Costumo dizer que para uma boa obra biográfica ficar interessante e envolver o público é necessário colocar um pouco mais de ficção ao redor dela para que tudo não convença apenas pela realidade em si, mas sim ficarmos naquela dúvida se realmente aquilo foi tão impactante assim, pois algumas representações reais são muito bem feitas, mostram todo o processo histórico, porém fica faltando aquele elo a mais para chamar a atenção por completo. E começo dessa forma o texto do longa "Uma Voz Contra o Poder", que entrou em cartaz na Netflix, pois sabemos bem o que as grandes corporações fazem com os pequenos, seja de qualquer tipo de produto, já que eles vem comendo pelas beiradas e quando você vê já levaram tudo seu, então na obra vemos alguém que acabou brigando para não perder sua essência e conseguir sobreviver, além claro de dar voz para que outros fizessem o mesmo, e isso é muito bonito de ver, as ações dos protagonistas são comoventes por serem velhinhos, mas talvez um pouco mais de explosão nos julgamentos, um maior cenário da mídia mostrando tudo, e até mesmo alguns conflitos internos dos amigos da comunidade como mostram rapidamente em alguns atos empolgaria mais o filme e daria melhores frutos. Ou seja, não digo em hipótese alguma que é um longa ruim, muito pelo contrário, toda a história é muito boa de ser vista, mas faltou aquilo que chamo de ponto cinematográfico, que é quando o real e o imaginário se confundem, e o espectador imagina o algo a mais rolando, e aí é que a mágica acontece e um filme biográfico simples vira um gigante e chamativo filmão mesmo.
A trama nos mostra a longa disputa judicial em 1989, entre um agricultor de canola, Percy e uma gigante corporação global. Acusado de cultivar em sua terra, sem licença, sementes transgênicas da empresa, Percy vai ao tribunal em busca de justiça. Quando começa a reunir as provas para a sua defesa, descobre que, na realidade, está lutando por milhares de agricultores desprivilegiados em todo o mundo.
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Não sei até que ponto o diretor Clark Johnson desejou que o filme focasse no ar familiar do protagonista na contramão do que poderia ser um longa de julgamento incrível, pois toda a síntese jurídica do processo é algo muito mais marcante do que visitar fazendas, ver o protagonista fugindo de seguidores da corporação, lendo cartas e tudo mais, mas ele tentou usar esse artifício da dramaticidade em cima da idade dos personagens reais para dar um que emotivo, o que não funcionou, pois até vemos essa forma de comoção bem colocada, mas faltou ir a fundo e fazer o público também se emocionar mais com a história, o que não acaba acontecendo. Ou seja, diria que a história em si que o filme foi embasada é muito técnica, e com isso não houve uma possibilidade maior para que o diretor fluísse em algo menos seco, mas de certa forma faltou também um pouco mais de atitude, que um diretor dramático realmente conseguiria ir além no contexto completo, e assim até vemos um bom filme na tela, mas se vamos lembrar de algo mais para frente talvez apenas quando ouvirmos falar em transgênicos ou sementes, mas não no ar do julgamento ou do problema dos fazendeiros em si, o que é uma pena, pois poderiam ter trabalhado tudo muito mais.
Quanto das atuações, o destaque claro é para Christopher Walken que acostumei tanto a ver fazendo papeis cômicos, aqui faz um senhorzinho que fala pouco, mas fala bem quando precisa, e que nos envolve no olhar sofrido de um fazendeiro que viveu fazendo sempre o que sabe da mesma forma, trabalhando para que suas sementes fossem as melhores, e seu Percy tem carisma, tem personalidade, e se o diretor lhe pedisse um pouco mais, entregaria uma emoção maior ainda, pois o ator está incrível no que entregou, ou seja, um dos seus melhores papeis sem dúvida alguma. Christina Ricci também foi bem chamativa com sua Rebecca, quase dando realmente a voz para o protagonista ir além, e suas dinâmicas foram meio que persuasivas demais, com trejeitos forçando um pouco a barra, mas com um estilo claro de grupos de apoio que desejam ir além, e ela mostrou esse ar bem colocado em suas cenas, porém faltou mostrar um pouco mais o que era o grupo em algumas cenas, ficando algo meio que jogado de lado, o que falhou um pouco. Zach Braff fez muito como o advogado do protagonista, colocando seu Jackson Weaver como um daqueles que nem sabem direito aonde estão se metendo, mas disposto a tudo e ganhando força nas cenas principais, o que mostra uma presença bem marcante que não soou forçada e ainda envolve. E claro tenho de falar de Roberta Maxwell graciosa demais como a esposa do protagonista Louise, sendo daquelas senhorinhas que queremos ver sempre, que ajuda no trabalho, que precisa do apoio e que entrega também muito apoio, e ela soube dosar tudo sem falhar, o que foi perfeito para o papel, ou seja, uma graça mesmo.
Visualmente o longa foi bem amplo, tendo boas cenas nos campos de canola do Canadá, com fazendas simples e familiares, mas com um maquinário bem chamativo, mostrando a ascensão do personagem principal que talvez tenha feito até um certo mal para que outros denunciassem ou passasse a enxergar mais ele, com grandes colheitadeiras, mas tudo bem familiar na seleção de sementes, o que acabamos vendo até mais do que os juízes, tivemos algumas audiências simples demais, que nem pareciam ser em tribunais realmente e poderiam ter sido melhoradas, e ainda tivemos alguns momentos na Índia, aonde nos foi mostrado além de uma convenção, todo o ar agropecuário familiar do país, aonde as grandes corporações tem tentado matar os pequenos agricultores, mas que ainda tem toda a base nas vilas, e isso foi bacana de ver pela forma retratada e bem explicada sem forçar demais. Ou seja, a equipe de arte fez vários contrapontos, ousou chamar a atenção em detalhes que nem precisariam de tanto, e menos aonde precisava mexer mais, mas como um todo o acerto foi bem colocado.
Enfim, é um filme muito bom de essência, com um tema bem retratado na tela, mostrando uma biografia interessante e chamativa para um lado familiar da agricultura que tem sumido ultimamente, e que faz valer o conhecimento, mas como já disse faltou aquele algo a mais para marcar a produção e chamar a atenção de quem quer ver um filme intenso que certamente foi o processo todo, e isso acabaram deixando um pouco de lado ao tentar mostrar um pouco de tudo. Ou seja, é um bom filme, mas que poderia ter ido muito além, valendo mais para conhecer esse âmbito familiar do cultivo de sementes e dos pequenos agricultores, e claro a briga constante que tem com as grandes empresas do ramo, e assim servir de algo mais cultural do que um passatempo realmente. E é isso meus amigos, fica sendo assim a dica para ver sem esperar ir muito além, mas que vai agradar alguns um pouco mais, e eu fico por aqui hoje, então abraços e até breve.