Malês

10/05/2025 02:37:00 AM |

Costumo dizer que um diretor precisa saber desenvolver bem todas as partes de seu filme, pois se enrolar ou encher demais qualquer um dos atos acaba cansando o espectador, e com dramas históricos isso tem de ser muito bem controlado tanto para não estourar o orçamento, quanto para que tudo fique bem alinhado e chame a atenção do público normal, e também do público que usa o lado para estudar e conhecer mais sobre o determinado fato em si. E o longa "Malês", que jurava que já tinha estreado há muito tempo por ter visto uma entrevista da Camila Pitanga falando do longa em um programa, tem a falha gigantesca de entregar um começo alongadíssimo, daqueles que chega até dar um certo sono, para depois correr no miolo, e quando chega no final entrega o básico e põe letreiro na tela explicando o que aconteceu, ou seja, valeria muito desenvolver bem mais o final, pois a intenção de mostrar os motivos da revolta fica bem clara quando ocorre a derrubada da mesquita, então só essa essência já era satisfeita para todo o restante, mas resolveram enfeitar tudo, e aí dá no que dá. Claro que é um filme muito bem imposto pela densidade dramática e pela História em si, pois jamais pensaria que a Bahia foi dominada de escravos muçulmanos, mas as cenas da batalha em si, e o decorrer após ela acredito que valeria bem mais do que a enrolação do começo e o casal "protagonista" em si.

O longa é baseado em fatos históricos e retrata a Revolta dos Malês, a maior revolução da história do Brasil organizada por negros escravizados na Bahia, em Salvador. A insurreição mobilizou a população negra, escravizada e liberta pelas ruas de Salvador contra a escravidão em 1835. A revolta foi chefiada por africanos muçulmanos e encabeçada por líderes como Pacífico Licutan (Antonio Pitanga), que reforçava a importância da participação de diferentes grupos, tribos e religiões para o sucesso da revolta e para o fim da escravidão. Na trama, um casal é separado após serem arrancados de sua terra natal na África e trazidos para o Brasil à força como escravizados. Enquanto lutam para sobreviver e tentar se reencontrar, ambos se envolvem no levante dos Malês.

Diria que o diretor Antonio Pitanga soube trabalhar na tela uma representação bem foi a Revolta, porém ele quis brincar com outras facetas no miolo, como o casal separado na África, a conexão com outros que eram negros que ajudavam as capturas no país de origem para serem enviados para o Brasil, e com isso ele encheu sua trama de boas dinâmicas, mas isso lhe custou um preço alto, pois quando realmente explode o conflito, o público já está cansado do que está vendo, e isso pesa demais, tanto que muitos saíram da sessão antes mesmo de chegar o conflito armado na tela. Ou seja, é um bom filme, tem suas cenas marcantes, mas falha principalmente em não usar mais o ato final, pois ali sim ocorreu a revolta, valeria mostrar como os escravos foram mandados de volta para a África, valeria pautar mais as dinâmicas que ocorreram ali, e assim sendo o diretor não ousou tanto quanto poderia.

Quanto das atuações, todos tiveram momentos chamativos e envolventes, sendo cada um desenvolvido mais ou menos dentro da trama, tendo claros destaques para Rodrigo dos Santos com seu Ahuna organizando tudo e tendo atos bem impactantes na forma de conduzir as reuniões. Também tivemos o casal vivido por Samira Carvalho e Rocco Pitanga tendo uma química chamativa, mas que como disse a história deles em si não era algo que deveria ter sido tão usado. E claro tivemos Camila Pitanga com sua Sabina, aonde tendo ciúmes do envolvimento do marido vivido por Heraldo de Deus acabou botando tudo a perder, ou seja, um trabalho direto e marcante da atriz, mas ainda mais forte por parte da personagem em si. 

Visualmente a reconstrução de época, dos ambientes e de toda a dinâmica foi um trabalho para ser bem aplaudido, mostrando a construção de uma mesquita e depois a destruição nela, vários atos de escravos presos em algemas até no pescoço, roupas e vestimentas clássicas e bem trabalhadas e até um casamento africano bem arrumado, além de fugas em água e tudo mais, com uma representatividade chamativa e cheia de nuances, além de muitas cenas a noite com velas e tochas que deram um tom mais forte para o filme.

Enfim, é um bom filme dentro do contexto escolhido, porém como disse falhou demais em desenvolver mais o romance de desencontro e reencontro dos protagonistas ao invés de focar realmente na revolta, que aí sim seria uma trama para aplaudir e chamar toda a atenção tanto para a conferida como trama de cinema, quanto para conhecimento estudantil, mas nem sempre dá para agradar todos os lados, e sendo assim fica toda essa ressalva para quem for conferir na telona. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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