A base do filme sul-africano da Netflix, "Silverton - Cerco Fechado", que deve ser sentida é a frase "Qual o preço da liberdade?" que é dita em alguns atos da trama, e é nela que dá para imaginar como alguns membros de um grupo de rebelião contra o apartheid acabaram se impondo num conflitivo momento no meio caótico de uma perseguição, e depois dentro de um banco aonde nem com muita criatividade sairiam vivos de lá, mas que usando de bons traquejos iniciaram bem o movimento de libertação de Nelson Mandela e fizeram seus nomes ao menos no mundo. Claro que por ser baseado em uma história real, o resultado da trama acaba sendo forte e bem impositivo, porém poderiam ter desenvolvido melhor todas as dinâmicas para que o filme fosse ainda além, com muito mais expressão. Felizmente não é algo ruim, mas dava para ficar bem melhor.
O longa apresenta uma história baseada em fatos reais, de três rebeldes sul-africanos contra o apartheid, que após uma perseguição de carro em alta velocidade com a polícia, em meio a uma missão de sabotagem frustrada, o trio acaba buscando refúgio em um banco em Silverton, Pretória. Fazendo o banco sul-africano e seus clientes de reféns e exigindo a libertação de Nelson Mandela em troca da libertação dos prisioneiros, os riscos e as tensões aumentam.
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Diria que o diretor Mandla Dube soube dosar os atos de sua trama para que o filme tivesse uma certa fluidez, não colocando nem a invasão logo de cara, não entregando facilmente quem era o infiltrado, e trabalhando bem a dura crítica racial no miolo, mostrando algo que hoje ainda existe de uma forma menos explosiva, mas que na época era direta e fortíssima, conseguindo fazer com que a ideia completa fosse bem trabalhada. Claro que está bem longe de ser daqueles filmes de assalto, de intensidades marcadas e dinâmicas bem elaboradas que estamos acostumados a ver, mas souberam não jogar a ideia fora, usaram alguns personagens marcados bem pautados para que cada momento fosse algo a mais na trama, e assim acaba fluindo e agradando de certa forma, que não iremos lembrar para toda a vida, mas que ao menos mostra uma grande evolução nos longas sul-africanos.
Sobre as atuações Thabo Rametsi conseguiu segurar bem a responsabilidade em torno de seu papel, fazendo com que seu Calvin tivesse um poder no olhar, uma imposição marcante do começo ao fim que chega a ser expressiva demais, e assim seu resultado acaba indo bem além do que era esperado, o único adendo que coloco é que botaram ele como um dependente da bombinha de ar, e ao perder ela na perseguição o vemos necessitar em vários outros momentos desesperadores, mas sabemos que quem usa isso não consegue correr sem ela, e ele morreria muito facilmente, então abusaram um pouco da nossa inteligência, mas vamos seguir com a ficção. Noxolo Dlamini botou muito homem pra correr com sua Mbali Terra, trabalhando imposição, força e determinação na mesma personificação, resultando em uma mulher incrivelmente direta nas palavras, e sabendo transmitir sentimento junto, ou seja, um grande acerto. Stefan Erasmus não se impôs tanto em cena, mas fez seu Aldo com bons trejeitos dramáticos e de certa forma acabou chamando um pouco de atenção, ou seja, foi bem no que fez. Ainda tenho de dar destaque para Arnold Vosloo com o que fez com seu Johan Langerman bem disposto a resolver o problema sem partir para a ignorância, fazendo bons trejeitos e acertando no que fez, e também para Elani Dekker com sua Christine bem calma e cheia de trejeitos nos atos mais diretos, mas que poderia ter ido um pouco além.
Visualmente o longa trabalhou cenas rápidas de perseguição no começo, com boas doses de tiros, carros trombadas e desenvolturas bem colocadas pelo centro da cidade de Silverton, mostrando anteriormente uma tentativa frustrada de sabotagem aos dutos de petróleo, tudo muito bem montado, e na sequência já entramos no banco da cidade, também bem clássico, com os caixas e as filas separadas por cor de pele das pessoas, um cofre simples, mas todo um desenvolvimento clássico de assalto com reféns, tendo vários policias do lado de fora, as tentativas de negociação, fogo, tiros, helicóptero e tudo mais que dá as devidas nuances do estilo, ou seja, a equipe de arte não exagerou, tendo um ou outro ato de sangue que poderia ser mais pesado, mas funcionou.
Enfim, é um longa até que simples, porém bem feito, que passa a mensagem e agrada sem ter exageros fora do ambiente, e assim sendo se faz valer a conferida. Claro que poderiam ter ido muito além em tudo, mas fui conferir sabendo que seria básico e assim valeu a pena, então essa é a recomendação que deixo, pois quem for esperando um longa hollywoodiano vai se decepcionar. Bem é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.