagens, grandes doses de ação e luta, boas piadas encaixadas do começo ao fim com o protagonista sem papas na língua, e o principal, desenvolvendo o encaixe mutante como deve ser (aliás brincando sempre com a ideia dos X-Men e seus grandes defeitos). Ou seja, um filme bem divertido e que agrada dentro do que se propôs, mas que oscilou demais, tendo comédia, ação e dramaticidade bem pontuadas em momentos isolados, o que acaba parecendo uma montanha russa imensa cheia de curvas, subidas e descidas, mas que no final ainda saímos felizes com o passeio completo. E sendo assim, posso dizer que é um bom filme que agrada bastante, e que fecha com chave de diamante com a cena pós-crédito que vai fazer quem conhecer as referências praticamente mijar de rir (cuidado com o tanto de refrigerante que tomar durante a sessão!), ou seja, um final melhor até que o próprio filme, e é bem rapidinho, podendo depois ir embora tranquilamente.

A sinopse nos conta que quando o super soldado Cable chega em uma missão para assassinar o jovem mutante Russel, o mercenário Deadpool precisa aprender o que é ser herói de verdade para salvá-lo. Para isso, ele recruta seu velho amigo Colossus e forma o novo grupo X-Force, sempre com o apoio do fiel escudeiro Dopinder.

Embora a semelhança técnica entre os dois filmes seja bem alta, é fácil enxergar a maior falha do segundo longa: a mudança de diretor, pois Tim Miller tinha um estilo bem próprio e gostava de entregar mais histórias, enquanto agora com David Leitch temos mais ação e desenvoltura de personagens, e aí é que entra o problema, pois o filme em si tem muita dinâmica, consegue empolgar, mas falha em contar algo a mais, ter uma história bem moldada como a formação do grupo X-Force, trabalhar a viagem temporal e tudo mais, que poderia ser daqueles que impressionaríamos com cada ato, mas que acaba ficando morno dentro de um contexto mais elaborado, porém em momento algum podemos dizer que o trabalho do diretor foi ruim, pois ousou em muitas explosões, tiros, piadas bem encaixadas na proposta, e claro, muito sangue, mas que certamente vai ser lembrado por ser um filme bom apenas, e não espetacular como poderia ser.

No conceito interpretativo, Ryan Reynolds vem mostrar o quão carismático pode ser com sua disposição para encaixar o tom exato de seu Deadpool, fazendo trejeitos vocais, incorporando expressões fortes e bagunçando com tudo o que for possível nas cenas mais calmas, pois certamente é o personagem que mais dá para usar dublê já que está com a máscara na maior parte do tempo, ou seja, podemos dizer que não tem como melhorar em nada, e como também participou do processo criativo do roteiro, e claro, das piadas, fez um ótimo acerto no tom. Josh Brolin veio com tudo nesse ano, e depois de destruir metade do Universo nos Vingadores, agora aqui voltou no passado com seu Cable como um soldado imponente e que também veio pronto para resolver suas desavenças, ou seja, o cara mostrou força e não atrapalha em nada, fazendo bons momentos de luta e de trejeitos. Dos demais posso dizer que todos apareceram e fizeram o que podiam para ter seus bons momentos, com alguns tendo mais tempo de tela como Stefan Kapicid como Colossus, o X-Men formal, o jovenzinho Julian Dennison como o desenfreado Russel, Karan Soni com seu divertido taxista Dopinder, e até mesmo a sortuda Zazie Beetz com sua Domino, mas nada que tenha impressionado demais.

Quanto à qualidade gráfica da trama é fato que tudo foi muito bem caprichado, e brincando com técnicas de explosão, boas lutas, tiros para todos os lados, efeitos fortes (que até poderiam ter apelado para um 3D com muita coisa voando!) e elementos sendo usados para complementar cada ato, o resultado visual acaba impressionando e agradando bastante. A fotografia não economizou também em movimentos de câmeras, tons diferenciados para realçar os protagonistas, muito vermelho, e funcionando sempre em contraponto para que a ação fosse frenética, ou seja, um trabalho técnico perfeito.

Como aconteceu no primeiro filme, aqui novamente Tyler Bates arrasou nas escolhas musicais, que funcionaram tanto como fundo da ação, como parte da história, ou seja, envolvendo cada momento, e sendo assim não tem como não prestar muita atenção, e claro ouvir todas elas muitas vezes, portanto deixo aqui o link para curtirem.

Enfim, é um longa bem feito, que vai divertir muito pela boa dose de piadas e de ação, mas que falha um pouco por não ter uma história mais chamativa como poderia, mas ainda assim é algo que vai valer a pena a conferida. Confesso que esperava um pouco mais dele, visto que o primeiro foi sensacional, mas não vou negar minha baixada de bola com o resultado completo. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto, então abraços e até breve.

PS: Acho que estou sendo bonzinho, e influenciado mais pela cena pós-crédito para a nota, pois valeria um 7 ou 7,5, mas como a cena final foi algo fora do normal, vamos de 8.

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O Renascimento do Parto 2

5/15/2018 10:38:00 PM |

Dei uma lida no que escrevi de "O Renascimento do Parto" em 24 de Setembro de 2013, e quase que escrevo aqui: Idem. Mas tenho de pontuar que aqui, em "O Renascimento do Parto 2" a trama desenvolveu mais problemas que muitas mulheres que fizeram cesáreas forçadas (afinal dizem que desejavam parto normal, mas não foram atendidas pelos médicos) sofreram, mostra um pouco mais dos atendimentos que o SUS tem prestado nessa modalidade de parto, enfatizando alguns hospitais próprios para isso, e também criou algumas dinâmicas diferenciadas com imagens mais impactantes, partos mais bem montados e tudo mais, porém ainda bateu demais na mesma tecla e ainda adicionou o grande mote do feminismo que anda tão em pauta, e com isso por bem pouco não desvirtuou a beleza que a trama mostra dos nascimentos, mas ainda assim coloco as mesmas palavras que disse em 2013, que é um longa que deve ser visto por todos para poder discutir e também analisar qual a melhor forma que deseja para ter seus filhos, mas ainda assim o longa poderia ter sido menos imparcial.

O documentário analisa a situação da rede obstetrícia no Brasil e traz relatos de mulheres violentadas física, mentalmente e moralmente na hora do parto. Especialistas e vítimas explicam do que se trata a violência obstétrica num momento em que a mulher é quem deveria escolher como quer parir.

Diria que o diretor Eduardo Chauvet foi bem ao querer fazer uma continuação, pois sim, temos de mostrar muito da medicina atual para que o público possa tomar as devidas decisões, porém aqui ele manteve um dos grandes problemas do primeiro longa, que é o excesso de termos técnicos que somente quem souber tudo de rituais, remédios e técnicas de cirurgias vai entender o que estão falando, e ainda incorporou algo ainda mais comprometedor, que se o primeiro era bonito vermos as ideias e tudo soava bem interessante ao mostrar a premissa do parto normal ser uma melhor opção, aqui ele já colocou sem chance alguma para a cesárea e até atacando não deu brecha para escolha, colocando somente pontos favoráveis para o normal e um milhão de tiros para o procedimento cirúrgico. Ou seja, algo totalmente imparcial que não deveria ocorrer em um documentário sério.

Sobre as entrevistas, ainda digo que esse é o melhor jeito de se fazer um bom documentário, não transformando ele tanto em algo jornalístico, mas sim desenvolvendo todo o processo com os depoimentos e criando algo maior, e embora não aparecesse tanto as perguntas feitas, vimos diversas vezes a repetição das mesmas frases, e assim sendo o resultado acabou mostrando que a ênfase no questionamento de mostrar o seu ponto de vista foi algo que o diretor quis polemizar.

Enfim, como costumo dizer documentários são bons para criarmos discussões, sentarmos em círculo e abranger tudo o que foi mostrado para cada um apurar sua devida opinião e as demais, e não que eu ficasse aqui falando por horas sobre cada ato mostrado. Digo apenas que gostei muito das imagens, achei poéticos diversos momentos, e embora imparcial acredito que o longa foi bem elaborado, mas que assim como o primeiro filme, muitos médicos irão ficar bravos com tudo o que é mostrado. Então fica a dica para que todos confiram, e principalmente que muitos discutam tudo o que for mostrado aqui, afinal nem eu, nem o diretor estamos certos com nossas opiniões do que é melhor para cada mulher, sendo que assim como defendem cada uma deve decidir como deve parir seus filhos. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas já volto amanhã com a grande estreia da próxima semana, então abraços e até breve.

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Hare Krishna! O Mantra, o Movimento e o Swami que começou tudo (Hare Krishna! The Mantra, the Movement and the Swami Who Started It All)

5/15/2018 01:33:00 AM |

Não tenho o costume de falar muito sobre documentários pelo fato de ser um estilo que dificilmente chega aos cinemas do interior, e principalmente, pelo motivo simples de que documentários geralmente são formatados para um público bem específico, de modo que ou você tem um mínimo de interesse sobre o que é mostrado, ou diferente do que ocorre em uma ficção que algum momento pode lhe conquistar, aqui é raro de acontecer. E como costumo dizer trabalhar o elo religioso é algo que tem duas formas: o de convencer um público ou o de mostrar a sua verdade para o público, e aqui em "Hare Krishna! O Mantra, o Movimento e o Swami que começou tudo" temos até um bom modelo formatado tradicionalmente com inúmeras entrevistas, aonde cada um vai falando um pouco de como foi viver com o fundador do movimento, como era um bom transmissor de ideias, a paz e a determinação que demonstrava e tudo mais, mostrando a expansão da ideia por diversos países, os problemas que ocorreram e tudo mais, porém falta aquele detalhe que engrena uma trama e acaba entregando o algo a mais, que seria a possível conversão de mais pessoas para a ideia, ou que ao menos nos apaixonássemos pelo idealizador e sua paz, mas não ocorre, e pelo contrário, o longa acaba inicialmente cansando demais para empolgar no final, e quando acaba vemos tantas imagens atuais do movimento que serviriam para mostrar os rumos que tudo tomou que chega a dar pena da edição feita.

A sinopse nos conta que o fundador do movimento espiritual Hare Krishna, Srila Prabhupada chegou aos Estados Unidos em 1965 com 70 anos e praticamente nenhum dinheiro ou contatos. Morando em Nova Iorque, ele começou a dar palestras interpretando antigos sânscritos indianos na época do auge da contracultura, e os jovens hippies, inclusive George Harrison dos Beatles, rapidamente se juntaram. O swami foi um incansável promotor até sua morte em 1977, tendo viajado por todo o mundo para espalhar sua mensagem.

Diria que o trabalho de pesquisa foi bem desenvolvido e conseguiu mostrar o começo da trajetória de Prabhupada, e também através de muitos registros históricos mostrar alguns momentos marcantes do início do Hare Krishna, mas John Griesser fez algo tão monótono e com uma desenvoltura tão cansativa para tentar criar um ar sobre o protagonista que não atingiu o ápice em momento algum, muito pelo contrário, o ápice poderia ocorrer com qualquer uma das muitas cenas mostradas durante os créditos que mostra o que o movimento acabou virando atualmente, ou seja, focaram tanto o começo enrolando sem ir para lado algum que quando chegou no melhor ponto acabou o filme.

Ou seja, temos bons depoimentos, boas cenas históricas, vemos os momentos em que o Beatles colocou o movimento num nível maior ainda com George Harrison cantando o mantra, e tudo mais, mas diria que o diretor e roteirista foi omisso no momento maior, e com isso o resultado soou calmo demais para agradar um público maior. Não digo que o filme tenha sido em vão, pois temos momentos que até dá para curtir e conhecer um pouco, mas dos 90 minutos do longa, me vi olhando as horas umas três vezes nos primeiros 50 minutos, ou seja, conseguiu me cansar de tal maneira que não via a hora de chegar ao final, e isso é algo raríssimo de acontecer, ou seja, poderiam ter melhorado demais a desenvoltura que acabaria resultando em algo mais dinâmico e bacana de acompanhar.

Enfim, como disse está bem longe de ser algo desagradável ao ponto de não recomendar, pois vai ter o público-alvo que irá gostar do estilo, que já segue a religião e apenas deseja conhecer imagens dos primórdios, mas para quem apenas ouviu algum ensinamento, escutou o mantra e deseja saber mais, certamente deve haver filmes melhores para mostrar mais, já que aqui ficou muito imparcial e chato para falar em termos mais convincentes para um público maior. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com a minha opinião de outro documentário que apareceu na região, então abraços e até logo mais.

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Desejo de Matar (Death Wish)

5/12/2018 02:24:00 AM |

O que acontece quando se junta um diretor de terrores sangrentos com um ator de ação com tiros para todos os lados em uma refilmagem de um clássico filme policial dos anos 70? Se você algum dia fez essa pergunta, a resposta foi lançada nos cinemas na última quinta feira como "Desejo de Matar", refilmagem do longa de 1974 estrelado por Charles Bronson, que agora recebeu um tom mais moderno, aonde a tecnologia dos celulares e das redes sociais proliferam ainda mais a discussão de se devem ou não se fazer justiça com as próprias mãos enquanto a polícia fica parada demorando para resolver um caso. Claro que a ideia principal é interessante para ser discutida, o longa vem cheio de ação para todos os lados (demora um pouco para engrenar, mas quando começa é tiro pra todo lado!), e o principal que veio da pegada clássica do diretor, que antes desse longa só havia feito terrores fortíssimos, ou seja, colocou muitas cenas fortes com impacto de primeira, fazendo com que a classificação indicativa fosse lá para o alto (+18 anos) e agradando quem gosta desse estilo sem precisar ficar apenas indicando as situações.

A sinopse nos conta que após ter sua casa invadida e a esposa assassinada por bandidos Paul (Bruce Willis) passa a acompanhar a polícia nas investigações para capturar os criminosos. Em poucos dias ele percebe que a polícia jamais encontrará os assassinos. Sem opções, ele terá que se aventurar por caminhos obscuros em uma jornada pessoal em busca de justiça.

Vendo as outras opções de atores que foram citadas para o diretor, certamente ele não teve dúvidas em contar com Bruce Willis, pois o longa é a cara do ator, que tem um ar sereno de bom moço quando quer, mas que também não perdoa nada que entre na sua frente, e dado isso, Eli Roth só precisou trabalhar com os produtores como faria para que seu longa chegasse perto do original que conta com cenas também bem pesadas para a época, mas que aqui ganhou um plus mais próximo do terror, mesmo que ainda utilize do estilo de ação policial, afinal vingança faz parte desse gênero. Ou seja, o estilo do diretor foi mantido e ele conseguiu ainda incorporar a ação dinâmica que lhe faltava em alguns títulos para que tudo ficasse bem colocado em cena, de modo que cada ato aqui é marcado quase como em uma série, mas que funciona bem como filme e agrada pela força que pode trabalhar, pois certamente um longa mais light acabaria cansando e não chegaria nem perto de ser lembrado.

Basicamente o filme inteiro é de Bruce Willis, que inicialmente com seu ar cordial e cheio de classe até estranhamos, de tal maneira que Paul parece o médico e marido perfeito, mas logo após o crime, o bicho pega e fica o tradicional Bruce que conhecemos, que deu bons trejeitos para o personagem, criou um carisma e que certamente caso desejem continuar a série fará bons momentos na telona com seu Anjo da Morte, mas aí precisarão elaborar um roteiro mais bem encaixado, pois a história para esse foi fechada. Dentre os demais personagens, a maioria aparece bem pouco e muito deslocada, desde os detetives interpretados por Dean Norris e Kimberly Elise que parecem somente se importar com comidas e bobagens ficando algo bobo demais, até o irmão do protagonista que conseguimos ver que possui alguns problemas, mas que acaba ficando bem superficial na trama com os trejeitos de Vincent D'Onofrio. Dentre os ladrões, deram um pouco mais de ênfase em Beau Knapp como Knox pelo gran finale das cenas de seu personagem, mas sem dúvida as mortes dos demais foram bem mais interessantes.

No conceito visual temos bons momentos com elementos cênicos precisos, a exibição de como é fácil arrumar uma arma de altíssimo porte por parte de qualquer um, conseguiram deixar a cidade de Chicago como um lugar perigosíssimo (não sei se é realmente assim, mas se for deixa algumas cidades brasileiras no chinelo!) e ao trabalhar bem as cenas de ação e as de mortes, a equipe artística procurou criar muita realidade forçada, de tal maneira que alguns elementos cênicos pareceram ter mais importância até que a história em si, o que mostra um apreço pelo orçamento da equipe, e assim o filme acaba até soando engraçado por alguns lances, mas nada que atrapalhe o resultado. A fotografia usou bons tons escuros brincando bastante com luzes de ruas, carros e sombras, o que deu um tom mais denso para a trama e acaba agradando bastante.

Enfim, é um filme que muitos vão adorar pela força de impacto e outros vão odiar pelo exagero, mas que certamente vai causar algo no público que for conferir, e como costumo dizer, isso é fazer cinema, pois se causou algo vai gerar conversas, que vai levar outros para conferir e assim vai. Não digo que seja o longa perfeito, muito pelo contrário tendo diversos furos, mas soa bacana pela proposta de um filme de ação e muitos tiros, e sendo assim quem gosta desse estilo pode ir conferir sem medo, que vai ficar bem contente com o resultado final. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto na segunda com alguns documentários que vieram para a cidade, então abraços e até breve.

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A Noite Do Jogo (Game Night)

5/11/2018 01:21:00 AM |

Como transformar uma noitada de jogos em algo bem mais interessante? Pergunte para a galera do filme "A Noite Do Jogo" que certamente vão lhe entregar algo bem perigoso, e o melhor: um filme divertido demais para quem gosta de jogos de pistas, tramas policiais e claro conflitos absurdos que nem em sonho se imaginaria. Com uma premissa bem simples, a trama foi crescendo e ficando bem interessante dentro da proposta, criando situações até de certa forma confusas que são resolvidas até de maneiras elaboradas, mas o grande feito do longa é a bagunça não ser tão imprudente, pois o longa tinha tudo para cair num besteirol de nível tão alto que brigaria pau a pau com os longas de Seth Rogen, mas acabaram fazendo algo que realmente faz rir muito (o miolo é de tirar o chapéu nas cenas que acontecem após o tiro mostrado no trailer!). Claro que temos alguns absurdos fortes e alguns momentos em que o longa dá uma esfriada, mas o resultado é algo que vale muito a conferida, principalmente para quem gosta desse estilo.

O longa nos mostra que Max e Annie participam de um grupo de casais que organizam noites de jogos. O irmão de Max, Brooks, chega decidido a organizar uma festa de assassinato e mistério e acaba sequestrado, levando todos a acreditarem que o sumiço faz parte da misteriosa brincadeira. Os seis amigos competitivos precisam então resolver o caso para vencer o jogo, cujo rumo vai se tornando cada vez mais inesperado.

Em seu segundo longa, a dupla de diretores John Francis Daley e Jonathan Goldstein conseguiram um feito raro, trabalhar uma comédia com pitada policial em algo icônico misturando diversas facetas do gênero da comédia, pois encontramos vértices do pastelão, temos pontos de disputa de jogos, temos o tradicional pesado com escatologias, tendo até pontadas romantizadas, mas tudo de uma forma bem colocada para que não ficasse nem jogado na tela, nem forçado demais, fluindo no ritmo certo que um jogo deve ter, tendo personagens de todos os estilos, brincando com a nerdisse do público que gosta de jogos, e principalmente não apelando para o tradicional, pois o filme certamente poderia cansar, e os diretores mesmo nos momentos mais calmos do longa ainda conseguiram tirar risos do público e deixar que a trama interagisse no contexto completo, brincando até o final com o lance do jogo, e ainda quando achamos que nada poderia nos surpreender e já iriam fechar o longa, tudo volta a jogo numa nova sequência de loucuras, ou seja, uma direção que poucas vezes vimos numa comédia.

Sobre as atuações, temos de todos os tipos e estilos para que o traço cômico funcione bem na proposta do longa, a começar por Jason Bateman, que também assina a produção do filme, e aqui fez o que sabe fazer bem humor com gritos e caras estranhas, de tal maneira que se fosse qualquer outro longa seu Max seria aquele irritante ser que está tentando aparecer de qualquer forma, mas aqui junto com suas cenas sempre acaba vindo algo a mais, que diverte, de tal maneira que a cena da "cirurgia" após o tiro com ele e sua parceira Annie é de rir tanto até chorar, ou seja, tudo o que acabou fazendo deu resultado e agrada bastante. E como falei de Annie, é fato que Rachel McAdams é daquelas que procura encaixar inteligência nos trejeitos para que ela se divirta com a cena, e com isso passe a diversão para o público, o que acaba fazendo seu protagonismo no longa ir acima de tudo e todos, sem abusar e ainda encaixar ótimos momentos em cada piada, ou seja, perfeita. Kyle Chandler entregou um Brooks com trejeitos fortes e sacadas mais duras para seus momentos, do tipo de irmão que apela para atrapalhar o outro, e com isso acabou tendo bons e maus momentos no longa. Já vi pessoas estranhas caírem de paraquedas em comédias, mas Jesse Plemons chega a assustar com seu ar deprimente de alguém que acabou de separar da amada, mas que ainda mantém a pose de policial rigoroso com seu Gary, de tal maneira que suas cenas acabam soando engraçadas, e o ator certamente teve de segurar muito para não rir do que faz em cena, ou seja, algo bizarramente divertido. A dupla Billy Magnussen e Sharon Horgan encaixou a velha história do garanhão burro de escritório que sai com todas e a inteligente que sai por pena, mas que dá liga para as piadas desse estilo no longa com seus Ryan e Sarah, ou seja, até tem bons momentos, mas por bem pouco não acabam apagados. A sacada do outro casal formado por Lamorne Morris e Kylie Bunbury tinha tudo para ter muitos ganchos, afinal se conhecem desde a infância e tiveram uma rápida briga numa determinada época, e esse gancho deu tom para muitas cenas e até poderiam ter brincado mais com isso, mas sairia demais da proposta do filme, e com isso foram bem nos momentos a parte com seus Kevin e Michelle.

A proposta cênica foi bem ousada, pois escolheram uma casa num bairro bem modelado no estilo quase de um jogo realmente, fizeram uma abertura bem original usando elementos de diversos jogos conhecidos, botou a introdução para conhecermos como formou o casal usando muitos bons jogos de casais, e aí você pensa que quando saíssem da temática jogos e fossem para o lado policial investigativo iriam decair, e não, a equipe cênica arrasa nas perseguições, no bar underground, nas mansões, nos diversos elementos cênicos de tal maneira que mostra que a produção pequena acabou tendo um rumo pra lá de inusitado, e o melhor, sempre procurando divertir com tudo, ou seja, um trabalho primoroso. A fotografia ousou em trabalhar cores escuras e elementos fortes para criar sombras até sujas demais para uma comédia, de tal maneira que o tom chega a puxar para um drama em determinados momentos, mas como a ação é frenética o resultado acaba brincando bem com o público e funcionando bastante.

Enfim, é um longa bem bacana que vai agradar bastante quem gosta do estilo, já deixo aqui o aviso que possui uma cena durante os créditos que mostra como o grande plano foi trabalhado, e uma cena no fim dos créditos que mostra uma explicação bem bacana para um outro relacionamento, ou seja, algo subliminar que alguns nem vão entender, ou seja, o longa ainda conseguiu brincar até o final com o público. Além desse detalhe, na cena anterior aos créditos vemos algo que pode ser um gancho para uma continuação, e se souberem arquitetar bem certamente ainda dá para criar muita história com boas piadas, pois recomendo demais o filme, por esperava que fosse bom, mas não esperava rir tanto em determinadas cenas, principalmente vindo de um estilo mais apelativo de humor, ou seja, agrada muito. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto, então abraços e até logo mais.

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Querida Mamãe

5/09/2018 01:27:00 AM |

É engraçado como você ao assistir o longa "Querida Mamãe" parece estar dentro de um teatro conferindo uma peça, daí que você chega na sua casa e vai dar a primeira pesquisada e pronto, o longa é inspirado em uma peça de sucesso de Maria Adelaide Amaral que foi exibida há mais de 11 anos atrás, ou seja, o diretor conseguiu segurar toda a dramaticidade teatral, levando para um outro formato, aonde as atrizes conseguiram permear cada momento como uma grande colcha de sentimentos, aonde discutem seus relacionamentos afetivos e conseguem transpassar o envolvimento atual, aonde cada um procura mostrar os seus pontos de vista favoráveis à sua pessoa, mas esquece de olhar ao redor para ver também o que o outro precisa. Não diria que foi um mar de rosas, pois como bem sabemos uma peça funciona bem dentro de um teatro, aonde expressões falam mais alto e a dinâmica por si só conversa com o espectador, mas também passou bem longe de ser um problemático drama novelesco, que beirou os limites para que isso acontecesse. Portanto, com uma proposta embora bem dura, tudo acaba sendo envolvente e agrada de um modo geral.

O longa nos conta a história de Heloísa, uma médica que sofre de infelicidade crônica, tendo problemas com o marido e a própria mãe, a quem constantemente acusa de tê-la preterida pela irmã, Beth. Após se separar do marido, Heloísa conhece no hospital em que trabalha a pintora Leda, que sofreu um acidente de carro. Grata pelo atendimento prestado, Leda deseja pintar um quadro da médica. Inicialmente reticente, ela aceita a proposta e, ao visitar o ateliê, acaba se envolvendo com a pintora. Entretanto, por mais que o novo relacionamento deixe Heloísa bem mais feliz, ela precisa lidar com o preconceito tanto de sua mãe quanto da própria filha.

O estilo do diretor Jeremias Moreira Filho é mais seco sem muitas firulas, aonde ou ele comove ou entrega logo a sua ideia, já vimos isso em outros filmes seus, e aqui não seria diferente, de modo que até temos um ar tocante pelas beiradas, mas sempre focado no estilo teatral as atrizes vão dominando as cenas e praticamente se digladiando nos diálogos, fazendo com que cada ato fosse bem envolvente e bem pontuado. Claro que o preconceito soou forte em demasia, mas era a proposta, e assim a trama foi bem fluída sem cair em momento algum em desenrolares paralelos (o que tornaria o longa numa novela!), e assim sem errar podemos dizer que a direção foi eficiente (para o teatro), o que poderia ter sido mais suavizado para agradar um público que gosta de floreios no cinema. Enfim, podemos dizer que o roteiro foi bem montado dentro da proposta, que a direção foi criteriosa para não inventar moda, mas que na montagem final poderiam ter cortado ainda um pouco para o longa ficar mais curto e efetivo.

Sobre as interpretações, volto a frisar no estilo, pois todas sem exceção fizeram caras e bocas expressivas demais, o que é comum de ver em teatro, e poderiam ter suavizado todas as situações, mas embora isso atrapalhe um pouco em conectar o público, o resultado acabou ficando forte, e talvez essa tenha sido a ideia que o diretor tenha pedido para elas, então não digo que tenha sido algo errado, apenas poderia ser melhor. Letícia Sabatella é uma atriz esplêndida no que sempre faz, e sua Heloísa é a cara da sociedade atual que se cobra demais, mas que vive confinada dentro de si apenas, olhando para o próprio umbigo e deixando de lado até mesmo os familiares para seu próprio bem, e a atriz conseguiu transmitir sensações nas suas cenas, de modo que tudo ficava bem explícito, porém exagerou um pouco demais na seriedade, deixando fluir pouco uma beleza interior que poderia ser mais trabalhada durante todo o longa e não apenas na última cena. Selma Egrei foi muito bem dosada nas cenas de sua Ruth, entregando a tradicional senhora que se preocupa com os netos, que instiga as filhas e que procura esconder tudo de todos, e com olhares doces e bem colocados em todas as cenas acabou ficando muito bem colocada na trama. Dentre os demais atores, todos procuraram mais conexões com as duas protagonistas, mas sempre dando deixas, o que não é errado, mas seus estouros de atitudes acabaram soando um pouco falhos demais, e sendo assim a filha Priscila interpretada por Bruna Carvalho, o marido interpretado por Marat Descartes, e a pintora Leda feita por Claudia Missura acabaram mostrando um ou outro sentimento na tela, mas sempre apagados pelas pontas dos protagonistas, e poderiam certamente ter se destacado mais caso o longa fosse mais amplo no campo de cinema e menos teatralizado.

No conceito visual, o longa foi bem interessante na casa de Ruth com muitos elementos cênicos para irem encaixando na proposta, mas usando ainda da técnica grandiosa do teatro de ir sumindo cenicamente para representar uma despedida, e também ajudar no conceito de lembranças, o que soa bonito, mas também poderiam ter abusado um pouco mais de cores e detalhes, não deixando que o conceito ficasse fechado demais. Os tons da fotografia também poderiam ter dado um ar mais denso de problema, pois mesmo trabalhando com o preconceito o ar técnico foi bem colorido visualmente, e nesse conceito poderiam ter sido bem mais dramáticos.

Enfim, é um filme bem feito, que agrada bem dentro do que desejava passar, mas que certamente melhor aparado e desenvolvido realmente para cinema e não jogando uma peça para dentro da telona acabaria ficando perfeito. Recomendo ele para algumas reflexões, pois muita gente pode aprender a olhar detalhes ao redor e enxergar melhorias familiares para todos. Bem é isso pessoal, encerro por aqui essa semana, mas volto na quinta com mais textos, então abraços e até lá.

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Gringo - Vivo ou Morto (Gringo)

5/07/2018 01:11:00 AM |

Alguns filmes de comédia costumam não funcionar para todos, e um que geralmente acaba tendo muita controvérsia é o tal de humor negro, aonde as piadas podem funcionar para alguns e para outros o longa pode soar ofensivo, de modo a fazer com que alguns acabem até fugindo das salas dos cinemas. Com "Gringo - Vivo ou Morto" temos uma mistura bem interessante de longas de máfia (aqui no caso a mexicana e seus cartéis de drogas) com algo do estilo "Se Beber Não Case", mas claro que mais pelas altas confusões que o protagonista vai se metendo e as diversas conexões que vão tendo os demais personagens, já digo isso de cara antes que vão conferir e não enxerguem nada disso, ou seja, uma trama cheia de reviravoltas aonde se consegue divertir até que bastante com toda a confusão, mas que o excesso de personagens interligando com o protagonista acaba até confundindo e cansando um pouco, mas quem sobreviver a tudo certamente vai sair da sessão feliz com o resultado final desse bom longa.

O longa nos mostra que como funcionário dedicado e marido exemplar, Harold Soyinka leva uma vida pacata em Chicago. Enfrentando problemas financeiros, ele descobre que a empresa em que trabalha está negociando uma fusão que pode resultar em sua demissão. Aos poucos David passa a acreditar nesta possibilidade, devido a atos suspeitos de seu chefe e "melhor amigo" Richard Rusk. Quando Richard e sua sócia Elaine Markinson resolvem acompanhá-lo em uma viagem de trabalho corriqueira ao México, David vê a situação como a oportunidade ideal para fingir ter sido sequestrado e, desta forma, pedir um polpudo sequestro.

Em seu segundo longa Nash Edgerton mostra uma personalidade única como diretor, após muitos filmes como ator, e conseguiu criar uma comédia muito bem encaixada, cheia de boas reviravoltas e com uma dinâmica bem carismática por parte dos atores, de modo que a cada nova sena o longa conseguia ir nos prendendo, fazendo rir e esperando somente o pior para o protagonista, que mesmo que torcêssemos para que ele conseguisse ganhar algo em cima dos acusados não víamos muitas soluções para que sobrevivesse à todas investidas do cartel. Ou seja, embora possa parecer uma novela imensa com muitos personagens, o diretor conseguiu que cada um fizesse sua parte e não atrapalhasse a do outro, o que acabou conectando todos de maneira coerente e bem concisa, ou seja, um filme que não chegou nem a passar trailer nos cinemas, mas que acabou saindo mais divertido do que o esperado, ao menos para quem gosta de uma comédia mais forte.

Quanto das atuações, boa parte do crédito do filme se deu ao bom carisma de David Oyelowo que encaixou um Harold perfeito para cada momento, cheio de trejeitos desesperados e desde a sua cara de pena por tudo o que sofreu, até seu momento de grandiosidade de um plano para receber um seguro, foi tudo bem encaixado e feito com muito simbolismo, sem recair ao piegas e nem forçar para ser engraçado, deixando que as piadas fluíssem sozinhas. O irmão do diretor, Joel Edgerton também caiu bem na produção como o empresário Richard, e conseguiu demonstrar através de trejeitos tanto os macetes de empresários que não ligam para ninguém, estando se lixando para os funcionários, como também demonstrou pânico nas expressões para quando fica sabendo do problema, ou seja, fez bem seus atos. Charlize Theron como sempre é incrível, e aqui colocou a sensualidade para jogo e trejeitos fortes para mostrar que sua Elaine é quem domina a situação e faz o que quer da sua vida, sendo completamente bem coesa em todos os momentos. O longa ainda contou com outros bons atores para conduzir cada momento, passando por Amanda Seyfried como uma jovem garota que acompanha o namorado numa viagem para o México e acaba cruzando e ajudando o protagonista, tivemos a filha de Michael, Paris Jackson, estreando em uma cena bem rápida numa loja de instrumentos musicais, tivemos Carlos Corona como o chefe do tráfico Pantera Negra em cenas ótimas falando de suas preferências pelos álbuns dos Beatles, e para finalizar tivemos Sharlto Cooper como o maluco irmão de Richard, que fez cenas engraçadíssimas junto do protagonista, ou seja, um elenco coeso e que combinou bons elementos para cada ato deslanchar.

No conceito visual tivemos boas cenas no México mostrando cidades com movimentos dominados pelos cartéis, hotéis fuleiros, mansões cheias de elementos cênicos para mostrar o poder dos traficantes, uma empresa farmacêutica bem montada tanto no nível de escritório quanto na produção mesmo do medicamento "100% legal", além claro das diversas cenas de ação dos sequestros, que mostrou um trabalho bem montado da equipe de arte. A fotografia soube dosar os bons momentos de ação para que o longa tivesse uma vitalidade, com tons sérios e enquadramentos bem usados, mas nada que impressione muito, apenas dando o resultado correto, embora pudessem ter abusado mais das sombras, além de que o começo ficou um pouco forte demais, espantando alguns espectadores.

Enfim, foi um filme muito melhor do que esperava, e que apesar de ser uma bagunça imensa vai conseguir divertir bastante quem for conferir ele por inteiro, pois confesso que o começo e alguns momentos do miolo vão desanimar demais muita gente, mas o resultado completo vale a pena a conferida, mas ao final já estava a sala inteira rindo bastante de tudo. Sendo assim, acabo recomendando ele mais para quem gosta de longas de comédia diferenciados, sem muita apelação, aonde as piadas mais inteligentes acabam funcionando, ou seja, um filme quase artístico. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com a última estreia dessa semana, então abraços e até breve.

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