Coringa: Delírio a Dois (Joker: Folie à Deux)

10/03/2024 01:48:00 AM |

Já repeti tanto isso que virou um mantra: "vá conferir qualquer filme com a pior das expectativas, pois a chance de gostar aumenta demais!", e dito e feito, fui para a sessão de "Coringa: Delírio a Dois" com a expectativa quase negativa de ter visto algumas chamadas de textos de amigos críticos tacando fogo literalmente no longa, mas coloquei na minha mente que era pelo diretor ter dito que era algo musical que geralmente o pessoal não curte mesmo, mas como adoro, nem ligaria de ver algumas coreografias na tela, porém ao conferir ficou bem claro o motivo do fogo no parquinho do pessoal: eles amam as piadinhas jogadas estilo Marvel, e aqui temos a DC raiz, filme denso, sem piadas jogadas na tela (aliás, a todo momento os guardas pedem uma nova piada para o protagonista, e nada sai dali como se o diretor falasse na cara de todos que não está ali para fazer rir!), aí vem o segundo ponto, pois não é um filme musical, mas sim um filme com músicas bem colocadas aonde os personagens cantam em momentos claros, sem dancinhas, sem enfeites, na rouquidão da voz mesmo natural. Dito isso, o que mais o longa nos permitiu ver, uma base filosófica, uma temática profunda dos muitos Arthurs que existem no mundo fantasiando ser outra pessoa para justificar seus atos, e o principal, pois em determinado momento do longa (que é alongado e dava para reduzir uns 20 minutos pelo menos, sendo o único defeito dele) eu já nem sabia mais como o diretor conseguiria fechar sua trama de modo que tudo se encaixasse também dentro dos planos futuros do Universo DC, e literalmente a bomba explode, e MEUS AMIGOS, quem conhecer um pouquinho dos outros muitos filmes, séries, HQs e tudo mais da companhia verá outro vilão ficando do jeito que conhecemos, e toda a arrumação cronológica para juntar o que já foi feito com o que virá no futuro de Gotham.

No longa acompanhamos a sequência do que ocorreu com Arthur Fleck, que trabalhava como palhaço para uma agência de talentos e precisou lidar desde sempre com seus problemas mentais. Vindo de uma origem familiar complicada, sua personalidade nada convencional o fez ser demitido do emprego, e, numa reação a essa e tantas outras infelicidades em sua vida, ele assumiu uma postura violenta - e se tornou o Coringa. A continuação se passa depois dos acontecimentos do filme de 2019, após ser iniciado um movimento popular contra a elite de Gotham City, revolução esta, que teve o Coringa como seu maior representante. Preso no hospital psiquiátrico de Arkham, ele acaba conhecendo Harleen "Lee" Quinzel. A curiosidade mútua acaba se transformando em paixão e obsessão e eles desenvolvem um relacionamento romântico e doentio. Lee e Arthur embarcam em uma desventura alucinada, fervorosa e musical pelo submundo de Gotham City, enquanto o julgamento público d'O Coringa se desenrola, impactando toda a cidade e suas próprias mentes conturbadas.

Claro que o diretor e roteirista Todd Phillips que tinha falado que não faria uma sequência do longa de 2019 ficou tentado após ver muito dinheiro com as bilheterias e todo o impacto que seu filme teve no Universo DC, mas com toda certeza ao começar a desenvolver a sequência ele não pensou num fechamento como o que fez aqui, pois o longa podia ir para milhares de rumos, poderia virar algo cansativo, poderia até ser algo bobo e divertido, mas ele teve muita seriedade em manter o estilo denso, criar as diversas perspectivas, discutir coisas reais na tela, e ainda fantasiar, de tal forma que seu filme ficasse com sua cara, fosse maluco, passasse temor (a cena do anão do longa anterior depondo é de tremer junto com o personagem), e mais do que tudo isso, a trama tem brilho, não sendo algo solto que você vai e confere por 138 minutos e sai da sala já esquecendo o que viu, mas sim algo para pensar, para refletir e se envolver com tudo que é mostrado na tela de forma angustiante e intensa. Ou seja, o diretor bateu de frente com tudo e todos, e foi autossuficiente ao ponto de que muitos irão lhe odiar por não fazer algo bonitinho na tela, mas quem pegar toda a essência da trama e todo o teor mais fechado que a DC já teve no passado, irá sair muito feliz com tudo, e claro irá esperar o que veremos nos próximos longas da companhia.

Quanto das atuações, diria que muitos estavam com medo da performance de Joaquin Phoenix estar inferior ao que fez primeiro filme, porém o ator conseguiu que seu Arthur fosse ainda mais maluco em alguns atos, e também real em diversos outros, ao ponto que ficamos sempre na discussão da acusação versus a defesa no julgamento, ou melhor seria o Coringa uma outra personalidade dele ou uma fantasia para justificar seus atos, e só um gênio como o ator conseguiria dominar essa duplicidade na tela sem que ficasse falso, ou seja, foi perfeito do começo ao fim. Outro ponto de muito medo era como Lady Gaga se portaria como Harleen "Lee" Quinzel, pois muitos achavam que ela ficaria seca demais, outros achavam que a atriz iria ficar falsa, e como a cantoria seria introduzida, mas apaguem tudo que já viram dela, pois ela consegue segurar demais a personagem, fazer com que o público num primeiro momento se apaixone da mesma forma que o protagonista por ela, e depois passa a ser odiada com todas as letras pelo que faz, sendo uma entrega performática e bem expressiva na tela. Ainda tivemos outros bons personagens na tela como Harry Lawtey fazendo o promotor Harvey Dent que muitos vão saber pelo nome quem é dos filmes mais antigos do Batman, e próximo ao final vemos como ele virou o que conhecemos, tivemos o policial Sullivan muito bem feito por Brendan Gleeson, e claro o pequenino Leigh Gill que praticamente se borrou inteiro como testemunha após o que aconteceu no primeiro filme.

Visualmente conhecemos muitos corredores da prisão Arkham, a cela de Arthur e uma solitária, uma barbearia e a cozinha/sala de TV da prisão aonde vários presos acompanharam o julgamento do protagonista, além claro do pátio e a ala de presos mais brandos aonde conhece Harleen na sala de música, tivemos muitas cenas imaginativas dos protagonistas fazendo shows e dançando desvairadamente, e todo o ambiente do julgamento público dentro do Tribunal com todo o estilo clássico que já vimos em muitos filmes, isso claro rodeado da população que ficou ao redor vestida com máscaras do Coringa. Ainda tivemos no início uma pequena animação bem trabalhada, mas meio estranha para falar a verdade, porém conseguindo dar as nuances de uma sombra que domina o personagem, e assim valeu pela filosofia empregada.

Voltando no que falei no começo, o longa não é um musical tradicional, então não espere ver os protagonistas cantarolando suas falas como ocorrem em tramas desse estilo, mas sim um filme com canções bem encaixadas, seja nos devaneios do protagonista ou em momentos que funcionam para a história, aonde a jovem canta para o preso, e outros detalhes, tendo claro como muita base a canção que toca diversas vezes "When The Saints Go Marching In" cantada pelos presos, e as que Gaga canta tendo o link aqui para escutar, além da trilha orquestrada bem pontuada em diversos atos que pode ser conferida aqui.

Enfim, é um tremendo filmaço que só ficou abaixo do primeiro filme pelo excesso do miolo que acabou sendo alongado demais, mas do resto, é perfeito demais, tendo um final convincente, e que precisava acontecer para não termos a dependência de uma continuação em cima de tudo, mas sim de uma linha temporal bem alocada para os próximos trabalhos, e que quem for disposto a ver um filme sem comicidade jogada como ocorrem em muitos filmes de super-heróis vai acabar adorando do começo ao fim, então vá tranquilo conferir que vale a pena nesse sentido, agora se você gosta de filminhos mais bobinhos é melhor nem ir para a sessão, senão vai acabar saindo na metade como está acontecendo em muitas sessões (inclusive na que eu estava!). E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.

PS: Não dei a nota máxima apenas pelo alongamento do miolo que dava para ser reduzido, mas quem gosta de aprofundamentos nem vai notar o tempo passar na sessão, pois a trama se desenvolve bem.


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Amazon Prime Video - Calor Mortífero (Killer Heat)

10/01/2024 12:43:00 AM |

Bem que me falaram que estavam gravando algo aqui na cidade, mas não avisaram que eram grandes atores, mas o nome do filme foi feito com todo carinho do mundo pela equipe que veio gravar! Brincadeiras a parte, o longa da Amazon Prime Video, "Calor Mortífero", facilmente poderia se passar em qualquer cidade daqui da região nesses dias, mas se passa na ilha de Creta, na Grécia, o que é bem melhor! Dito isso, o longa salvou bem essa semaninha que vinha bem meia boca, com vários filmes medianos, e aqui tendo realmente uma trama investigativa bem colocada, cheia de nuances e desenvolturas, e claro bons atores para dominar e envolver o público, ao ponto de conseguir inclusive me enganar, afinal não cheguei na conclusão da investigação antes do protagonista, e olha que costumo pegar bem rápido a ideia toda, e só peguei a metade final logo de cara, mas não quem matou o cara no começo do longa. Ou seja, é daqueles que brinca com muitas facetas, passa por lugares incríveis, e que até poderia ser melhor sem ter tanta narração do protagonista, e claro sua história pessoal em segundo plano, mas como serviu para o ato final, até acaba valendo, e assim sendo agrada na medida certa para quem gosta de um filme curto e direto ao ponto, com tudo o que o gênero permite.

O longa se passa em uma isolada ilha grega chamada Creta, onde dois irmãos gêmeos se veem presos em um perigoso triângulo amoroso que culmina na morte misteriosa de um deles. O detetive particular Nick Bali, conhecido por seu passado conturbado, é chamado para investigar o caso. Enquanto explora a intricada rede de relações e segredos da rica família Vardakis, da qual a vítima Elias 'Leonidas' Vardakis fazia parte, Bali descobre que a poderosa família controla muito do que acontece na ilha e que a esposa do gêmeo sobrevivente, suspeita que há uma conspiração para assassinato. Envolvido em uma teia de enganos e sua própria bagagem emocional, Bali deve desvendar a verdade por trás da morte e lidar com seu próprio passado difícil enquanto enfrenta a influência opressiva da família Vardakis.

Claro que não é o filme mais original do gênero, e o próprio diretor Philippe Lacôte sabia bem disso ao pegar o roteiro para gravar, mas ele soube desenvolver bem a história, conseguiu criar bons pontos de quebra ao longo da trama (aliás até um pouco excessivos), e segurou a história na medida certa para que o protagonista não pegasse de cara o assassino, brincando com muitas possibilidades, e claro com uma astúcia meio calma e bêbada demais, mas que funciona dentro da proposta. Ou seja, é um filme que quem gosta do estilo investigativo na tela vai entrar bem no clima que o diretor propôs, vai ir tentando desvendar possíveis brechas, e também vai reclamar de alguns absurdos, mas como é de praxe em filmes do estilo que não são tão puxados para o terror, o resultado acaba sendo mais morno, porém ainda assim a trama agrada e funciona com a escolha técnica feita.

Quanto das atuações, o jeito exageradamente calmo e boa pinta que Joseph Gordon-Levitt deu para seu Nick me incomodou um pouco, pois parecia mais astuto, porém segurou demais a onda do personagem, de modo que parecia estar mais de férias pela ilha do que investigando realmente tudo, mas como o ator tem estilo, ele conseguiu convencer na maioria de seus atos mais diretos, ou seja, poderia ter feito mais em cena para impactar melhor. Que a personagem Penelope de Shailene Woodley estava envolvida com algo no caso isso até um bebê saberia, mas a atriz soube trabalhar bem toda a essência misteriosa para que o detetive conseguisse a colocar no conflito e cheia de traquejos sedutores fez boas caras de paisagem para tudo ir se desenvolvendo na tela, mas sabemos bem que a atriz sabe fazer melhores trejeitos, e talvez aqui o papel pedisse alguém mais densa de estilo. Particularmente acho o estilo de Richard Madden perfeito para papeis que precisem de alguém bem canastrão, e aqui fazendo dois papeis, um vivo e o outro através de flashbacks, fez de seus Elias e Leo ficasse perfeitamente arrogantes e bem colocados como os riquinhos que fazem o que querem na ilha e mandam em todos, com traquejos e trejeitos secos e bem colocados para que tudo fizesse muito sentido nos devidos atos da trama. Ainda tivemos outros bons personagens na trama, mas valendo realmente destacar apenas Clare Holman em algumas cenas intensas de sua Audrey, principalmente pelo fechamento dela, e boas ajudas ao personagem pelo papel de Babou Ceesay como o investigador da ilha Mensah.

Visualmente a trama teve locações bem luxuosas como a mansão dos Vardakis, o iate gigantesco que até abrigou uma festa de candidatura de um governador, vários outros pequenos barcos e uma doca bem trabalhada, um restaurante/bar chique que praticamente só serviu para uma cena, e claro os grandiosos rochedos da Grécia aonde o pessoal vai fazer escalada com e sem corda, além do monastério aonde o protagonista vai apenas para dormir de suas bebedeiras. Isso sem esquecer dos carros da família, aonde o protagonista tenta acompanhar, mas seria impossível, e também figurinos bem marcantes tanto para as festas quanto para os atos mais despojados, mostrando a imponência da família. Ou seja, a equipe de arte trabalhou bastante e conseguiu entregar uma produção visualmente de primeira linha.

Enfim, é um filme que se analisarmos a fundo tem falhas, talvez alguns peguem a ideia rapidamente e outros demorem um pouco mais como aconteceu comigo, mas que acabou me agradando bastante pelo estilo sem precisar ficar apelativo, de modo que funciona como um bom suspense investigativo com um ar mais calmo do que tenso como costumam ser as tramas do gênero, e assim sendo vale também como uma iniciação para quem quer entrar nesse gênero e tem medo de fritar todos os neurônios, então fica a dica de conferida. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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