Os Jovens Amantes (Les Jeunes Amants) (The Young Lovers)

6/30/2022 12:21:00 AM |

Diria que o longa "Os Jovens Amantes" flui de uma forma tão diferente que chega a ser surpreendente, pois geralmente vemos homens traindo suas esposas com mulheres bem mais novas, por algum atributo diferente e tudo mais, mas quando ocorre de ir para alguém bem mais velho costuma soar estranho, ainda mais com toda a síntese de um médico oncologista com família, que tem uma esposa bonita, filhos e tudo mais, ou seja, acaba sendo uma ideia meio que não tão pensante, mas de certa forma a trama traz um envolvimento interessante, ainda mais que a química entre os protagonistas começou 15 anos antes quando apenas se trombaram num hospital, com algumas palavras e gracejos, e ao se reverem o fio condutor explode e vai para os viés do crime. Ou seja, é o famoso longa romântico com a problematização de idade, e claro de doença, afinal o Parkinson eclode e faz com que a senhora já não queira mais, conflitando tudo o que rola entre eles. Não diria que é algo memorável, mas é gostoso e trabalha bem a ideia, ao ponto que muitas mulheres mais velhas poderão se conectar mais com a trama, por imaginar quem sabe que algum de seus médicos mais novos a olhe de uma forma não profissional, mas também achar um médico tão gentil e gracioso como o do filme é algo meio difícil, então procurem, nunca se sabe o amanhã!

A sinopse nos conta que dois amantes se reencontram no corredor de um hospital, 15 anos após o primeiro contato. Shauna tem 71 anos, enquanto Pierre tem 45. Opostos, mas hipnotizados um pelo outro, eles se reconectam, enquanto Shauna, que já é mãe, avó e viúva, quer reafirmar que ainda é uma mulher e que a diferença de idade entre eles não importa.

Não consigo imaginar tudo o que veio na cabeça da diretora Carine Tardieu quando recebeu o roteiro de Sólveig Anspaach e Agnés de Sacy, pois é uma trama clássica romântica, que tem a pegada tradicional, mas que não parece ser algo real, sendo uma química meio sintética e forçada de barra, mas que sabemos bem que para o amor não existem limites, então temos de aceitar e acompanhar todo o ensejo dos protagonistas, todos os sentimentos, e claro os conflitos, afinal um longa com um médico se não colocassem uma doença no meio seria algo quase absurdo, mas foram singelos e não abusaram tanto do fim da doença realmente, mas sim um miolo. Ou seja, vemos um casal que após 15 anos de trocarem algumas figurinhas se reencontraram e se apaixonaram de vez, e é isso que temos de olhar, e a performance de tudo foi bem encaixada ao ponto de se tornar crível, então trabalho bem feito, só poderiam ter eliminado todo o restante dos congressos, de mostrar a pesquisa, da conversa sobre a doença da outra moça, que tudo foi apenas um enfeite cênico que daria para remover pelo menos uns 15 minutos, e sendo assim essa fica como sendo a maior reclamação, pois de resto é algo interessante de ver.

Sobre as atuações, Fanny Ardant se entregou com muita desenvoltura para sua Shauna, fazendo trejeitos bem emotivos, envolvimentos de corpo e olhares bem comoventes, ao ponto de mostrar bem tanto o ar romântico, como o sofrimento para com a doença, como uma desestruturação bem marcada que funciona e agrada demais de ver, ou seja, fez muito bem o papel. Melvil Poupaud trabalhou o seu Pierre com ares bem marcantes, sendo um homem com um certo galanteio, bom pai, e que recai fácil demais a uma paixão do passado, ao ponto que vemos nos seus olhares toda a paixão que está sentindo e funciona demais, ao ponto de chegarmos a até ficarmos com pena dele na chuva, ou seja, foi um grande acerto com tudo. Sharif Andoura fez alguns gracejos a mais com seu Georges, mostrando que não consegue arrumar ninguém, ainda mais andando com alguém bem mais bonito que ele, e seus ares são bem entregues, temos toda uma boa dinâmica entre ele e os protagonistas, e agradou no que precisava fazer. A história é bem maluca, pois trocar uma Cécile de France pela protagonista tem de faltar com alguns parafusos, embora a atriz não tenha aparecido muito com sua Jeanne, ficado com um cabelo estranho, mas a atriz é de outro patamar de beleza, e mesmo aparecendo pouco teve alguns bons atos marcantes. Quanto aos demais, tivemos poucos ensejos, deixando mesmo o foco no casal protagonista, mas vale destacara Florence Loiret Caille com sua Cécilia, filha da protagonista, que também está solteira e se vê num dilema com a mãe namorando e ela não, e foi bacana seus olhares no momento que descobre tanto o envolvimento da mãe, quanto mais quando descobre quem é, e assim conseguiu chamar atenção.

Visualmente a trama tem uma boa pegada, com uma casa bem praiana no meio da Irlanda, aonde praticamente só chove e venta, mostrando toda a decoração da protagonista arquiteta com vários detalhes entalhados e bem colocados, temos seu apartamento bem bagunçado em Paris, com muitas fotos e um arranjo de móveis meio que desorganizado, vemos também o apartamento do protagonista em Lyon todo certinho e bem arrumado pela esposa, vemos alguns atos no hospital, muitos atos em trens de uma cidade para a outra, várias palavras cruzadas que a protagonista gosta de fazer, ou seja, todo um bom trabalho cênico, mas que gastaram mais em cenas sem muito uso como a academia que a protagonista vai, um jantar num restaurante exótico, um evento de pesquisa, uma palestra, ou seja, coisas que não precisariam e daria para ser facilmente cortado.

Enfim, é um filme que passa a mensagem, mas que exagera tanto em algo meio improvável de acontecer, mas que como todo filme romântico temos que relevar, o único aquém mesmo é que poderia ser mais enxuto com o tanto de cenas desnecessárias fora do romance, que funcionaria da mesma forma e não precisaria ter tantos gastos, mas isso é uma opinião de produtor econômico, então fica valendo a dica. E é isso meus amigos, temos um longa leve, que até deve agradar o público alvo de mulheres mais velhas para fantasiarem um homem carinhoso assim, então vale para os sonhos. Eu fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.


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Netflix - Beauty

6/29/2022 06:47:00 PM |

Sinceramente não sei o que me levou a dar play em "Beauty" da Netflix, pois parecia ser um estilo de longa musical visceral, cheio de nuances como os tradicionais ensejos do gênero, que ouviria talvez boas canções, e claro alguns conflitos também, mas o resultado mostrado na tela é apenas a formação de uma artista, as dificuldades que vai enxergar, a família querendo ficar com parte de sua grana, a vida com a namorada que não pode aparecer, o talvez gostar de homens, e por aí vai, mas tudo meio que jogado na tela, sem ir muito além, sem criar reviravoltas e anseios, ligando cada parte com cantoras famosas entoando seus singles na TV ou na vitrola, sem posicionar bem uma época, e tudo mais. Ou seja, é um filme que quer ter expressão maior do que poderia e acaba não entregando nada.

O longa é a história de uma talentosa mulher negra (Gracie Marie Bradley) tentando manter a sua identidade ao lidar com as pressões do mundo da música. Após aceitar trabalhar em uma prestigiada gravadora, e com a possibilidade de construir uma carreira promissora, ela precisará descobrir em quem pode confiar para tornar uma superestrela. Enquanto ainda lida com o controle de sua família superprotetora, a jovem artista também deve administrar seu relacionamento com a namorada.

Não vou opinar dizendo que esse seja o estilo do diretor Andrew Dosunmu, pois nunca assisti nenhum de seus filmes anteriores, mas o que posso dizer é que ele não tentou explodir muita coisa em cena, fazendo apenas nuances e sínteses de como é a vida de uma jovem cantora que anseia a fama, mostrando tudo que precisa mudar no gestual, na vida particular, nas atitudes, e tudo mais, e ele monta tudo isso até que com uma certa propriedade, mostrando a família querendo sua parte, a mãe achando que ela não está pronta, a namorada dando conselhos e tudo mais, mas não vai além disso, não cria um ambiente, não cria problematizações, e até mesmo o elenco parece cansado do que está fazendo em cena, podendo até ser um erro do roteiro de Lena Waithe, que foi pautado dessa forma, mas é mais provável uma falha do estilo de direção do que tudo, e assim sendo não vai além em momento algum, mais cansando do que agradando.

Como falei acima, ficou parecendo que os atores também não estavam com muita vontade de atuar, e dessa forma a protagonista Gracie Marie Bradley ficou bem morna com sua Beauty, fazendo algumas caras e bocas sem grandes desenvolturas, mas se entregando bem na personagem que aparenta bem essa insegurança, e assim sendo fez o papel pelo menos. A namorada Jasmine vivida por Aleyse Shannon até tentou aparecer um pouco mais, mostrando estilo e criando algumas desenvolturas com olhares apaixonados e defesas da garota, mas também não explode o que é muito estranho de ver na tela. Os pais vividos por Niecy Nash e Giancarlo Esposito fazem o filme quase ser deles, pelas imposições, pelos diálogos fortes e pelas desenvolturas entregues, mostrando bem ela como uma grandiosa voz que apenas foi usada como backing vocal, e ele desejando a grana que a filha ganharia, mas sem muito o que mostrar também, o que acaba pesando. Quanto aos demais, os irmãos aparentaram estar sempre brigando, aliás com nomes sugestivos de Caim e Abel, mas sem destaques no que fazem, valendo então destacar apenas Sharon Stone num papel secundário de agente que quer praticamente embranquecer a garota com um estilo mais amplo para todos, ou seja, o famoso papel de diabo das famílias cantoras, mas também sem algo que chamasse muita atenção.

Visualmente o longa fecha quase que o tempo inteiro na casa dos protagonistas, mostrando não ser uma família tão pobre, mas também sem ter grandiosos luxos, aonde a garota passa o tempo vendo suas cantoras performando na TV ou ouvindo elas no pequeno rádio, mostra o escritório da agente, o apartamento aonde a garota vai morar com a namorada, e claro fecha com a entrada de uma apresentação num programa de TV para cantar "Somewhere Over The Rainbow", num ritmo diferente do usual da cantora, e claro temos a todo momento exibições de cantoras negras famosas, mas também tudo muito jogado, ou seja, a equipe de arte não foi muito além também.

Enfim, confesso que me arrependi de ter dado o play no longa, pois esperava algo completamente diferente e a decepção já no miolo era bem grande com vontade até de parar de assistir, mas como não faço isso, esperei pela melhora no final, o que não ocorreu, então com toda certeza não recomendo ele para ninguém. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas volto mais tarde com mais um texto do Varilux, que ao menos não vai me desapontar, então abraços e até logo mais.


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Sentinela do Sul (Sentinelle Sud) (South Sentinel)

6/29/2022 02:54:00 AM |

Diria que 90% ou mais dos filmes que trabalham ideias de soldados que voltam de guerra usam os problemas mentais e surtos que acabam se explodem quando retornam para suas cidades, e mostram inaptidão para qualquer outro serviço sem ser trabalhar de segurança, entrar para o crime com milícias ou tráfico, ou então ficarem internados em hospitais comuns, psiquiátricos e afins, ou seja, boa coisa não é ir para uma guerra, pois ou morre por lá ou então volta com vários problemas. E o longa "Sentinela do Sul" usa mais ou menos essa mesma base com um jovem que volta inteiro do seu pelotão, mas não se encaixa mais nos trabalhos e na sociedade civil, não conseguindo se relacionar, arrumar algum trabalho melhor, e ainda por cima vê seus amigos voltarem mancos e devendo para o tráfico por não cumprir o acordo de trazer drogas da guerra, e o outro internado num hospital completamente surtado após o ataque fatídico que sofreram. Ou seja, a base da história é ver esse jovem tentando ajudar os amigos, tentando arrumar um jeito de se encaixar já que as pessoas que vivia também já se foram (no caso um tipo de avô), e entender um pouco de tudo o que aconteceu no seu pelotão, mas faltou trabalhar um pouco mais de tudo, não sendo entregue nem uma coisa nem outra, e isso acabou resultando em um filme sem grandes anseios realmente.

A sinopse nos conta que após uma operação clandestina que dizimou sua unidade, o soldado Christian Lafayette está de volta à França. Enquanto tenta retomar uma vida normal, logo se envolve no tráfico de ópio para salvar seus dois irmãos de armas sobreviventes.

Como é de praxe, e já falei várias vezes, dramas e comédias não são as melhores opções para estrear numa direção, pois são dois gêneros que exigem demais de um roteiro bem trabalhado e de conhecimento em cima de um tema para convencer o público a entrar completamente no clima do filme, e aqui Mathieu Gérault estreou nas duas funções, tanto a de diretor quanto a de roteirista de longas, após grande sucesso com seus curtas, e infelizmente ele apenas alongou uma história que daria para ser resolvida com menos de 50 minutos, que resultaria em um média metragem sensacional, pois a trama não se desenrola nem com o protagonista indo para o lado do tráfico realmente, não se desenvolve na ajuda dele para com os amigos, e principalmente não vai para lado algum com suas ânsias de viver uma nova vida, sendo que tudo isso ocorre exatamente nos 30 minutos finais de uma vez só, ou seja, o diretor quis muito com uma história que acabou ficando nem densa o suficiente para pegar o público, nem simples demais para deleitarmos sobre ela, e assim sendo o filme demora para acontecer, e finaliza na base que poderia ter sido melhor representada logo no começo.

Sobre as atuações, posso falar que Niels Schneider trabalhou seu Christian com um triste demais para ser alguém explosivo, e estourado demais para ser alguém desolado, ao ponto que seus olhares não nos convencem como deveria, tendo alguns bons atos com os amigos aonde faz caras e bocas meio forçadas, um ar romantizado com a médica do amigo, e um ar de paz nas cenas finais, de tal maneira que pareceu faltar uma direção mais próxima dele, o que volto a dizer no problema da primeira direção, então faltou concentrar mais o foco para que seu personagem parecesse sim perturbado pela guerra, mas com ares mais próximos do final para convencer por completo. Já Sofian Khammes ficou mais definido com seu Mounir, pois voltou sem praticamente a parte debaixo do seu corpo, desesperado pelas dívidas, sem propósito para a vida, se drogando, e seus olhares são todos de quem está pronto para cometer uma loucura a qualquer momento, e fez muito bem tudo, mas como não era o protagonista, acabou ficando em segundo plano. Da mesma forma Thomas Daloz entregou a loucura completa para seu Henri, tendo leves devaneios centrados, e assim soube ser bem representativo em cena, chamando atenção e agradando nos poucos atos seus, e a química dele com o protagonista foi incrível que valeria até algo a mais para outras cenas. India Hair fez algumas boas cenas com sua Lucie, trabalhando o ar romântico bem colocado, dosando os ares de boa médica e fazendo expressões claras de suas atitudes, o que é meio compassado nas cenas de miolo, e assim o resultado dela poderia até ter ido mais além. Já os demais praticamente tiveram apenas cenas de encaixe, sem grandes nuances ou desenvolvimentos, valendo destacar apenas Denis Lavant com seu Comandante De Royer, ou "Pai" como o protagonista lhe chama, que acabou entregando semblantes bem duros e diretos, justamente como um pai dando bronca no filho, e como todo bom comandante sem expressões de afeto, mas sim uma dureza marcante que acaba sendo funcional.

Visualmente a trama entrega dinâmicas interessantes em um mercado aonde o jovem trabalha, no apartamento dele sem mobília nenhuma mostrando sua disfunção no colchão jogado no chão, vemos um encontro ali que acaba tendo de ir para o lado de fora numa fogueira já que nem talheres e copos ele tem, vemos um outro prédio completamente abandonado aonde o amigo se esconde dos traficantes, uma festa de batizado riquíssima do traficante, mas sem grandes movimentações, a joalheria bem simples aonde eles fazem um assalto (aliás quase não convincente de ser uma joalheria mesmo com meia dúzia de vitrines), e claro o hospital psiquiátrico aonde o outro amigo e a médica estão, deixando ainda para o final uma fazenda do "avô" do protagonista e uma escola de soldados, tudo bem simbólico, sem grandes nuances, ao ponto de vermos que nem mostrar o trabalho da direção de arte o diretor acabou fazendo, ou seja, falhas demais.

Enfim, não é um filme que seja ruim, ficando bem mediano para falar a verdade pelo tema em si ser bom, mas faltou desenvolver tudo um pouco mais, ao invés de alongar cada momento e deixar tudo aberto, tudo sem expressão, tudo sem explosões realmente como deveria ser uma trama desse tipo, e assim sendo é daqueles filmes que facilmente esqueceremos que vimos, o que é uma pena, pois tinha uma história talvez com potencial de ir além. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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Contratempos (A Plein Temps) (Full Time)

6/28/2022 08:01:00 PM |

Só uma palavra define bem o longa "Contratempos": desesperador!!! Pois sabemos bem o quanto que mães com filhos tem de madrugar para deixar os filhos com alguém, correr para pegar trens, ônibus, caronas e o que mais for para chegar sem atrasos nas empresas, e ainda sobreviver com pouco ou nada, dependendo de pensões e tudo mais, e para piorar, com uma greve nos transportes tudo surta e deixa ainda mais complicado. Ou seja, ficamos quase sem respirar acompanhando a semana da protagonista, ainda tentando conseguir um novo emprego melhor!! Diria que é um filme perfeito pela representação em si, que encaixa muito bem no momento atual que vemos a economia em caos, pessoas se virando como podem, e que mais do que nunca dependem da sorte para dar certo, mas que sabemos bem que na vida real muitas vezes não acaba tudo bem como no filme, aonde a emoção bate e tudo funciona, sendo assim, o jeito é sobreviver e o filme é um bom exemplar disso.

A sinopse nos conta que Julie luta sozinha para criar seus dois filhos e no subúrbio e manter seu emprego em Paris. Quando ela finalmente consegue uma entrevista para um cargo correspondente às suas aspirações, uma greve geral eclode, paralisando o transporte. Ela então embarcará em uma corrida frenética para salvar seu emprego e sua família.

É bem fácil entender como o diretor e roteirista Eric Gravel levou o prêmio de melhor diretor no Festival de Veneza, pois sua trama é frenética, quase sem respiros, com a protagonista, que também levou melhor atriz no mesmo festival, indo no seu maior limite do desespero, correndo de um lado para o outro, dando jeitinhos no emprego para tentar melhorar de vida, correndo para conseguir transporte para casa, dando o sangue e deixando o cansaço quase que impossível de suportar, com uma trilha ainda mais trabalhada que ajuda a incrementar o desespero, sendo literalmente um filme que ficamos sem ar, e essa sem dúvida era a proposta dele, e foi executada com primor máximo. Ou seja, é daqueles filmes que nem conseguimos pensar em como ajudar a personagem, e isso é brilhante, pois mostra muita funcionalidade e agrada sem errar em nada. Aliás, acertaram bem a época de filmagens para conseguir todo esse caos, e foram precisos demais em tudo.

Sobre as atuações, Laure Calamy foi mais do que perfeita com sua Julie, passando bem a imagem de uma mãe preocupada com os filhos, mostra suas ânsias e com uma respiração quase que explosiva acerta em cheio todas as nuances que a personagem necessitava para agradar, sendo um tremendo acerto e merecidamente levou muitos bons prêmios, pois se doou e acertou demais. Quanto aos demais, diria que nem tenho muito o que falar, afinal o longa é 100% da protagonista, mas tivemos alguns bons olhares de Anne Suarez com sua Sylvie, chefe do hotel que a protagonista trabalha, também tivemos grandes e cansados olhares de Geneviève Mnich com sua Madame Lusigny, a babá das crianças durante os períodos da protagonista fora de casa, vemos as crianças bem agitadas vividas por Nolan Arizmendi e Sasha Lemaitre Cremaschi, mas nenhum praticamente indo muito além, e também vale destacar as várias caronas, aliás que povo bacana e preciso de ajudar no caos da cidade.

Visualmente a trama é basicamente o caos da cidade parada, os vários trens e ônibus abarrotados, o hotel luxuoso que a protagonista trabalha na arrumação de quartos com primor e muita técnica, mostrando a bagunça que alguns cantores deixam nos quartos, a casa dela bem organizada, mas sem muitos recursos, e claro a festa de aniversário do filhinho, ou seja, o caos completo em uma semana turbulenta com tudo parado, tendo de descobrir na hora se vai ou não ter trens e tudo mais, sendo um bom trabalho da equipe.

Enfim, é como disse no começo, desesperador e incrível, sendo tão preciso de detalhes e de ritmo que não conseguimos imaginar como tudo pode terminar de um bom modo, e o resultado acaba sendo tão preciso, tão bem feito que até esquecemos do tempo passado na sala, ao ponto que quando já vemos, terminou, e praticamente sem falhas faz valer demais a indicação. Ou seja, deem um jeito de ver ele, pois vale demais, e é isso meus amigos, eu fico por aqui agora, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.

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Amazon Prime Video - Todos Já Sabem (Todos Lo Saben) (Everybody Knows)

6/28/2022 05:55:00 PM |

Olha, fico inconformado quando alguns filmes de grande porte emocional acabam não chegando em todos os cinemas, pois ontem fui escrever da nova produção do diretor Asghar Farhadi, e ao ir pesquisando vi que não tinha conferido seu longa anterior "Todos Já Sabem", que estava previsto para ser lançado nos cinemas em Fevereiro de 2019, mas que nem chegou a passar trailers nem nada e é daqueles filmaços, cheios de intrigas e dúvidas que ficamos imaginando tudo o que os personagens vão dizendo, de quem pode ter sequestrado a garota, quais os anseios, todo o conflito da venda das terras para o protagonista, depois a questão da jovem ser filha dele, e tudo mais. Ou seja, o tradicional estilo de filme do diretor iraniano, mas com uma pegada mais comercial e interessante, junto de um elenco espanhol/argentino de primeiríssima linha, que quem gosta de um filme denso de conflitos familiares vai curtir bastante.

A sinopse nos conta que quando sua irmã se casa, Laura retorna à Espanha para acompanhar a cerimônia. Por motivos de trabalho, o marido argentino não pode ir com ela. Chegando no local, Laura reencontra o ex-namorado, Paco, que não via há muitos anos. Durante a festa de casamento, uma tragédia acontece. Toda a família precisa se unir diante de um possível crime de grandes proporções, enquanto se questionam se o culpado não está entre eles. Na busca por uma solução, segredos e mentiras são revelados sobre o passado de cada um.

Sabemos muito que o estilo do diretor é de criar dúvidas tanto no público quanto nos personagens de seus longas, mas aqui Asghar Farhadi brinca com tantas possibilidades, entregando um roteiro de certa forma comercial, com uma pegada de mistério bem alocado, cheio de perspectivas e interações, com uma família de passado conturbado, várias histórias mal resolvidas, aonde tudo pode ter acontecido, mas que em momento algum até alguém citar a possibilidade de ser uma pessoa da própria família tinha sequer suspeitado de alguns, pois a ideia se dá em cima do pai estar endividado, de alguém que sabe que o pai era rico, e tudo mais, mas não o trabalho forte criado ali. E o diretor brinca bem com essa jogada, e o melhor, fecha largando o clima pesado para cima da família, o que também recai muito no seu estilo. Ou seja, é o famoso brincar de acusar, aonde tudo flui e tudo chama atenção, que até demora um pouco demais para acontecer, mas que quando acontece é tensão para todos os lados, impactando bastante e fazendo questionarmos tudo e todos.

Sobre as atuações, o elenco em si dispensa qualquer apresentação, sendo os melhores espanhóis/argentinos que temos nas produções cinematográficas, e Penélope Cruz se entrega completamente ao desespero com sua Laura, fazendo trejeitos fortes, dinâmicas incríveis junto de todos e conseguindo manter sempre a plenitude de olhares que é sua marca registrada, sendo intensa, mas sem explodir, e isso agrada muito no papel. Javier Bardem trabalha muito bem seu Paco, criando intensidades de dúvidas, marcando a presença com muita desenvoltura, e principalmente abrindo o conflito com personalidade, sendo direto e claro ao ponto de chamar muita atenção, interagindo bem demais com todos, e criando o ambiente de dúvida em cima dele. Ricardo Darín se entrega para seu Alejandro, mas não indo tão a fundo, afinal passa a ser o acusado pela família, e também tem o segredo com a esposa, ao ponto que ele faz seu tradicional carisma, mas não flui tanto quanto poderia, mesmo sendo muito bom no que faz de trejeitos. Quanto aos demais cada um se doa aos poucos, temos várias fluências bem encaixadas, mas nada que chamasse tanta atenção, valendo destacar Eduard Fernández com seu Fernando pelas coordenadas dadas, Bárbara Lennie com sua Bea pelo envolvimento com o protagonista e claro a jovem garota sequestrada Carla Campra com sua Irene pelas boas expressões ao final, ou seja, tudo é bem encaixado e chama muita atenção, valendo por completo.

Quanto do visual do longa, tivemos uma vila bem trabalhada, todos os vinhedos incríveis, o casamento bem festivo e a casa aonde os protagonista ficaram, mas basicamente toda a essência se dá pelos diálogos, não sendo algo que observamos tanto os detalhes cênicos, ou seja, o ambiente é muito funcional e agrada bem na medida para ser representativo, mas que acaba não mostrando tantos detalhes das locações, valendo mais pelos recortes de jornal para mostrar o outro caso de desaparecimento, e claro as escritas no sótão da igreja para representar o caso antigo dos protagonistas.

Enfim, é mais um tremendo filmaço do diretor, que agrada bastante e envolve o público, fazendo com que pensássemos sobre tudo, e quem poderia ter sequestrado a garota, e os devidos motivos, então vale a indicação e que como todo longa dele, abra mais o pensamento. E é isso pessoal, foi uma pena não ter vindo o longa na época nos cinemas, pois valeria a conferida, e acredito que até teria um bom público pelo elenco, mas fazer o que, a distribuidora não acreditou, então agora fica a dica para ver no streaming. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas volto mais tarde com os textos do Festival de hoje, então abraços e até logo mais.


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Um Herói (Ghahreman) (Un Héros) (A Hero)

6/28/2022 01:29:00 AM |

É sempre interessante ver os longas do diretor Asghar Farhadi, pois ele brinca com o público ao mostrar situações que podemos acreditar ser cotidianas nos países que ele trabalha, pois vemos todo o lado da honra, de dívidas não pagas sendo executadas com prisões e pedidos de desculpas, situações matrimoniais que costumeiramente não veríamos por aqui, e ele sempre nos entrega muita tensão nos atos de seus protagonistas, ao ponto que é quase impossível não entrarmos no clima que ele propõe. E aqui no longa "Um Herói" vemos bem a discussão de premiações, honras e tudo mais devido a pessoa ter sido honesta em devolver uma bolsa, vemos toda a discussão de verdade e mentira, de acusações, de necessitar provar algo para ter seu nome limpo e bem colocado, ainda é permeado o uso de imagens, de dar sentido e valor nas pequenas coisas, e tudo mais em um filme tão amplo e cheio de indagações, que a cada coisa nova que é colocada eu só me via colocando a mão na cabeça pensando como tudo poderia piorar ainda mais para o lado do protagonista, mas diria que a melhor fala sem dúvida vem da sobrinha do protagonista bem próximo da cena final, que faz o protagonista refletir bem rápido: "como é na prisão?", e ali o filme entrega tudo o que precisávamos entender da vida do protagonista fora e dentro das grades, e a pergunta que fica é se valeu ser honesto realmente em alguns atos e mentir em outros, que aí sim o conflito todo se completa.

A sinopse nos conta que Rahim está na prisão devido a uma dívida que não conseguiu pagar. Durante uma licença de dois dias, ele tenta convencer o seu credor a retirar a sua queixa contra o pagamento de parte da quantia. Mas as coisas não correm de acordo com o plano…

Diria que o diretor e roteirista Asghar Farhadi soube prender demais a atenção em sua nova obra, ao ponto que mesmo tendo mais de duas horas de projeção não sentimos o peso desse tempo nem olhamos no relógio para saber se a trama já está acabando, pelo contrário, ficamos pensando em tantas situações para "ajudar" o protagonista que também não se ajuda muito com as coisas que faz, e o longa acaba fluindo maravilhosamente, claro que esse é o filme digamos mais "light" do diretor, pois o tema não chegou a ficar num nível impossível de se suportar como foi o caso dos dois anteriores que ganharam praticamente todas as premiações, mas ainda assim vemos toda a pontuação dele em certos e errados, vemos a enfatização de justiça, e principalmente vemos muita cultura em suas tramas, ao ponto que dificilmente algum de seus filmes conseguiriam ser feitos em outros países, principalmente trabalhando as mesmas ideologias, e assim sendo podemos dizer que é um diretor/roteirista de ideias bem únicas. Ou seja, muitos podem nem se impactar com o filme (o que duvido), pois podem não pensar em como é dever para alguém, ter dinheiro de agiota no meio da jogada, e ainda seu fiador lhe denunciar e ser preso, mas sem dúvida todos irão se desesperar com as loucuras que acabam virando principalmente nos atos na prefeitura, pois ali o nível de mentiras chegam a surtar qualquer um, mostrando que vida pública é burocrática em qualquer lugar.

Sobre as atuações, Amir Jadidi entregou muito envolvimento com seu Rahim Soltani, trabalhando com semblantes bem marcados pelos acontecimentos com nuances indo desde muita felicidade ao ser considerado um herói, até a decepção total quando tudo começa a ruim, de tal forma que ele nos passa muito esse seu humor, não deixando nada em segundo plano e isso é o que faz o público criar um carisma por ele, ou seja, foi perfeito para o papel. Mohsen Tanabandeh trabalhou seu Bahram com um ar de muitas dúvidas, sem acreditar de forma alguma na boa vontade do protagonista em lhe pagar, parecendo ter até um rancor maior por ele, e isso fica muito evidente do começo ao fim, tanto por ele, quanto pela filha Nazanin vivida por Sarina Farhadi (que até parece ser quem denunciou a falcatrua), ou seja, seria bem difícil para o protagonista conseguir qualquer compaixão ali naquele cubículo de loja, e os atores foram muito bons no que fizeram. Sahar Goldust demonstrou muita paixão pelo protagonista com sua Farkhondeh e isso fica muito nítido no semblante entregue, nas desenvolturas da personagem, e a atriz fez bons trejeitos em toda sua trajetória, nem parecendo tanto no segundo ato ser a mesma pessoa, que pegamos apenas no piscar de olhos, e assim sendo o resultado dela também surpreende. Tivemos muitos outros bons personagens, todos feitos com nuances bem críveis de pessoas existirem realmente daquela forma, e assim sendo nem vou destacar nenhum específico, mas diria que o elenco ajudou demais o diretor a ir além na proposta, e isso é ótimo de ver na tela.

Visualmente a cidade é muito fora do comum para o que estamos acostumados, com pessoas trabalhando em montanhas, com escadarias gigantes, depois vemos na cidade mesmo com veículos em direções malucas, uma casa bem tradicional aonde conseguimos sentir bem toda a cultura deles de dança, de feitio de comida, de distribuição, com algo bem marcante, tivemos o grande evento no centro social para a premiação e arrecadação de dinheiro para detentos de uma forma bem interessante de ver, e até mesmo as cenas na prisão foram bem diferenciadas, sem parecer algo tão pesado como ocorre em muitos filmes, ou seja, não posso afirmar sobre tudo se é daquela forma realmente por não ser um grande conhecedor da cultura deles, mas foi bem interessante toda a proposta entregue pela equipe de arte.

Enfim, como o próprio diretor disse, esse é seu primeiro filme sem nada oculto, aonde tudo é bem mostrado na tela, e que acabamos gostando dele pela simplicidade e atitudes dos personagens, pela trama bem marcada e tudo mais, então quem estiver mais acostumado com os filmes "pensantes" do diretor irá estranhar um pouco, mas é bem forte e interessante do começo ao fim, então recomendo ele com certeza para todos. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.


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O Mundo de Ontem (Le Monde d'Hier) (The World of Yesterday)

6/27/2022 08:01:00 PM |

Quando falamos de política no cinema costumo dizer que ou transformam em algo muito interessante ou cai para algo do estilo biográfico, senão é necessário tantas explicações e desenvolvimentos que apenas um filme acaba sendo monótono e chato demais de acompanhar, e foi exatamente o que acabou acontecendo com "O Mundo de Ontem", pois não vemos uma trama fechada sobre o tema, ou alguma interação forte do tema, mas sim muitas articulações na véspera de uma eleição, aonde o candidato da presidente atual não irá ganhar, e tudo o que vão fazendo para tentar mudar, mas com tantos conflitos abertos e nada resolvido, o resultado acaba sendo um amontoado de ideias que talvez uma série de mais capítulos acabaria chamando muito mais atenção e envolvendo mais do que cansando como aconteceu com o filme. Ou seja, é daqueles que ou você ama articulações políticas e se envolve bem, ou vai cansar esperando algo a mais, ou num ato mais clássico em casa irá dormir vendo.

A sinopse nos conta que Elisabeth de Raincy, Presidente da República, optou por se aposentar da vida política. Três dias antes do primeiro turno das eleições presidenciais, ela fica sabendo por seu secretário-geral, Franck L’Herbier, que um escândalo do exterior atrapalhará seu sucessor designado e dará a vitória ao candidato de extrema-direita. Eles têm três dias para mudar o curso da história.

Diria que o diretor e roteirista Diastème foi bem preciso em montar todo o pano político da trama, soube articular bem todos os processos e pessoas envolvidas, e até tentou um algo a mais numa estrutura de escândalos e conflitos ocultos, porém ele não abriu espaço para algo a mais, nem fechou todas as portas que abriu, criando uma trama boa, interessante, e que sabemos muito que rolam todas essas discussões e conflitos nos bastidores de uma presidência, porém essa falta de não vir preparando um algo a mais, ou uma explosão mais explicativa acabou ruindo com seus planos, não fazendo com que seu filme empolgasse realmente, tanto que próximo ao final olhei no relógio pensando quanto tempo ainda teria para ele fechar ao menos algo do filme, mas não, preferiu jogar um trecho de um livro e acabar, o que é extremamente desapontador.

Sobre as atuações, posso dizer que Léa Drucker esteve incrível com sua Elisabeth de Raincy, mostrando uma estrutura presidencial bem marcante, direta, de olhares bem fechados e cultos, com nuances marcantes e bem trabalhadas ao ponto de nós envolvermos com ela, mas como disse faltou um pouco de tudo, e isso não faz com que sua personagem acabe perfeita dando o show que poderia. Denis Podalydès sempre trabalha muito bem a personalidade de seus personagens, criando nuances e envolvimentos intensos e bem representativos, o que não foi diferente aqui com seu Frank L'Herbier, de forma que ficamos esperando algo a mais dele, e não acontece, deixando claro apenas que foi largado e seu final representa bem isso, ou seja, poderia ter ido muito mais além. Alban Lenoir foi muito bem com seu Patrick, mostrando alguém muito maior do que apenas um segurança, trabalhando de modo bem rígido e marcante que agrada bastante de ver. Hérouai Benjamin Biolay foi bem sério com seu Didier Jansen, não aparecendo muito, mas sendo preciso de diálogos, que até agrada, mas não vai além. Jacques Weber também apareceu pouco com seu Luc Gaucher, mostrando que seria um candidato facilmente batido e fraco, mas sem nada a mais para expressar. Thierry Godard foi forte nas duas cenas de seu Willem, mas é o velho opositor que chama um pouco a atenção e não vai além, sendo expressivo ao menos. E ainda tivemos muitos outros da mesma forma, que apenas apareceram, mas não foram além, ou seja, faltou espaço para desenvolver mais os personagens e o filme ficou vago demais.

Visualmente o longa praticamente fica só nos cômodos da presidência, indo da sala de atendimentos da presidente para seu quarto, de lá para uma varanda, de lá para um quartinho aonde trata sua doença, tivemos alguns encontros exteriores em carros, e mostrou um pouco da casa do secretário geral, tudo sendo bem representativo e marcante para quem não conhece o interior do palácio dizer se realmente é dessa forma, mas fizeram bem e agradou a amostragem entregue.

Enfim, esperava muito mais do filme e acabei extremamente desapontador com o que vi, sendo um bom começo para uma série e nada mais, então esse será acho que um dos poucos filmes do Varilux que não irei recomendar, mas pode acontecer quando vemos muitos filmes. Então é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas já vou para outra sessão, então abraços e até logo mais.


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Netflix - O Homem de Toronto (The Man From Toronto)

6/27/2022 04:57:00 PM |

Costumo dizer que as comédias de ação são perfeitas quando fazem rir mais do que fazem explodir as coisas, pois do contrário vira apenas um bom passatempo com coisas engraçadas que muitos verão e logo vão esquecer, e infelizmente o longa da Netflix, "O Homem de Toronto", se encaixa nesse último tipo, sendo daqueles com muitas cenas de ação, tiros, explosões e tudo mais que até funcionam e entretêm, mas no final foi apenas um passatempo de quase duas horas, aonde vemos Kevin Hart fazendo as piadas tradicionais dele, e Woody Harrelson fazendo carões para manter o ar de assassino. Ou seja, não é um filme ruim, muito pelo contrário, tem dinâmicas bem interessantes que fazem valer o passatempo todo, mas falta aquele algo a mais, algum tipo de reviravolta ou desenvoltura maior, o que acaba não acontecendo. Então se você está sem muitas opções, até pode ser uma boa dica de diversão, mas não vá esperando muito dele.

O longa conta a história de um consultor de vendas atrapalhado que tem sua identidade trocada com o assassino mais mortal do mundo - conhecido apenas como o Homem de Toronto - e eles precisam se aliar para sobreviver.

Diria que o diretor Patrick Hughes trabalhou até que bem a história que lhe foi entregue por Jason Blumenthal, ao ponto que lembramos até que bem de seus trabalhos anteriores (principalmente "Dupla Explosiva" que tem um ar mais cômico), e assim entramos no clima cheio de ação e de conflitos malucos quando se coloca um vendedor atrapalhado para conversar com assassinos, mas ficou faltando aquele elo a mais para que o filme tivesse algo a desenvolver, parecendo que os personagens só entraram numa missão, fizeram o que tinham de fazer e nada mais, o que é meio banal, mas tem quem curta a ideia, então posso dizer também que a proposta foi entregue de certo modo. Ou seja, não é um filme que conseguiu chamar a atenção pela história, aliás quem gosta desse estilo nem está muito preocupado com a história, então o resultado para esse pessoal será divertido e bem colocado, mas quem for esperando um algo a mais apenas verá o longa e terminará sem nem ter dado uma risada ou se espantado com alguma perseguição maior, o que é um pecado para uma produção com tantas explosões.

Sobre as atuações, gosto do estilo do Kevin Hart, apesar de sempre fazer seus personagens gritando e exagerando um pouco, e aqui seu Teddy segue o mesmo padrão, tendo ares divertidos em alguns momentos e muita bobeira em toda a execução dos atos, ao ponto que parece sempre desesperado, ofegante, mas disposto a entregar bons momentos, e assim seu estilo encaixa perfeitamente para o papel aqui que necessitavam. Woody Harrelson é sempre um brucutu que entrega boas personificações para assassinos, e aqui seu Homem de Toronto tem uma boa pegada, tem técnica, e consegue chamar muita atenção, ao ponto de quem sabe algum dia fazerem um filme só dos vários "homens" que aparecem no final do longa, e assim ele desenvolveu bem a personalidade, bateu muito e fez boas caras e bocas, agradando de certa forma. Quanto aos demais, a maioria apenas aparece para se conectar com os protagonistas, tendo os diversos vilões que aparecem mais para serem interrogados, bater ou apanhar, sem grandes técnicas ou expressões, temos o mandante de tudo vivido por Alejandro de Hoyos, que quase nem foi usado nas últimas cenas, temos a dona do grupo vivida por Ellen Barkin, que também só faz vozes e tem alguns momentos de ataque mais ao final, e claro o Homem de Miami que faz alguns ensejos e cenas mais trabalhadas de luta vivido por Pierson Fode, mas nada de impressionante, então diria que não dá para destacar ninguém, muito menos a galera do FBI ou a esposa e a amiga delas, que são bem cuidadas pelo agente Santoro vivido pelo galã Jencarlos Canela.

Visualmente a proposta toda é muito boa, com o protagonista tendo várias invenções malucas de produtos fitness, temos a academia em que trabalha bem montada, uma cabana no meio do deserto aonde conhecemos o protagonista, um chalé no meio do nada com muitas armas, um restaurante chique ao final, uma fábrica, vários atos de luta numa aeronave gigantesca no ar com muita interação, lutas numa feira de tecnologia em Porto Rico com alguns elementos acrobáticos para os protagonistas ficarem pulando, e um apartamento chique do vilão no miolo, de forma que tudo foi muito bem preparado e representativo pela equipe de arte, e claro que a equipe de efeitos especiais fez as vezes de explodir a maioria das coisas, contando com muitos tiros, sangue, e tudo mais, ou seja, uma produção gigantesca bem trabalhada que faz até inveja no melhor estilo que a Netflix costuma entregar.

Enfim, volto a frisar que não é um longa ruim, apenas não tem nada a mais que chame a atenção, sendo um bom passatempo de ação, com boas desenvolturas e lutas bem interessantes em várias locações, de forma que quem curte o estilo irá ficar bem feliz com tudo, mas quem for conferir esperando alguma grandiosa surpresa, vai ficar bem decepcionado. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas hoje ainda terei mais dois filmes do Festival, então volto mais tarde com outros textos, deixo aqui meus abraços e até logo mais.


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Kompromat - O Dossiê Russo (Kompromat)

6/27/2022 01:53:00 AM |

É raríssimo colocarem filmes de ação em festivais, pois é um gênero que geralmente não trabalha tantas técnicas, não tem grandes interpretações, nem situações dramáticas que faça pessoas pensarem em muitos elos, e por aí vai, porém nesse ano o Festival Varilux de Cinema Francês trouxe o longa "Kompromat", que nem estreou ainda comercialmente na França (com previsão para Setembro/2022), mas que mostra uma história tão maluca de fuga de um diretor da Aliança Francesa que por tentar levar  a cultura de seu país para a Sibéria/Rússia, acabou fazendo com que a FSB, ou antiga KGB como muitos a conhecem, lhe perseguisse inventando um processo completamente insano em cima dele e de sua família, o que fez com que fosse preso, quase morto na prisão e que depois conseguiu alguma ajuda para fugir do país, mas da forma mais improvável possível, o que acaba sendo muito envolvente e interessante de ver, o que faz valer a entrada dele no Festival.

O longa nos mostra a espetacular fuga de um diretor da Aliança Francesa da Sibéria. Vítima de uma trama orquestrada pelo FSB (Serviço Federal de Segurança da Rússia), esse intelectual terá que se transformar em homem de ação para escapar de seu destino.

Diria que o diretor e roteirista Jérôme Salle foi ousadíssimo em sua proposta, pois sendo baseado em uma incrível história real, ele nos entrega várias possíveis possibilidades para que o homem tenha sido preso, a qual até hoje não se sabe muito direito qual foi: a de como diretor de uma escola que além de línguas leva a cultura francesa para onde abre seus centros, e ao mostrar uma peça de dois homens se abraçando e beijando num país rigoroso; ou de um soldado da FSB ter visto ele dançar com sua nora em uma festa; ou talvez dançar com a filha vestindo roupas de fadas para brincar com ela. Ou seja, não tem como ele saber o motivo de terem feito tanto estardalhaço e prenderem ele, e o pior inventando todo um dossiê falso (a palavra компромат vem daí = evidência comprometedora) de um crime dos piores possíveis para ser jogado numa prisão, afinal ficando na mesma sela que assassinos acabariam com ele em minutos, ou seja, algo que o diretor do filme até se arriscou em colocar na sua trama, e assim sendo o filme teve uma desenvoltura incrível, pois a embaixada da França na Rússia não quis se envolver, alguns começaram a achar que ele era um espião, e por sorte ele teve a ajuda da moça com quem ele dançou para a fuga completa, senão não teríamos essa história. Sendo assim Jérôme que já entregou outros brilhantes roteiros conseguiu dramatizar aqui algo tão cheio de cultura, que virou um filme de festivais, mas que facilmente ao cair nos streamings da vida irá fazer muito sucesso, pois é um tremendo filmaço, mesmo com o terceiro ato um pouco arrastado demais, mas que passa tranquilamente.

Sobre as atuações, já até cansei de falar de Gilles Lellouche nessa semana, afinal veio para o Varilux com seus três últimos trabalhos, e todos com personificações sensacionais, e se nos anteriores ele trabalhou um advogado calmo porém revoltado com os pesticidas, um ajudante de joalheiro soberbo que subiu para a cabeça com o poder, aqui com seu Mathieu ele se virou de um diretor cultural a fugitivo de ação em questão de minutos, e fez isso com muito primor, com trejeitos fortes, com desenvolturas na medida máxima, e sem fraquejar nas escolhas lutou bravamente pelo seu objetivo mostrando uma atuação incrível que provavelmente vai lhe dar prêmios nesse ano, afinal ainda não estreou comercialmente, então vai pegar todas as próximas premiações, e com chances reais. Joana Kulig entregou uma Svetlana incrível, cheia de personalidade e pronta para ajudar, e o melhor fazendo tudo com muita densidade e imposição, ou seja, chamou para si o filme em diversos momentos, e só não sobrepôs o protagonista por pouco. Ainda tivemos momentos bem imponentes de Michael Gor com seu Rostov, Mikhail Safronov com seu Ivanovich e Sasha Piltsin com seu Sergey, cada um de uma maneira direta e desesperada para colocar o protagonista atrás das grades, ou preferencialmente morto, e da maneira russa fizeram caras bem secas e fortes, chamando atenção.

Visualmente o longa foi muito bem trabalhado com cenas no frio, barro, chuva e tudo mais, mostrando desde uma casa simples na cidade, passando por festas, supermercados, e uma prisão incrivelmente tenebrosa, além de muitas cenas nas ruas, em fugas, em ônibus, carros, se escondendo em porta-malas, pulando de prédios, e claro toda a perseguição imponente que dá início ao filme e depois é concluída nos atos finais, com muita imposição, névoas, lobos e tudo que se tem direito, mostrando que a equipe de arte foi bem precisa com o que precisava entregar fazendo bonito.

Enfim, é daqueles filmes que são tão bem feitos que agradam mesmo que a história seja um pouco maluca, e dessa forma acabamos muito conectados com tudo e até mesmo o terceiro ato sendo alongado e demorando para finalizar o resultado acaba sendo funcional e agrada bastante, e dessa forma é claro que recomendo para todos que vejam no cinema como todo bom longa de ação deve ser visto, mas se não conseguir torçam para em breve surgir nos streamings. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com muitos outros textos, então abraços e até logo mais.



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Entre Rosas (La Fine Fleur) (The Rose Maker)

6/26/2022 08:06:00 PM |

Posso dizer com toda certeza que meu conhecimento sobre flores é quase nulo, lembrando bem pouco das formas de polinização e mistura de genes da época da escola, mas hoje com o filme "Entre Rosas" também posso dizer que conheci muito mais desse meio de produção com técnicas e muita desenvoltura para criar flores premiadas, com perfumes e cores exóticas e tudo mais, mas não apenas isso que o longa nos entrega, mas sim também toda uma nova chance para detentos em fim de pena que estão tentando se ressocializar e geralmente conseguem empregos em cultivos, e também os que se destacam ali podendo ir mais além. Ou seja, é um filme doce, leve e que entrega bons momentos, que certamente poderiam até ter trabalhado algumas reviravoltas mais expressivas, mas não era essa a proposta, e do jeito que foi feito acabou sendo bem agradável também.

O longa nos mostra que Eve Vernet foi a maior criadora de rosas. Hoje, está à beira da falência, prestes a ser comprada por um poderoso concorrente. Véra, sua fiel secretária, acha que encontrou uma solução ao contratar três presidiários que tentam se reinserir na sociedade, mas que não tem nenhum conhecimento de jardinagem. Enquanto quase tudo os separa, eles embarcam juntos em uma aventura singular para salvar a pequena fazenda.

Diria que o diretor Pierre Pinaud, que fez o longa em homenagem à sua mãe, que também foi uma cultivadores de rosas, soube utilizar muito bem o roteiro de Fadette Drouard, pois como disse no começo poderia ter muito mais ousadia e imponência em algumas cenas, mas a proposta era ser exatamente como a leveza de uma flor e entregar uma síntese gostosa e envolvente sobre técnicas de misturas, de conhecer mais os dons, e até de aprender algo que você nunca vivenciou, deixando para trás o passado, e assim vemos um longa doce de sentimentos, mas também com notas amargas para algumas atitudes, e assim posso dizer que o resultado funciona, e na simplicidade acaba sendo daqueles que lembraremos quando alguém falar que já viu algum filme sobre flores.

Sobre as atuações, Catherine Frot soube dosar bem as atitudes de sua Eve, claro que fazendo também algumas coisas meio que erradas que não deveriam mostrar sendo feitas com detentos em condicional, mas seus olhares e envolvimentos com os demais sobrepõem tudo, e acabamos bem conectados com ela ao ponto de torcer para que tudo dê certo no final. Manuel Foulgoc foi muito preciso de atitudes com seu Fred, ao ponto que o jovem num primeiro momento parecia ser mais explosivo, porém soube dosar bem olhares e sentimentos para que ao final se conectasse tanto ao público quanto com a protagonista, e assim deu show também. Embora Fatsah Bouyahmed parecesse desesperado com seu Samir, o resultado completo de seu envolvimento no final acaba sendo bem feito, ao ponto de não decolar em cena, mas terminar bem o que fez. Olivia Côte entregou uma Véra como a tradicional funcionária que fica até o último momento na empresa, que é doce e opina bastante com a dona, e que transmite bem seus sentimentos para o filme, não sendo um grande destaque, mas agradando bem também. Marie Petiot foi muito engraçada com sua Nadège emotiva demais, ao ponto que o papel dela é dar as devidas quebras, mas agrada e faz bem o que precisava. Esperava que Vincent Dedienne fosse mais vilanesco com seu Lamarzelle pelo que aparentou no trailer, mas foi apenas um concorrente com jeito de filhinho de papai que tanto vemos administrando empresas por aí, e o ator foi bem no que fez nesse sentido.

Visualmente o longa é bem bonito pelas várias plantações de flores, as diversas estufas, todo o figurino tradicional de pessoas da lida no campo, além de vermos as pequenas empresas, e as gigantes com toda sua segurança, vermos como são os berçários de flores e até mesmo algumas competições de flores, aprendendo como é julgado tudo, ou seja, a equipe de arte trabalhou bem para ser bem representativa.

Enfim, é um longa que passa longe de ser daqueles memoráveis, mas que funciona muito bem dentro da proposta e acaba sendo um bom alívio para quem quiser uma trama mais relaxante e gostosa de ver sobre o tema. E assim deixo minha recomendação, e fico por aqui agora, voltando mais tarde com mais textos, então abraços e até breve.


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O Próximo Passo (En Corps) (Rise)

6/26/2022 01:29:00 AM |

Quando vi que o filme "O Próximo Passo" foi o terceiro filme mais visto na França superando grandes produções e tinha um conteúdo voltado para a dança fiquei imaginando apenas peças sendo exibidas, ou algo do tipo, mas a síntese do longa é algo que vai muito além do que apenas dança, tendo toda a dramaticidade em cima do se conectar com o corpo e fazer o que mais gosta, além de claro provar aos pais que o dinheiro e o tempo investido em uma pessoa valeram a pena. Ou seja, é daqueles filmes com conteúdo, com visual, com muita preparação corporal, e que felizmente trabalhou de uma forma leve e gostosa todos os problemas da protagonista, tem uma encenação brilhante de danças de vários tipos, e envolve do começo ao fim. O único adendo que colocaria é que o diretor se alongou um pouco demais, pois o filme tem 117 minutos e parece bem maior, ao ponto que daria para ser mais direto em vários atos.

A sinopse nos conta que Elise é uma jovem e promissora bailarina clássica que se machuca em uma apresentação após flagrar a traição do namorado. Apesar dos especialistas dizerem que ela não conseguirá mais dançar, Elise vai lutar para se recuperar, buscando novos rumos no mundo da dança contemporânea.

Acredito que o diretor e roteirista Cédrik Klapisch foi muito amplo na ideia entregue aqui, pois muitos diretores seguiriam talvez o roteiro por um caminho mais seguro somente de apresentações de dança, ou então trabalharia bem mais a parte dramática com atores e deixaria a dança em segundo plano, e ele não, quis igualar bem todo o processo trabalhando com três tipos bem abertos, o de atores como o pai da garota, o fisioterapeuta e a dona do hotel, os dançarinos e coreógrafos verdadeiros fazendo seu trabalho corporal incrível, e a protagonista que embora seja uma bailarina real também se entregou bem aos trejeitos necessários e conseguiu soar cativante. Ou seja, abrindo o leque ele conseguiu um público bem grandioso, o que leva o título de grande bilheteria na França, e soube passar a mensagem bem colocada de auto-ajuda/conhecimento que é sempre uma boa lição para ser jogada para o público, resultando em algo leve e bem gostoso de ver, e que emociona pela sensação completa.

Sobre as atuações, mesmo Marion Barbeau não sendo uma atriz de fato, toda bailarina precisa ser muito expressiva para passar a mensagem de uma coreografia somente usando o corpo, e ela fez isso magistralmente nas cenas que pôs o corpo para jogo, porém soube usar bem os diálogos e olhares nas cenas mais dramáticas de sua Elise, ao ponto que convenceu bem e foi emotiva suficiente ao passar seus problemas e dores, que não sabemos bem se o diretor usou um pouco de sua história, mas atualmente não é mais bailarina clássica tendo ido para a contemporânea ao montar uma companhia com o marido, então talvez tenha sido uma inspiração para o diretor criar a trama. Hofesh Shechter, que é coreógrafo real conceituadíssimo fez a si mesmo em cena, e trabalhou alguns sorrisos e trejeitos, mas como bem sabemos esse pessoal é melhor atrás das cortinas, então pareceu nervoso nos atos que fez. Denis Podalydès fez um belo trabalho como Henry, o pai da protagonista, e desenvolveu cenas com muito envolvimento e chamando o estilo de pai que cuidou boa parte da criação das filhas, levou para as aulas de dança e tudo mais, e claro muito protetor desejando algo a mais para a filha do que apenas dançar, vemos ele com trejeitos fortes e uma emoção fora do normal. Também tivemos bons atos e mensagens através de Muriel Robin com sua Josiane, uma dona de um hotel cultural bem interessante, e ela cheia de olhares fez seus momentos serem chamativos e gostosos. E claro tivemos François Civil, irreconhecível, principalmente pelos filmes fortes que entregou ultimamente, e aqui com seu Yann, um fisioterapeuta emotivo e apaixonado pela protagonista fez cenas caricatas bem divertidas e uma entrega precisa. Pio Marmaï também entregou cenas bem gostosas com seu Loïc, um cozinheiro cheio de traquejos em uma entrega bem ampla e divertida junto da namorada Sabrina vivida por Souheila Yacoub, muito bem encaixada também. Quanto aos dançarinos é claro que o destaque fica para Mehdi Baki e Robinson Cassarino pela desenvoltura mais conectada com a protagonista, mas todos foram muito bem em cena.

Visualmente o longa é bem bonito, com uma apresentação incrível inicial de uma peça de balé clássico com a protagonista dando show em um ambiente todo preparado, algumas consultas médicas e de fisioterapia, depois já vamos para um food-truck indo para um hotel cultural aonde vemos diversas apresentações de músicos, dançarinos e cantores, toda a beleza gastronômica, vemos belos encerramentos do dia próximo do mar, com uma meia luz incrível, e ao voltar para Paris temos uma apresentação visceral maravilhosa de dança contemporânea com muita imponência, músicos e tudo mais para impactar a todos, e vermos claro a emoção da plateia.

Enfim, é um excelente filme que se arrastou um pouco, pois dava para ficar em torno de 100 minutos ou menos, mas que é tão envolvente e gostoso de ver que acaba valendo todo o tempo na sala do cinema, então recomendo ele com toda certeza para todos, e principalmente para os amigos da dança, então fica a dica, e eu fico por aqui hoje, mas amanhã volto com muitos outros textos.


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Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo (Everything Everywere All at Once)

6/25/2022 05:52:00 PM |

Quando falaram por aí que o longa "Tudo Em Todo O Lugar Ao Mesmo Tempo" estava sendo considerado o melhor filme do ano pela maioria dos críticos, confesso que fiquei com os dois pés atrás, pois geralmente quando isso ocorre vem filmes sem pé nem cabeça algum, daqueles que conferimos tudo e saímos da sala sem entender bulhufas do que foi dito. E sim, o filme é desses completamente malucos, com pessoas tendo dedos em formato de salsichas, querendo pular em plugues gigantes, e até mesmo tendo pedras conversando no meio de uma montanha, porém a essência final é tão marcante e bela que tudo faz um sentido imenso e incrível de acompanhar, sendo insano por todas as possibilidades, porém com uma visceralidade tão perfeita e cheia de conexões que sai da sala não com dor de cabeça de tanta maluquice, mas extremamente feliz de ver um filme que é alongado, mas é brilhante, cheio de ótimas nuances, e que certamente irei torcer nas premiações, pois foram geniais em tudo o que nós entregaram.

No longa acompanhamos uma imigrante chinesa que parte rumo a uma aventura onde, sozinha, precisará salvar o mundo, explorando outros universos e outras vidas que poderia ter vivido. Contudo, as coisas se complicam quando ela fica presa nessa infinidade de possibilidades sem conseguir retornar para casa.

Sinceramente não sei aonde os diretores e roteiristas Dan Kwan e Daniel Scheinert estavam com a cabeça para criar algo desse tamanho e estilo, pois são tantas coisas malucas, são tantas situações, são tantas filmagens de cenas, figurinos, locações e ideias diferentes que não duvido da produção ter demorado meses para ser filmado e muitos meses mais para que o editor conseguisse entender o que fazer com tanto material, já que se olharmos tudo de forma separada nada se encaixa, nenhum momento dá liga para o outro, e até mesmo parecem querer forçar a mente do público com um ideal plausível em um mundo maravilhoso, mas o que vamos a fundo é o enxergar as coisas como o outro vê, e que por mais idiota e bizarro alguma coisa tem sentido para a outra. Ou seja, é daqueles trabalhos tão imponentes, tão cheio de virtudes, que podemos colocar os diretores num patamar que nem em sonho outro doido conseguiria imaginar, pois tenho a certeza de se ver o filme novamente várias e várias vezes enxergarei algo a mais, porém finalizando da mesma forma maravilhosa que os diretores e roteiristas desejaram quando desenharam o filme na cabeça maluca deles, e sendo assim o valor da trama só aumenta conforme vou pensando em tudo ao mesmo tempo, só que aqui na cadeira escrevendo.

Já vi muitos bons trabalhos de Michelle Yeoh, mas o que ela fez aqui com a sua Evelyn é algo que transparece todas as possibilidades de uma brilhante atuação, e confesso que gostaria de ver sua reação ao acabar de ler todo o roteiro, ou melhor na metade do roteiro sem entender nada do que aconteceria, pois precisou fazer trejeitos de dúvida, imposições de luta, e até emoções que não daria para imaginar sem uma direção precisa e eficiente, e ela encarou perfeitamente entregando tudo e muito mais, sendo sem dúvida sua melhor interpretação feita até hoje. Jamie Lee Curtis também entrou completamente no clima do longa com sua Deirdre, fazendo cenas completamente bizarras, mas com uma desenvoltura tão precisa e bem encaixada que vibramos em seus atos junto da protagonista, sendo uma relação de ódio tão bem encontrada que parece já ter feito isso várias e várias vezes, ou seja, se entregou demais e foi muito bem. Stephanie Hsu inicialmente e em muitas cenas faz parecer sua Joy meio irritante e sem nexo, mas melhora demais conforme o longa vai indo para o final e seu resultado passa a chamar muita atenção pelo que faz. Ke Huy Quan foi incrível do começo ao fim com seu Waymond, ao ponto dele parecer tão desconexo, mas também tão preciso em suas cenas que vemos olhares, traquejos e desenvoltura tão brilhantes que acabamos até torcendo para o jeitão bobo do Waymond da primeira dimensão, mesmo o Alpha sendo muito mais foda, e isso é algo do estilo do ator que acaba sendo muito agradável de ver. E por fim, até mesmo James Hong conseguiu com seu Gong Gong ser um personagem chamativo, cheio de personalidade e loucura, mas com bons olhares, e isso acaba chamando muita atenção. Quanto aos demais, todos foram bem figurantes, mas imprescindíveis nós conflitos, nas lutas e em todas as interações, ao ponto que chega a ser muito divertido observar cada um e vibrar com as cenas deles com a protagonista, ou seja, um elenco de figurantes tão bom que valem o que fazem em cena.

Visualmente daria para escrever um livro só de elemento e cenários do filme, e torço para que um dia alguém faça isso, pois cada dimensão é incrível, cada elemento bizarro se faz tão preciso, e cada olhar no ambiente em que os personagens estão inseridos são tão bem entregues que ficamos impressionados do começo ao fim com nojeiras, com objetos sexuais, com bizarrices, com pedras, com lutas, com o cinema por trás do cinema, com tudo podendo ser usado como arma, ao ponto que nem faço ideia do tamanho da equipe de arte, pois esse sem dúvida foi um daqueles filmes que ao entregar o roteiro para o diretor de arte a resposta foi de quantos milhões teria para poder utilizar, pois é uma das produções mais gigantescas sem ser de super-heróis que já vi em minha vida, e não com coisas inúteis, mas sim com tudo muito necessário e incrível de ser visto na tela.

Enfim, poderia reclamar do tamanho, da desnecessidade de dividir em capítulos, de ter elementos absurdos de nível máximo, mas só consigo pensar em quão incrível tudo foi utilizado, em como o fechamento representa algo muito maior, e como é brilhante toda a essência passada, de tal forma que só posso recomendar o filme para todos, pedindo principalmente que abram suas mentes e encontrem no final a essência que os diretores desejavam passar, pois aí a complexidade do longa vai fechar por completo e o resultado visto para você será tão sensacional que valerá demais o ingresso pago. E é isso meus amigos, eu fico por aqui agora, já que irei ver mais um filme hoje, mas vai ser difícil superar a emoção que senti vendo esse longa, então abraços e até logo mais.


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O Destino de Haffmann (Adieu Monsieur Haffmann) (Farewell Mr. Haffmann)

6/25/2022 02:02:00 AM |

Acho que já até me acostumei tanto a ver filmes envolvendo a 2ª Guerra Mundial, com a invasão alemã pelas cidades da Europa, a caça aos judeus, a destruição de bens e tudo mais da época que praticamente quando vejo algum longa novo já sinto emoções vindo em todas as direções com tudo o que vai ser praticado, e basicamente sempre vemos tudo da mesma forma, com pouquíssimas diversidades de estilo, então o que poderia ser diferente com o longa "O Destino de Haffmann"? E a resposta é praticamente tudo, pois é um ponto que não trabalharam tanto ainda, como as vendas de fachada, para tentar salvar parte do patrimônio, e o que acaba sendo entregue aqui além dessa passagem da joalheria de dono judeu para um funcionário além de ser algo bem interessante também entra na famosa frase de se quer conhecer uma pessoa lhe dê poder e dinheiro, pois o artesão simples, que desejava ser pai, com a esposa passadeira mudou da água para o vinho ao começar a vender joias para os soldados alemães da cidade, e mais do que isso, temos ainda situações completamente intensas no lado familiar com a proposta que o homem faz para sua esposa, pela forma que trata o ex-patrão escondido no porão, e quando achávamos que acabaria o filme de uma forma, somos surpreendidos com algo completamente inesperado. Ou seja, é daqueles filmes que não desapontam em nada, que tem uma história muito boa e que ainda por cima surpreende no final, o que costumo chamar de pacote completo.

A sinopse nos situa em Paris, 1941. François Mercier é um homem comum que sonha em começar uma família com a mulher que ama, Blanche. Ele trabalha para um talentoso joalheiro, o Sr. Haffmann. Mas frente à ocupação alemã, os dois homens não terão outra escolha senão concluir um acordo cujas consequências perturbarão seus destinos.

Diria que o diretor e roteirista Fred Cavayé adaptou brilhantemente a peça de Jean-Philippe Daguerre, e o mais interessante é que a formatação lembra bem os ares de uma peça, pois temos a casa, a joalheria e o porão todos juntos, tendo algumas cenas soltas fora dali que provavelmente foram criadas para dar algum extra para o longa, enquanto todo o restante funciona muito bem ali, e ele soube trabalhar todas as dinâmicas de uma forma sutil e ao mesmo tempo duríssima de sentir na pele tudo o que o ex-patrão passa a sofrer com o ex-empregado e agora patrão, entregando tudo com envolvimento, com verdade e olhares, e fazendo com que os protagonistas se interagissem com muita facilidade. Ou seja, mesmo tendo uma formatação teatral, foram amplos nas dinâmicas, ao ponto que vemos o fluxo, sentimos toda a simbologia cênica, e o resultado funciona demais, sendo emotivo, sendo sofrido e principalmente passando toda a verdade que ocorreu nesse período difícil para todos os judeus na Europa, e aqui não falharam em deixar nada caricato, mas sim algo forte e bem trabalhado.

Sobre as atuações, Daniel Auteuil entregou um Joseph Haffmann bem emocional, com olhares simples e bem dispostos para o que iria fazer, e vemos todo o envolvimento dele, disposto a ficar ali de boa se não fosse feito de trouxa, pois ele sabia o que estava acontecendo com os judeus pelos jornais que roubava das bicicletas, e vemos o ator muito doce de atitudes, sem trejeitos fortes, claro e envolvente que acabamos ficando do seu lado. Gilles Lellouche no segundo filme da noite, já que o vimos como um advogado agora pouco em "Golias", aqui já foi completamente oposto com seu François Mercier, tendo inicialmente um ar de bom moço, de pessoa simples que precisa do emprego, mas como disse no começo, o poder muda a pessoa, e ele fica impossível, vai tomando olhares da bebedeira, vai ficando rude com o novo empregado/ex-patrão, e até mesmo com a esposa toma atitudes intensas, e o ator deu um show de expressões, dominando muito bem todo o ambiente, no melhor estilo teatral possível, o que acaba agradando bem. Sara Giraudeau trabalhou sua Blanche Mercier com serenidade, passando emoção nos atos envolvendo seja o marido ou o pobre senhor que está no seu porão, e se entrega com muita densidade nos trejeitos que precisavam dela, mantendo o ar de desespero com a mudança de estilo do marido, sem saber o que fazer realmente, e foi muito bem em todas as atitudes. Nikolai Kinski fez de seu Comandante Jünger o tradicional soldado alemão de posses, que já tinha uma boa vida, mas pegando tudo dos judeus foi só melhorando, vivendo na boemia, tendo todas as mulheres possíveis, e claro fazendo negociações com o joalheiro, sempre com um ar de superioridade, e fazendo bem o que era preciso.

Visualmente todo o ambiente foi montado meio como na peça, com a casa simples no andar superior, porém bem detalhada de objetos cênicos para mostrar a "riqueza" da família judia, a joalheria no plano térreo com ferramentas tradicionais e simples, uma pequena vitrine e várias joias espalhadas, as embalagens inicialmente como Haffmann vermelhinhas depois viraram Mercier verdinhas, e embaixo um porão aonde o protagonista passa a morar e trabalhar fazendo as joias para o rapaz, uma lavanderia bem imponente, uma delegacia nazista, tendo uma loja de penhores que nem chegamos a entrar, vendo apenas pelo lado de fora as negociações, e uma prisão para os atos finais, e o mais bacana de ver é a rua numa colina, aonde só vemos algumas lojas laterais que vão sendo fechadas durante a tomada nazista, e para frente dali não sabemos da existência de nada, ou seja, tudo bem representativo, inclusive as festas regadas a champanhe para os soldados e as mulheres da vida.

Enfim, é um filme bem emocional, muito bem desenvolvido, com um ar interessantíssimo bem apropriado na história toda, e que consegue segurar o público do começo ao fim com uma ótima reviravolta no final, totalmente inesperada, sendo daqueles filmes que podemos colocar na lembrança pelo diferencial todo, e que acaba sendo funcional para recomendarmos a todos. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.


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Golias (Goliath)

6/24/2022 08:39:00 PM |

Falar sobre os conflitos envolvendo as brigas políticas, econômicas, envolvendo saúde e pesticidas, as produções de alimentos e tudo mais sempre é algo bem complexo, pois envolve muito mais ciência, muito mais persuasões e dinâmicas entre advogados, lobistas de empresas, políticos e claro a população, e cada filme que nos é entregue sobre o assunto vem com força máxima para tentarmos absorver e entender as brigas. O que posso falar de cara sobre "Golias" é que foi um dos mais fortes trabalhados em várias vertentes, que conseguiu causar bastante emoção na entrega dos protagonistas, mas que principalmente abre um leque muito maior para tudo. Ou seja, é daqueles filmes que muito é dito, muito é mostrado, que vemos muitos ensejos e dinâmicas próximas do realismo, mas que apenas temos de ver, e lamentar, pois, uma voz é pequena perto de tudo o que brigam, mas várias vozes juntas já fazem um bom barulho.

A sinopse nos apresenta France, professora de esportes durante o dia, trabalhadora à noite, é uma ativista contra o uso de pesticidas. Patrick, um obscuro e solitário advogado parisiense, é especialista em direito ambiental. Mathias, lobista brilhante e apressado, defende os interesses de um gigante agroquímico. Seguindo o ato radical de uma pessoa anônima, esses três destinos, que nunca deveriam ter se cruzado, se acotovelam, colidem e se inflamam.

Diria que diretor e roteirista Frédéric Tellier ("Através do Fogo") trabalhou bem todo o conteúdo de uma pesquisa quase que gigante para que seu filme fosse quase um documentário expressivo das brigas entre as grandes companhias de pesticidas e os advogados de pessoas que sofreram com o câncer ou algum dano causado por eles, ao ponto que vemos boas dinâmicas bem expressivas, bons traquejos, e muita organização ao redor de disputas, conversas de bastidores com políticos, grupos radicais tentando ir de formas mais amplas brigar, vemos tudo e mais um pouco do que conseguiram encaixar, porém é um filme que cansa um pouco pelo tamanho, que força mais do que expressa e assim sendo muitos podem nem se emocionar tanto pelo que nós é entregue pelo diretor, e sim ficarmos putos com tudo, já que a força é necessária, e assim o resultado funciona ao menos.

Sobre as atuações, Gilles Lellouche foi muito preciso com seu Patrick, sendo daqueles advogados que tem boas palavras, que brigam por tudo, e muitas vezes não atingem o que desejavam, e o ator que tem uma expressão um pouco triste conseguiu ser marcante em suas cenas ao ponto de nós convencer de seus ideais, e isso mostrou um bom preparo e conhecimento do que estava rolando para ficar convincente e assim foi um bom acerto. Pierre Niney é sem dúvida um dos melhores atores franceses da atualidade, e aqui o seu Mathias é daqueles lobistas que pegamos raiva, que tem frases e palavras para tudo, que está preparadíssimo para a briga e faz olhares cruéis e precisos com uma força tão única que impressiona demais, e assim sendo acredito que até ele após as gravações sentiu o peso do seu papel, pois ele foi incrível no que fez, mesmo sendo algo ruim de ver. Emmanuelle Bercot teve alguns atos marcantes, mas seu papel é mais amplo e emocional, não fazendo com que ela se destacasse tanto com sua France, valendo claro o ensejo visual de seu emagrecimento para a cena final, e assim ela foi uma representação bem marcante e funcional dentro das vozes que tentam ir além. Quanto os demais, e temos vários demais, apareceram, fizeram seus ensejos, trabalharam as dinâmicas com os protagonistas, mas não puderam ir muito além, então vale apenas falar que o diretor soube usar muito bem todos ao coadjuvantes e figurantes para somar e envolver o público com uma minúcia quase realista de falarmos que ele esteve gravando em todas as manifestações, todas as reuniões e afins, poia ficou documental total.

Quanto do visual, vemos muitas reuniões em salas enormes, em plenários, em grupos, mostrando a frente da empresa de pesticidas, vemos votações, julgamentos pequenos, julgamentos grandes, muitas reportagens, e até um envolvimento da família para mostrar a vida deles tentando sobreviver, mas como disse o longa é quase algo que o diretor foi filmar todas as situações para algo quase documental, e assim sendo valeu demais o trabalho da equipe de arte.

Enfim é um tremendo filmaço sobre o tema que vale a conferida, vale a briga e vale entender mais sobre a vida sem pesticidas, para que as futuras gerações quem sabe vivam melhor, sem câncer, sem tantos agrotóxicos, e assim sendo o filme é amplo de ideias e preciso de demonstrações, sendo forte e incrível que tenho de recomendar demais para todos. E é isso meus amigos, vou para mais uma sessão do Varilux, então abraços e até logo mais.


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