Cadáver (The Possession of Hannah Grace)

11/30/2018 10:09:00 PM |

É interessante como o público fã de longas de terror gosta dos famosos longas de "scary jumps", ou filmes feitos para pular da poltrona com sustos premeditados e/ou inesperados, e "Cadáver" é praticamente uma coletânea de cenas desse estilo, com até um pano de fundo razoável, mas que mais vale pelos sustos do que pela história em si, e com atuações digamos meio estranhas o resultado trabalha bem a dinâmica, e consegue ao menos fazer o trabalho de longas desse estilo, que é assustar o público ao ponto de escutamos pessoas gritando, pulando e até batendo as mãos nas cenas mais tensas, ou seja, funciona para quem gosta disso, e certamente irá lotar as salas de jovens dispostos a sentir os sustos. Não diria que ele é perfeito por entregar muitos absurdos técnicos, mas a ideia é boa, e consegue deixar preparado até talvez uma continuação bem colocada com o final que entregam, ou seja, funcional dentro da proposta.

A trama nos mostra que Megan Reed é uma policial reformada que tem lutado contra os vícios. Ela está prestando serviços comunitários em um hospital, como um pagamento para o tratamento que a deixou sóbria. Tudo, entretanto, torna a história muito mais macabra depois que um cadáver misterioso é encontrado no local.

O diretor holandês Diederik Van Rooijen soube provocar o espectador com algo que muitos fogem tanto na vida real, quanto em filmes de terror, que é ficar a maior parte de sua trama dentro de um necrotério, e esse foi o seu grande acerto, pois com isso qualquer luz piscando (e aqui entra outra grande sacada com luzes automáticas no ambiente) e/ou movimento estranho consegue pegar o público desprevenido, e fazer com que pulem da poltrona, e muitos até podem reclamar que não gostam de terror desse estilo, mas certamente é o que mais prende e chama a atenção dos jovens no cinema, funcionando sempre com pouca criatividade, mas causando ao menos. E sendo assim, diria que a trama é até bem colocada, mas simples e com alguns momentos estranhos e mal alocados, mas que vai causar bons pulos na sessão até mesmo no mais machão, funcionando como foi proposto.

Quanto das atuações, posso falar que faltou um pouco mais de medo na protagonista, que mesmo alterada psicologicamente pelo que ocorreu em seu passado, a jovem Shay Mitchell conseguiu deixar sua Megan descrente e acelerada demais, de modo que poderia ter partido para olhares mais entregues, mas mostrando ainda atitudes policiais ela consegue incorporar bem seus momentos, e não decepciona ao menos. Kirby Johnson foi bem expressiva em todos os momentos tensos de sua Hannah, conseguindo fazer todos pularem com seus pulos e arrepiarem com seu corpo estralando, ou seja, tem futuro como morta-viva. Grey Damon apareceu pouco como Andrew, caindo um pouco na ideia de passado amoroso da protagonista, mas até que agradou nas cenas finais. Louis Herthum conseguiu ser bem coerente nas cenas como um homem misterioso, e quase no final até ficamos sabendo quem é ele, e diria que entregou bem seus atos, causando bastante. E para finalizar diria que o elenco secundário foi bem posto tanto nos momentos de conversa com a protagonista quanto nas cenas frente a frente com a morta, causando bons atos, de modo que o destaque claro fica com o Randy de Nick Thune.

No conceito cênico, o resultado de um filme de terror em um necrotério bem tecnológico não poderia ser melhor, de modo que a equipe de arte não economizou em cenas cheias de cenografias, objetos prontos para caírem no chão, e claro muita maquiagem para causar, de modo que cada ação escura, cada luz piscando, ou sirene berrando pega certamente o público despreparado, é o susto é garantido, além claro de como foi dito no filme de ontem do Danilo Gentili, nada é mais preocupante do que corredores vazios sem nada acontecendo, e isso o longa aqui também valorizou muito. A fotografia brincou bastante com o escuro e com as luzes piscando para termos efeitos interessantes, e claro pegar o espectador de jeito, mas felizmente não temos o total preto para não se ver nada, e assim sendo o acerto é bem agradável de ver.

Enfim, é um longa que acerta no que se propôs, e até poderia ter ido mais a fundo, mas ao menos assustou, causou, e fez algo até inédito em um longa de terror, de eu ver o público aplaudindo após se assustar com algo nas últimas cenas, ou seja, funcionou muito, e recomendo para quem gosta de pular bastante em filmes de terror, mesmo que com uma história razoavelmente fraca que poderia ter sido melhor desenvolvida. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas vou para mais uma sessão, então abraços e até logo mais.

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As Viúvas (Widows)

11/30/2018 01:45:00 AM |

Diria que o longa "As Viúvas" possui dois grandes momentos na trama, mas que contá-los seria entregar spoilers máximos de um filme que é trabalhado mais nos diálogos e na essência do que no ritmo e na condução de algo maior que envolva realmente o espectador. E sabendo do estilo próprio de longas de premiações, é esse o grande motivo do filme ser tão chamativo para um público que gosta de dramas densos e sem muita dinâmica, afinal já vimos diversos filmes de grandes assaltos, muitos com temas fortes e bem colocados, mas raramente um que tivesse tanta dramaticidade dialogada entre protagonistas dos dois lados, um debate político e subversões imponentes por ares femininos de grandes nomes. Ou seja, um filme que se você é fã de longas mais sérios, com uma pegada mais dramatizada, aonde os diálogos acabam envolvendo e entregando boas situações, certamente vai gostar do que verá, agora caso contrário, a chance de dormir e acabar cansado com tudo o que é mostrado e/ou ficar olhando a hora no celular querendo saber se o filme já está acabando é bem alta.

A trama nos mostra que um assalto frustrado faz com que Harry Rawlins e sua gangue sejam mortos pela polícia e o dinheiro que roubaram seja destruído pelas chamas. Isto faz com que a viúva de Harry, Veronica, seja cobrada para que a quantia roubada seja devolvida. Pressionada, ela encontra um caderno de anotações de Harry que prevê em detalhes aquele que seria seu próximo golpe. Veronica então decide realizar o roubo, tendo a ajuda das demais viúvas dos mortos no assalto frustrado.

Todos sabemos bem o estilo que Steve McQueen costuma entregar em suas produções tanto como diretor quanto como roteirista, e esperar dele um filme dinâmico cheio de impacto seria o mesmo que esperar um milagre da Academia premiar como melhor filme um longa de super-heróis, então dito isso, posso afirmar que muitos assim como eu fomos conferir esse longa esperando esse milagre, pois ao ler o enredo e ver o trailer já até sabíamos que seria um filme bem pontuado, cheio de interseções dialéticas, com um elenco monstruoso de grandiosíssimos nomes do cinema, e que claro usariam tudo o que sabem de expressividade para criar um clima denso, mas quem sabe, ao envolver um assalto teríamos algo a mais na trama, não é mesmo? Ledo engano, a cena do assalto mesmo dura no máximo 10-15 minutos, isso com diversas reviravoltas no caminho, e praticamente encerra o filme de uma maneira bacana com o que é entregue, mas diria que McQueen que usou de base a série dos anos 80 para criar a trama do filme, usou demais os textos para que não precisasse de um filme mais alongado, e alongou o ritmo, e como costumo dizer isso é algo que cansa para o público. Claro que o filme está bem longe de ser algo ruim, mas dificilmente será daqueles que quem não for extremamente fanático por longas de cunho mais artístico sairá da sessão parecendo que viu uma maratona de conversas, e voltamos ao começo do texto, com a representação do estilo McQueen de fazer cinema.

Quanto das atuações diria que o mais engraçado aconteceu na sessão do cinema, pois quem for esperando ver os grandes nomes masculinos atuando como o rapaz que estava na última fileira do cinema, vai gritar logo de cara: "pô, paguei o filme para ver esse ator, e ele não durou nem 5 minutos!", e sendo assim, é melhor nem falarmos deles, pois foram meros enfeites cênicos. Porém o único que precisamos falar um pouco mais é Liam Neeson que aparece bastante no longa em memórias e tudo mais, mostrando seu estilo canastrão de sempre, e claro seus olhares sedutores que fazem dele um galã atual, mesmo já estando bem velhinho para isso, de modo que seu Harry Rawlins é bem feito pelo ator, e poderia ter até trabalhado um pouco mais em suas cenas para impactar mais. Agora quanto das damas, temos claro que começar pela rainha Viola Davis, que nos entrega uma Veronica forte, cheia de atitudes, e que com toda a classe que possui consegue criar vértices impactantes e complexos para uma mulher que valeria um desenvolvimento até maior (o que com certeza aconteceu na série), mas mesmo com o que faz aqui, como sempre consegue chamar a atenção e certamente irá brigar por vagas em algumas premiações, pois ela se doou muito para a personagem. Elizabeth Debicki também entrega bons atos com sua Alice, mostrando estar disposta até demais para sua personagem, fazendo cenas fortes e sensuais, mas sempre entregando atitude, de modo que sua cena em debate com David já de roupão é uma das mais bem trabalhadas que algumas mulheres já fizeram, e algumas mulheres vão até aplaudir, ou seja, fez bem tudo. Michelle Rodriguez nos entrega uma Linda bem colocada como uma mãe de família disposta a conseguir de volta o que é seu por direito, entrega poucas cenas de impacto, mas agrada bastante no que faz, sendo coesa ao menos. Cynthia Erivo também coloca boas atitudes para sua Belle, mas como só adentra a trama nas últimas cenas, a jovem fez o que pode e foi bem trabalhada também. Dentre os demais homens temos claro as cenas fortes de debate político entre Brian Tyree Henry com seu Jamal e Colin Farrel com seu Jamal, mas talvez seus personagens precisassem de bem mais tempo para serem trabalhados, pois até entregam personalidade em suas cenas, mas falta muito, e sendo assim o destaque claro recai para Daniel Kaluuya com seu Jatemme forte e cheio de atitude impactante em todas as cenas que fez.

No conceito visual, temos uma Chicago bem densa em seu 18° Distrito, cheia de problemas sociais, aonde tudo é bem representado por todos os personagens da trama, cada um na sua maneira, cada um em seu ambiente, mas todos vivendo em busca de algo maior, que bem sabemos é manter sua qualidade de vida, de seus filhos e de seus atos, usando para isso bons artifícios cênicos, locações cheias de detalhes tradicionais para mostrar o luxo de vida de Veronica, a super mansão do político corrupto junto de sua família, o ambiente de tráfico e decaimento da gangue, e claro o barracão da equipe de assalto cheio de elementos cênicos bem característicos, além do cachorrinho que nos entrega o grande momento da trama, que muitos nem vão pegar logo de cara, mas que foi muito bem treinado, e agradou bastante no que fez. A fotografia é bem escura para criar uma densidade cênica, mas que foi bem usada dentro da proposta, mas talvez alguns tons mais claros em determinados momentos e/ou um pouco mais de vermelho para impactar e realçar alguns atos dariam um ritmo melhor para a trama.

Enfim, é um filme interessante pela proposta, mas tenho certeza de que a série foi bem melhor nos anos 80 por poder desenvolver mais cada personagem e seus devidos atos, pois aqui o longa fica parecendo acelerado nos atos, mas lento de atitudes e ritmo, o que faz cansar mais do que agradar, e sendo assim, como disse no começo está bem longe de ser algo ruim, mas que também passa bem longe de ser um filmaço que recomendaria para todos, sendo apenas para aqueles que gostam de filmes feitos para premiações apenas praticamente. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, afinal nessa semana vamos ter muitos, então abraços e até logo mais.

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Os Exterminadores do Além Contra a Loira do Banheiro

11/29/2018 09:29:00 PM |

Olha, acho que pela primeira vez consegui rir muito de algo do Danilo Gentili, e felizmente foi no cinema, com um longa que funciona perfeitamente dentro da proposta que foi colocado, de modo que "Os Exterminadores do Além Contra a Loira do Banheiro" entrega grandiosas sacadas envolvendo tudo das comédias bem escrachadas, misturando com muita classe os terrores mais sangrentos possíveis, criando bem a atmosfera de filmes debochado de detetives contra algo misterioso, aliando insanidades, violência, e claro muita escatologia, além de com toda essa loucura, divertir na medida certa de forma que certamente aguardaremos ansiosos por uma continuação, afinal quando algo funciona, temos de valorizar e torcer por bons frutos, e aqui merecem ter uma boa bilheteria, pois foram coerentes no que desejavam, e acertaram a mão com força.

A sinopse nos conta que um quarteto de amigos céticos e charlatões protagonizam um decadente "reality show" paranormal no Youtube até o dia que recebem um chamado para examinar uma escola. Segundo o diretor, os alunos estariam histéricos com a suposta aparição do fantasma lendário da Loira do Banheiro. Os oportunistas aceitam a proposta para ganhar dinheiro e gravar mais um conteúdo para o programa deles. Mas tudo muda quando, por acidente, eles libertam uma ameaça real e se deparam com o sobrenatural de verdade. Eles descobrem da pior forma possível que fantasmas existem e que a lenda urbana mais famosa do Brasil quer matá-los. Trancados na escola junto com alunos e professores, esses idiotas farsantes precisarão aprender a caçar fantasmas de verdade se quiserem sobreviver.

O diretor Fabrício Bittar após dirigir o primeiro filme de Danilo Gentili volta a produzir junto com o comediante algo originado da mente doentia de Gentili, e com um grande primor de ideias, boas referências à diversos filmes do gênero, e aliando estilo de terror com suspense investigativo, e claro, incorporando um tom cômico exagerado para cada cena funcionar, o resultado do roteiro do apresentador caiu como uma luva nas mãos de Bittar, de modo que ele soube ser criativo, e com um orçamento muito bem usado e ousado fazer um estilo próprio para ser trabalhado e virar um grandioso nicho dentro não apenas do cinema nacional, mas sim que possa ser vendido lá fora também, pois funciona, diverte, e mesmo apelando para alguns momentos bem forçados resulta em algo que diria incrível para se divertir, rir, e claro se assustar com sustos premeditado, ou seja, um trabalho de primeira linha, que certamente não esperava ver na telona, afinal fui pronto para tacar mil pedras na produção, e cá estou elogiando tudo, então parabéns aos envolvidos, e claro ao diretor que soube orquestrar tudo muito bem.

Quanto das atuações, é claro que tudo é muito exagerado, cheio de trejeitos forçados, muita bizarrice, e claro das loucuras da equipe de Gentili, mas para a ideia do filme, tudo acaba funcionando, e embora brinquem com coadjuvantes e personagens secundários usando das ideias de filmes do gênero, o elenco principal agrada bastante e funciona muito. Para começar, Danilo Gentili faz seus trejeitos bobos, se dá de galã em alguns momentos, trabalha olhares e tudo mais com seu Jack, mas agrada mais por não estragar como poderia, entregando personalidade para o papel, e assim sendo desenvolve bons momentos agradando até o fim. Léo Lins acaba um pouco exagerado com seu Fred, mas soube ser funcional para a trama como o líder desesperado e que só faz trapalhadas, e com isso resulta em algo bem trabalhado e que agrada. Murilo Couto cai como uma luva para o personagem secundário Tulio, que acaba sendo importante ao final por ninguém ouvir ele, e claro fazendo as bobagens usuais que costuma fazer entrega bem seus momentos e agrada também. A jovem Pietra Quintela faz a fantasma de maneira bem coesa e agrada dando bons sustos no público, de modo que tem futuro pela forma expressiva de entregar tudo. Dani Calabresa aparece pouco, mas se sai bem nos momentos que dá para sua personagem. Quanto aos demais, vale destacar apenas o japonês e a professora Helena vividos por Matheus Ueta e Barbara Bruno pois fizeram boas cenas e agiram mais durante o filme, enquanto os demais apenas foram enfeites.

No conceito cênico, a equipe de arte gastou bem o orçamento com muito sangue, aproveitou o colégio imenso para usar todas as salas, e com muitos objetos bizarros conseguiu entregar as cenas mais absurdas possíveis, de modo que o filme se faz valer e agrada muito visualmente. A fotografia brincou bastante com as cenas escuras para que os efeitos visuais funcionassem, tirando a cena besta do cocô, e assim sendo mostra que podem tirar leite de pedra em um filme razoavelmente barato, mas bem trabalhado, agradando de forma coerente.

Enfim, esperava ver um filme bem ruim, e sai da sessão muito feliz com o resultado final, mostrando que se investirem nesse estilo certamente o cinema nacional vai ter um nicho para mais que um público, afinal é incomum algo bizarro dar certo. Sendo assim, recomendo com certeza o filme para todos que gostarem de rir e também de tomar alguns sustos, pois é um ótimo filme mesmo com alguns erros bizarros. Bem é isso, fico por aqui agora, mas vamos para mais um longa agora, então abraços e até logo mais.

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Sequestro Relâmpago

11/29/2018 12:50:00 AM |

Já vimos em diversas novelas o ato de sequestros relâmpagos, mas sempre colocado em segundo plano, mostrando uma ou outra vertente dos atos, até que resolveram fazer agora um longa inteiro dedicado ao ato, acontecendo mil e uma façanhas, com a sequestrada por vezes morrendo de medo, outras vezes auxiliando os sequestradores a não serem pegos, outras vezes se rebelando, e com tudo acontecendo com uma normalidade tão absurda, que ao final ficamos realmente inconformados de ser baseado na história real da artista visual Ana Beatriz Elorza, pois se ela conseguiu manter tanta conexão com os bandidos da forma que é mostrado no longa "Sequestro Relâmpago", ou ela foi algum tipo de gênio, ou os assaltantes eram muito ruins de serviço, pois conhecendo o crime como anda atualmente, na primeira mancada mostrada, os assaltantes já não lhe deixariam com vida. Ou seja, é um filme razoavelmente curto, pois tem apenas 71 minutos, mas a essência é tão alongada que parece ter bem mais, e quem não for bem adepto desse estilo de filme vai acabar se cansando com o resultado final.

A sinopse completa nos conta quase o filme inteiro mostrando que Isabel sai de um bar em um bairro boêmio. Quando se aproxima de seu carro, é abordada por Matheus, 34, e Japonês, 21, que a forçam a entrar. Matheus e Japonês não são amigos. Estão juntos apenas para fazer uma série de sequestros naquela noite. Isabel é a primeira vítima. Eles estão nervosos e Isabel também, mas ela percebe que os três não são tão diferentes entre si e que poderiam ser colegas. Ela investe no diálogo como forma de mediar a tensão imposta pela situação. O primeiro caixa eletrônico para onde se dirigem está quebrado. São quase 22h. Os dois rapazes percebem que não conseguirão chegar ao próximo caixa e decidem manter Isabel como refém até que os caixas voltem a funcionar pela manhã. Os três passam a noite dirigindo de um lado para o outro de São Paulo, a maior parte do tempo em avenidas e bairros às margens da cidade para ganhar tempo e decidir o que fazer com Isabel. Refém em seu próprio carro, Isabel terá que negociar sua vida com Matheus e Japonês durante toda a noite.

A essência do cinema que a diretora Tata Amaral costuma entregar é bem coesa em cima de algo mais pontuado, e sempre segue um vértice direcionado em suas obras que consegue segurar o tema do começo ao fim, e aqui não foi diferente, pois se você desejava ver um longa sobre um sequestro relâmpago, você verá isso do começo ao fim, contendo até algumas situações bem absurdas, mas que dizem ser embasadas pela pessoa que viveu realmente esse sequestro. Diria que o longa poderia ter sido mais dinâmico, ter abusado mais de situações mais fortes, e até mesmo algum tipo maior de violência acontecendo, afinal sabemos que a maioria dos sequestros relâmpagos que ocorrem no Brasil não são tão bonzinhos como apresentado no longa, e mesmo que tivesse um dos dois lados (ou uma sequestrada completamente inteligente e sagaz que conseguisse ludibriar os sequestradores, e/ou sequestradores bobos o suficiente para não irem para vias mais fortes vendo a sagacidade da sequestrada), o acontecimento certamente seria bem diferente. Ou seja, faltou algo a mais no longa para ser crível realmente, e não apenas ir para o rumo bonitinho de ser visto no cinema, pois certamente a diretora saberia ser mais forte e agradaria mais o que seria entregue.

Sobre as atuações, não diria que ninguém do trio tentou se superar sobre o outro, e esse talvez seja um dos grandes problemas do filme, pois vemos os três indo bem o longa quase que inteiro, tendo seus devidos atos soltos bem encontrados, mas sempre um dependendo do outro para que o fluxo corresse, e isso numa trama de suspense/drama policial é imprescindível. Para começar Marina Ruy Barbosa é uma boa atriz, que sabe se expressar e consegue trabalhar bem os olhares de sua Isabel, porém sempre que ia despontar baixava um tom e voltava para a estaca zero, o que não é bom de se ver, e nem passa uma credibilidade nos atos, ou seja, poderia ter ou desgarrado para a loucura de vez, ou talvez fazendo alguém mais problematizado, chorando, gritando e tudo mais chamaria mais a atenção, pois mesmo não sendo ruim o que faz soa falso e fraco. Sidney Santiago conseguiu transmitir logo no começo seus motivos para entrar no sequestro, mas no início até entendemos algumas atitudes de seu Matheus, mas no decorrer da trama ele acaba se perdendo no eixo, e claro que o meio faz o ladrão, mas seus atos começam a ficar tão misturados que acredito que nem ele mais no final sabia o que estava fazendo, e talvez pela trama não ter sido filmada em sequência real, ele desandou um pouco, mas ainda assim, como disse, entendemos seus motivos, e talvez ele usando mais disso, o resultado seria outro. Pelo outro lado, Daniel Rocha teria de ter colocado tudo a perder para seu Japonês, e feito desde o começo dos atos o que fez na lanchonete, pois aí sim deixaria de ser um simples secundário para o principal e mais forte, entregando um assaltante de primeira linha, com força e impacto visual, mas ainda assim conseguiu ter alguns momentos com sentidos envolventes e até agrada um pouco. Quanto aos demais, a diretora quis ter elos, trabalhando alguns personagens de complemento bem rapidamente, e falhando por não serem nem desenvolvidos, nem servido para muita coisa, parecendo quase que se tivesse tempo viraria daquelas novelas com elenco de apoio que acaba falando mais do que deve.

Como a trama passa a maior parte do tempo dentro do carro, praticamente as ruas de São Paulo viram locações cênicas, com suas placas, seus engarrafamentos, blitz policiais, barzinhos de fim de mundo, e tudo mais, de modo que nada encontra uma força maior para servir como mote da trama, e sendo assim somente o carro funciona como algo a mais, e até entrega ali bons momentos. Diria que a equipe de arte não teve um trabalho para ser reconhecido, mas ao menos não desapontou nas cenas fora do carro como no desmanche, no barzinho e na casa da protagonista aonde souberam entregar bons elementos para dar uma valorizada na trama. A fotografia brincando com as luzes das ruas teve até seu charme em determinados momentos, mas acaba mais cansando do que agradando no resultado final, ajudando a alongar as cenas, e por determinados momentos acaba parecendo até algo monótono demais as diversas passadas.

Enfim, é um filme com uma temática bem colocada, mas que poderia ser desenvolvido de diversas maneiras melhores que certamente entregaria um longa mais próximo de uma realidade, ou se quisesse jogar tudo ao vento que criasse algo mais poético, que aí faria algum valor ter tudo mais bonito, mas ainda da forma que é entregue quem está mais acostumado com novelas certamente irá gostar mais, mas quem for esperando algo mais pontuado, a chance de reclamação é bem grande. Bem é isso pessoal, encerro aqui essa semana cinematográfica, mas já volto amanhã com mais estreias, então abraços e até logo mais.

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O Fantástico Patinho Feio

11/27/2018 10:21:00 PM |

Só tenho uma coisa para falar logo de cara sobre o documentário "O Fantástico Patinho Feio": que roteiro de ficção fantástico!!! O produtor que ver esse documentário e não sentir a vontade imensa de correr até todas as pessoas envolvidas para conseguir o direito de criar um longa de ficção de primeiríssima linha envolvendo toda essa história, não sabe o que viu nos cinemas, pois a história em si é maluca, mas moldada de uma forma bem carismática, com diversos entrevistados praticamente contando a mesma história quase que em um jogral com um brilho nos olhos mesmo após mais de 40 anos é algo lindo de se ver, o único adendo para transformar isso numa ficção é a grana, pois certamente iria muito dinheiro para criar toda a época com muitos carros, recriar uma cidade que praticamente já foi mudada por inteiro, e tudo mais. Então o jeito é assistir ao documentário e imaginar todas as cenas, pois é completamente imaginário a forma que cada um vai passando como tudo ocorreu, com público, os envolvidos, os amigos e tudo mais, fazendo com que a trama servisse até mais do que um arquivo, mas um afloramento de ideias maravilhoso que empolga e agrada. Agora sendo o crítico chato, embora a forma visual imaginativa nos permeia, a forma de documentar tudo acaba sendo um pouco enfadonha e cansativa, de tal maneira, que por falta de mais imagens de arquivo, o filme fosse falado demais, e assim sendo como documentário o resultado cansa mais do que agrada, mas ainda assim para quem nunca ouviu falar da história, vale a conferida.

A sinopse nos conta que nos anos 1960, quatro jovens de Brasília decidiram construir um carro para competir na segunda maior corrida do país, os 500 km de Brasília. Pilotando contra outros 33 veículos, a maioria de grandes marcas internacionais, eles largaram em último lugar, mas conseguiram terminar a corrida na segunda posição, quase vencendo a corrida.

O diretor Denilson Félix mostra em seu primeiro longa, o quanto ficou aficionado pela história quando viu os criadores do carro, e consequentemente da oficina Camber, na festa de 30 anos da oficina, e realmente tenho de concordar com ele, que era mais do que necessário tirar essa história de uma festa para ser contada nos cinemas para que todos vissem a maluquice que foi todo esse processo interessantíssimo, ou seja, ele acabou levando mais pelo brilho que enxergou e que certamente pensou na dificuldade de criar isso como ficção, pois todos sabemos bem o quão difícil é retratar época com carros e cidades. O diretor foi sábio em montar seu documentário praticamente pedindo para que cada um contasse toda a história completa, e depois ele interligou cada um contando pedaços, formando a história toda, e isso é algo inteligente, mas deveras cansativo, pois ele poderia ter arrumado mais material de algum lugar para que seu filme não ficasse apenas conversado, ou senão montado algum estilo de debate/discussão para que tudo fosse contra-argumentado, e aí sim ter mais dinâmica no desenvolvimento, mas volto a frisar que como algo para quem não viveu essa época o resultado funciona.

Quanto aos entrevistados, como disse no começo é notável o brilho no olhar de cada um para falar do milagre que foi um carro construído por quatro jovens em uma oficina improvisada virar o segundo colocado numa das maiores corridas do país na época do estouro das fábricas de carros no Brasil, e tanto os quatro jovens (que já não são mais jovens), quanto pilotos da época, jornalistas e amigos acabam falando com gosto sobre tudo o que viram naquele dia, sobre como eram os pegas, e tudo mais, fazendo a história fluir muito bem, e assim sendo, o resultado ao menos surpreende, mesmo que canse demais por soar muito repetitivo no que todos contam da história.

Enfim, é um longa que poderia ter um desenvolvimento melhor, que talvez pudessem ter criado algumas cenas fictícias no meio para dar uma dramatizada mais bacana, ou que conseguissem mais materiais da época para formatar melhor a trama, mas que ainda assim do jeito que foi feito vale a conferida para quem é fã de esportes/corridas, e quem sabe, torcermos para algum maluco maior que os quatro jovens, surja, e faça essa trama virar uma ficção de primeira linha. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto, então abraços e até logo mais.

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O Segredo de Davi

11/27/2018 01:14:00 AM |

Acho que esse ano já ficou até chato o tanto que falei que o nosso cinema nacional melhorou, mas sempre que vejo qualidade, e principalmente diversidade nas produções que antes eram apenas ou drama romanceado novelesco ou comédias escrachadas também novelescas, e agora aparecendo terror, suspense, policiais, romances bem pautados, e claro, a mistura de gêneros bem elaborados para que o público passe a ver não mais um filme brasileiro no cinema, mas sim um terror, um suspense e por aí vai, não precisando que o Coelho venha aqui falar eis que surge um longa nacional de terror, e blá blá blá, mas assim como faço nas obras francesas, americanas, inglesas, e tudo mais apenas falando do gênero em si. Dito isso, e voltando apenas os olhos para a obra "O Segredo de Davi", temos aqui um suspense nos moldes de grandes thrillers, aonde talvez uma não entrega tão de cara dos fantasmas quem são, mas sim deixando uma essência para o público pensar teria sido algo melhor, mas o fechamento com uma grande sacada acabou revertendo tudo de uma forma tão bem colocada, que aliada à boa interpretação do protagonista conseguiu criar vértices para lembrarmos bastante da trama mais para frente, ou seja, um filme que dá para recomendar e que certamente trabalhou dentro de um contexto forte e interessante para o gênero, e que por bem pouco não diria que seja uma obra perfeita, pois são falhas simples que poderiam ter sido resolvidas, mas ainda assim é um filme muito bem feito.

O longa nos conta que Davi é um jovem voyeur, que adora filmar os outros sem ser percebido. Um dia conhece Jonatas, mais velho que ele, que está na mesma turma da faculdade por cursá-la como eletiva, para o mestrado. Davi sente um estranho fascínio pelo novo colega e, após uma conversa macabra, decide ele mesmo eliminar pessoas que considera dispensáveis. Sua primeira vítima é uma vizinha, que mal fala com as pessoas. Ao matá-la, Davi é surpreendido com o súbito reaparecimento dela, revelando que há algo por trás dos atos do agora serial killer.

Em sua estreia na direção e roteiro de longas metragens, Diego Freitas conseguiu trabalhar de uma maneira bem enxuta (com um orçamento de menos de 500 mil, e como apareceu sem logos do governo, aparentemente sem incentivos fiscais!), e criou um enredo que pode ser visto de diversas maneiras, mas que principalmente segue um fluxo coeso na formação do protagonista como um serial killer, mas que acabamos entendendo mais ao final seus reais motes de suas mortes, o que na minha opinião poderia ter sido ainda mais no fim, pois a surpresa seria incrível, mas como acabou desenvolvendo tudo para esse rumo, o acerto foi bem trabalhado no fechamento com o melhor estilo de formatação de longas envolvendo assassinos. O maior problema talvez tenha sido do diretor querer entregar tudo bem colocado ao mesmo tempo que também desejou ocultar muita coisa, e assim o longa parece indeciso de atitudes, o que acaba ficando um pouco estranho, e também com um início meio lento o resultado demora a prender o espectador, tanto que algumas pessoas acabam saindo antes da metade do longa, mas quem ficar acabará entendendo tudo e se surpreendendo, pois a eficiência da direção é bem pautada na ideia, e com um bom ator como protagonista, o resultado foi bem satisfatório.

É fato que temos diversos personagens de elo na trama, mas basicamente o filme é moldado todo nos ótimos trejeitos de Nicolas Prattes, que entregou um Davi cheio de dúvidas e muita imposição para com a personalidade que o personagem lhe exigia, criando olhares, situações e até tendo momentos confusos clássicos de grandes personagens do estilo, de modo que ficamos vidrados nele, questionando sua índole, ou para que está fazendo tudo, e que moldes ele irá fazer, ou seja, conseguiu ser enigmático também, demonstrando atitude para que seus atos fossem premeditados e funcionais, ou seja, agradou demais. Neusa Maria Faro também soube entregar bons momentos de sua Maria, mas seus momentos maquiada como a vizinha funcionam bem mais do que como uma influenciadora após morta, mas a atriz conseguiu ser dinâmica e interessante em diversos momentos bem espaçados. A relação do protagonista com Jonatas vivido por André Hendges é algo meio estranho, podendo ter vértices que até fogem de serem analisados, mas o ator foi bem coeso nas entrelinhas, entregando boas cenas, e deixando seus momentos mais voltados para um cunho sensual, o que chega a ter bons elos, mas também esquisitos, o que funciona das duas formas. Quanto aos demais, tivemos alguns momentos bem colocados com Eucir de Souza com seu Carlos, principalmente na luta corporal bem forte, tivemos momentos interessantes de olhares com Bianca Müller e sua Dóris, e até alguns atos engraçados com o amigo Caio, interpretado por João Côrtes, mas nada que fosse muito chamativo.

No conceito cênico a trama conseguiu entregar locações bem exóticas, com uma boa dose de elementos cenográficos prontos para funcionar, referências jogadas a todo momento para realçar o passado e o presente do protagonistas, e principalmente boas dinâmicas com a maquiagem para causar sensações, e claro funcionar nas mortes, de modo que com um ambiente sujo e bem causador do momento forte, se vira para um ar limpo e belo dentro da mentalidade maluca do protagonista, ou seja, um trabalho minucioso da equipe de arte que agradou bastante em todos os contextos. Uma grande sacada da equipe de fotografia foi a de não usar cenas exageradamente escuras, brincando com fotogramas e iluminações brilhantes chamativas, para causar realmente estranhamento e usando de contraluzes fortes para destacar cada momento, o filme entrega até um ar meio que de película para o envolvimento completo, ou seja, algo que chama a atenção visual, causando as sensações que o longa pedia.

Enfim, é um filme bem trabalhado, que conseguirá chamar a atenção de quem gosta do estilo, mas que também por possuir alguns leves defeitos causará um estranhamento por parte de um público que não está acostumado a ver longas mais voltados para um personagem em si, mas digo que quem se propor a conferir o filme sem preconceitos é bem capaz de sair bem satisfeito com o resultado final, torcendo até mais pelo assassino do que pelos demais. E sendo assim, até recomendo bem o longa para todos, pois consegue funcionar e ser interessante. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais uma estreia, então abraços e até logo mais.

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De Repente Uma Família (Instant Family)

11/26/2018 01:43:00 AM |

Bem, se você nunca pensou em adotar uma criança e/ou um adolescente do sistema diria que esse não é bem um filme que você deva conferir, pois pode ser que você mude de ideia depois de conferir "De Repente Uma Família", que consegue comover, emocionar e divertir em todos os sentidos com boas conectividades entre os protagonistas, senso de humor bem jogado sem ser apelativo, e claro bem colocadas situações para envolver o público com uma história até que simples, mas que foi bem trabalhada em se desenvolver de maneira ampla, usando claro uma história real (que é mostrada a foto da família no começo dos créditos) e ousando pela sintonia dos personagens para mostrar grupos de adoção, e claro a vida de uma família sendo formada da maneira mais bagunçada possível, ou seja, um longa bacana de conferir, que entrega o que se propõe com louvor, pois na sala é visto altas risadas e muita gente emocionada também, o que com certeza era o determinado por quem fez o filme.

A sinopse nos conta que quando Pete e Ellie decidem começar uma família, eles começam a explorar o mundo da adoção. Ao conhecer três irmãos, incluindo uma adolescente rebelde de 15 anos, eles se veem indo de nenhuma criança à três do dia para noite. Agora, Pete e Ellie precisam tentar aprender as dificuldades da paternidade para conseguir formar uma família.

Contando a sua real história, o diretor Sean Anders conseguiu trabalhar o roteiro de como foi seu propósito de adoção, e claro dar uma incrementada para que o longa ficasse mais divertido e bem dinâmico, mas soube ponderar bem os atos para que a história fluísse, pois é bem difícil notar as situações que caberiam como fictícias dentre as diversas loucuras, bem como também em alguns momentos saímos emocionando com o ar de que é legal montar uma família com base nisso. Claro que essa não foi bem a proposta do diretor, de mandar todo mundo para o centro de adoção e voltar com três crianças para casa como se fosse um mercado, mas sim mostrar as dificuldades, como ele diz em um making of, que teve no processo e na criação de seus filhos. Ou seja, tendo a base em sua vida, Sean soube pegar seu estilo cômico bem marcado de diversos filmes, e entregar uma obra completa, que fosse doce e emocionante na pegada familiar, mas que ousasse trabalhar as situações engraçadas que acontecem em famílias malucas, em centros de adoção com malucos e tudo mais, trabalhando até algumas piadas de humor negro (características de todos seus longas) para apimentar um pouco a ideia, e com isso o longa funciona como deve ser e agrada a todos.

Sobre as atuações tenho que dizer logo de cara que todos foram extremamente carismáticos com seus personagens, e mesmo que alguns tenham menos destaque do que outros, compartilharam boas situações para que o filme fluísse bem e tivesse um ótimo resultado. Para começar Mark Wahlberg deve estar com muita vontade que seus filhos fossem para os cinemas ver seus longas, pois está fazendo quase que um ou dois longas familiares por ano, e aqui seu Pete entrega praticamente tudo o que já vimos nos demais que fez, mas sempre sendo coeso na entrega do personagem acabamos entrando no seu carisma, e emocionando com suas situações bem dinâmicas e resolvidas da melhor forma, que claro como produtor do longa soube trabalhar para agradar mais e se vender. Rose Byrne é uma atriz bem versátil, e que não anda recusando nenhum tipo de longa para fazer, de modo que já a vimos em 4 longas só nesse ano (dois nesse mês!), e aqui com sua Ellie, ela entrega uma boa dose maternal e parceira para cada um dos atos, de modo que vamos entendendo ela aos poucos e gostando do que faz, mas em determinados momentos soou um pouco exagerada. Dentre as crianças, todas deram bons tons para o longa, seja gritando, chorando, sendo bobo, ou até irritante em alguns pontos, de modo que tanto Gustavo Quiroz com seu Juan, quanto Juliana Gamiz com sua Lita, e Isabela Moner com sua Lizzy foram bem colocados, tendo Isabela entregue um pouco mais de interação, superando desafios e mostrando que vai chamar muita atenção nos filmes que está para vir como protagonista, inclusive botando a voz para jogo cantando a música dos créditos. Dentre os demais, a diversão ficou bem colocada na dupla de assistentes sociais vividas por Octavia Spencer e Tig Notaro, que entregaram boa perspicácia nas cenas, e muita dinâmica para mostrar como se deve ser profissional em meio a um grupo de malucos que desejam adotar.

No conceito cênico, o longa praticamente brinca com os programas mais vistos atualmente na TV a cabo, de pessoas que compram casas para reformar, destroem tudo e ganham altos lucros na venda depois, mostrando o casal reformando e usando desse artifício também para mostrar a cura da raiva entre outros problemas, e juntando isso, tivemos boas cenas em diversas locações, como parque de diversões, sorveterias, lojas, centros de adoções, juizados de família, e claro casas e acampamentos, aonde muitos elementos cênicos foram utilizados para criar os problemas, e isso tudo mostrou que a equipe de arte teve um grande trabalho para que uma produção razoavelmente simples tivesse o efeito correto de vários meses em família, o que funcionou. A fotografia também não se prendeu a simplicidade, e trabalhou muitos tons coloridos para que o filme ficasse mais divertido, e usando de luzes de contraste baixando apenas um pouco do tom forte, conseguiu dramatizar as cenas mais tensas, deixando ainda a trama bem tênue, ou seja, um grande trabalho mostrado.

Enfim, o longa está longe de ser perfeito, pois trabalhou com muita oscilação na temperatura de humores, e também acabou usando de muitos clichês no desenvolvimento, mas mesmo com pequenos defeitos o resultado é incrível de assistir, pois diverte bastante e emociona na medida certa, não necessitando fazer com que o público lave a sala para gostar do que verá na tela, ou seja, recomendo ele para todos que gostam de filmes leves, bem feitos e que possuem uma proposta boa na essência. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto, então abraços e até logo mais.

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O Colar de Coralina

11/25/2018 07:38:00 PM |

Existem alguns filmes que saem e nem entendemos o motivo de serem lançados, e conseguem parecer tão fracos quanto a ideia completa. Dizer que "O Colar de Coralina" é um filme mal feito seria ironia, pois ele consegue ir além disso, mas aparenta ser aqueles filmes feitos de conclusão de curso de cinema, aonde tendem a querer mostrar detalhes de cenografia, bizarrices na história, e principalmente colocar trejeitos nos personagens, de tal maneira que acabamos não entendendo nem a mensagem, nem o que queriam entregar para o público, ou seja, um filme vazio, mas que até possui uma produção razoável de conferir num festival estudantil. E sendo assim, as poucas pessoas que entram na sala do cinema acabam saindo bem antes do fim pois não conseguem nem entender qual a real proposta da trama, se é que tinham alguma.

A sinopse nos conta que a menina Aninha, futura poeta e doceira, é uma criança considerada feia, frágil, desajeitada e oprimida por praticamente todos que a cercam. Ela encontra no jogo da amarelinha um meio de superar os próprios limites e, na imaginação, uma fuga do meio opressivo em que vive. Sua infância, marcada pela rejeição, é relembrada na vida adulta por sua ligação afetiva e trágica com o prato azul-pombinho, último de uma coleção de noventa e duas peças, pertencente à sua bisavó Antônia.

Em sua estreia na direção, Reginaldo Gontijo até demonstrou momentos de diferenciação em estilo, trabalhando elementos alegóricos fora da realidade para transmitir a sensação da mente fantasiosa da garotinha, mas ainda lhe falta muito tato sobre como entregar um longa mais comercial aonde o público realmente saísse da sessão refletindo sobre algo, ou até mesmo se divertindo sobre o que é mostrado, mas ele apenas entregou um filme simples de essência, bem trabalhado em trejeitos, e até bem colocado no momento temporal da trama, o que acaba sendo algo além de agradável, bacana pelo esforço, mas como disse fraco demais para vender ingressos, e assim sendo não recomendável.

Sobre as atuações, é fato que o elenco foi muito bem trabalhado para os sotaques e trejeitos, mas só isso não é algo que sustente, ficando parecendo não estarem à vontade na produção, principalmente as crianças e os mais velhos, ou seja, acabaram cansadas das diversas tomadas para o resultado final ficar bom. Diria que o papel de Leticia Sabatella é mais importante pelo contexto em si, das mulheres independentes que foram em busca de trabalho após a abolição da escravidão e da morte dos maridos nas guerras, do que sua própria interpretação, que é bem contida, mas forte como costuma fazer sempre, e assim mesmo ela aparecendo pouco, conseguiu ser interessante de acompanhar. A jovem Rebeca Vasconcelos entregou uma personalidade bem colocada para sua Aninha, mas lhe falta ainda muita entonação e carisma para chamar o filme para si, e assim sendo ela acaba parecendo estar com medo do que está fazendo, ou seja, poderiam ter trabalhado mais ela. Embora seu personagem soe simples, a empregada vivida por Val Moreno acaba sendo uma grata surpresa pelas colocações da atriz junto dos demais personagens, e assim sendo temos algo ao menos simples e funcional na trama. Agora quanto aos demais, é melhor nem pontuar, tendo a visita sendo a coisa mais estranha que já vi na vida no cinema.

No contexto artístico, o filme ao menos se preza, pois, conseguiram arrumar locações bem colocadas dentro do período em que o longa se passa, souberam usar adereços bem simples, mas eficientes em quase todos os momentos, tirando claro os bailes e viagens da mente da garotinha que vemos o uso de papel simples demais para um longa, parecendo um trabalho ultra amador, ou seja, poderiam ter gasto um pouco mais para não parecer desleixo ali, afinal é o momento mais funcional da trama. Ao menos nas animações, conseguiram ser singelos e bonitos, mas nada que impressione realmente.

Enfim, um filme que não tenho como recomendar, pois, beira muito o amador, sendo vendido como uma coisa, e entregue outra que nem passa perto da ideia, além de voltar a frisar que já vi muitos trabalhos de faculdade de cinema anos-luz melhores que o entregue aqui, fazendo os 77 minutos de duração parecerem maiores que uma novela de muitos capítulos, de tanta enrolação. Ou seja, ainda estou procurando saber quem era Coralina sem ser a senhora no fim, pois durante o longa inteiro nem falam nada disso, além do colar ficar com Aninha. Portanto, fujam que não tem como ver e recomendar. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas vou ver outro para tentar salvar o dia, então abraços e até logo mais.

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Refém do Jogo (Final Score)

11/25/2018 02:30:00 PM |

Existem alguns filmes que são lançados nos cinemas que vemos claramente que não foram bem pensados dentro da proposta completa, ou até talvez os roteiristas pensaram demais criando algo que fosse além do que seria capaz de entregar, pois sempre que vejo um filme de ação aonde ocorrem situações tão descabidas como as que são mostradas em "Refém do Jogo", de uma moto correr no telhado laminado de um estádio, ou pessoas voando de andares altos e logo em seguida saindo correndo, ou até um profissional armado dar diversos tiros a esmo e errar seu alvo, fico pensando: será que pensam que o povo é bobo de acreditar nisso, ou apenas estão tentando nos entreter? Melhor ficar com a segunda opção, pois entretenimento nunca é demais, e ao menos isso o longa consegue atingir e agradar, pois com uma dinâmica bem envolvente, o resultado é que você acaba ficando interessado pela forma conduzida, pelos personagens, e até ri de diversos absurdos, mas certamente um ator melhor daria um tom mais propício e talvez lembraríamos mais dele daqui algumas semanas, pois é diversão apenas para num momento descontraído perder algumas horinhas na frente da TV, e nada mais.

A sinopse nos conta que de tempos em tempos, Michael Knox viaja a Londres para rever a esposa e filha de um grande amigo, que faleceu quando ambos estavam servindo no Afeganistão. Numa destas visitas, Knox leva a adolescente Danni para um importante jogo do West Ham, que pode levá-lo à decisão da Liga Europa. O que ele não esperava era que um grupo de dissidentes russos teria um plano de ação em pleno jogo de futebol, tornando todos os presentes reféns enquanto busca seu antigo líder, até então considerado morto.

O diretor Scott Mann mostra que sabe pegar uma trama interessante e colocar dentro de uma proposta maior com um orçamento relativamente baixo, pois embora aqui tenha um jogo de futebol acontecendo, poderia estar rolando qualquer outra coisa, já que nada do que acontece realmente na partida importa, mas sim as corridas nos corredores, na cozinha do estádio e até mesmo no telhado, aonde os maiores absurdos acontecem. Porém como disse no início, aqui faltou para o diretor se encontrar com a proposta para que o filme entregasse algo maior, e não apenas uma correria desenfreada, pois no início até temos diversos momentos jornalísticos para tentar conectar o público com a ideia revolucionária dos antagonistas, mas tudo é simplório e não atinge um objetivo mais formatado, e de outro lado também acabam mostrando algo quase nulo para tentar conectar a garota e o protagonista, numa das conversas mais soníferas do cinema mundial, cheia de melodrama barato que não chega a lugar algum, daí então quando tentam colocar isso no meio do jogo, o resultado parece até uma grande mistura exagerada, mas funciona, e quem sabe se tivessem envolvido também algum fator de campo, algum jogador, ou o técnico quem sabe, aí sim o longa pegaria fogo e ficaria bem mais interessante do que uma caça de um determinado personagem jogado na arquibancada que vai aparecer nem quase 15 minutos e já entra como "protagonista" do pôster.

Quanto das atuações, tudo bem que desejavam um brucutu grandão para protagonista, mas sabemos bem que Dave Bautista é alguém bem limitado no conceito de diálogos e de trabalhar expressividade sem ser boas porradas e trabalhos com ares cômicos, de modo que acabamos vendo algo que chega a desanimar em diversos atos de seu Mike Knox, só voltando a funcionar quando ele sai na mão com os vilões, tendo ao menos um pouco mais de coesão, ou seja, poderiam ter se arrumado um ator mais de ponta ou algum grandalhão menos conhecido que talvez chamasse até mais atenção para que o público se envolvesse realmente com ele. Lara Peake é daquelas garotinhas tão bobas na trama, com um ar triste, que faz besteiras e tudo mais com sua Danni, que acabamos até torcendo para que ela morresse na história (aliás o semi-fechamento da trama se acabasse ali, faria o público sair chocado com o resultado e o longa seria um dos melhores do ano talvez! Mas como não acaba, sendo uma leve pegadinha para quem não prestou atenção no filme desde o começo, ainda deram conta de atrapalhar um pouco mais). Amit Shah deu a comicidade que não puderam dar ao protagonista para seu Faisal, e usando artifícios, até que preconceituosos, conseguiram dar dinâmica e boa coesão para um personagem que certamente passaria despercebido em um longa mais sério, mas ao menos seus momentos foram engraçados, e agradaram no resultado final. Ray Stevenson tem um estilo clássico de vilão, sabe trabalhar bem olhares e entonações, mas seu Arkady ficar praticamente mais da metade do longa apenas mandando por uma sala de controles não demonstra nem metade do que sabe fazer, talvez ele agindo mais como foi no final, o longa teria ido para rumos bem melhores. Todos sabem bem Pierce Brosnan é um grande ator, sabe entregar expressividade em seus personagens, criar bons diálogos, e tudo mais, aí me vai um diretor e coloca ele sentado numa poltrona de estádio 90% do filme, usando seu Dimitri apenas em duas cenas praticamente, aí não tem como defender, pois, acabou nem fazendo nada, sendo apenas um gasto na produção. Quanto os demais, diria que apenas participaram, tendo leves destaques para a russa maluca Tatiana, interpretada por Alexandra Dinu que correu, bateu e fez muitas caras e bocas como vingança pessoal até sua última cena sendo bem forte.

No conceito artístico, a trama até entregou algo interessante de ver, mas que sabemos ser totalmente impossível, como corridas de motos pesadas no telhado de um estádio (com toda certeza só de passar perto já despencaria), bons corredores, e claro muita munição para tiros, facadas e tudo mais, mas sem dúvida as melhores cenas foram na cozinha, aonde todos os objetos cênicos foram usados ao extremo, e assim funcionando como um bom longa de ação violenta deve entregar. Quanto da fotografia, a trama brincou com os tons de um estádio, dividindo bem a torcida, usando luzes de helicópteros, sinalizadores, e claro trabalhando muito os tons vermelhos para causar a sensação de ação ainda maior, ou seja, foram coesos.

Enfim, é um longa que quem for conferir esperando ver uma boa ação, irá se divertir e sair satisfeito, mas quem esperar ao menos um pouco de complexidade, ideias para reflexão, bons diálogos ou até mesmo um roteiro mais coeso, vai sair revoltado, então como costumo dizer, pegue uma boa pipoca e curta, ou quando estiver zapeando na TV, veja relaxado, pois só servirá para isso mesmo, passar um tempo na frente de uma telinha ou telona, e até rir quando passar na TV e cortarem diversas cenas inúteis. Ou seja, um filme bem mediano, mas que não incomoda. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto, então abraços e até logo mais.

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O Grande Circo Místico

11/23/2018 01:26:00 AM |

Chega a ser até difícil vir falar algo de "O Grande Circo Místico", pois o diretor Carlos Diegues praticamente demorou oito anos desde que foi iniciada a produção do filme, e desde lá já se falava muita coisa sobre a trama, sobre contar a história de 100 anos de um circo, seus bastidores, e como foi a passagem entre as cinco gerações da família, e a cada ator de grande nome no cinema que era citado, a expectativa em cima do longa só aumentava, na sequência o longa é anunciado como o nome nacional para concorrer à vaga do Oscar de Filme Estrangeiro, ou seja, deixou todos extremamente aflitos para conferir, e eis que hoje o longa estreia na cidade, e a decepção veio junto com cada cena entregue, que sim até tem todo um misticismo, mostra os diversos personagens, mas assim como é mostrado numa placa logo em uma das primeiras cenas do filme, esteja preparado para muita putaria, e claro sexo sem limite, inclusive com cenas de estupro, membros e tudo mais, ou seja, mesmo com classificação de 16 anos, a qual crianças podem assistir acompanhada de um responsável, recomendo que não levem ninguém menor de 18 anos, pois pode ser algo meio constrangedor. Ou seja, dizer que o filme é extremamente ruim é algo forte demais, mas ser algo que valesse qualquer indicação também é uma loucura completa, pois o filme é abstrato, cheio de coisas desnecessárias, e que mesmo mostrando que a vida nos bastidores de um circo passa bem longe de ser as mil magias como parece ser no picadeiro, dando uma realidade mais dura, o resultado acaba sendo estranho demais para sairmos alegres ou até mesmo reflexivos com tudo o que acabamos de ver na telona, ou seja, bagunça demais em tudo.

O filme conta a história de cinco gerações da família dona do circo. Desde a inauguração do Grande Circo Místico, em 1910, até os dias atuais, os espectadores acompanharão com a ajuda de Celaví, o mestre de cerimônias, as aventuras e os amores da família Kieps, desde o início, passando por sua decadência, até o surpreendente final. Um filme em que realidade e fantasia se juntam em um universo místico.

Diria que o diretor voltou a sua época mais tradicional de direção que foram os anos 70/80/90, aonde o sexo dominava suas produções e puxado sempre para um vértice bem machista conseguia agradar o público de certa forma, mas certamente agora a trama caiu meio que fora de eixo, e mesmo com um brilhantismo bonito, boas canções que já vieram moldadas do musical de Chico Buarque exibido em 82, e até atuações bem trabalhadas, o resultado acabou sendo entregue quase de modo forçado, aonde não conseguimos adentrar ao carisma/conexão com quase nenhum personagem (sem ser o narrador/apresentador claro!), e assim sendo vemos um filme duro, que até tenta ser fantasioso, que entrega alguns momentos bem interessantes, mas que no fundo não passa de uma história moldada e desenvolvida dentro de um modelo para ir mostrando a decadência do circo através de gerações feitas nos moldes apenas para assumir a "empresa" circense e que sem muito afinco só vão deplorando tudo através de quase uma venda dos corpos para criar filhos e ter novas gerações dentro do circo. Ou seja, diria que Diegues até tentou ser bem colocado ao sair do molde do musical, mas que certamente acabou apelativo demais e não chegou nem a 10% do brilhantismo que poderia ter conseguido se o filme focasse de uma forma mais doce e bonita, ou que escrafunchasse de vez e fosse 100% amargo que teríamos algo mais trágico e interessante.

Quanto das atuações, temos que começar falando do apresentador de todos os atos, que até acaba sendo algo mais visceral e de forma que possamos pensar até em algo mais referenciado ao personagem, por praticamente não envelhecer nada durante os 100 anos que o longa se passa, mas que além da simbologia da vida, o Celaví de Jesuíta Barbosa é incrível, como todos os personagens que sempre o ator entrega, e aqui, ele literalmente dá o show para nós, tendo sacadas bem colocadas, momentos de carisma e emoção, e claro muita pontuação enfática nos diálogos, que realmente valeria até deixar o longa somente com ele, que teríamos algo incrível de ver. Diria na sequência que o primeiro ato é de um charme belíssimo, tanto com uma atuação maravilhosa de Bruna Linzmeyer como Beatriz, quanto do médico Fred vivido por Rafael Lozano, de tal forma que mesmo a cena de sexo à lá kamasutra com infinitas posições acaba sendo bonita de se ver, e ambos os atores mostraram uma química bem colocada em todos os momentos agradando com olhares, símbolos, e demonstrações bem colocadas para envolver o espectador para o ato completo. Ainda no primeiro ato tivemos dois grandes atores entregando rápidas participações, mas muito bem colocadas para representar o começo do circo, ainda na família nobre de Fred Kieps, com seu pai interpretado pelo sempre intenso Antônio Fagundes, e a Imperatriz feita pela grandiosa atriz francesa Catherine Mouchet falando um português com sotaque delicioso e bem interpretado. Entrando no segundo ato temos cenas mais fortes, e claro já entra em cena o já quase brasileiro, mas ainda francês Vincent Cassel com o mágico Jean-Paul, que entrega uma personalidade bruta, do qual não gosta de estar no circo, e que acaba ocorrendo diversos conflitos com Charlotte, interpretada de forma meio insossa por Marina Provenzano. O terceiro ato já vem para o lado mais louco da trama, com Juliano Cazarré entregando um Oto completamente apaixonado pela irmã, mas que acaba encontrando em Lily Braun, interpretada bem sutilmente por Luiza Mariani que cantou até que bem bonito, a pessoa para lhe dar sua filha para seguir no mundo circense. E então chegamos ao quarto ato do longa, com Mariana Ximenes entregando a beata Margarete, cujo o pai (Cazarré) não deseja que ela vá para o convento, para claro dar uma criança para a geração do circo, e eis que vemos a atriz que sempre entrega boas personagens malucas acaba fazendo uma loucura muito louca, e junto de seu parceiro de trapézio Ludwig interpretado pelo polonês Dawid Ogrodnik, acaba casando mas de forma bem estranha, para termos outra cena fortíssima e irmos para o quinto e último ato, aonde as gêmeas Amanda e Louise Brito acabaram fazendo Maria e Helena de forma mais bizarra ainda que a mãe, e temos ainda mais grandiosas cenas fortes e bizarras, que ao menos foram bem interpretadas.

No conceito cênico, a trama entrega claro boas locações começando com uma mansão luxuosíssima de época, um cabaré bem simplório e cheio de detalhes, para depois irmos para um circo interessante e cheio de artimanhas, animais, diversos personagens, tudo bem envolvente e detalhado, que com o passar dos anos vai ficando cada vez mais estragado, feio, com furos na lona, com pouca platéia, músicos cada vez mais simples, sempre diminuindo de estrutura e tendo coisas e mais coisas quebradas, que acabam dando um tom bem luxuoso para o resultado final, o que agrada bastante, e mostra que a equipe de arte soube ser condizente tanto em figurinos como nas cenografias para que o longa ficasse completo. A fotografia brincou e ousou bastante em tons fortes, e iluminações passeando pelos personagens por diversos momentos, dando contras corretíssimos que nos davam sensação de preenchimento e agradavam pelo teor de cada cena, mas ainda assim poderiam ter chamado mais a responsabilidade para dar algo ainda mais impactante, que funcionaria também.

Enfim, é um filme que poucos vão gostar, muitos irão conferir para saber o que é que o Brasil está mandando para o Oscar (e talvez até saiam antes do final do filme), e que nem dá para recomendar ele para quem não seja realmente curioso por longas desse teor, pois não é um filme digesto para assistir e sair da sessão maravilhado com o que verá na tela, pois é bem estranho e fora de eixo, pois não ataca, nem acalenta, ficando em cima do muro em todos os sentidos. Sendo assim, se você for, tente enxergar melhor as reflexões dos personagens, e principalmente do apresentador que conduz a vida dos personagens, pois de resto, com certeza não dá para dizer que irá gostar de nada. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.

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Parque do Inferno (Hell Fest)

11/18/2018 11:49:00 PM |

Certamente muitos já foram nesses eventos que alguns parques fazem de noites do terror, hora do horror, e afins, aonde atores mascarados correm atrás das pessoas assustando elas, e ultimamente deram grandes incrementadas criando os famosos labirintos, aonde a tensão fica um pouco mais tênue afinal não tem para onde fugir dos atores, pois bem, eis que algum roteirista ensandecido pensou, e se no meio dessa algazarra de jovens adultos e adolescentes tiver um assassino de verdade infiltrado, e este usar as armas de brinquedo e/ou objetos do próprio parque com grande impacto para matar as pessoas e usá-las de cenário no meio da confusão sem que ninguém nem perceba, e quem perceber passa a ser seu novo alvo? Pronto, genial, um mote para um longa de terror fácil, sem muita alegoria, e que nem precisa ter atores famosos, afinal qualquer ator iniciante sabe correr, gritar e sofrer umas facadas sangrentas no meio de um grandioso cenário. Ou seja, resumidamente desenvolvi toda a tese que os produtores e roteiristas de "Parque do Inferno" tiveram para a elaboração do conteúdo de seu filme, porém só faltou para eles entregar uma história mais forte para que a tensão realmente funcionasse e o longa ficasse mais criativo, não sendo apenas um cara que está lá apenas para matar por "profissão", e claro voltar em segurança para casa, ao contrário de suas vítimas, mas ao menos com um bom cenário o resultado acaba sendo interessante, mas que desejávamos mortes mais fortes, e situações mais envolventes, certamente desejávamos.

Neste emocionante passeio, a estudante universitária Natalie está visitando sua melhor amiga de infância, Brooke, e sua colega de quarto, Taylor. Se fosse em qualquer outra época do ano, as amigas e seus namorados poderiam ir a um show ou a um bar, mas é Halloween, o que significa que, como todo mundo, eles irão para o Hell Fest - um parque labiríntico com jogos e brincadeiras que excursiona o país e chegou a cidade do grupo. Todos os anos milhares de pessoas seguem o Hell Fest para experimentar o medo neste macabro parque temático. Para um visitante, Hell Fest não é uma atração – mas sim um campo de caça. Uma oportunidade para matar à vista de uma platéia boquiaberta, envolvida numa atmosfera terrivelmente divertida com uma horrível realidade que se desenrolava diante de seus olhos. Enquanto a contagem de corpos e a excitação frenética das multidões continuam a subir, ele volta seu olhar mascarado para Natalie, Brooke, Taylor e seus namorados, que lutarão para sobreviver.

É apenas o segundo filme de Gregory Plotkin como diretor, mas sua vasta carreira já passou por diversos longas de terror como editor, ou seja, ele sabe bem que uma boa montagem, com ângulos bem colocados, e situações desenhadas para pegar o espectador desprevenido causam uma boa tensão em quem gosta desse estilo, e dessa forma, ele conseguiu ir criando vértices bem pautados na trama, que embora não tenha uma história propriamente assustadora, consegue causar uma boa tensão em quem sofre de medo de diversos personagens, e claro se assusta com personagens vindo do nada. Confesso que quando fui em diversas dessas noites de parques assustei bastante, tive amigos perseguidos por atores assustando eles sem parar, mas nunca pensei em ter algum maluco suficiente para matar alguém de verdade ali (já nem sei mais se devo ir em algum desses parques depois de ver o filme!), e sendo assim, a proposta é até bem interessante, porém poderiam ter trabalhado um pouco mais o vértice do assassino (já que usam isso ao final - dando um leve spoiler), poderiam ter criado situações mais impactantes como as que ocorrem na segunda metade, e deixado de lado as bobeiras adolescentes, pois aí sim o filme ficaria tenso o suficiente, e o diretor certamente seria visto como um grande nome da volta do slasher aos cinemas. Ou seja, é um filme bem feito, mas que tem falhas altas por não ir num rumo mais coerente como poderia, de modo a causar mais tensão do que cenas desenhadas.

Quanto das interpretações, diria que é até difícil falar dos atores, pois todos sem exceção foram bem bobos e jogados, e mesmo sendo jovens fizeram o tradicional de correr para todos os lados, olhares desconfiados e até se assustaram na hora da morte, o que é legal de ver, mas foram fracos demais em todos os momentos, de modo que nem dá para dar destaque para nenhum. A protagonista Amy Forsyth é desconfiada demais com sua Natalie, parecendo estar até perdida em alguns momentos, mas tentou se expressar melhor no segundo ato e até não desaponta. Reign Edwards entrega sua Brooke como uma pessoa descolada, cheia de virtudes, mas está sempre estranha na tela. E Bex Taylor-Klaus faz de sua Taylor aquelas garotas cheias de manias, que se acham a descontraída, que vai para frente do palco e tudo mais, cheia de gritinhos e tudo mais, de forma que até torcemos por sua morte ser a mais legal, e quase foi, mas ficou no básico. Quanto aos garotos, é melhor nem comentar.

Agora sem dúvida alguma, o melhor do filme ficou a cargo da super produção em cima do parque de terror, pois foram criados labirintos interessantíssimos, diversos figurantes correndo com fantasias, objetos cênicos jogados e bem moldados, e tudo pensado para criação do clima, ou seja, um filme completamente bem feito, que se tivessem trabalhado um pouco mais a história se encaixaria com a arte criada na medida certa para confundir os personagens, e teríamos um conceito formado, aonde poderia surgir até mais filmes dentro de continuações, pois agora com o parque formatado seria necessário apenas uma ou outra modificação para a continuidade ser entregue em outra cidade, com outros atores e tudo mais, afinal como bem sabemos essas festas ocorrem todos os anos. A fotografia trabalhou bem a tensão, com cenas escuras na medida, sem necessitar usar de efeitos para deixar a escuridão exagerada e pegar o público desprevenido, usando para isso jogadas de câmera apenas, o que é consideravelmente bem melhor, e acabou funcionando bem para ajudar ainda mais nos tons avermelhados que a produção escolheu.

Enfim, é um filme que passa bem longe de ser ruim, mas que também ficou longe de ser perfeito, pois com atores e personagens mal-desenvolvidos, e a falta de uma história mais convincente, acabou sendo apenas um longa bem produzido, aonde um assassino sai matando sem motivos aparentes, e isso é algo que até tem um público que gosta, mas na opinião desse Coelho que vos digita sempre, falta algo para convencer. Sendo assim, até recomendo a trama, pois é uma produção legal de ver, mas somente se não tiver nada melhor para conferir. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.

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Entrevista Com Deus (An Interview With God)

11/17/2018 03:07:00 AM |

É interessante como temos uma onda de filmes religiosos aparecendo quase que todos os meses para conhecermos um pouco mais opiniões diversas e até emocionarmos com algumas mensagens, mas na mesma onda também tem vindo alguns longas que são mais reflexivos do que religiosos em si, que trabalham bem a ideologia da fé, embarcando bem no formato do acreditar na sua vontade pode ajudar a sair de um problema grande, e foi assim com "O Que De Verdade Importa", e agora eis que surge "Entrevista Com Deus", que diferente do primeiro agora temos um pouco mais de embasamento religioso em cima do tema, que também mais trabalhado consegue funcionar dentro da proposta emocionando e vivenciando nas passagens bem dialogadas tudo o que vem acontecendo de bagunça na vida do protagonista, e como sua fé e o seu perdão próprio e para com os outros pode ser bom se acreditar nele. Ou seja, temos um filme com uma mensagem bacana, e que trabalha bem diversos elos religiosos, através de um diálogo pontuado e muito bem feito pelos protagonistas, colocando os secundários quase como invisíveis na trama, de modo que não me surpreenderia se aparecesse em breve como uma peça de teatro muito bem atuada por dois grandes nomes, pois o tema dá para brincar bastante, e a forma entregue da mensagem é universal. Diria que o filme tem valor, mas falta um algo a mais para apertar o calo e emocionar realmente como o filme poderia, mas ainda assim, alguns irão refletir bem mais do que o imaginado com o que é mostrado no longa.

O longa nos conta que após cobrir a guerra do Afeganistão, o jornalista Paul Asher retorna para casa, com a sua fé abalada. Completamente sem esperanças, Paul se vê diante do maior desafio da sua vida profissional: entrevistar um homem misterioso que diz ser Deus. Em conflito com suas crenças, ele agora se encontra diante da seguinte questão: O que perguntar a Deus?

Assim como aconteceu com "O Que De Verdade Importa", aqui novamente temos um longa que a renda está destinada à caridade, e após 24 anos apenas dirigindo séries, o diretor Perry Lang volta entregando um longa aonde sua direção se volta quase que completamente aos atores, não tendo quase uma fluidez cenográfica ou alguma interação mais forte com ângulos, trabalhando mais nas expressividades dos dois protagonistas para que o primeiro roteiro cinematográfico de Ken Aguado funcionasse, e entregasse boas dinâmicas. Claro que as escolhas cênicas deram um bom tom para o filme, colocando praticamente as três fases do protagonista com seus familiares (não especificando-as claramente, mas vemos o parque que ia na infância com o pai, o teatro que a mãe trabalhava, e um hospital aonde certamente ele os viu partir!) em cena ele conseguiu dar um ar mais vivo, mas o grande cerne foi feito na dinâmica entre os dois para que através de boas indagações, e mensagens que vemos em livros religiosos funcionassem de forma dúbia e interessante de serem discutidas, ou seja, o longa brinca o tempo inteiro com nossa mente, e até mesmo com nossa fé, de modo que fincamos no protagonista a esperança de para onde ele conseguirá ser levado, e sendo assim o resultado final agrada. Volto a frisar que Lang e/ou Aguado poderiam ter causado mais impacto em muitas cenas, mas foram sutis na proposta, e certamente a mensagem acabará sendo passada.

Chega a ser até engraçado que o longa tenha mais do que os dois atores protagonistas, pois eles até conseguem ter algumas dinâmicas e diálogos bem colocados para frisar a ideia que está sendo passada, mas basicamente só precisamos falar dos dois, e claro para começar temos de ir com o jovem Brenton Thwaites que é daqueles atores que fazem de tudo um pouco, e aqui tentou mostrar que é bom em dramas também, conseguindo entregar uma certa expressividade para o seu Paul, com olhares bem colocados, entonando forte seus diálogos nos momentos de impacto com seu entrevistado, e brincando bastante com seus momentos de dúvidas para todos os lados, de modo que acabamos gostando do que faz na maior parte, mas faltou um pouco mais de coesão em alguns atos junto com as mulheres da trama para que o filme tivesse uma determinação maior com seu personagem, soando um pouco falso nas atitudes, e indo melhor nos atos. David Strathaim é um dos mestres na arte de filmes dialogados ao máximo, e aqui como Deus conseguiu chamar a atenção para si, encaixar boas dinâmicas, e principalmente focar nos atos que lhe foram solicitados, ou seja, está ali para trabalhar a cena com o protagonista, entregando dinâmica nas conversas, e enfrentando ele com sutilezas clássicas bem colocadas, e claro que o ator dá um show. Quanto aos demais, Yael Grobglas entrega uma Sarah até que expressiva, mas que não diz a que veio nas poucas cenas suas, Charlbi Dean Kriek faz o mesmo com sua Grace, só que em menos cenas ainda, e Hill Harper até tenta trabalhar alguns olhares e diálogos com seu Gary, mas não chama a responsabilidade nem na sua cena mais alongada, ou seja, como disse no começo do texto, ainda veremos um dueto nos teatros fazendo o filme funcionar bem melhor.

O conceito visual da trama é bem simples, com cinco cenários bem escolhidos no meio da turbulenta New York, com uma praça aonde pessoas jogam xadrez, com tons bem contrastantes e interessantes para uma entrevista leve no primeiro ato, depois um teatro imenso todo em vermelho para as questões mais pesadas, depois um depósito de um hospital para as questões mais abertas e de revelação, aonde toda a cenografia praticamente é subjetiva para o andamento do longa, tendo ainda no miolo o jornal aonde o protagonista trabalha e seu apartamento, mas ambos com mais toques de preenchimento, aonde tivemos muitos elementos cênicos jogados, do que realmente algo propenso a funcionar para o longa. A fotografia ficou mais de luzes de preenchimento também, dando contrastes para todos os cenários, sem pesar nem aliviar em momento algum para que a trama tivesse algo mais diferenciado, mas funcionou ao menos.

Enfim, é um filme que tem uma proposta interessante, mas que certamente poderia ter ido muito além do que fazer apenas o público refletir, e talvez algo mais pontuado chamasse mais a atenção e daria um público bem maior também, pois a falta de algo que fizesse o público lavar o cinema vai ser a maior reclamação da crítica em si, e talvez alguns vão reclamar também do longa não ser enquadrado diretamente à nenhuma religião, o que na minha opinião é satisfatório. Recomendo ele mesmo para filosofar e refletir sobre fé, pois muitos estão precisando de um pouco mais de crença do que religião para que o mundo funcione melhor. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto, então abraços e até logo mais.

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Juliet, Nua e Crua (Juliet Naked)

11/15/2018 09:52:00 PM |

Alguns estilos de filmes possuem moldes bem prontos, e são poucos os diretores que procuram ousar um pouco dentro da camada estrutural, e o que mais abre brechas para essas leves ousadias é o tal do romance, que se for sabiamente bem colocado consegue ter pitadas inteligentes e entregar filmes gostosos e divertidos sem precisar apelar para nada. Digo isso antes de começar o texto realmente de "Juliet, Nua e Crua" pois a intenção do longa é bacana e mostra como alguns casais vivem hoje na mesma casa e praticamente nem se conhecem direito, além de terem anseios maiores que suas próprias vidas, e claro também por mostrar que alguns fãs até exageram demais em cima de irrealidades sobre seus ídolos, ao ponto de criarem templos, sites, e fazer com que o misticismo seja tão grande que passam a nem acreditar quando conhecem a real pessoa que era completamente diferente daquilo que ele imaginou. Ou seja, um filme com uma proposta bacana, moderna e até divertida, mas que ficou faltando mais romance realmente para ir para algo bonitinho de ver, ou alguma dramaticidade mais tensa, caso fosse para outro lado, ficando bem em cima do muro como um longa diferenciado e inteligente, mas que faltou ousar realmente como poderia para causar e emocionar a todos.

A sinopse nos conta que Annie está presa em um relacionamento de longa data com Duncan, fã obsessivo do obscuro roqueiro Tucker Crowe. Sua idolatria é tamanha que ele chega a ser mais dedicado ao ídolo do que à própria namorada, com quem vive junto há anos. Quando surge uma demo acústica de Tucker, que foi hit há 25 anos e nunca fez um segundo álbum, Annie é extremamente crítica ao material, enquanto Duncan imediatamente o venera. Após publicar um comentário negativo no site dedicado ao cantor, o próprio Tucker entra em contato com Annie, através de um e-mail onde diz que concorda totalmente com o que ela disse.

A entrega dos irmãos Peretz é bem condicionada em cima do livro de Nick Hornby, de modo que tanto o roteiro de Evgenia quanto a direção de Jesse foi toda bem linear, cheia de pontos que dão a leveza com toque de humor, e vão sendo desenhados cada ato em cima de cada um dos três protagonistas, mostrando a insegurança em mudanças de Annie, a cegueira fanática de Duncan, e a bagunça que Tucker leva para alinhar os vários filhos do passado em tentar gostar dele, ou seja, temos praticamente três histórias bem separadas, mas que se alinham e se complementam, criando bons vértices, e que o diretor, que é mais conhecido pelas diversas séries que já fez, conseguiu orquestrar e entregar de uma maneira bem sutil e gostosa de ver. Ou seja, não posso dizer que temos um filme que você sairá apaixonado da sessão (aliás a frase final do longa diz tudo, e é extremamente divertida com relação ao amor!), mas que consegue entreter de uma forma diferenciada e gostosa, cheia de situações bem colocadas dentro de um relacionamento com pessoas estranhas entre si.

Sobre as atuações, diria que Rose Byrne aparece novamente maravilhosa com sua Annie, cheia de diálogos bem pontuados, introspecções colocadas tanto em sua expressividade quanto nos trejeitos, de modo que acabamos nos afeiçoando às suas atitudes e fazendo até as mesmas caras que a protagonista diante de algumas situações, ou seja, conseguiu soar agradável e entregar uma boa personagem. Ethan Hawke se encontrou no personagem Tucker Crowe, de tal forma que praticamente enxergamos o ator em seus momentos de descanso, na bagunça de conversar com um filho falando de outro casamento, e cheio de inteligentes jogadas, o ator conseguiu traduzir o personagem para que o filme fluísse bem durante suas conversas no computador/celular, mas melhor ainda ao vivo quando a bagunça realmente começa. Chris O'Dowd foi bem coeso em sua atuação entregando olhares tradicionais de fãs que são desesperados por algo de seu ídolo, e que acabam nem vendo nada ao seu redor sem ser aquilo que quer enxergar, de modo que seu Duncan acaba tendo um eixo bem trabalhado e consegue chamar a atenção em diversos momentos, fazendo um antagonismo interessante, mas também sendo bem bobo em diversos momentos. Dentre os demais, vale a pena falar somente do garotinho Azhy Robertson, que entregou um Jackson bem colocado, cheio de energia, e que faz do pai um ídolo maior do que a música lhe proporcionou, agradando em cheio com diversos trejeitos bem colocados, e sendo doce o suficiente para gostarmos de seus momentos.

A trama teve um visual simples, bem característico de produções artísticas, e que consegue nos passar todo o marasmo de uma cidade aonde a pessoa nem tem como querer mudar de vida, ficando realmente presa no passado até quando for morrer, ainda mais trabalhando em um museu, e essa boa simbologia para encarar as mudanças, brincando com a personalidade dos personagens, e os objetos cênicos ao redor, acabou dando um tom maior até do que a trama envolve, e assim sendo embora a equipe não tenha feito muitas modificações nos ambientes, o resultado visual acaba sendo bonito e envolvente de se analisar. A fotografia não quis trabalhar muito com variações de tons e humores para que a trama seguisse somente uma linha, e até que saiu bem acertado, pois acabamos indo no mesmo sentimento que a trama propõe do começo ao fim.

A maioria das canções conseguem transmitir sentimentos para o filme, algumas mais, outras menos, e como praticamente todas aparecem legendas durante a exibição, conseguimos ir nos interessando pelo álbum do cantor fictício mais pela essência do que pela balada em si, de modo que até daria para virarmos fãs como é um dos protagonistas da trama. E para quem quiser escutar as canções, aqui segue o link.

Enfim, não é um filme memorável, mas consegue soar envolvente e entregar uma boa dinâmica, que para uma tarde de feriado acabou sendo até gostoso demais conferir e se divertir com tudo o que foi mostrado, mas certamente ficou faltando um algo a mais na proposta, que como disse acima seria decidir de que rumos encarariam o longa, como um romance aonde a mudança de perspectiva acaba chamando a atenção, ou um drama mais impactante devido aos diversos assanhamentos do cantor, que aí sim o longa pegaria fogo. Dessa forma recomendo ele com essa ressalva, mas ainda assim, é um bom exemplar para ser conferido, e está em cartaz em diversas cidades através do projeto Cinema de Arte, então vejam na programação e boas sessões. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais um texto, então abraços e até logo mais.

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