Olha, de um tempo pra cá passei a ser fã de produções francesas, mas nunca imaginei que fosse vir deles um conceito visual tão incrível, que mesmo sendo uma história "conhecida" sua versão ficou tão perfeitamente mágica que posso dizer sem hesitar que "A Bela e A Fera" francês é uma das melhores adaptações que a história já teve. Tudo é mágico, conceituado, bonito, figurino impecável, cenografia com detalhes minuciosos, atores bem pontuados nas atuações, história bem elaborada, tudo perfeito? Quase tudo, pois tivemos umas loucuras meio que inexplicadas, como os gigantes, e também algumas cenas previsíveis demais, mas esses dois detalhes passam quase que despercebidos e ainda continuo com minha defesa de melhor adaptação já feita.
O filme nos situa em 1810, onde um naufrágio leva à falência um comerciante, pai de seis filhos. A família se muda para o campo e a filha mais jovem, Bela, parece ser a única gostar da vida rural. Quando o pai de Bela pega uma rosa do jardim de um palácio encantado, ele é condenado à morte pelo dono do castelo, um monstro. Para salvar a vida do pai, Bela vai jantar com o monstro diariamente. Lá, encontra uma vida cheia de luxo, magia e tristeza e aos poucos descobre o passado da Fera. O monstro se sente cada vez mais atraído pela jovem moça.
O conto já foi adaptado diversas vezes, inclusive pela França em 1946, mas o que o diretor e roteirista Christophe Gans nos apresenta aqui vai além de qualquer coisa que pudéssemos esperar. Pra quem conheceu a história pelo conto da Disney, o que irá ver nas telonas é algo que foge um pouco praticamente do conceito, mas que ao manter a essência até faz com que prevíssemos alguns trechos, claro que também pelo roteiro não ser algo de difícil assimilação, mas isso acaba não importando tanto, já que o primor técnico e visual aqui é extremamente forte. Além de termos alguns elementos que fogem da imaginação e nos fazem perguntar o motivo de acontecer (se alguém entender melhor o lance dos gigantes e quiser falar nos comentários está livre), e como toda grande produção francesa é notável que filmaram muito, mas muitas cenas a mais do que o que foi entregue na montagem final, pois é visto de uma maneira bem fácil que daria uma série de uns 3-4 episódios de 1 hora cada, toda a ideia conceitual do filme. Porém, um grande acerto da montagem foi o estilo de contar tudo através de um livro, pois como tudo acaba sendo meio que capitular já que está sendo contado para crianças, o andamento flui bastante, com um final interessante que até dá para pegar logo de cara, mas que quem se deixar levar, pode ter uma grata surpresa. Só um detalhe que ficou errado demais está na venda do filme, pois no Brasil ele veio como algo para crianças, afinal temos quase o triplo de salas dubladas que legendadas, mas em algumas sessões, as crianças estão pedindo para os pais para sair delas, já que o filme tem todo um tom bem sombrio, ou seja, vá você assistir legendado, e deixe para levar as crianças num desenho mais apropriado.
E já que falei sobre dublagem, graças ao bom Deus, tive a oportunidade, apesar do péssimo horário, de ver o filme legendado, e como já disse para alguns amigos, não é questão de facilidade para entender em inglês, ou gostar de ler legendas, o que temos nos filmes legendados é que os atores estudaram interpretação para fazer o que estão sendo pagos pra fazer, daí colocam uma pessoa que dá um novo tom pro diálogo e destrói tudo que o cara fez, então me desculpe Paola Oliveira, mas fiquei feliz em não ouvir você. Desabafo feito, vamos falar dos atores do filme. Léa Seydoux já vem despontando há algum tempo e aqui soube dominar suas cenas com carisma e expressões totalmente pontuadas numa interpretação precisa para cada cena, o que mostra não apenas um domínio do texto, mas saber como fazer o que é certo em cada ato, afinal aqui temos ela praticamente em mais de um papel, e em todos faz muito bem. Vincent Cassel é um ator completo, e não vai ser uma máscara ou maquiagem que vai atrapalhar sua interpretação, dando um ritmo interessante para sua Fera/Príncipe, pois em ambos momentos, o ator soube trabalhar com sua personalidade cada um, ficando bem nítido um trabalho não só dele, como da direção ao conduzir a câmera nos melhores ângulos que desse para expandir seus movimentos. Eduardo Noriega fez um vilão meio fraco, que teve seu momento para despontar com seu Perdugas, mas que começou bem no bar, mas nas cenas finais que poderia dar um show de interpretação foi apenas correto. Myriam Charles estreou bem fazendo uma vidente e parceira de Perdugas, mas não teve muito o que desenvolver, então precisará de mais filmes para chamar atenção. Yvonne Catterfeld ficou tão caracterizada como princesa, que em alguns momentos até pensamos ser a Léa que está ali do outro lado da história, claro que em alguns momentos há uma certa mistura, mas a atriz mandou muito bem para conseguir esse feito de misturas que a direção tanto quis mostrar. Da família da moça, as garotas foram inexpressivas e bobas demais, e os homens tentaram dar impacto nas suas falas e no máximo nas cenas finais que apareceram melhor para o filme, o que é uma pena, já que tiveram umas 3 cenas para mostrar a que vieram, então vale destacar apenas o pai da garota que foi interpretado por André Dussolier que mostrou estar bem assustado quando precisou fazer as suas cenas mais duras.
Nem precisaria ter falado tanto das atuações, afinal o filme só tem o valor total que tem pelo visual, e pasmem foi feito com 33 milhões de euros, o que em Hollywood certamente enfiariam brincando uns 250 milhões para fazer tudo maravilhoso como fizeram aqui, apenas para comparar, um longa que tem um conceito visual forte nesse estilo e gastou os 200 e tantos milhões é "Alice no País das Maravilhas". São tantos detalhes cênicos que fica difícil saber para onde olhar na tela, toda a prataria é bem encaixada, o castelo está muito bem trabalhado tanto por fora como por dentro com detalhes riquíssimos, a roseira ficou imponente, o figurino faz as mulheres saírem da sala babando nos vestidos, a própria fantasia/maquiagem da Fera é de se impressionar, o conceito dos cachorros ficou muito bom, e até mesmo os gigantes que ainda não entendi a função dramática deles tiveram todo um trabalho conceitual maravilhoso, ou seja, é um filme para estudar direção de arte por muito tempo, que os dois diretores de arte estreantes na função Virginie Hernvann e Wolfgang Metschan mostraram que aprenderam muito nas demais funções de baixo por onde passaram e aqui merecem ter todos os chapéus tirados para o que fizeram. A fotografia também teve um trabalho brilhante, pois ao manter o filme num tom escuro bem sombrio, a equipe de efeitos pode entrar com brilhos sem que o filme caísse em algo clichê, e isso é muito bom de ver no cinema, pois as cores sendo sobrepostas em sombras e contrastes entre fundo de cenário, filtros e figurinos, deu ao longa um teor agradabilíssimo.
Enfim, gostei demais do que vi, e me arrependo amargamente de não ter sido o primeiro filme da semana, pois julguei mal o livro pela capa quando vi que tentaram empurrar a versão dublada para todos. O longa trabalha nuances a todo momento e agrada demais quem gosta de um longa bem produzido. Como disse é algo mais para adultos do que para crianças, então pense bem ao levar a criançada para ver, pois nas cenas mais sombrias e assustadoras, eles podem querer ir embora da sala. Recomendo demais ele, e tirando as viajadas com os gigantes, e os momentos fáceis demais de adivinhar o que irá acontecer, o resultado é algo perfeito de ver no cinema, em casa, e tudo mais. Bem é isso pessoal, fecho minha semana com esse filme maravilhoso, e já fico com gás total para começar o Festival de Cinema de Ribeirão Preto que está vindo com tudo a partir da próxima quinta, então deixo meus abraços aqui com vocês e logo mais estou de volta com mais posts.
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O filme nos situa em 1810, onde um naufrágio leva à falência um comerciante, pai de seis filhos. A família se muda para o campo e a filha mais jovem, Bela, parece ser a única gostar da vida rural. Quando o pai de Bela pega uma rosa do jardim de um palácio encantado, ele é condenado à morte pelo dono do castelo, um monstro. Para salvar a vida do pai, Bela vai jantar com o monstro diariamente. Lá, encontra uma vida cheia de luxo, magia e tristeza e aos poucos descobre o passado da Fera. O monstro se sente cada vez mais atraído pela jovem moça.
O conto já foi adaptado diversas vezes, inclusive pela França em 1946, mas o que o diretor e roteirista Christophe Gans nos apresenta aqui vai além de qualquer coisa que pudéssemos esperar. Pra quem conheceu a história pelo conto da Disney, o que irá ver nas telonas é algo que foge um pouco praticamente do conceito, mas que ao manter a essência até faz com que prevíssemos alguns trechos, claro que também pelo roteiro não ser algo de difícil assimilação, mas isso acaba não importando tanto, já que o primor técnico e visual aqui é extremamente forte. Além de termos alguns elementos que fogem da imaginação e nos fazem perguntar o motivo de acontecer (se alguém entender melhor o lance dos gigantes e quiser falar nos comentários está livre), e como toda grande produção francesa é notável que filmaram muito, mas muitas cenas a mais do que o que foi entregue na montagem final, pois é visto de uma maneira bem fácil que daria uma série de uns 3-4 episódios de 1 hora cada, toda a ideia conceitual do filme. Porém, um grande acerto da montagem foi o estilo de contar tudo através de um livro, pois como tudo acaba sendo meio que capitular já que está sendo contado para crianças, o andamento flui bastante, com um final interessante que até dá para pegar logo de cara, mas que quem se deixar levar, pode ter uma grata surpresa. Só um detalhe que ficou errado demais está na venda do filme, pois no Brasil ele veio como algo para crianças, afinal temos quase o triplo de salas dubladas que legendadas, mas em algumas sessões, as crianças estão pedindo para os pais para sair delas, já que o filme tem todo um tom bem sombrio, ou seja, vá você assistir legendado, e deixe para levar as crianças num desenho mais apropriado.
E já que falei sobre dublagem, graças ao bom Deus, tive a oportunidade, apesar do péssimo horário, de ver o filme legendado, e como já disse para alguns amigos, não é questão de facilidade para entender em inglês, ou gostar de ler legendas, o que temos nos filmes legendados é que os atores estudaram interpretação para fazer o que estão sendo pagos pra fazer, daí colocam uma pessoa que dá um novo tom pro diálogo e destrói tudo que o cara fez, então me desculpe Paola Oliveira, mas fiquei feliz em não ouvir você. Desabafo feito, vamos falar dos atores do filme. Léa Seydoux já vem despontando há algum tempo e aqui soube dominar suas cenas com carisma e expressões totalmente pontuadas numa interpretação precisa para cada cena, o que mostra não apenas um domínio do texto, mas saber como fazer o que é certo em cada ato, afinal aqui temos ela praticamente em mais de um papel, e em todos faz muito bem. Vincent Cassel é um ator completo, e não vai ser uma máscara ou maquiagem que vai atrapalhar sua interpretação, dando um ritmo interessante para sua Fera/Príncipe, pois em ambos momentos, o ator soube trabalhar com sua personalidade cada um, ficando bem nítido um trabalho não só dele, como da direção ao conduzir a câmera nos melhores ângulos que desse para expandir seus movimentos. Eduardo Noriega fez um vilão meio fraco, que teve seu momento para despontar com seu Perdugas, mas que começou bem no bar, mas nas cenas finais que poderia dar um show de interpretação foi apenas correto. Myriam Charles estreou bem fazendo uma vidente e parceira de Perdugas, mas não teve muito o que desenvolver, então precisará de mais filmes para chamar atenção. Yvonne Catterfeld ficou tão caracterizada como princesa, que em alguns momentos até pensamos ser a Léa que está ali do outro lado da história, claro que em alguns momentos há uma certa mistura, mas a atriz mandou muito bem para conseguir esse feito de misturas que a direção tanto quis mostrar. Da família da moça, as garotas foram inexpressivas e bobas demais, e os homens tentaram dar impacto nas suas falas e no máximo nas cenas finais que apareceram melhor para o filme, o que é uma pena, já que tiveram umas 3 cenas para mostrar a que vieram, então vale destacar apenas o pai da garota que foi interpretado por André Dussolier que mostrou estar bem assustado quando precisou fazer as suas cenas mais duras.
Nem precisaria ter falado tanto das atuações, afinal o filme só tem o valor total que tem pelo visual, e pasmem foi feito com 33 milhões de euros, o que em Hollywood certamente enfiariam brincando uns 250 milhões para fazer tudo maravilhoso como fizeram aqui, apenas para comparar, um longa que tem um conceito visual forte nesse estilo e gastou os 200 e tantos milhões é "Alice no País das Maravilhas". São tantos detalhes cênicos que fica difícil saber para onde olhar na tela, toda a prataria é bem encaixada, o castelo está muito bem trabalhado tanto por fora como por dentro com detalhes riquíssimos, a roseira ficou imponente, o figurino faz as mulheres saírem da sala babando nos vestidos, a própria fantasia/maquiagem da Fera é de se impressionar, o conceito dos cachorros ficou muito bom, e até mesmo os gigantes que ainda não entendi a função dramática deles tiveram todo um trabalho conceitual maravilhoso, ou seja, é um filme para estudar direção de arte por muito tempo, que os dois diretores de arte estreantes na função Virginie Hernvann e Wolfgang Metschan mostraram que aprenderam muito nas demais funções de baixo por onde passaram e aqui merecem ter todos os chapéus tirados para o que fizeram. A fotografia também teve um trabalho brilhante, pois ao manter o filme num tom escuro bem sombrio, a equipe de efeitos pode entrar com brilhos sem que o filme caísse em algo clichê, e isso é muito bom de ver no cinema, pois as cores sendo sobrepostas em sombras e contrastes entre fundo de cenário, filtros e figurinos, deu ao longa um teor agradabilíssimo.
Enfim, gostei demais do que vi, e me arrependo amargamente de não ter sido o primeiro filme da semana, pois julguei mal o livro pela capa quando vi que tentaram empurrar a versão dublada para todos. O longa trabalha nuances a todo momento e agrada demais quem gosta de um longa bem produzido. Como disse é algo mais para adultos do que para crianças, então pense bem ao levar a criançada para ver, pois nas cenas mais sombrias e assustadoras, eles podem querer ir embora da sala. Recomendo demais ele, e tirando as viajadas com os gigantes, e os momentos fáceis demais de adivinhar o que irá acontecer, o resultado é algo perfeito de ver no cinema, em casa, e tudo mais. Bem é isso pessoal, fecho minha semana com esse filme maravilhoso, e já fico com gás total para começar o Festival de Cinema de Ribeirão Preto que está vindo com tudo a partir da próxima quinta, então deixo meus abraços aqui com vocês e logo mais estou de volta com mais posts.