Metanoia - Mães de Joelho, Filhos de Pé

5/31/2015 11:19:00 PM |

Filmes que envolvam a temática drogas sempre são duros e costumam cansar os espectadores, salvo raras exceções, e dificilmente conseguem passar toda a realidade vivida pelos personagens sem fantasiar demais as coisas. Porém com "Metanoia - Mães de Joelho, Filhos de Pé", o diretor optou trabalhar de uma maneira mais ousada, colocando mais realismo nas cenas de fumo, nas vertigens e tudo mais, mesmo que pra isso ele precisasse pecar por diálogos de certa forma fracos, mas que são comuns das conversas de usuários e de amigos. E fazendo o uso dessa linguagem, o filme parece visceralmente feito por um ex-usuário, aonde transmitiu toda sua vivência para que outras pessoas soubessem dos problemas, de como uma mãe se sente ao ver o filho passando mal e não poder fazer praticamente nada, e que se tratando de um longa cristão, que através de algo maior é possível largar as drogas. Muitos podem até criticar o filme por usar o feitio religioso como salvação e tudo mais, mas a mensagem passada e a forma desenvolvida constrói um longa bem moldado, que para a perfeição faltou bem pouco devido a certos erros técnicos, porém a ideologia da trama é bem passada e agrada sem ser um longa novelesco como costumam fazer com filmes nacionais.

O filme nos mostra que Eduardo é mais um em meio aos milhares de usuários regulares e dependentes do crack. Criado na periferia de São Paulo, a boa educação oferecida por sua mãe, Solange, não o impediu de ficar preso no mundo das drogas. Ele fica perdido em meio à autodestruição, enquanto Solange tenta desesperadamente salvar o filho do vício.

Por ser seu primeiro longa, o diretor e roteirista Miguel Nagle quis colocar o roteiro inteiro que escreveu com o protagonista Caique Oliveira na tela, e poderia ter cortado muitas cenas repetidas, mas isso é o famoso desespero para que tudo que imaginou e filmou entre no longa, e além disso, mesmo tendo sido editado a três mãos, algumas cenas aparentaram entrar em uma forma meio que desconexa, por exemplo a cena anterior do velório ficou meio estranha, mas alguns podem achar como um flashback e aceitar. Porém tirando esses detalhes técnicos, o filme funciona, não cansa mesmo tendo quase duas horas, e o diretor mostrou que tem um feeling bem interessante para cenas mais dinâmicas, então provavelmente seu próximo filme deva ficar ainda melhor. A história em si é bem pesada e alguns até fantasiariam ela para que o resultado fosse mais fictício, porém trabalharam o roteiro com a dramaticidade correta e usando trejeitos característicos de São Paulo, o que mostra uma pesquisa bem fundamentada e um planejamento correto para com os diálogos.

Quanto das atuações, embora Caique Oliveira tenha interpretado bem o protagonista, senti ele um pouco velho para o papel e talvez contratar um ator mais novo daria uma vertente mais interessante para o personagem Eduardo, pois no começo sua mãe pareceu mais uma irmã ou esposa do que mãe, mas isso é apenas um detalhe, visto que ele fez boas expressões e vivenciou bem toda a situação, então o resultado final acabou não sendo atrapalhado. O que não ocorre com Caio Blat, pois já não é um ator tão novo, mas ainda possui cara de novinho, e o playboy Jeff acabou funcionando perfeitamente para suas características, e o ator com um desenrolar bem pautado soube dar uma dinâmica interessante para praticamente todos os seus momentos, agradando bastante com o que faz em cena. Einat Falbel foi bem no papel da mãe Solange fazendo caras desesperadas, e sofrendo muito através de suas expressões e soube caracterizar bem o sentimentalismo sem ficar forçado, o que é raro hoje no cinema nacional, então a atriz mostrou-se bem diante das cenas que precisou fazer e como disse no caso do protagonista, com alguém mais novo chamaria mais ainda sua atenção. Como os demais fazem praticamente figuração de luxo, tendo uma ou outra cena que falam mais, os destaques claro ficam com Thogun fazendo um traficante bem caricato e numa pequena cena Solange Couto dá um show de interpretação fazendo a mãe de outro viciado.

A equipe artística do filme trabalhou bem ao não inventar moda, pois já que o filme envolve o crack, nada melhor do que inserir os personagens no lugar mais icônico de São Paulo que é a crackolândia, e assim acertar as demais locações como cenários secundários que foram bem encaixados também, principalmente para mostrar as fases e condições, como o apartamento do playboy cheio de festas, a casa simples do protagonista inserida bem dentro da comunidade e até mesmo o sitio de reabilitação foi bem trabalhado. Claro que não temos um superprodução e com o orçamento bem baixo, não foi ornamentado o filme com muitos objetos cênicos, mas no geral o resultado é interessante de se ver. A equipe de fotografia também usou recursos para que os efeitos não soassem tão falsos e com isso optou muito em filtros de cores diversas para representar cenas mais impactantes puxando o tom para algo mais escuro e avermelhado, outras vezes dando mais sujeiras em cena, em alguns usou da trepidação da maneira correta para dar vertigem, ou seja, simples mas bem feito.

Enfim, não posso considerar o longa como um filme fantástico, mas ao que se propôs e o que foi entregue consegue agradar bastante e satisfazer. Claro que alguns defeitos vão incomodar, mas o resultado foi um filme bem feito e interessante para conscientizar o problema das drogas e um pouco do que causa na família, e assim faz valer o ingresso para que conheçamos um pouco mais de tudo isso. Então uma sugestão interessante é que façam sessões para escolas e pais para o impacto ser mais bem colocado, e também recomendo como um filme bacana de ser visto. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje encerrando já essa semana cinematográfica, mas fico na torcida para que a próxima venha bem recheada, então abraços e até breve.


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Timbuktu

5/31/2015 01:07:00 AM |

Não é porquê um filme ganha diversos festivais, possui um visual impecável e bem feito no contexto de mostrar uma história que ele vai conseguir agradar, digo isso não somente pelo que vi hoje em "Timbuktu", mas por diversos outros longas que acabam sendo tão monótonos e desenvolvendo uma situação tão fechada que o resultado é você ou dormir ou sair da sessão irritado com o que viu. A ideia do longa pode até ser interessante, ao mostrar quando extremistas tomam uma cidade comum, como passa a ser a vida das pessoas, aonde as leis do Islã são confusas e suas proibições acabam sendo cruéis e estranhas, mas quando se quer denunciar coisas demais em um filme, tem de se tomar cuidado para não virar uma novela gigante, aonde nenhuma história é desenvolvida, de modo que tudo é bem feito, com uma fotografia maravilhosa, mas saímos da sessão sem dizer que vimos um filme realmente, mas um apanhado de situações e só.

O filme nos mostra que a população da cidade de Timbuktu, no Mali, vive dias de terror. Extremistas religiosos tomam conta do lugar e proíbem as pessoas de ouvir música, jogar futebol e fumar cigarro. Mas mesmo assim, alguns desses moradores resolvem encarar os criminosos em nome de suas independências.

O diretor e roteirista Abderrahmane Sissako foi preciso ao tentar desenvolver uma história para mostrar o terror que é o extremismo religioso, porém trabalhou com muitas vertentes de modo que em momento algum conseguimos identificar quem são os protagonistas da história, ou se são várias histórias separadas que no contexto completo formam uma única. Então até é possível enxergar de certo modo um estilo bem trabalhado de direção dos fatos, mas como disse no começo, acabamos enxergando o longa mais como uma novela onde de repente estamos num núcleo da história, daí vamos para outro núcleo, e em determinado momento os núcleos se entrelaçam fazendo o seu fechamento, e isso não é algo legal, tanto que garanto se fosse um filme nacional feito exatamente do mesmo jeito, as pessoas daqui que aplaudiram o longa em diversos festivais com certeza estariam metendo o pau no filme, falando que é novelesco demais e por aí vai. Agora como é praticamente o primeiro filme da Mauritânia a se destacar, que foi muito bem filmado com paisagens e imagens bem trabalhadas, isso é um fato inegável, mas somente isso não faz dele um filme que vai agradar de forma alguma.

Das atuações seria muita pretensão minha falar de cada um dos atores de nomes gigantes e que nem temos referências para esperar algum outro filme aonde tenham trabalhado, então o que posso dizer nesse quesito é que mesmo muitos sendo estreantes frente às câmeras, a maioria conseguiu passar toda a situação com uma naturalidade tamanha que poderíamos dizer se tratar de atores experientíssimos, e assim o resultado interpretativo ao menos agrada passando como se fosse algo bem jornalístico e documental da situação que as pessoas da cidade estão vivenciando e sofrendo. Portanto nesse quesito podemos falar com certeza que o diretor foi impecável na direção de elenco, e agradou mesmo que em núcleos, trabalhando cada ator individualmente para chamar a atenção quando era necessário.

Agora um ponto mais do que positivo no filme ficou por conta do contexto visual, já que assim como os atores deram vida à trama, a cenografia fez parte completamente da sintonia que era desejada, colocando animais, situações e até dinâmicas como elementos cênicos da trama, dando destaque claro para a partida de futebol sem bola, a simbologia das vacas atravessando a fronteira da boa vizinhança e até a aridez desértica da paisagem funcionando em contraponto com a modernidade de celulares e caminhonetes de luxo, ou seja, um trabalho preciso para envolver o público na realidade que as pessoas por lá estão passando. E luxuosamente, o diretor de fotografia ao chegar nessa paisagem foi certeiro em escolher ângulos e momentos precisos para que cada cena fosse única e gravada de modo à ter a melhor iluminação natural fazendo sombras com o Sol de contraluz que literalmente temos algumas cenas de babar pelo visual entregue.

Enfim, é um filme tecnicamente muito bem trabalhado, mas que poderia ter sido feito com destaque à família isolada, trabalhando mais o contexto de seu isolamento frente às questões da vila, mas ao querer denunciar tudo, o diretor transformou o seu filme em algo documental demais e que certamente vai agradar só quem realmente gostar muito do estilo mais novelesco documentado, senão a chance de sair cansado e desapontado com tudo que verá é altíssima, mas como valorizo bem a questão da produção a nota vai ser até melhor do que deveria. Ou seja, não tem como recomendar ele, mesmo sendo bem feito. Bem é isso pessoal, ainda falta conferir mais um longa que estreou por aqui nessa semana, então abraços e até breve.


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A Família Bélier

5/30/2015 08:58:00 PM |

Sabe aquele filme gostoso para assistir numa tarde, que te envolve com a lição de moral que passa, entretém com a ideologia dos personagens e diverte pelas boas situações que o diretor opta por mostrar? Essa poderia ser a definição completa da comédia francesa "A Família Bélier" que trabalha de forma tão interessante com a situação musical da filha que acaba rumando para o lado de um coral enquanto todos da família não podem nem lhe ouvir por serem surdos. E esse contraponto é trabalhado juntamente com a questão familiar de um modo bem tradicional, sem ter exageros para que ficássemos com pena da situação dos protagonistas e até mesmo no desenvolvimento de cada um dos personagens, de modo que mesmo sendo um longa bem levinho e até de certa forma adolescente demais, o diretor não deixa de colocar suas pontadas certeiras com o preconceito, as dúvidas da idade e tudo mais que ocorreria em qualquer família normal como diz o pôster. Portanto uma diversão bem completa que agrada na medida para quem gosta de comédias que realmente divertem sem apelações, o que é uma qualidade dos longas franceses.

O filme nos mostra que Paula é uma adolescente francesa que enfrenta todas as questões comuns de sua idade: o primeiro amor, os problemas na escola, as brigas com os pais... Mas a sua família tem algo diferente: seu pai, sua mãe e o irmão são surdos. É Paula quem administra a fazenda familiar, e que traduz a linguagem de sinais nas conversas com os vizinhos. Um dia, ela descobre ter o talento para o canto, podendo integrar uma escola prestigiosa em Paris. Mas como abandonar os pais e o irmão?

O diretor Eric Lartigau não nos entrega um longa filosófico, e olha que com a ideologia da trama seria totalmente possível isso, mas muito pelo contrário, ele optou por algo mais divertido e que agrada pela leveza das cenas, pela situação completa da trama que mesmo já tendo uma tonelada de longas que tratam do mesmo mote, as mudanças na adolescência, e embora exista o problema da surdez familiar e do uso da linguagem dos sinais funcionando como uma nuance a parte, ele soube não pesar sua mão e usando de artifícios bem comuns da comédia francesa divertir sem precedentes todos os espectadores do filme, e assim o desenrolar da trama envolve tanto musicalmente, quanto pelas excelentes três últimas cenas: apresentação da escola, apresentação para o pai e apresentação do concurso. E embora já tivesse escutado diversas vezes as 4 canções que tocam quase todo o filme, conhecer sua letra dentro do contexto do filme foi algo muito prazeroso e que agrada com toda certeza.

É interessante ver nesses filmes que envolvem momentos musicalizados a dúvida que permeia nossa mente, se a atriz realmente está cantando ou se entra alguma outra cantora na voz nesses momentos, mas não aqui Louane Emera foi participante do The Voice francês e virou a protagonista do filme a convite do diretor, e conseguiu fazer uma Paula até que bem expressiva, de forma que os seus momentos acabam ao mesmo tempo bem interpretados com nuances fortes e também excelentemente cantados, já que ela é uma cantora originalmente, e já vejo sucesso pra ela em outros musicais com certeza, pois a garota é boa. François Damien e Karin Viard fizeram semblantes tão engraçados como os pais da garota Rodolphe e Gigi, que se o diretor quisesse ser mais ousado nem legendaria seus sinais, deixando somente que o público acreditasse no que a garota respondia ou mesmo apenas deixasse que nós interpretássemos do jeito que viesse em nossa imaginação pelo gestual, mas com certeza a dinâmica de ambos foi espetacular e agradou bastante com a dinâmica do pai e a forma vibrante da mãe que sem dúvidas é uma atriz fenomenal em todo filme que entra. Luca Gelberg também conseguiu fazer boas nuances interpretativas, dando uma comicidade bem leve para seu personagem Quentin, que mesmo não sendo o grande foco das lentes, nos momentos mais precisos foi bem encaixado. Roxane Duran entregou a sua Mathilde uma personalidade tagarela e avançada, comum de se ver muito hoje nos colégios, e conseguiu protagonizar bem algumas cenas cômicas que fizeram seu rosto quase corar da cor de seu cabelo, ou seja, ainda é muito jovem para controlar as ironias de piadas e não ficar tímida, mas deve evoluir. Eric Elmosnino caiu muito bem como o professor de música Thomasson, que foi muito engraçado na maior parte, com seus provérbios para que a garotada cantasse e seus trejeitos de grande músico, mas que comoveu bem dando boas lições nas cenas mais contundentes, ou seja, ele é um dos atores que sempre saem bem e não ia fazer diferente aqui. Dos demais, vale destacar apenas alguns pontos do garoto Ilian Bergala que poderia ter feito um pouco menos de caras emburradas para que seu personagem Gabriel não parecesse um playboyzinho metido, de modo que sua virada acabou ficando falsa demais sem uma explicação mais contundente.

A cenografia rural da cidade foi bem trabalhada para divertir e dar as nuances que o filme pedia de comicidade, de modo que tudo girar em torno dos pensamentos simples acabaram dando o ponto certo que o filme necessitava. Por ter muita linguagem de sinais e os personagens necessitarem sempre expressar com objetos ou as próprias mãos, os elementos cênicos foram bem pontuados e determinantes para que o filme tivesse mais vida ainda, ou seja, muito bem feito e pesquisado para não fazer coisas a esmo. A fotografia também escolheu lugares excelentes para pontuar a iluminação mais forte e junto de contraluzes chamar a atenção para as belas paisagens nos momentos mais reflexivos e quando trabalhado de forma mais intimista procurou sempre lentes mais próximas dos personagens para impactar e ainda assim manter o tom leve do filme.

Uma coisa que acho engraçado em filmes aonde a música faz parte do contexto é que geralmente os protagonistas cantam muitas canções que já ouvimos diversas vezes e não sabíamos o seu significado, pois não costumo ir ler as letras ou mesmo prestar atenção no que elas estão falando conosco, e nesses filmes por legendarem as canções, fica tão rico o contexto da canção com o momento que está passando no filme que emociona e agrada bastante. Ou seja, todas as canções escolhidas foram escolhas precisas para falar com o público e funcionar quase que como elemento presente nas cenas importantes da trama, valendo com certeza a cena do concurso aonde ainda a jovem colocou a emoção dos sinais para impactar ainda mais.

Enfim, um longa muito gostoso de ver, é bem simples e como disse já tivemos diversos outros com a mesma perspectiva, mas agrada demais e reveria ele facilmente de tão leve que é. Recomendo com certeza para todos que gostem de filmes com tema musical, e principalmente para ver como a inclusão da deficiência pode funcionar nos diversos meios. A única coisa que me deixou triste foi a distribuidora não ter lançado ele na estreia em Dezembro pelo interior, pois tenho certeza que muitos iriam gostar de ter assistido. Bem é isso pessoal, ainda voltarei para comentar do outro filme que será exibido na Virada Cultural, então volto mais tarde com outro post, então abraços e até breve.


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Trocando os Pés (The Cobbler)

5/30/2015 03:05:00 AM |

Quando pensamos em ir ao cinema ver uma comédia, a primeira coisa que vem na mente é que iremos rir muito, ou pelo menos se divertir com o que vai ser entregue, mas o que posso afirmar com certeza é que quem for com esse pensamento assistir "Trocando os Pés" ou na tradução literal do título em inglês "The Cobble" (O Sapateiro) não vai sair muito feliz da sessão. E digo isso não só por mim, mas por pessoas que saíram da sessão antes mesmo dela terminar, outros que ao final reclamaram do filme e pelo que andei sondando na internet, pois o resultado é um drama até que bem pontuado e com algumas sacadas inteligentes e interessantes, mas a priori, o filme tenta funcionar com alguns pontos cômicos que passaram bem longe do risível, e isso é decepcionante frente à um longa aonde o protagonista já fez boas comédias e mesmo nos seus dramas cômicos, a risada era garantida em boa parte do filme. Vou falar mais de alguns pontos abaixo, mas minha indicação inicial é que você que for assistir ao longa, vá preparado para um drama com situações cômicas, mas que passará longe da piada pronta ou da diversão completa.

O filme nos mostra que Max Simkin é um sapateiro solitário que vive em Nova York. Certo dia ele descobre um grande poder, o de se tornar idêntico aos donos dos sapatos que ele conserta, quando calça as peças. Ele tem a chance de viver na pele de outras pessoas e isso lhe traz consequências, para o bem e para o mal.

Quando diretores e roteiristas que não são experientes nessa arte resolvem atacar o que é recomendado geralmente é começar por dramas ou romances, pois são gêneros mais tranquilos de trabalhar e não exigem expectativas do público, pois a comédia, mesmo de quando incorporada em um drama, é obrigatório fazer o público se divertir, e aqui a comoção pelo protagonista acaba sendo mais forte do que a diversão que ele pode proporcionar com suas aventuras, então Thomas McCarthy e Paul Sado precisariam ter desenvolvido mais as situações para que elas fossem engraçadas mesmo, pois na sala o máximo que se ouvia eram algumas risadas pontuais em cenas que forçaram o riso, e isso é chato de ver e incomoda muito. Não posso dizer que a técnica do diretor McCarthy para ângulos interessantes e introspectivos seja algo ruim, muito pelo contrário, ele soube dar dinâmica para quase todas as cenas, e mesmo não sendo "mágico" foi esperto de sempre fazer uma panorâmica de cima para baixo, mostrando os sapatos do dono e subindo para apresentar a mudança, isso todas as vezes. Então vai chegar alguns momentos que você não vai mais aguentar ver a câmera parada no chão e ir subindo, isso é um fato. Quanto da história, a ideia foi boa, pois se ao pesquisarmos diversas expressões envolvendo sapatos e seus donos, iremos ver bem essa ideologia que eles definem a pessoa, e que quando se morre é falado que bateu as botas, então todos esses provérbios foram usados a fundo no texto e até agradam, mas como disse, só uma boa ideia não faz um filme, então faltou muito para agradar.

Embora a feição de Adam Sandler raramente demonstre estar alegre e empolgado com seus filmes, aqui ele está ainda mais cabisbaixo, e embora o personagem possua muitos problemas, nos momentos em que está se divertindo na pele de outras pessoas, não aparenta tanta empolgação, e isso acaba sendo um problema também para com o filme, pois soa estranho seu jeito de fazer as coisas e a dinâmica que acaba entregando, o que é uma pena, pois como disse a história tinha um potencial para decolar e o fechamento dá a entender uma possível continuação, que se for feita dessa maneira vai ser um desastre imenso. Steve Busceni está sempre junto de Sandler em seus longas, já sendo a 11ª produção conjunta, e mesmo o seu barbeiro Jimmy aparecendo pouco, acabou sendo bem interessante e agradou com lições dando encaixe para o fechamento do filme, claro que poderia ter uma participação maior que chamaria a atenção, mas não foi tão ruim. Ellen Barkin ficou bem artificial como a líder criminosa Greenawalt, ainda bem que aparece somente em dois momentos do longa, senão iria comprometer ainda mais. Em quase todos os longas de Sandler, são escolhidas ótimas atrizes para viverem as mocinhas e encaixar bem com ele nas aventuras, mas aqui, Melonie Diaz entregou uma Carmen com personalidade até que forte, mas que foi usada tão pouca que não agrada. A forma que Dustin Hoffman entra na trama foi algo bem interessante, afinal ele ainda é um dos grandes atores do cinema americano e não decepcionaria mesmo que rápido em 2 cenas com seu Abraham, então talvez se o longa tiver bilheteria e houver continuação acredito mais na sua interação com a trama. Dos personagens mais rápidos que o protagonista acaba se transformando, quase todos são bem engraçados e chamam bem a atenção, mas os destaques ficam pelo morto, da criança de ossos largos e claro do personagem Leon que Method Man faz bem com seu estilo lotado de gírias e uma personalidade bem caricata nos momentos em que não faz o seu personagem mas sim Sandler como seu personagem.

O longa prezou bastante na parte artística e contando com bons figurinos para colocar cada um dos personagens até como elementos cênicos, o resultado até que é bacana de ser visto, mas os cenários foram bem subaproveitados na trama, de modo que a sapataria poderia ter todo um contexto maior e acaba sendo um simples símbolo, e quando o protagonista sai de lá, nos lugares que vai trabalharam tão pouco cenograficamente, que o longa pareceu ter sido de baixíssimo orçamento. Felizmente quase que pecaram na cena dos sapatos dos capangas, que quase houve um dos erros mais críticos de furo de história, já que todos sapatos necessitam passar pela máquina para ficar "encantados", e ficou bem notável que a cena seguinte foi colocada no longa ao notarem o erro, então parabéns ao menos para o continuísta dessa vez. No quesito fotográfico, o diretor soube usar bons ângulos e trabalhou bem na composição luminosa que sempre deixava um gostinho de suspense, mas como estamos falando de uma comédia, talvez alguns tons mais alegres cairiam melhor.

Enfim, como falei para alguns amigos, já vi muitos longas do Sandler, alguns bem ruins, e o que aconteceu nesse foi a falta de definição do estilo, pois se entregassem logo de cara um drama com tons cômicos seria algo agradável, mas ao fazer uma comédia com tons dramáticos, a falha foi altíssima e ao mesmo tempo que não faz rir, também não envolve, ou seja, uma boa história que acabou ficando ruim no contexto geral. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas ainda irei conferir os longas da Virada Cultural Paulista, que não passaram pelo interior nas estreias, e também mais um longa nacional que acabou vindo um pouco atrasado, então abraços e até breve com novos posts.


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Terremoto - A Falha de San Andreas em 3D

5/27/2015 02:21:00 AM |

Pegue uma história possível de acontecer, adicione milhões de elementos fictícios (conhecidos pela expressão paia total), insira um elenco jovem e interessante, filme tudo pensando completamente como utilizar a tecnologia 3D da melhor forma possível, balance a câmera o máximo que puder e destrua todo o cenário (independente se for construído ou computacional), e jogue água, muita água para você precisar puxar o ar mínimo junto com os protagonistas, deixe correr durante 120 minutos que nem vão parecer ter todo esse tempo e pronto, a diversão do ano para quem gosta de filmes-catástrofe está feita maravilhosamente bem com o longa "Terremoto - A Falha de San Andreas". Eu sei que muitos vão criticar os defeitos e tudo mais, afinal esse gênero de ação é o que mais dá para achar problemas técnicos, e não seria esse longa que nos entregaria a mais perfeita obra de arte do estilo, mas o que o diretor Brad Peyton fez foi alto tão divertido e aflitivo que temos um longa dinâmico e que agrada mais do que erra, então tome um remedinho para não ficar tonto com as movimentações de câmera, compre um combo de pipoca imenso, e vá para a maior sala que puder dos cinemas de sua cidade conferir essa diversão completa que vai garantir diversos estilos de sentimento, fazer com que você aplauda sem pensar e torça contra algumas coisas também.

O longa nos mostra que logo depois que a famosa “Falha de San Andreas” finalmente cede, provocando um terremoto de magnitude 9 na Califórnia, Ray, um piloto de helicóptero de resgate, e sua ex-esposa precisam percorrer todo o estado na esperança de resgatar sua filha. Mas a jornada traiçoeira rumo ao norte é apenas o começo e quando eles acham que o pior já tinha passado... está apenas começando.

Se existe um gênero que tudo pode ocorrer, e mesmo que você já esteja esperando algo, o diretor tenta surpreender e consegue é o de filmes-catástrofe, pois embora a falha de San Andreas exista mesmo, e todo o povo da Califórnia saiba que a qualquer momento pode não sobrar nada por lá, nos filmes vamos ver coisas completamente impossíveis de serem feitas, e dando um spoiler deixo como destaque a lancha "escalando" o tsunami. Mas como costumo falar, quando um longa não se faz questão de entregar algo como 100% crível, embora se baseie em algo possível com todo o roteiro passando pelas mãos de sismólogos conceituados e tudo mais, é válido a liberdade criativa para entregar um filme interessante, então o diretor Brad Peyton trabalhou literalmente como um maestro de orquestra, aonde a cada movimento das mãos entrava mais um instrumento, ou no caso do filme um elemento alegórico, para impactar mais ainda o público que vai empolgando cada vez mais para um fechamento até que simples, mas bem feito, aonde o resultado foi melhor do que o esperado. Como é um estilo que se gasta muito dinheiro, poucos diretores costumam arriscar suas fichas no gênero, mas embora tenha sentido muito frio em "O Dia Depois de Amanhã", acho que nenhum outro longa me empolgou tanto como esse, então dessa forma posso crer que valeu todo o esforço da direção para viajar entre cidades e países (o filme foi rodado parte na Austrália também) para entregar esse show de destruição para nós.

Sobre a atuação, já fui contra Dwayne "The Rock" Johnson em diversos filmes, mas aqui por incrível que pareça temos um dos seus melhores personagens e interpretações, pois Ray tem bem o biótipo do ator, e sua composição de personalidade encaixou bem, já que o desespero faz coisas, e dessa forma até seus momentos mais emotivos convencem, claro que a DR explicativa no avião é cena garantida de quem ver em casa passar acelerando, mas o restante foi bem feito pelo brucutu. Carla Gugino já foi sex-appeal de muitos longas, mas agora com o passar da idade começa a cair melhor nos papéis de mãe, e embora seja quase que terciária aqui, mesmo com função importante para algumas ligações familiares que a trama também desenvolve, ela conseguiu fazer de sua Emma uma mulher bem trabalhada e que funcionou bem nas cenas que aonde necessitou conversar com outros personagens, talvez o roteiro para ela precisaria ser mais pontuado, mas fez bem o que foi solicitado. Agora quem cresceu muito tanto no quesito beleza, como na forma de atuar é Alexandra Daddario, nem parece a insossa guerreira de "Percy Jackson", de modo que até dá para acreditar caso façam o terceiro filme da série, ela agradaria mais ainda, pois o que fez aqui com sua Blake foi algo para colocar ela como uma atriz dinâmica, com bons olhares de cena, interpretação na medida, e principalmente chamando muita atenção ao estar enquadrada, de forma que não decepcionou em nenhuma cena. Hugo Johnstone-Burt e Art Parkinson foram os responsáveis pelas cenas cômicas como os irmãos Ben e Ollie, e ambos deram garra e perspicácia para que o longa mesmo nos momentos mais tensos, sobrasse um respiro e até uma pitada romântica daquelas mais improváveis e forçadas de acontecer, ou seja, caíram bem nos papéis e agradaram. Paul Giamatti é daqueles atores que vai sempre fazer o personagem mais diferente possível e imaginário de qualquer filme que entrar, e o seu sismólogo Lawrence é bem interessante principalmente não por criar trejeitos próprios, mas por se apropriar de trejeitos do ator, e quando isso ocorre, mesmo que ele faça caras e bocas impactantes, vamos olhar e ver ele em cena, então ainda prefiro ele em comédias que ao menos isso acaba sendo a piada pronta, do que alguém preocupado em ajudar os outros. E para finalizar Ioan Gruffudd fez boas caras desesperadoras, mas o personagem Daniel que lhe foi entregue é o pior que se pode esperar da raça humana, então chega a ser difícil não torcer contra ele, e isso vai ser visto por 11 em cada 10 pessoas que forem assistir ao filme, portanto, como isso era a intenção do ator com toda certeza para o seu personagem, foi completamente satisfatório o que fez, mostrando que o ator possui personalidade.

No conceito visual, muito do que é visto é digital, afinal por uma cidade inteira abaixo com um terremoto, não é algo que nem o produtor mais maluco do mundo faria, então temos muitas maquetes, computadores e por aí funcionando, mas aí entra a grande sacada da direção filmar tudo isso usando já as câmeras de ponta com a tecnologia que desejava para o filme e principalmente pensando em tudo como iria ficar após trabalhado no computador, de modo que tudo parece muito crível se não soubéssemos que no cinema atual praticamente tudo é falso, ou seja, a ilusão funcionou muito bem e agrada bastante. Além disso nas cenas reais, internas a equipe de arte foi muito rica em elementos cênicos, dando ênfase em tudo que poderia agradar com detalhes para servirem para as cenas mesmo, marcando cada ato, como o macaco do carro, a bota do "vilão", a lanterna e por aí vai. E foram bem espertos na escolha do super tanque aquático da Austrália para fazer as cenas submersas desenvolvendo boa parte do cenário para ficar ainda mais real as cenas, ou seja, uma equipe completamente preocupada em funcionar perfeitamente cada ato, para que na pós-produção os efeitos somente entrassem encaixando e melhorando ainda mais cada cena. A fotografia trabalhou bem numa tonalidade mais próxima do vermelho bem reduzido para dar um ar mais apocalíptico e funcionou bem, pois não soou falso, já que há diversos focos de incêndio nos prédios após o terremoto e claro que o  marrom predomina já que a poeira sobe assim que tudo rui, e nas cenas aquáticas poderiam ter dado um tom mais sujo para a água já que na mistura com a sujeira teríamos algo mais turvo ainda do que foi apresentado, mas aí atrapalharia a visão da cena, então vamos continuar com a magia do cinema.

Sobre o 3D da trama, realmente não dá para comparar um longa filmado e pensado com a tecnologia com outro que é convertido, é praticamente um nocaute, e aqui temos a utilização para todo gosto, com profundidade de campo bem elaborada, cenas com ângulos pontuados para que o ambiente fosse valorizado e mostrado com show de clima, objetos voando e caindo em cima do público, a câmera balançando para todo lado na correria dando imersão cênica, ou seja, podem pagar pela sala que tiver a melhor tecnologia na sua cidade que vai valer o investimento despendido, pois os efeitos estão um luxo completo.

Aliado à tudo isso tivemos Andrew Lockington entregando uma trilha sensacional bem pontuada à cada cena, mantendo o ritmo da trama no nível máximo, de forma que nem vemos as duas horas de filme passar mesmo com o clima de tensão a mil por hora, ou seja, vai parecer que você nem verá a música sendo tocada a todo momento, mas ela está ali presente e funcionando bem. E para fechar com chave de ouro, os créditos sobem com a versão de California Dreamin' de Sia que já havia tocado no trailer e encaixou muito bem com a proposta do longa. Deixo aqui o link da trilha para quem desejar escutar.

Enfim, um filme que até possui defeitos, mas que a diversão e a tensão é tão bem feita que acabam minimizados, ou seja, quem gostar do estilo pode ir que é garantia de entretenimento puro, e quem não é tão fã talvez passe a gostar, pois foi tudo bem trabalhado para desenvolver a ideia, não ficando fadado somente à situação da destruição, mas no salvamento e das perspectivas emocionais de cada um dos estilos de seres humanos que existem por aí. Bem, falei até demais, mas aproveitei a empolgação do filme para dizer tudo bem minuciosamente e procurando não falar de muitos spoilers. Novamente agradeço ao pessoal do Shopping Iguatemi Ribeirão Preto pela parceria de junto com o Cinépolis proporcionar uma pré-estreia interessantíssima para os nossos convidados se divertirem. Fico por aqui agora, mas volto na Quinta com mais estreias que vieram para a cidade, então abraços e até breve.


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Poltergeist - O Fenômeno em 3D

5/24/2015 11:04:00 PM |

Existem três estilos de filme de terror, o psicológico que julgo ser o pior de todos que você sai tremendo de medo do cinema na sessão de meia noite correndo pra chegar no seu carro, e depois fica pensando no longa o resto da noite, aqueles sangrentos ao extremo, que chegam até a dar ânsia de vômito depois de tanta coisa morta passear pela tela, e existe um terceiro que é o terror de entretenimento, que temos diversos efeitos, histórias mirabolantes, e até conseguem passar algum susto, mas o principal é o contexto completo da trama aonde tudo é importante no filme. O novo filme "Poltergeist - O Fenômeno" faz parte desse terceiro estilo, enquanto o original de 1982 trabalha mais com o lance psicológico, embora também possua um pouco de entretenimento, não dá para comparar os filmes, pois assim como aconteceu com "Karate Kid", aqui tivemos mais o uso do nome para vender o filme, mesmo com os paranormais explicando o que é um poltergeist, do que dizer que é uma refilmagem ou continuação do original, já que aqui outras coisas acabam sendo importantes para a trama. Portanto, vou me abster de comparações e falar o que esse novo possui de bom e ruim já que vale mais a pena pontuar isso do que relembrar o passado, e quem focar somente nesse, esquecendo o antigo, é bem provável que se divirta muito mais e saia feliz com a tensão proposta pelo longa.

O longa nos apresenta a família Bowen, que acaba de se mudar para uma nova casa. O pai, a mãe e os três filhos parecem se adaptar bem ao novo lar, até começarem a perceber estranhas manifestações em casa, atingindo principalmente a filha pequena. Um dia, ela é sequestrada pelas forças malignas, fazendo com que os pais procurem ajuda em especialistas no assunto, para recuperar a criança antes que seja tarde demais.

O longa foi todo trabalhado na questão visual e com um roteiro interessante, claro que nada que você descubra sozinho, precisando os amigos falar o que era a casa da família, depois o paranormal explicar minuciosamente cada item e por sequência até a garotinha falar cada detalhe do outro mundo, ou seja, você não precisará pensar em nada para entender o filme, tudo é explicado nos mínimos detalhes. Porém se tirarmos esse exagero explicativo, o longa funciona muito bem com os efeitos e alguns momentos até sentimos um pequeno arrepio da forma que a tensão ocorre. Claro que como o longa não tem muito impacto de cenas horripilantes, a apelação de sustos vindos do nada ou com som alto é a forma de recursos que o diretor encontrou para retornar basicamente à seu primeiro filme, "A Casa Monstro" e dessa forma ele saiu-se até que bem, mas como prefiro dizer, veja o filme como um entretenimento aonde envolvemos cenas de suspense com situações de terror, pois dificilmente veremos alguém na sala pulando de susto a cada momento ou tremendo de medo com a situação.

Quanto das atuações, em alguns momentos até conseguimos entrar na mesma onda de medo dos protagonistas, mas alguns soaram tão corajosos com tudo que desaponta na forma de interagir normalmente frente a algo desconhecido, e isso costuma ser uma falha grave nos filmes de terror. Sam Rockwell até faz um pai desempregado interessante, e ao desenvolver sua personalidade consegue passar bem o estilo, mas seu momento mais comovente aonde quase chora ficou mais próximo do ridículo do que uma emoção verdadeira, precisa melhorar nesse estilo mais dramatizado. Rosarie DeWitt também conseguiu ser uma mãe bem tradicional que se desespera de forma íntegra frente ao sumiço de sua filha e até consegue comover, mas faltou um pouco mais de cenas para que ela desenvolvesse mais. Agora como o longa focou nas crianças, todos foram muito bem em cena, de modo que Kyle Catlett consegue já ser assustador mesmo sem fazer nada, e olha que os efeitos nem vão tanto pra cima dele, mas olha, esse garotinho vai cair bem em qualquer longa de terror que quiserem por ele, podem anotar. E a garotinha Kennedi Clements até nos envolve bem com sua fofura, mas por ser muito nova, aparentemente não entendeu ou não foi explicado bem para ela como deveria interpretar em algumas cenas, e embora tenha feito bem, é notável falhas interpretativas. Jared Harris mereceria um longa só dele de caça aos fantasmas, no estilo mais cômico mesmo, pois sua expressividade como um paranormal até fica bacana de ver, mas seu jeitão é engraçado demais para acreditarmos nele. Os demais paranormais também ficaram dentro do normal esperado pelo estilo, mas poderiam ter trabalhado um pouco mais, de modo que Susan Heyward foi literalmente um enfeite de cena.

Falando em enfeites de cena, o visual da casa foi bem montado pela equipe artística, com muitos elementos para voar, luzes e efeitos digitais bem pensados para funcionar com a tecnologia 3D e claro coisas sinistras espalhadas pela casa para dar aquele medinho tradicional do gênero. Acreditava que os palhaços seriam mais bem usados, mas foram assustadores somente em duas cenas e depois praticamente evaporaram do longa, o que é uma pena, pois o elemento palhaço funciona bem em longas de terror. A fotografia também poderia ser mais escura para pegar o público desprevenido, mas isso é uma opção que ou funciona ou atrapalha, então como o longa foi filmado utilizando a tecnologia em 3D ao invés de ser convertido na edição, a opção de mais luz provavelmente foi devido à isso. Falando nos efeitos e no 3D, podemos dizer que tivemos coisas bem interessantes saindo da tela, uma boa projeção de efeitos digirais e uma profundidade até que relevante. Claro que o efeito não foi tão forte de perspectiva na maioria das cenas, mas na cena que vão para o outro lado, a imersão da câmera relembrou bons jogos de videogame que mesclam mortos com zumbis, e isso ficou bem bacana de ver com a tecnologia.

Enfim, é um filme bem feito que quem gosta de efeitos bem utilizados em um longa com uma certa dose de tensão vai curtir. Como disse no começo, procurem ver ele como um entretenimento já que não será muito assustador a maioria das cenas, e se assistido dessa forma é provável que você saia contente da sessão. Portanto recomendo ele dessa forma, o 3D está funcional, nada que você se surpreenda, mas funciona e agrada em alguns momentos. Bem é isso pessoal, encerro aqui minha semana cinematográfica, mas volto em breve assim que surgir algum novo filme, então abraços e até breve.

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A Incrível História de Adaline (The Age Of Adaline)

5/24/2015 03:24:00 PM |

Costumo dizer que quando querem explicar demais uma ficção para tentar deixar ela próxima de algo real, ou o filme fica genial e saímos perguntando se realmente aquilo é possível, ou a ficção acaba soando falsa e acaba estragando toda a magia que o longa poderia ter. Digo isso, pois necessitaram tanta narração para "A Incrível História de Adaline" funcionar que o brilho romântico da história e até mesmo o seu "dom" conquistado acabou ficando em segundo plano diante à tentativa de conectar o longa com coisas de astrologia. Claro que posso estar até sendo meio rude com o filme por ter criado expectativas demais após assistir ao trailer e ter gostado muito do que vi, mas talvez uma história menos contada e mais desenvolvida, mesmo que não fosse algo tão surpreendente, acredito que agradaria bem mais. Não estou dizendo em hipótese alguma que é um filme ruim, muito pelo contrário, consegue comover, tem bons momentos, boas interpretações, e tudo mais, porém na metade do longa você já está cansado da voz de Hugh Ross, e ele vai conosco até os créditos subirem, então relaxem para as explicações de tudo que talvez acabem curtindo até mais do que é mostrado.

O longa nos mostra que Adaline Bowman nasceu na virada do século XX. Ela tinha uma vida normal até sofrer um grave acidente de carro. Desde então, ela, milagrosamente, não consegue mais envelhecer, se tornando um ser imortal com a aparência de 29 anos. Ela vive uma existência solitária, nunca se permitindo criar laços com ninguém, para não ter seu segredo revelado. Mas ela conhece o jovem filantropo, Ellis Jones, um homem por quem pode valer a pena arriscar sua imortalidade.

A direção jovem de Lee Toland Krieger foi trabalhada em cima do roteiro de uma maneira meio indisciplinada, pois seria possível desenvolver a história sem a necessidade de tanta narração, e diretores que optam por esse estilo geralmente são os que possuem medo de o espectador não entender a história ou ficar perdido quando a história que vai contar é um pouco confusa, mas aqui embora não seja uma história tão comum, o público captaria bem a ideologia e até conseguiria ver todo o sofrimento de vida da protagonista passando mesmo que fosse através de flashes rápidos para chegarmos no ano atual, e garanto que teríamos algo mais romantizado e menos técnico do que acabou ficando. Claro que isso é uma opinião pessoal de alguém que não gosta de narrações explicativas em filmes, mesmo que isso seja imprescindível para o entendimento da trama, mas tem pessoas que curtem. Porém tirando esse detalhe, o diretor foi sagaz em trabalhar com ângulos mais abertos para valorizar a cenografia e com isso certamente deu um bom trabalho para a equipe de arte, mas ao menos encheu nossos olhos com pontuações de época, e o melhor, sem precisar envelhecer ou modificar a protagonista, o que ficou ainda mais gostoso de ver.

Falando nos protagonistas, não lembrava muito de Blake Lively, pois seu último filme foi "Selvagens" e lá já havia falado que ela era uma atriz bem dotada de interpretações e de um corpo esplêndido, mas aqui ela como a protagonista Adaline/Jenny soube dominar toda a situação, colocar olhares bem fortes e principalmente se entregar para o papel, que era o que o diretor mais necessitava, então repito, ela daria conta do recado de passar toda a história sem o narrador, mas como desejavam para protagonizar outras duas atrizes que rejeitaram o papel, acredito que ficaram preocupados com isso, e acabaram estragando o que poderia ser melhor. Michiel Huismain entrega um Ellis bem interessante que ao melhor estilo de milionário desejável pelas mulheres ainda deram bons diálogos para ele, então o ator que não é bobo, soube aproveitar bem seu primeiro filme americano para despontar e ganhar com certeza diversos outros papéis com os olhares precisos e interpretação bem colocada sempre. Confesso que ao ver nos créditos o nome Harrison Ford como William tomei um grande choque, pois está tão velho e com uma interpretação tão introspectiva que nem parece o velho Indiana Jones, mas ficou literalmente maluco com a situação e agradou com um estilo carinhoso. Ellen Burstyn novamente faz uma filha com pais mais novos, pois já havia feito isso em "Interestelar", mas aqui como seu papel foi um pouco mais longo, mesmo que aparecendo em momentos espaçados, trabalhou bem a interpretação e também recebeu diálogos fortes para comover e sair-se bem.

Visualmente o longa nos entrega alguns poucos cenários de época, mas todos bem caracterizados e como a protagonista só tem um corpinho de 29, mas é altamente experiente, sua casa também possui marcas temporais nos elementos cênicos, o que agrada bastante, e no conceito visual é onde aparecem mais os erros técnicos do filme, pois necessitaram de focar em diversos momentos as coisas para tentar ligar passado e presente, que as vezes até soam falsas demais, por exemplo o momento do corte da mão foi quase uma piada cênica, mas felizmente não chegou a atrapalhar o resultado gostoso do filme. A fotografia trabalhou bem ao usar o recurso de luzes artificiais presentes da cenografia, pois como o filme acontece mais dentro dos ambientes, usaram e abusaram de abajures, lustres e afins para dar charme e um tom bonito e clássico para a trama, alguns ângulos inusitados da direção forçaram a equipe a inventar luzes aonde não deveria existir, mas o acerto técnico nesse quesito foi tanto dando uma beleza tão agradável que não pesou tanto.

Enfim, um filme bem interessante que poderia ser melhor, mas ainda assim consegue ser bonito e gostoso de acompanhar. Quem curte um bom romance ficcional vale a pena conferir, só faço a recomendação de tentar não ficar seguindo a história das estrelas que o narrador tenta lhe impor, que talvez agrade mais ainda o filme, mas mesmo quem ligar os pontinhos vai gostar, então recomendo o filme com certeza. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas ainda falta conferir uma estreia que veio para o interior, então abraços e até breve.


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Boyhood - Da Infância à Juventude

5/23/2015 03:12:00 AM |

Contar a história da vida de alguém já foi tema de diversos filmes, alguns abordando problemas da infância, outros da adolescência, outros da juventude, muitos da vida adulta, e alguns com passagem pela velhice, mas quando um longa usa crianças fica um pouco complicado mostrar essas metamorfoses que o corpo e a mentalidade sofrem nas diversas fases, então o que fazer, a solução da maioria dos diretores é arrumar crianças de diversas fases parecidas, mas Richard Linklater não, ele é um maluco que quis fazer seu "Boyhood - da Infância à Juventude" contando 12 anos da vida de um garoto filmando ele, e os demais atores por reais 12 anos, gravando uma semana por ano, e montando o roteiro conforme ia acontecendo os fatos, claro já com uma base sólida do que desejava, mas o grande mote foi rolando ano a ano, e aí é que está o maior problema do filme, pois 1 semana de gravação, com teoricamente tudo que ocorreria naquele ano da vida da família não tem como ser desenvolvido, e a falta de um clímax geral aliado à conflitos e problemas na vida de uma pessoa (não me venha falar que os padrastos bêbados são conflitos) não acabam gerando um longa com precisão, fica morno demais, e assim o resultado até é um bom filme, mas que acabou sendo mais cheio de comentários pela loucura de se filmar as mesmas pessoas por tanto tempo do que uma história que comovesse, agitasse ou questionasse o público em si.

No longa acompanhamos 12 anos na vida de Mason Jr., ou MJ, entre os 5 e os 18 anos, da infância até o fim da adolescência, vivendo em Austin, capital do Texas, com sua irmã e os pais divorciados. Mason, o pai, parece mais infantil que o próprio menino, muitas vezes sumindo por meses com a justificativa de estar tentando deslanchar sua carreira musical; enquanto Olivia, a mãe, luta para terminar seus estudos e vive se apaixonando pelos homens errados.

Uma coisa que temos de falar com muita certeza é que o diretor Richard Linklater foi salvo pela genética das crianças que durante todos os anos mudaram muito visualmente, mas se tornaram adultos bonitos e todos deram interpretações satisfatórias para chamar atenção durante todos os seus momentos. E embora o roteiro tenha sido bem feito, a falta de conflito que na vida comum até funciona de uma pessoa que tem tudo acontecendo bonitinho, sofre uma ou outra discussão, bate em alguém, todos quebram um braço, batem um carro, brigam feio, e por aí vai, de modo que a temperatura do longa ficou sempre no mesma, e sempre que víamos algum problema que certamente geraria algum conflito ou choque no longa, que todos na plateia já ficavam aflitos para o que aconteceria, lá vinha o diretor na edição e já mudava de ano sem impactar em nada na trama. A edição funcionou muito bem para não ficar estranho as mudanças de ano, mas algumas são assustadoras e descompassam o longa, aparentando até de certa forma um erro de continuísmo. E mesmo com ângulos inusitados, a falta de diálogos mais incisivos e questionadores, que costumam ser um dos pontos fortes do diretor em seus trabalhos, o resultado final acaba sendo bacana, mas longe que faltou detalhes para se tornar uma trama realmente.

É interessante ver que mesmo o elenco adulto não mudando tanto visualmente, as mudanças temporais funcionaram bem e a maturidade que impregnaram para seus personagens deu um charme a mais na trama. Patricia Arquette foi bem na trama, mas muito longe de ser a ganhadora do Oscar, pois fez o tradicional, colocando expressão forte e trabalhando as entonações clássicas dentro do que a personagem pedia, mas poderia ter em algumas cenas emocionado mais e ter trabalhado os olhares também. claro que ela já merecia a premiação por outros papéis que fez, mas aqui foi algo simples e tradicional. Ethan Hawke caiu bem para o papel de um pai que vive viajando longe da família e que quando encontra com os filhos faz tudo o que não pode com a mãe, mas seu crescimento profissional nesses 12 anos também foi algo interessante e que acabou sendo mostrado na trama, poderia ter feito alguns olhares mais encaixados, mas saiu bem no geral. Podemos dizer que o jovem Ellar Coltrane foi melhorando sua atuação durante os anos e seu Mason passou a ter vida juntamente com seu crescimento e claro que acabou aprendendo muito durante os anos, mas o diretor poderia durante alguns anos ter dado mais técnica aos olhares do jovem para que passasse um pouco mais de sentimento. A filha do diretor, Lorelei Linklater já foi exatamente pelo lado inverso e acabou a produção de uma maneira tão tímida que nem parecia ser mais a garotinha viva e falante do início da trama, mas acabou saindo bem com tudo que fez, e deve em breve aparecer em mais produções com o pai famoso que tem. Dos demais como acabam participando da vida da família acabam fazendo apenas bons papéis, mas nada que chegue a chamar atenção, claro que os momentos de bebedeira de Steven Chester Prince e Marco Perella dão o que falar, mas como não tiveram muitas oportunidades para se destacar acabaram ficando apenas com a fama de rude e nada mais. Outro ponto legal de ver foi na cena da festa de formatura como algumas pessoas ficaram após vários anos, pois alguns atores engordaram, outros mudaram tons de pele e isso é bacana de ver nessas reuniões de amigos do passado.

A cenografia foi bem trabalhada, e com toda certeza matou a equipe artística para cada ano não cometer gafes de continuidade e ainda assim ter processo criativo para trabalhar com diversos elementos cênicos para representar as idades de cada personagem, e em 12 anos, claro que muitas tendências visuais mudaram, os diretores passaram a gostar mais de cada cor, e ficou bem bacana de ver elementos que costumaram marcar as épocas ficando em evidência, isso com certeza foi um ponto bem positivo de ver. A fotografia do longa ficou muito bonita, e junto com a cenografia, acabaram escolhendo locações bem pontuadas para chamar a atenção e isso já é um costume que o diretor abusa nos seus outros longas, aonde temos sempre uma boa valorização da natureza ao redor, procurando usar ao máximo a iluminação natural para dar as nuances de sombra e contraluz, algo que é bem bonito de ver mesmo.

No quesito sonoro, poderiam ter abusado mais das canções de cada época, que mesmo tendo uma pitada aqui outra ali, acabaria dando uma vertente inteligente e agradável, mas as canções usadas corresponderam bem, e auxiliaram o longa que tem quase 3 horas a passar de maneira bem tranquila sem cansar o espectador.

Enfim, é um longa tecnicamente muito bem produzido e que foi concebido literalmente como uma loucura, pois o diretor arriscou muito de suas fichas ao trabalhar secretamente com essa quantidade imensa de atores, e principalmente por ter crianças envolvidas, jamais se saberia como estariam em 12 anos, se gostariam de continuar sendo atores e por aí vai, mas o resultado agrada bem e se não fosse a falta de virar realmente uma história com problemas e uma vida mesmo contada, era garantido que todos adorariam e ganharia todos os prêmios a que foi indicado, mas do jeito que ficou deu apenas melhor atriz coadjuvante e com muito pesar ainda. Estou falando claro do Oscar, mas o longa foi feliz em diversas outras premiações e assim com certeza a equipe ficou feliz com o final. Bem é isso pessoal, encerro aqui minha participação no Festival Sesc Melhores Filmes, já que os outros que irão passar no Sábado e Domingo já conferi quando estreou, mas garanto que são bons filmes e valem a pena assistir, então compareçam, mas volto com a minha opinião das demais estreias que vieram para o interior, então abraços e até breve.


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Sorria Você Está Sendo Filmado - O Filme

5/22/2015 09:28:00 PM |

Fazer cinema é algo caro, isso é um fato que não temos como questionar, mas daí vir a querer fazer um estilo de peça cenográfica com 1 cenário, 1 câmera parada durante todo o filme é diversos atores-produtores que saem fazendo qualquer miquice para tentar criar uma história é apelar para não chegar a nada. E dito isso, minha única vontade é encerrar meu texto de "Sorria, Você Está Sendo Filmado" aqui mesmo falando que o longa é algo que nem que a pessoa tivesse matado um familiar meu eu recomendaria para ela assistir essa tortura de quase 80 minutos, mas vou fazer um esforço e pontuar alguns pontos críticos de tudo para enumerar a falta de problemas, de texto, de história, de tudo.

O filme nos apresenta o roteirista Mathias que trabalha na Globo e vive um inferno pessoal. Num momento de desespero ele se suicida, em frente à webcam do computador. Ao poucos o aparamento dele é tomado por várias pessoas como o porteiro Geneton, a faxineira Neide e o síndico Valdir e sua mulher, Vera. Quando percebem que estão sendo gravadas pela mesma câmera do computador passam a se preocupar com as suas atitudes no lugar e agindo sem naturalidade.

O diretor Daniel Filho não é um qualquer que costumam rasgar dinheiro, mas ainda estou confuso com o que ele queria atingir ao fazer um texto ruim com interpretações caricatas, e principalmente a total falta de direção mesmo que a trama acaba desenvolvendo, de modo que os atores foram soltos praticamente para fazer o que desejar em cena contando apenas com sua base de perfil, mas sem um rumo que fizesse uma história acontecer, e assim senso o resultado é uma lambança tão grande que o público que estava na sala aguardou até o último crédito para ver se não aparecia o Sérgio Malandro para falar que foi uma pegadinha ou algo do tipo, pois como não teve uma equipe tão grande para fazer essa caca toda, os créditos foram rápidos e a decepção de sair da sala foi iminente na cara de todos.

Das atuações talvez dê para aproveitar alguns momentos de desespero de Lázaro Ramos como um porteiro invejoso que quer aparecer e mostrar serviço, sua esposa a faxineira interpretada por Roberta Rodrigues, e Suzana Vieira como um atriz de papéis ruins que só faz figuração nas novelas mesmo sendo importante, mas o restante beira o ridículo ao tentar fazer seus papéis fracos e sem rumo, destaque nesse caso para os dois minutos da médica Debora Secco.

Visualmente como o diretor quis um longa sem custos, a utilização de um único cenário, mas com a câmera bem posicionada de modo a pegar a maior quantidade de elementos do apartamento do morto, menos o morto, afinal ninguém merece passar um longa inteiro deitado no chão e embora pareça ter sido filmado em plano sequência temos pontos de corte que deve ter demorado ao menos 1 dia para filmar tudo. Mas com um apartamento bem decorado, e com mais coisas entrando em cena, ao menos no conceito visual o filme funcionou aliado a um bom trabalho de construção, e a ideia toda foi passada. Quanto do trabalho da fotografia, podemos dizer que não foi algo que tenha sido feito, pois a câmera não saiu do lugar, a iluminação também não foi afetada, somente algumas aberturas e fechamentos de janela, que devem ter sido utilizadas para trabalhar as mudanças de horários de gravação, portanto não dá para falar que foi um trabalho brilhante nem que tenha sido feito realmente.

Enfim, é um longa que não dá para recomendar para ninguém de forma alguma, lembrando um pouco o antigo "Sai de baixo", com personagens aparecendo, se apresentando, fazendo alguma coisa inútil, porém sem graça alguma, e em um longa classificado como comédia, isso é o maior crime. Fico por aqui agora, mas hoje ainda confiro outro longa que não veio para o interior na estreia, mas agora com o Festival Melhores Filmes poderemos conferir. Então abraços e até breve.

PS: a nota vai pela cenografia e só, pois do restante valeria nem dizer nada, e mesmo Daniel Filho sendo um dos melhores diretores de comédia do Brasil, dessa vez ele sem dinheiro resolveu bagunçar com um estilo diferenciado, que é até muito interessante, o lance de 1 câmera só parada, parecendo plano sequência, mas acabou dando tudo errado.


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Mommy

5/22/2015 03:00:00 AM |

Ser mãe! Taí algo que muitas mulheres desejam, e que na sua maioria já nascem ou acabam criando um dom para conviver e amar o ser que sai de seu ventre! Mas como dito no filme "Mommy", uma mãe jamais deixa de amar seu filho, mesmo com muitos problemas ou cagadas que ele faça na sua vida! Isso é lindo de ouvir, e principalmente de ver com a inflexão fortíssima que o diretor e roteirista Xavier Dolan nos entrega nessa obra de arte completamente irreverente e bem feita. Muitos dizem que o cinema nacional é cheio de palavrões nos filmes, olha acho difícil esse canadense aqui perder para a maioria dos nossos filmes nesse quesito, mas aqui por uma boa causa, todos funcionam como liberdade poética e principalmente com o choque que o diretor entrega para o problemático jovem com TDAH, ou como muitos conhecem hiperatividade, que no caso aqui ainda é acrescida de violência. O filme todo pode até não passar a mesma mensagem para todos os espectadores, mas é inegável que o candidato ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro por parte do Canadá, que venceu Cannes e diversas outras premiações, consegue ser um show de atuações aonde os diálogos e interpretações são cravados no peito sem dó, e com muita certeza os atores foram fortes na maioria das cenas.

O longa nos mostra que Diane é uma mulher viúva que vive constantemente mal humorada. Mãe solteira, ela se vê sobrecarregada com a guarda em tempo integral de Steve, seu filho de 15 anos, que sofre de déficit de atenção, e que acaba de ser expulso do reformatório onde vivia por botar fogo na cafeteria do local. Enquanto eles tentam sobreviver e lutar em meio a essa situação imprevisível, Kyla, uma garota que mora do outro lado da rua, se oferece para ajudar. Juntos, os três encontram um novo equilíbrio e a esperança volta a aparecer.

Se existe um estilo de filme bom é aquele que os diálogos encaixam bem com os atores, pois ter uma boa história é função quase que obrigatória de todo filme que se preze estrear para alguém ver, mas quando existe o casamento diálogo perfeito com atores dispostos a atacar nas interpretações, o sucesso é apenas questão de tempo, e disso o diretor e roteirista canadense Xavier Dolan, que é quase um bebê com apenas 26 anos, vem provando o sabor já tem algum tempo, pois desde o seu filme de estreia "Eu Matei a Minha Mãe", ele já vem colecionando prêmios e elogios em cima de elogios tanto da crítica quanto dos espectadores (que claro vale muito mais). E isso se deve principalmente por trabalhar com temas mais vivos na cabeça das pessoas e não viajar tanto nas ideologias poéticas, embora seu filme aqui tenha toda uma liberdade ficcional e que ao ser desenvolvida acaba até de certa forma chocando muitas pessoas, mas essa irrealidade é o charme para que o problema duríssimo que é apresentado nos envolva e ao mesmo tempo de forma simples, sem que tenhamos de refletir sobre mil coisas a fundo, comover e fazer pensarmos nas nossas mães, no nosso convívio e em diversas outras coisas simples que raramente arrumamos tempo para pensar, e valem muito ser discutidas. Portanto o acerto do diretor vai muito além do simples feitio do longa, que é perfeito, mas para um mar de reflexões que através de algo belo e bem feito acaba trazendo à tona uma sintaxe interessante de acompanhar.

Agora se temos de fazer uma coisa primeiramente antes de refletir sobre tudo que o filme fala é aplaudir incansavelmente o trio de protagonistas, pois a entrega deles aos personagens é tão perfeita que não parece que estamos diante de um filme, mas sim de uma peça aonde todos se encaixam e saboreiam os diálogos de seu par de cena, para em seguida revidar com o mesmo afinco, ou seja, um luxo que poucos longas nos permitem essa visão. Para iniciar temos de falar da mãe Anne Dorval que nos entrega uma Diane magnífica, cheia de temperamentos, expressões e tudo sem soar artificial em momento algum, só a conhecia dos outros filmes do diretor, mas não lembrava de sua potência e me deu até vontade de rever os outros dois para ver se aqui foi seu ápice ou se já vem numa crescente faz tempo, claro que aqui seu papel foi primoroso, mas ainda torço para um estouro seu no mundo mais comercial americano, pois ela merece. Agora uma confissão, quando vi o trailer do filme há muito tempo, e praticamente na mesma época apareceram algumas fotos estranhas de Macaulay Culkin, eu jurava que o protagonista do longa era ele, principalmente pela loucura, mas não temos aqui o brilhante Antoine-Olivier Pilon que transpirou uma loucura comportamental para seu Steve muito além do que sequer o diretor esperava, e com expressões leves, em diversas cenas (principalmente nos seus momentos de calma) parece flutuar diante da câmera com um respiro quase que ele mesmo necessitava para suas cenas subsequentes, ou seja, perfeito demais e espero também vê-lo despontar em longas que abra sua vitrine. O outro pilar da trama que chegou até ser espantoso a forma de gaguejar e todos seus trejeitos foi Suzanne Clément com sua Kyla, que de certa maneira aparentava inicialmente ser uma personagem simples, mas com o andamento da trama vai nos entregando uma complexidade tão envolvente que não beira a perfeição, mas passa fácil logo na sua cena mais forte com o protagonista. Dos demais, a maioria funciona quase que como figuração, despontando alguns em poucos momentos que entram em diálogos com o trio principal, mas sempre ficando bem em segundo plano, salvo Patrick Huard que deu uma boa expressividade para o seu Paul na cena que tudo parecia tomar um dos rumos mais desastrosos do cinema mundial, mas acabou melhor do que a encomenda.

Visualmente o longa também trabalha muito com a cenografia, e embora não tenha muitos elementos cênicos sendo trabalhados, já que o foco do filme está na interpretação dos atores, alguns detalhes ficaram bem pontuados como o colar da protagonista, que foi usado como motivo da primeira discussão, o skate passa a ter uma certa simbologia de liberdade e até mesmo os objetos velhos das casas funcionaram como meios de representação do modo de viver das duas protagonistas, e isso é bacana de observar, pois quando um filme foca tanto nos atores, costumam falhar no conceito visual, já que muitos acabam nem reparando no contexto por trás de tudo, mas quando a equipe artística trabalha bem, o funcionamento de tudo cai bem. Apenas para pontuar uma curiosidade, o diretor também foi o figurinista do filme, ou seja, escolheu e montou com sua equipe como desejava a caracterização dos personagens também além do seu roteiro, pois geralmente outras pessoas pegam, leem o que está escrito e criam, mas aqui Dolan quis fazer pessoalmente. Em uma semana ver dois filmes com janela quadrada é algo que acho que nunca tinha me acontecido, mas diferente do que ocorreu em "O Homem das Multidões", aqui temos cenas onde o sufoco cênico causado pela tela menor é aberto para wide com função dramática de representação de liberdade, respiro, e isso é algo lindo que foi trabalhado tanto pela equipe de fotografia quanto o pessoal da edição, e aliado aos bons contraluzes, que inclusive é citado num momento de foto dentro do filme, o resultado de um cenário belíssimo do Canadá fica ainda mais evidente, ou seja, pontuação perfeita também nesse quesito.

E algo que não poderia deixar de falar de maneira alguma é da trilha sonora com clássicos e músicas tão bem encaixadas com os momentos do filme, ditando ritmo, funcionando como elemento cênico e tudo tão bem feito que seria daquelas trilhas que conseguimos ouvir incansavelmente por muito tempo, e o melhor, remetendo cada canção específica que não foram feitas para esse longa, mas encaixando em nossa mente exatamente tudo o que ocorria quando ouvirmos a música novamente, ou seja, um luxo muito bem feito e bem pensado. E claro que antes que me perguntem aqui segue um link com todas as canções tocadas.

Enfim, um filme perfeito que agrada demais principalmente pelo trabalho do elenco, mas que possui todo um conteúdo técnico que citei nos parágrafos acima que resultam em algo muito além do esperado, ou seja, um longa forte, bem feito e que vale demais o ingresso. Infelizmente o filme veio apenas para o Festival Sesc Melhores Filmes, então quem quiser terá de locar nos outros meios para assistir, mas fica a dica para a distribuidora que não acreditou no potencial do interior ao não mandar o filme no lançamento em Dezembro do ano passado, hoje a sala estava praticamente lotada de pessoas que não haviam visto o filme e queriam muito ver, outros saíram perguntando se não haveria mesmo outra sessão e por aí vai com o boca a boca certamente daria um bom público na cidade, mas fazer o que não é mesmo. Bem é isso então, recomendo demais o filme para todos ver a beleza da trama e ainda refletir sobre tudo o que é mostrado, amanhã volto com mais um filme que não veio para o interior na data de estreia e veio agora para o Festival e já aproveito para conferir também uma das estreias da semana, então abraços e até breve pessoal.


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Riocorrente

5/21/2015 09:15:00 PM |

Olha... Cada vez que lembro da frase que com uma ideia na cabeça e uma câmera na mão se faz um filme, e na sequência vejo um filme experimental do estilo que foi apresentado em "Riocorrente", na sequência fico me perguntando o motivo de uma pessoa desejar queimar dinheiro fazendo tais coisas. Não digo que o longa não entregue diversos pontos de vista e até algumas ideias inteligentes, mas o não desenvolver, o não trabalhar a ideologia, e o ser diferenciado ao ponto de apenas brincar com a expansão da mente do espectador acaba irritando e cansando de tal forma que fico mais e mais chateado de outros bons diretores não conseguir filmar seus projetos coerentes. Ou seja, 72 minutos perdidos é o que posso resumir do filme.

A sinopse do longa nos diz que: São Paulo é um barril de pólvora prestes a explodir. Em meio ao turbilhão da cidade, Marcelo, um jornalista, Carlos, um ex-ladrão de automóveis, e Renata, uma mulher misteriosa, vivem um intenso triângulo amoroso. Carlos tenta cuidar do menino Exu, mas ele passa o dia inteiro pelas ruas da cidade. O choque entre seus desejos e o atrito entre as faces opostas da cidade apontam a urgência de mudanças radicais.

Não podemos dizer em momento algum que o diretor e roteirista Paulo Sacramento não foi feliz no que tentou fazer, muito pelo contrário, seus planos foram bem encaixados, sua ideia foi transposta do papel para a tela, a computação gráfica ficou interessante, mas cadê o sentido de tudo se conectar? Cadê o mote para que as pessoas se envolvam sem ser apenas uma tela pintada aonde o artista apenas joga a tinta expressando seus sentimentos, mas que alguns vão aplaudir dizendo lindo sem ao menos ver nada ali? Esse é o sentimento da maioria ao sair da sessão: a sensação de que saiu de uma daquelas mostras aonde temos diversos ferros retorcidos que nada dizem, mas que os críticos julgaram ser a nova maravilha do mundo moderno e pra você é apenas um monte de nada. Posso estar até sendo cruel demais com o que vi, mas o diretor poderia ter feito um longa interessantíssimo e saiu com algo mediano pra baixo apenas bem produzido.

Quanto da atuação, já estou me acostumando que entregam sempre papéis estranhos para Lee Taylor, que possui sempre uma expressão fechada e pronta para refletir diversas dúvidas existenciais em quem for procurar algo de seus personagens, e dessa maneira o seu Carlos fica até interessante de analisar e acompanhar, mas como é dito no longa, seu pensamento expande tanto quanto uma dinamite e a explosão de ideias e expressões acabam figurando demais e dizendo de menos. Simone Illiescu nos entrega uma Renata tão problemática quanto ninfomaníaca, e ao final do longa não conseguimos determinar se ela quer um recomeço para sua personagem ou é apenas uma maluca que quer aproveitar a vida conhecendo o novo e dando todos os dias, e isso ficou raso demais para a boa atriz que é, pois nos momentos que precisou dialogar demonstrou que teria potencial para desenvolver um história até que interessante. Roberto Audio coloca o seu Marcelo como o personagem inteligente, culto, mas que está preso ao modo velho e careta de ser, e isso para uma cidade como São Paulo é intolerável segundo o texto, e com expressões até estranhas demais, ficamos sem muita empolgação com o que ele nos entrega, de forma que não pareceu ser importante nem bem usado na trama. Vinicius dos Anjos fez de seu Exu algo tão incisivo que se o garoto não era um meliante de rua antes de se tornar ator, e não digo isso como algo preconceituoso, podemos dar a ele facilmente um bom prêmio de interpretação, pois ficou perfeito tudo que fez, desde olhares até trejeitos e isso para uma criança é algo duro de fazer.

A cenografia foi bem desenvolvida par dar o determinismo de cada personagem, colocando até moldes tradicionais demais para um filme experimental,  mas nesse quesito o que posso dizer é que a equipe foi minuciosa em detalhes cênicos para que tudo estivesse representado e até sobrasse para subjetivar as ideologias propostas pela direção, então o acerto até que foi coerente, porém, como disse desperdiçado, já que o longa não foi desenvolvido como deveria ser, e assim temos um visual legal, efeitos interessantes e bem feitos, mas que apenas estiveram na tela, já que a proposta era apenas de causar. A fotografia da trama trabalhou bem com iluminações difusas para dar contraste, e em momento algum emaecendo as cores, procurando sempre o tom mais forte para impactar e ajudar o diretor a expressar seus instintos, de modo que temos até o estilo da trama marcado como algo bem puxado para o hardcore.

Enfim, garanto que vai existir quem goste desse estilo, afinal o longa foi classificado para estar num Festival que é denominado Melhores Filmes,  mas confesso que não vai agradar nem um pouco quem pensar como eu, que a arte abstrata é feita apenas para o próprio umbigo do diretor, e assim, o resultado acaba sendo mais vago do que chocante ou intrigante, ou seja, em uma cidade que tudo é tão corrido como é São Paulo, economize seu tempo e gaste os 72 minutos de duração do longa com qualquer outra coisa mais produtiva.


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Uma Vida Comum (Still Life)

5/21/2015 01:33:00 AM |

É difícil descrever o sentimento de perda de um ente da família, mas e quando essa pessoa vive sozinha e não tem nada, ou praticamente nada que identifique algum familiar ou amigo, ou alguém mais próximo do morto, por exemplo vamos dizer que você se mude para um país para algum estilo de curso, mas saia brigado com as pessoas daqui, de forma que ninguém mais daqui entrasse em contato com você, e lá você morra dormindo e só descubram seu cadáver depois de alguns dias! Assustador não é mesmo! Pois bem, em alguns países existem pessoas, ou até mesmo órgãos governamentais que saem à caça de pessoas próximas, seja para pagar as custas do enterro, ou como no caso do longa "Uma Vida Comum", atrás de alguém que gostasse dessa pessoa para dar apenas um último adeus para o morto. São raros os longas que tratam dessa temática, aliás eu não lembro de nenhum outro assim, e a beleza do roteiro e da condução da direção é tão envolvente e cheia de nuances bem colocadas, que já tínhamos um filme sensacional até os primeiros 90 minutos de duração, mas os 6 que finalizam de uma forma completamente inesperada e o último minuto do longa foram para colocar ele num seleto lugar de perfeição emotiva.

A história nos mostra que obcecado por organização e meticuloso ao extremo, John May é um inventariante encarregado de encontrar o parente mais próximo de pessoas que morreram sozinhas. Sua vida é seu trabalho, e ele dedica mais esforços do que o necessário para descobrir sobre a vida de seus clientes e dar-lhes um bom funeral. Porém, sua rotina muda quando descobre que perderá o emprego. Ele pede um tempo a seu chefe para resolver o último caso em que trabalhava, o de Billy Stoker. Essa última investigação o leva a uma viagem libertadora que lhe permite finalmente começar a viver a sua vida.

O que o diretor e roteirista italiano Uberto Pasolini faz com seu filme é algo inexplicável, pois tudo anda de uma maneira bem comum durante o filme todo, assim como no título nacional e até fica bem interessante a insistência e persistência do protagonista em querer que seu último trabalho seja feito de maneira exemplar, já que a maioria de todos os seus defuntos foram enterrados somente com ele no funeral. E contando com um estilo investigativo bem moldado, o filme desenrola, com situações engraçadas, outras mais tensas, mas sem muito o que fugir da dinâmica, porém diferente do que costuma ocorrer na maioria dos longas de entregar um clímax no miolo da trama para depois desenvolvê-lo, o diretor opta por fechar o filme com o clímax, o que para o estilo de longa que estávamos saboreando, é algo completamente inusitado, com certeza em outros gêneros isso funcionaria até de forma melhor, mas num drama com pitadas cômicas, essa irreverência poderia fazer de seu longa uma bomba desastrosa, mas felizmente foi um dos acertos mais corretos que acho ter visto numa produção europeia, e assim posso garantir com certeza que quero ver mais obras desse diretor, que por enquanto só tem outro longa além desse.

Sobre a atuação podemos dizer com 100% de certeza que o filme é de Eddie Marsan, pois ele deu uma interpretação completamente própria para John May, trabalhando suas emoções, olhares e até a personificação metódica da vida do personagem só conseguimos enxergar ele, muito disso se deve a uma boa direção de atores, mas ele deu uma boa parcela de si para que não tivéssemos apenas um tiozinho que sai atrás de pessoas, ou um talvez um policial investigativo que funcionaria também, mas alguém mais humano e interessante para que o público se envolvesse, e assim, o acerto foi total, que deu ao ator alguns prêmios bem interessantes. Embora entre somente no finalzinho, Joanne Froggatt serviu bem na personificação da mudança do protagonista com sua Kelly, e a atriz fez bons semblantes e trabalhou seus diálogos com o protagonista de uma forma bonita de se acompanhar, garantindo que se fosse um longa tradicionalíssimo veríamos ainda uma bela história de amor entre os dois. Dos demais, temos pontuais atores coadjuvantes que incrementam cada cena, não tendo um destaque em si para cada um, mas deixo claro que todos que ele aborda possuem boas histórias para com o morto e suas expressões são bem interessantes.

Do conceito artístico não temos nada exuberante que marque o filme como algo que renove um estilo ou nos faça prestar atenção em algum detalhe cênico, mas todo o conceito de trabalhar com o fator morte já é algo que desde os primórdios instigam os artistas com a famosa natureza morta, e o longa soube trabalhar com essas situações por onde o protagonista vai, desde o seu próprio prédio, seu apartamento, sua saletinha organizada, mas sempre em tons fúnebres e sem vida, o que faz com que mesmo nos momentos mais engraçados da trama, sempre a pontinha mais mórbida fica no ar visualmente, mas claro que o segundo ato, aonde o protagonista faz as viagens para encontrar parentes e amigos do morto são extremamente bem trabalhados na concepção da direção de arte para com as locações, de modo que tudo ali tem algum bom significado para a trama. A direção de fotografia foi bem simplista ao usar alguns ângulos tradicionais e não inventar moda com filtros, mas o tom leve que procurou sempre usar e alguns movimentos mais sutis acabaram dando um envolvimento maior na trama, e claro que sempre mantendo o foco no protagonista para que como já disse, ficássemos íntimos dele.

Enfim, nem posso falar muito do filme senão acabaria estragando contando algo que fosse muito importante, mas espero ter passado toda a emoção e a forma que o longa me agradou. E dessa forma recomendo demais ele para todos que ainda não viram, afinal o longa é de 2013, e foi exibido em poucos cinemas no meio de 2014, ou seja, já deve ter para alugar ou para quem for das cidades que estão sediando a Itinerância do Festival Sesc Melhores Filmes não perca por nada esse filme que vale a pena demais. Claro que o filme vai comover alguns mais que outros, mas posso garantir que dificilmente alguém falará mal do contexto geral apresentado. E como disse no Facebook, sei que o Festival vai passar alguns longas que já vi e dei notas altas, mas dos que ainda não havia conferido, acho difícil outro que me agrade tanto, portanto já irei classificar ele como o melhor do Festival na minha humilde opinião. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas nesta quinta ainda verei mais dois longas do Festival que não foram lançados na cidade, então abraços e até amanhã cedo com mais opiniões.


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Pelo Malo

5/20/2015 02:11:00 AM |

Quando um filme trabalha o misto questão social com questão sexual de maneira empírica ou somente simbólica, já me dá angústia e ao mesmo tempo cansaço, pois o diretor pode trabalhar tanto de forma leve e agradável como pesar a mão e exagerar em todas as pontas possíveis. Com "Pelo Malo" a proposta funcionou até certo ponto em não ser pejorativo nem o ponto de visão da mãe, muito menos a segregação social tentou puxar o lado que a avó do garoto insiste em falar mais que uma vez até, mas o longa parece cíclico demais, rodando sempre na mesma batida e falando praticamente os mesmos diálogos, mudando um ou outro ângulo, o que acaba cansando, mas é inegável o trabalho perfeito de atuação das duas crianças e da mãe com expressões fortes e marcantes, que funcionariam de qualquer maneira que o roteiro desejasse atacar.

O filme nos mostra que Junior é um menino de nove anos que tem “cabelo ruim”. Ele quer alisá-lo para sua foto no álbum de formatura para ficar parecido com um cantor famoso. Isso o faz entrar em conflito com a mãe, Marta. Quanto mais Junior tenta melhorar o visual pelo amor da mãe, mais ela o rejeita. Até que ele é encurralado, cara a cara, com uma decisão dolorosa.

O roteiro e a direção de Mariana Rondón funciona de uma maneira bem crua e subjetiva em cima dos diversos preconceitos: cabelo, homossexualidade, trabalho feminino, estupro, beleza, pobreza e tudo mais que você possa colocar num único filme, e esse é o problema dele, querer tratar tudo de uma vez só, ainda mais envolvendo crianças nele, e isso de certa maneira acaba soando forçado, e mesmo ela fazendo as denúncias de maneira correta e bem encaixada, não conseguimos assimilar tudo como deveria, acabando a sessão meio como um baque que tomamos, mas que em minutos já podemos voltar para o nosso mundo e esquecer qualquer coisa que tenha sido apresentada, enquanto se tomasse apenas uma frente, teríamos um filme denso, com boa aptidão dramática e ainda assim iríamos pensar muito no que teria sido mostrado, o que é uma pena, pois repito, o elenco foi preparado com uma das minúcias mais precisas que já vi no cinema não comercial.

E já que comecei a falar do elenco, vamos colocar um pouco mais de elogio em cada um dos principais nomes, principalmente pelo motivo de ter sido o primeiro longa de cada um, ou seja, souberam aproveitar muito bem tudo que foi passado pela direção e mostraram serviço para serem chamados para outros trabalhos. Samantha Castillo podemos dizer que deu tudo e mais um pouco pela personagem Marta, trabalhando não só a expressão corporal como olhares, nuances de voz e imposição cênica para que seus atos refletissem bem tudo que o filme exigia e gostaria de mostrar, de modo que nas cenas que está presente mesmo o garotinho sendo perfeito, os olhos se voltavam sempre para ela. Samuel Lange Zambrano se seguir carreira mesmo como ator, em breve vamos ver seu nome em grandes títulos, pois o garotinho deu uma expressividade para o seu Junior que mesmo a pessoa com menos preconceitos do mundo iria julgar facilmente todas as suas atitudes, e isso não é ruim, muito pelo contrário, mostra que o garoto pegou a ideia que a diretora desejava e implementou algo a mais, o que é um luxo que pouquíssimos atores consegue fazer, então só podemos dizer que o jovem foi perfeito. As cenas com a avó Nelly Ramos são fortes pela proposta de "adoção" dela, pelo querer um futuro diferenciado pelo garoto e ao mesmo tempo são gostosas de ver pelo gingado da atriz, então acaba funcionando como um leve soco direto com luvas de seda, em tudo que faz. Outro destaque vai para a garotinha Maria Emilia Sulbarán que trabalhou muito bem os seus diálogos de modo que saísse como uma afronte de classe maior, mesmo vivendo no mesmo ambiente que o jovem garoto, e isso é algo que acontece demais por aí, ou seja, um trabalho muito bem feito de texto que a garota mandou bem demais nas expressões.

O visual da trama funcionou muito bem pela locação casar perfeitamente com a situação do roteiro, pois já tivemos filmes que trabalharam todo esse lado mais pejorativo, porém falharam ao colocar os personagens em algo falso, enquanto aqui a pobreza, violência e diferença de pessoas funcionou e muito nesse conglomerado de prédios, aonde na cena das crianças brincando e apontando os diversos estilos de pessoas já mostra tudo que o filme quer mais trabalhar: a diferença preconceituosa. A equipe artística trabalhou muito bem na cenografia do apartamento e na montagem cênica das locações para que o filme funcionasse e só isso já faz valer muitos pontos para que o longa seja visto de uma maneira mais poética. A fotografia exagerou um pouco na sujeira dos filtros, e poderia ser mais amena, mas isso não chegou a atrapalhar, muito menos funcionar para dar clima, então poderia ter sido usado uma tonalidade normal que ainda assim o longa seria pesado da mesma forma.

Outro ponto que vale a pena contextuar são as canções que serviram para determinar os dois cumes da violência e da homossexualidade que a diretora quis passar, usando para isso o rap em contraponto com as canções folclóricas mais dançantes e alegres, e assim o filme acerta a mão também nesse quesito e agrada com mais do que um ritmo, mesmo que tocando repetidamente apenas duas canções.

Enfim, é um filme bem feito, mas que não atingiu o ponto máximo para chocar e trabalhar com o espectador comum. Claro que ele funciona perfeitamente em festivais, ganhando diversos prêmios, mas aqueles desavisados que assistirem ele como um filme comum, vão acabar se irritando com a proposta meio que perdida. Ou seja, se você gosta do estilo produção com denúncia de preconceitos, esse é o longa para assistir, mas se não faz seu gênero é melhor passar longe. Fico por aqui nessa madrugada após ver os dois filmes da abertura da Itinerância do 41° Festival Sesc Melhores Filmes, mas volto em breve com mais posts dos outros filmes inéditos pelo interior, então abraços e até breve pessoal.


 
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