O Retrato de Norah (Nöraḣ)

10/14/2025 01:23:00 AM |

Costumo dizer que ver um filme fora das grandes indústrias tradicionais é algo que vai muito além da tela, pois você acaba presenciando culturas e conhecendo situações que achamos praticamente inexistentes, e o longa "O Retrato de Norah", que estreia na próxima quinta 16/10, traz o primeiro longa da Arábia Saudita a ser selecionado para Cannes, e que se passando nos anos 90 quando qualquer expressão artística era proibida no país, vemos algo tão conflitivo, com os "donos" da vila não querendo nem eletricidade por lá, que as crianças aprendessem só o Alcorão e não a ler e escrever, ou seja, uma dominação completa, aonde ninguém, muito menos as mulheres tinham qualquer liberdade, e assim o resultado de um desenho acabou mudando tudo o que ocorre ali. Diria que o filme tem uma pegada densa bem interessante, porém um ritmo meio travado, de modo que o começo e o miolo até fluem bem, mas o final demora a acontecer e chega até a cansar um pouco, mas o resultado completo é bem marcante e faz valer a conferida.

Ambientado em uma pequena vila remota na Arábia Saudita nos anos 90, quando a expressão artística era proibida, o longa é uma história sobre a chegada de um novo professor, ex-artista, à pequena comunidade onde ele conhece uma jovem chamada Norah.

O mais bacana de tudo é que o longa foi o ganhador de um concurso do país para novos diretores e roteiristas, ou seja, algo completamente diferente do que é mostrado no país dos anos 90 no longa, e o diretor e roteirista estreante Tawfik Alzaidi soube mostrar essa essência numa trama bem simples, porém bem direta, representando as pequenas vilas do país, com casas bem afastadas umas das outras, uma escola simples aonde o professor precisou até levar a lousa e uma casa até que bem ampla aonde viveu o professor anterior, ou seja, uma dinâmica concentrada, representativa e envolvente, pois conseguimos vivenciar tanto o drama da garota, quanto do professor, e também tudo o que tem ao redor dali, sendo algo simples, e que não precisou forçar para convencer.

Quanto das atuações, não sou um exímio conhecedor do cinema árabe, porém me lembrou muito o estilo de atuação turco, aonde os olhares soam mais marcantes e a movimentação dos personagens mais dura, e isso me incomoda um pouco, pois fica parecendo que estão engessados esperando algum comando da direção. Ou seja, até temos algumas boas entregas, mas nada que impressionasse pelas ações cênicas dos atores, de modo que Yagoub Alfarhan até trabalhou seu Nader com uma desenvoltura mais clássica de alguém que sempre viveu na cidade grande e não muito adaptado às vilas acaba sendo meio inseguro nos atos, mas com um traquejo até que aceitável. E Maria Bahrawi demonstrou em seu primeiro trabalho algo singelo, mas com personalidade para que sua Norah chamasse a atenção sem ir muito além. Quanto aos demais nem vou entrar em detalhes, que foram apenas conexões para os devidos atos, desde o dono da mercearia que arruma o que você quiser em 3 dias, as crianças da escola com desenvolturas simples, o sheik bem colocado, e por fim os demais familiares da casa de Norah, além de seu prometido.

Visualmente o longa é bem amplo, com casas espalhadas pela vila, uma tenda de jantar entre os homens de lá com um servo para dar até a água para cada um beber no mesmo pote e a comida também compartilhada, a escola simples com poucas mesas e a lousa do próprio professor, uma mercearia com vários itens espalhados, e a casa de Norah aonde ela tem as fotos das revistas recortadas e colocadas em uma penteadeira simples, um único caminhão pipa para a cidade toda pegar a água e o combustível, ou seja, tudo bem rústico e sem grandes nuances na tela.

Enfim, é um longa simples, porém potente e bem representativo de como era o país nos anos 90, que até mudou bastante (afinal como disse o longa foi feito com recursos de um concurso para aumentar a produção artística do país), mas que ainda tem muitos detalhes bem parecidos da época, então vale pela essência e pelas boas dinâmicas entregues. Então fica a dica para conferirem nos cinemas que estrear a partir do dia 16/10, e eu fico por aqui agradecendo o pessoal da Pandora Filmes pela cabine de imprensa, então abraços e até logo mais.


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