Netflix - Vivo ou Morto: Um Mistério Knives Out (Wake Up Dead Man: A Knives Out Mystery)

12/13/2025 02:05:00 AM |

Muita gente fechou a cara quando a Netflix comprou os direitos da franquia "Knives Out", mas é inegável que ela conseguiu manter o estilo de mistério, e claro o tamanho da produção com muitos personagens e dinâmicas, além de crimes mais complexos para nos deixar confusos e a explicação precisar ser convincente ao final, ou seja, conseguiram fazer com que a franquia fosse sua, sem desrespeitar o enredo original. Claro que quando se precisa explicar demais uma obra ou um mistério, há uma pontinha de erro do roteirista, mas posso afirmar que o resultado final do longa "Vivo ou Morto: Um Mistério Knives Out" ficou bem interessante, e principalmente não entregou logo de cara toda a ideia, deixando que nós fôssemos pegando as pistas e imaginasse algo, mas com tudo bem marcante e bem colocado para que nem o próprio detetive conseguisse (ou quisesse) revelar diretamente.

O longa nos mostra que o detetive Benoit Blanc retorna para desvendar o que talvez seja o maior e mais perigoso mistério de sua carreira. Depois de um assassinato súbito e inexplicável colocar uma cidade de cabeça para baixo, a chefe de polícia local une forças com o perspicaz detetive para encontrar o culpado e a verdade que desafia toda e qualquer lógica. Quando um padre é assassinado à vista de todos na igreja onde dava um sermão, sua morte, aos olhos de Benoit, parece ser fruto de um esquema grandioso e complexo.

Uma coisa que sempre vai me deixar feliz em qualquer continuação, ou no caso aqui em manter o estilo, é segurar o diretor e roteirista Rian Jonhson desde o original no comando, pois ele sabe bem como a franquia funciona, tem tido boas ideias para que tudo fluísse da melhor maneira possível, e claro, tem ganhado dinheiro e carta branca para escolher vários atores para trabalhar em suas tramas, de tal forma que só o elenco de peso já faz você querer dar play no longa, e com ideias cada vez mais complexas. Ou seja, o diretor trabalhou um mistério tão bem amarrado que você fica pensando no começo como tudo pode ter rolado, e que mesmo mostrando depois toda a armação ainda fica tentando achar possíveis furos na dinâmica que não pegamos de cara, mas que davam para ser imaginados rapidamente. Se não me engando o contrato da Netflix é de 7 filmes, então veremos se a franquia terá fôlego para mais 5, mas o mais bacana de tudo é que não diminuíram a qualidade da produção, e muito menos forçaram o público a precisar ficar lembrando dos demais, sendo tudo bem independente, tendo apenas o detetive como elo participativo de toda a franquia, e assim o resultado funciona. 

Quanto das atuações, foi até engraçado ver Daniel Craig com tanto cabelo para seu Benoit Blanc, pois acostumamos a ver ele sempre com o corte mais baixo, que aqui parecia até outra pessoa, e como ele já pegou o jeitão do personagem, suas entregas acabam ficando entre o lado mais bobo e o investigativo, mas sempre com boas sacadas e seu famoso xeque-mate final, que dá o tom na tela. Josh O'Connor trabalhou o seu Padre Jud Duplenticy com uma entrega tão chamativa, com personalidade marcante e botando banca como protagonista do começo ao fim, ou seja, soube segurar demais tudo para que o filme ficasse dependente dele, mas sem soar chato com sua entrega. Agora fazia tempo que Glenn Close não pegava uma personagem tão intensa, e aqui com sua Martha Delacroix soube voltar aos seus tempos áureos e encarar uma personagem perfeita e cheia das nuances, com bons momentos e intensidades. Esse ano Hollywood abusou das heresias, pois colocar Josh Brolin com seu Monsenhor Jefferson Wicks foi algo marcante, chamativo e cheio das nuances, com o ator sendo bem cheio das imposições e contradições, trabalhando cenas fortes e fora do comum para um padre, e assim conseguiu chamar muita atenção na tela. Ainda tivemos outros bons personagens, mas não vou ficar falando muito para não entregar nada, de modo que desde Mila Kunis com sua Geraldine, passando por Jeremy Renner com seu Dr. Nat, tendo também Kerry Washington com sua Vera e Andrew Scott com seu Lee, além de Daryl McCormack com seu Cy e Thomas Haden Church com seu Samson, todos bem encaixados e chamativos dentro das devidas nuances que o longa pedia. 

Visualmente o longa foi bem montado para mostrar uma pequena cidade, mas praticamente nem temos muitos ambientes, focando mais nas cenas da Igreja antiga, a casa do zelador, a cripta e as salas de reuniões, indo rapidamente para algumas das casas dos personagens e para um bar diferenciado, com tudo sendo bem dinâmico e tendo poucos elementos cênicos para não jogar tantas pistas para o público, algo diferente do usual no estilo, mas que funcionou bem dentro da proposta.

Enfim, é um longa bacana, que diverte e entretém bastante, e que como todo bom longa de mistério faz com que brincássemos de tentar adivinhar as coisas, o que vai ser um pouco difícil, mas que dará para matar algumas coisas logo de cara, então fica a dica para o play, e eu fico por aqui hoje, já que está um dilúvio lá fora para ir na última sessão dos cinemas, então abraços e até amanhã com mais dicas.


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Sonho, Logo Existo (L’homme qui a vu l’ours qui a vu l’homme)

12/10/2025 10:14:00 PM |

Uma coisa que acho bacana no cinema francês é a mistura de vários gêneros que certamente você nunca imaginaria que algum maluco uniria, e um exemplo claro disso é colocar pastelão e drama junto na mesma produção, ao ponto que o longa "Sonho, Logo Existo", que pode ser conferido no Festival de Cinema Francês do Brasil, entrega uma trama que se melhor revista por algum roteirista e diretor mais inteligente, conseguiria chamar muita atenção para a proposta completa, mas da forma que acabou sendo entregue acabou virando algo bobo que leva nada a lugar algum, aonde o protagonista (que também é o diretor) tentou fazer gracejos e maluquices nas suas andanças, mas que se perdeu por completo na essência do que desejava mostrar, sendo algo que ainda por cima é alongado dando sono em muitas partes. Ou seja, é daqueles filmes que você tenta a todo momento achar algo para se envolver, mas que não consegue ir muito além do que está vendo, e assim totalmente dispensável.

O longa nos conta que dois homens de gerações diferentes forjam um laço inesperado e uma forte amizade enquanto protegem um urso que fugiu de um circo no interior da França. Michel é um jovem rapaz autista que ama poesia. Ele encara a vida com simplicidade, contemplando o mundo sem se deixar levar por preconceitos. Já Grégoire é um eremita que abandonou a família e a vida que tinha para morar sozinho numa cabana no Sul da França. Uma relação de companheirismo acaba nascendo entre os dois homens quando, um dia, o circo que reside na cidade declara que seu urso escapou, deixando a comunidade toda em pânico.

Claro que o diretor e roteirista Pierre Richard é uma lenda do cinema francês, fez muito sucesso com o seu estilo de humor, e ainda estar seguindo forte na carreira é algo para se aplaudir, porém aqui ele se perdeu por completo na proposta, de forma que lendo a sinopse agora até consigo ver as intenções mostradas na tela, mas tudo foi tão bobo e forçado nas situações, que salva apenas uma ou outra cena, aonde a entrega dos protagonistas até é bacana, mas não causa nada como poderia, e assim fica sendo um amontoado de cenas apenas.

Quanto das atuações, Pierre Richard até conseguiu chamar a atenção com as cenas de seu Grégoire, principalmente as que ele brinca com o espelho e com situações fora do ambiente ali, mas é um estilo de comédia que hoje já não tem mais tanta graça, e assim o personagem acaba soando bobo por vezes e se perde por outras situações, o que é uma pena, pois dava para valorizar mais tudo da história. E falando em valorizar mais, deveriam ter aproveitado mais para desenvolver o personagem de Timi-Joy Marbot com seu Michel, pois o rapaz chamou as situações mesmo que bobinhas para algo com um ar marcante bem convincente, que até acaba sendo exagerado na tela, mas que funcionam bem, e valeria ter ido mais além. Agora quanto aos demais, vale um destaque apenas para o urso, pois os demais nem lembro o que fizeram na tela.

Visualmente o longa até brinca bastante com o ambiente, tendo cenas num lago com os protagonistas pescando, algumas dinâmicas com o urso andando para lá e para cá, algumas blitz policiais e a casa bagunçada do protagonista, sendo bem divertido quando o jovem com seu transtorno resolve arrumar tudo, e os produtos de limpeza acabam sendo importantes no final, e claro algumas cenas em um cemitério, ou seja, tudo bem alegórico para conseguir chamar atenção para os detalhes.

Enfim, é um filme fraco e cansativo, até mesmo para um Festival, e assim sendo, não tenho como recomendar ele para ninguém, a não ser que você seja muito fã do diretor, senão pode pular tranquilamente. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, afinal o segundo filme do Festival de hoje deu erro no arquivo do cinema, e assim irei ver ele outro dia, então abraços e até amanhã com mais textos.


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O Segredo da Chef (Partir un Jour) (Leave One Day)

12/10/2025 01:52:00 AM |

O mais engraçado é que costumo gostar até de filmes aonde não necessitaria ser musical, mas que acabam colocando músicas com os personagens cantando ao invés de falar, porém a essência do longa "O Segredo da Chef", que pode ser conferido no Festival de Cinema Francês do Brasil, não tem um encaixe completamente necessário com as canções colocadas, muito menos tem uma história realmente que seja funcional na tela, parecendo ser uma parte de um todo que acabou sendo alongado e se perdeu. Claro temos algumas discussões interessantes como o aborto, o esconder a gravidez, esconder o passado, e até o saber a hora de parar de trabalhar e viver, mas tudo praticamente jogado na tela, sem ir muito além de algo simples que foi incrementado demais e não funcionou como poderia na tela.

O longa nos conta que Cécile é uma chef de cozinha em ascensão que está prestes a realizar um sonho antigo de abrir seu próprio restaurante gourmet em Paris. De repente, porém, ela é forçada a deixar esse projeto de lado quando seu pai sofre um ataque cardíaco, chamando-a de volta para sua pequena cidade natal. Longe da agitação e dos acontecimentos da capital francesa, ela acaba se encontrando com um crush da adolescência, Raphaël. O encontro reacende memórias há muito enterradas e leva Cécile a repensar suas decisões do passado e a atual direção de sua vida. 

Claro que vendo o seu curta-metragem fazer muito sucesso e levar prêmios, a diretora e roteirista estreante em longas, Amélie Bonnin, não pensou duas vezes em reescrever ele em um formato que ficasse mais chamativo, e isso não é demérito algum, pois muitas vezes funciona, o que não pode acontecer é se perder na essência e "encher linguiça" com situações bobas demais e que fique apenas alongado na tela, e talvez melhor dimensionado com todas as dinâmicas, o filme teria um vértice interessante e funcionaria bem, mas algo que dei a dica para um amigo outra vez foi de que seu roteiro de curta não voltasse para sua mão para virar um longa, e sim que outros vissem e criassem os incrementos baseados no que achavam que daria para melhorar, mas agora já é tarde, e mesmo sendo algo gostosinho de ver, o miolo acaba cansando.

Quanto das atuações, posso dizer que Juliette Armanet mostrou ser uma atriz completa com sua Cécile Béguin, pois cozinha, canta, dança, interpreta, patina no gelo, ou seja, se cansar das atuações já pode procurar esses programas lá na França que vai fazer sucesso, e aqui até teve um certo carisma para chamar a atenção, mas o roteiro não ajudou muito, então acabou trabalhando demais e entregando de menos, o que é uma pena. Já vi muito personagem perdido em filme, mas Bastien Bouillon com seu Raphaël Tenreiro foi algo que se era para ser protagonista, esqueceram de avisar ele, pois seu papel é estranho e mesmo parecendo ter ainda uma paixão na protagonista, o ator acabou fazendo caras e bocas desnecessárias. Sei que seria pedir demais, mas se tivessem dado mais protagonismo para François Rollin com seu Gérard Béguin e Dominique Blanc com sua Fanfan Béguin, talvez a trama teria uma vida mais bem alocada, pois os pais da protagonista tinham elos cômicos bem encaixados e dinâmicas divertidas para brincar, mas foram meros coadjuvantes, então não rolou. E por fim o namorado da protagonista que Tewfik Jallab entrega é um mero enfeite, que ficou perdido com algumas caras bravas, mas sem ir muito além na tela.

Visualmente a trama começou mostrando uma cozinha de restaurante chique cheio de dinâmicas, logo em seguida vemos alguns momentos em um escritório, e logo mais a protagonista viajando de caminhão, chegando em uma cozinha mais simples do restaurante de seus pais, com tudo bem mais rústico, tivemos uma feira tradicional de peixes, uma corrida de motos e algumas festas incluindo o famoso jogo de descobrir personagens na casa de um antigo amigo, e para finalizar uma dança numa pista de patinação, mas tudo simples sem grandes nuances, alguns efeitos de luz, e sem ir muito além.

Enfim, é um filme bobinho que poderia ter ido mais além, que não chega a ser cansativo com a cantoria espalhada, mas que parece faltar mais desenvolvimentos para não ficar alongado como foi entregue, e sendo assim diria que recomendo ele com muitas ressalvas, ficando bem mais próximo de algo mediano. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dois filmes do Festival, então abraços e até breve.


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O Apego (L'Attachement) (The Ties That Bind Us)

12/09/2025 08:16:00 PM |

Muitas vezes me perguntam como que faço para gostar ou odiar determinado filme, e a resposta é a mais fácil possível, pois o longa precisa me conquistar, envolver ou me fazer refletir, principalmente sem me dar sono ou cansar! E hoje com o longa "O Afeto", que pode ser conferido no Festival de Cinema Francês do Brasil, me vi rindo com bobeiras de crianças sendo que nem sou tão chegado em criancices, mas a trama acabou me cativando e envolvendo tanto com os conflitos dos protagonistas, suas quebras e desenvolturas que me encantou demais no final. Ou seja, é um filme simples, com boas propostas e que até pode não ser algo clássico e chamativo como o público de festivais de artes gostam, mas comercialmente é perfeito e funciona demais.

O longa nos conta que Sandra (Valeria Bruni Tedeschi), uma mulher de 50 anos extremamente independente, vê sua vida virar de cabeça para baixo quando, contra todas as expectativas, começa a compartilhar a intimidade de seu vizinho e seus dois filhos. À medida que ela gradualmente se aproxima dessa família, surge uma pergunta: quem é ela para eles? E quem são eles para ela? O filme segue os desafios dessa família pouco convencional: um jovem pai solteiro, que luta para encontrar forças para amar; uma bibliotecária feminista, solteira por escolha, que decidiu não ser mãe; e uma criança de seis anos, tentando se encontrar em uma nova dinâmica familiar.

Diria que a diretora e roteirista Carine Tardieu acertou demais na proposta de seu filme, sabendo colocar todas as dinâmicas para serem desenvolvidas na tela, todos os conflitos sendo montados com bons traquejos, e principalmente não precisando forçar o espectador para que gostasse dos temas tratados, mas sim que tudo fizesse sentido dentro do longa, e que a conexão da trama convencesse e acontecesse sem precisar de apelos visuais ou expressivos dos protagonistas, e sim que a vivência e a emoção de cada situação ali viesse até os espectadores e falasse sobre o filme. Ou seja, é daquelas direções tão precisas que acabam sendo comuns e acertadas no momento em que você precisa ver aquilo, e demonstra um conhecimento e carisma tão bem colocado que agrada demais na tela e em nossa cabeça depois.

Quanto das atuações, num primeiro momento não me conectei a Valeria Bruni Tedeschi com sua Sandra, pois parecia meio seca demais, sem chamarizes para envolver, mas assim como o garotinho muda seu estilo, acaba também nos mudando com um olhar mais próprio para o momento, de modo que tudo passa a fluir, e a atriz muda por completo para melhor a personagem, virando algo que acabamos nos apaixonando por ela da mesma forma que o jovem garoto, é assim merece ser aplaudida. Já Pio Marmaï trabalhou seu Alex quase como alguém que ficamos com pena e levamos para casa, sendo gracioso ao mesmo tempo que bobão, e o papel pedia esse estilo que ele sabe fazer muito bem, de tal forma que o resultado acaba agradando bastante. É até engraçado, mas assim que Vimala Pons apareceu com sua Emillia já ficou bem claro que ela entraria na trama com um papel mais chamativo do que apenas uma médica, e a atriz soube brincar com olhares e enxergar bem a desenvoltura final do papel, de modo que funcionou bem demais. Por fim vale dar um bom destaque para o jovem César Botti com seu Elliott, pois que garoto inteligente e cheio de nuances ele nos entregou, sendo preciso e muito agradável de ver na tela.

Visualmente a trama tem também uma boa entrega na tela, sem ousar muito também, tendo o apartamento de Sandra bem bagunçado com muitos livros, sendo quase uma extensão da sua livraria, alguns atos no hospital, e vários momentos indo para o apartamento de Alex, quase sendo um filme de corredor indo de um lado para o outro, com claro o garotinho pegando muitas referências nos quadros e livros da vizinha, tivemos algumas festividades sendo comemoradas, e alguns atos na rua e num aeroporto, sendo tudo com muita simplicidade representativa para emocionar e envolver na tela.

Enfim, é um filme muito gostoso, leve e com a proposta muito bem definida que consegue funcionar sem precisar virar algo novelesco, que não chega a cansar em momento algum, tendo a duração na medida certa, e que vale bastante a indicação de conferida, pois estará com certeza entre os meus favoritos do Festival. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas vou para mais uma sessão hoje ainda, então abraços e até mais tarde.


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Fanon

12/09/2025 01:29:00 AM |

Volto a frisar que gosto muito de ver biografias, e o Festival de Cinema Francês do Brasil costuma sempre trazer alguns bons nomes que nunca tinha nem ouvido falar, e assim acaba sendo bacana conhecer suas histórias e o que fizeram no mundo. Porém se o diretor não souber desenvolver bem a trama na tela acaba virando algo alongado e quase interminável para o público que vai assistir, de modo que "Fanon" pareceu transformar seus 133 minutos em algo que ficamos presos por dias dentro da sala do cinema, e não é uma história ruim, mas tudo ficou tão amarrado, tão cheio de situações, e com uma dinâmica conflituosa tão sem rumo que o resultado acabou desandando um pouco na tela. Ou seja, é um filme que precisava de uma mão mais forte na direção para que o filme impactasse não apenas pela história, mas também pela formatação entregue, aonde o público acabaria conhecendo mais do personagem, mais do conflito na Argélia e consequentemente mais da história mundial com um bom filme chamativo na tela.

O longa nos conta que Frantz Fanon é um psiquiatra francês originário da Martinica cujo próximo desafio profissional é chefiar os serviços do hospital psiquiátrico de Blida, na Argélia. Rapidamente, seus métodos inovadores e tratamento humanístico atrai os olhares estranhos e a ira de seus colegas de trabalho e do diretor da instituição. Determinado e assertivo, Fanon não abandona seus princípios. Num contexto de colonização e de constantes conflitos entre o exército francês e as forças de resistência, as ideias do médico atrai a atenção da Frente de Libertação Nacional e de seu líder Abane Ramdane. Ao lado de sua esposa Josie, Fanon é pego num vórtex de violência e confrontos que o faz se unir às causas de resistência colonial argelinas.

Diria que o diretor e roteirista Jean-Claude Flamand-Barny até teve uma desenvoltura interessante para contar toda a história do personagem, mas esqueceu que estava fazendo um filme e não uma série televisiva, pois se tivesse fracionado em três partes toda a história daria uma série bacana, contaria bem toda a história que ele conseguiu pesquisar e gravar, e ficaria lindo, mas ele tinha o contrato para um longa-metragem, e assim faltou um poder que faz toda a diferença que é a edição, e isso são poucos diretores que sabem usar bem a tesoura para deixar seu filme enxuto sem perder detalhes, e/ou acelerar os momentos (por exemplo as duas cenas no final, aonde ele e a esposa ficam se olhando por mais de um minuto, e o enterro dura intermináveis dois a três minutos, parecendo que algo a mais iria acontecer na tela). Ou seja, infelizmente muitos diretores se acostumaram com séries e/ou filmes longuíssimos e acham que isso é algo bonito de acontecer, mas quem dominar o poder de síntese futuramente vai conseguir ir bem além na tela. 

Quanto das atuações, podemos dizer que Alexandre Bouyer fez uma bela entrega com seu Frantz Fanon, convencendo o público de sua personalidade, tendo dinâmicas bem colocadas na tela, e sendo bem imponente tanto como médico quanto como pensador, e assim seu resultado foi característico o suficiente para marcar o papel. Já Déborah François fez de sua Josie Fanon uma personagem meio que apagada demais, quase como uma secretária do médico, e isso não fica legal num filme atual, de modo que talvez se usada melhor chamaria mais atenção. Um ator que ficou um pouco confuso com sua atuação foi Stanislas Merhar com seu Sargento Rolland, pois talvez tenham cortado algo a mais de sua loucura, e ele ficou meio abobado do nada, parecendo não ser alguém tão imponente como deveria. Ainda tivemos bons momentos de Mehdi Senoussi com seu Hocine, e Arthur Dupont com seu Jacques Azoulay, mas quem chamou mais atenção mesmo com poucas cenas foi Salem Kali com seu Abane Ramdane, que trabalhou momentos junto do protagonista com mais imposição, mas sem ir muito além também.

Visualmente gostei bastante da recriação de época da equipe de arte, mostrando inicialmente a forma deprimente que se encontravam os pacientes do hospital psiquiátrico aonde o protagonista vai trabalhar, com a maioria presos por correntes num quartinho fechado aonde faziam as necessidades ali mesmo, depois vemos mais dos ambientes do hospital e como passaram a ser tratados até tendo jogos de futebol, vemos a casa requintada que o médico é alocado na cidade, e também nos é mostrado um pouco das vilas da Argélia aonde a resistência preparava suas lutas e o médico vai participar, com tudo bem fechado, tendo cenas no escuro também, e por fim algumas cenas na Tunísia, ou seja, um filme bem completo e chamativo para representar tudo, além claro de momentos com uma saudosa máquina de escrever, que se a esposa datilografou na velocidade que o marido falava, ela certamente bateu recordes na época.

Enfim, é um filme interessante de proposta, que acabou sendo alongado demais e resultou em algo que incomodou bastante, mas que envolve bem e passa uma reflexão de racismo, de luta e de muita sabedoria em uma época tensa em um país que estava sendo colonizado fortemente pela França, então fica a dica de conferida mais como elemento histórico de reflexão, pois quem for conferir apenas como um bom drama certamente irá cansar. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dois filmes do Festival, então abraços e até logo mais.


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La Pampa (Block Pass)

12/08/2025 08:13:00 PM |

O mais interessante de filmes sobre revelações, é que sempre sabemos para qual rumo irá o fechamento, ao ponto que podem alongar um pouco, colocar algumas entregas extras, mas sempre vai fechar igual. E com o longa "La Pampa", que pode ser conferido no Festival de Cinema Francês do Brasil, só fiquei esperando a bomba rolar na tela, mas se fosse meu o filme acabaria bem antes, no ponto máximo, que ali sim impactaria e o resultado seria muito melhor, mas ainda assim a forma entregue funciona e traz um bom sentimento para o público.

O longa nos conta que Willy e Jojo são amigos de infância inseparáveis, passando grande parte do tempo juntos. Para fugir do tédio, eles treinam na pista de motocross La Pampa, compartilhando aventuras e fortalecendo ainda mais sua amizade. No entanto, tudo muda quando, certa noite, Willy descobre um segredo que Jojo vinha escondendo há muito tempo. Essa revelação abala a relação entre os dois, forçando-os a confrontar verdades que podem transformar a dinâmica da amizade. Enquanto lidam com essa nova realidade, os amigos precisam decidir até onde irão para proteger um ao outro e preservar o vínculo que sempre os uniu.

Fica bem claro que diretor e roteirista estreante em longas Antoine Chevrollier vai melhorar muito ainda, pois aqui ele foi seguro do que precisava fazer e trabalhou a dinâmica com uma coerência clássica do estilo, de tal forma que qualquer diretor um pouco mais experiente cortaria os 15 minutos finais, mas ele escolheu bem os ângulos, colocou o público na moto, e fez os envolvimentos com personalidade sendo interessante de acompanhar e até torcer para talvez um final diferente, mas o estilo pedia isso, então fez bem sua estreia.

Quanto das atuações, diria que o jovem Sayyid El Alami segurou bem o protagonismo com seu Willy, talvez sendo um pouco tímido e fechado demais para o papel, mas mostrou personalidade na tela e conseguiu se desenvolver dentro do que a trama pedia, e claro que o diretor conseguisse extrair dele. Também acredito que faltou mais estilo para Amaury Foucher com seu Jojo, pois as suas dinâmicas pediam alguém mais saído, e não tão retraído, de modo que claro tudo o que ocorre é apavorante, mas não teve traquejos que demonstrasse algo a mais dele. Diria que Damien Bonnard me deixou um pouco confuso com seu David, pois se portou como um pai impositivo e nervoso com a situação, mas logo em seguida estava um doce com o amigo, de modo que até pareceu ser algum erro de gravação, então volto a frisar que o longa fechado após o evento faria com que todos os artistas ganhassem muitos pontos na atuação. Ainda tivemos outros bons personagens e atuações, como Léonie Dahan-Lamort com sua Marina cheia de gracejos e bem direta com o "amigo", Artus Solaro com seu Teddy meio bobão, mas enrustido ao máximo, Florence Janas com sua Séverine meio que perdida em como dosar os filhos, e a jovem Axelle Fresneau com sua Mélody graciosa e bem envolvente com o irmão, mas todos acabaram tendo o mesmo defeito de faltar o diretor fazer com que explodissem em cena, e assim sendo apenas foram ok.

Visualmente o longa teve bons momentos nas pistas de motocross, mostrou bem o hospital abandonado aonde os rapazes iam para fumar e refletir, passando um sentimento até que bem interessante depois quando vai com a amiga até o quarto aonde o pai morreu, tivemos todo o afeto com as ferramentas, e algumas cenas meio que jogadas no barco aonde não usaram com uma necessidade específica para a trama, mas mostraram que a equipe de arte escolheu bem as locações para que a fotografia funcionasse bem também.

Enfim, é um longa simples, com uma proposta interessante, mas que já vimos acontecer tantas vezes que já sabíamos o que esperar acontecer, e dessa forma acabou aparecendo ainda mais as falhas do diretor estreante, e assim sendo vale a recomendação apenas para a reflexão de como não tratar alguém em um momento tenso, pois quanto mais explodir tudo, mais chance do fogo queimar. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas volto mais tarde com mais um longa do Festival, então abraços e até daqui a pouco.


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Vizinhos Bárbaros (Les Barbares) (Meet The Barbarians)

12/08/2025 01:22:00 AM |

Uma das coisas mais divertidas de conferir todas as edições do Festival de Cinema Francês do Brasil, que nos anos passados se chamava Festival Varilux de Cinema Francês, é conhecer algumas pequenas vilas do país, aonde vemos conflitos entre vizinhos e situações bem particulares de um todo do país, ao ponto que em muitos longas acabam sendo até criados nomes fictícios para não explicitar ainda mais casos de xenofobia e racismo (que sabemos que ocorrem muito) e o resultado acaba brincando bastante com o lado cômico e por vezes dramáticos de algumas situações. E como disse outro dia, as histórias dos refugiados serão sempre temas muito presentes na maioria dos filmes europeus, afinal com várias guerras, ditadores e tudo mais que anda rolando no mundo, acaba sendo algo muito em pauta nas mentes dos roteiristas para criarem os mais diferentes tipos de produções, e aqui em "Vizinhos Bárbaros" posso dizer que foram bem sucintos e diretos para trabalhar toda essa dinâmica dando claro algumas pontadas mais cômicas para que tudo não ficasse tão pesado, mas ainda assim pontuando bem todo o sentimento de sair de seu país e ser recepcionado de uma forma não tão amistosa por alguns membros da pequena vila.

O longa nos conta que Paimpont é um município de uma pequena aldeia bretã cuja vida tranquila dos moradores é subitamente abalada. Num gesto de camaradagem e solidariedade, a comunidade vota em unanimidade para aceitar refugiados ucranianos em troca de subsídios governamentais. No entanto, em vez de verem os ucranianos chegarem, acabam recebendo a família Fayad – vinda da Síria. Alguns habitantes da cidade passam a ter problemas com os novos vizinhos. Porém, a família frustra todos os clichês que os franceses esperavam: são simpáticos, refinados, educados, tanto que agora, nesta pequena e movimentada aldeia, não é mais claro de que lado estão os bárbaros. Durante esse tempo, a convivência entre os recém-chegados e os antigos habitantes gera muitos conflitos.

É bacana ver o trabalho completo da diretora, roteirista e atriz Julie Delpy, pois cada ano ela vai procurando mudar um pouco seu estilo, mas sem cair em traquejos ou situações forçadas, de modo que sempre chama atenção nas três pontas, e aqui fez um roteiro bem crítico da situação dos refugiados e da forma que muitos os abrigam, fez uma direção ampla de situações e personagens sem precisar recair para o lado novelesco e fez uma atuação correta sem grandes chamarizes, deixando que os verdadeiros protagonistas se destacassem, e assim seu resultado fluiu fácil não sendo daqueles filmes bonitinhos que apenas aplaudimos e depois esquecemos, mas sim algo completo de reflexões e que entrega além de tudo um bom passatempo gostoso de conferir.

Quanto das atuações, Ziad Bakri trabalhou seu Marwan Fayad com traquejos mais fechados, afinal um pouco inseguro com tudo o que estava rolando, mas soube dosar as entregas na tela, e facilmente usou a força quando precisou. Dalia Naous foi um pouco mais solta com sua Louna Fayad, mas também aparecendo menos na tela, de modo que sua entrega ficou bacana de ver, principalmente não se abalando muito na tela. Rita Hayek foi bem segura também com sua Alma Fayad, tendo até sido uma surpresa com seus registros do celular, e até achei que realmente não tivesse uma das pernas, mas felizmente foram truques de gravação, e ela soube chamar muita atenção com tudo o que fez. Sandrine Kiberlain sempre presente em papeis mais soltos, aqui com sua Anne Poudoulec teve momentos mais explosivos e outros mais divertidos, mas conseguiu agradar com o que fez. Agora quem foi muito engraçado ver hoje foi Laurent Lafitte com seu Hervé Riou cheio de imposição, todo machão e racista, que contrapôs completamente com seu papel no filme que vi ontem aonde era alguém completamente solto para o mundo, sendo até um pouco afetado demais, mostrando seu potencial para vários estilos de papeis. Como falei no parágrafo anterior, tivemos alguns bons momentos da diretora Julie Delpy com sua Joëlle Lesourd, mas foi sutil em suas entregas para não roubar a cena de ninguém, e assim agradou com o que fez.

Visualmente o longa mostrou uma vila bem simples, com várias casas diferentes, mas aparentemente bem próximas umas das outras, tivemos muitos atos dentro da prefeitura e da escola, e também no lago da cidade, alguns momentos no restaurante e mercado da vila, e até alguns atos na zona rural aonde vão construir a casa dos refugiados vendida de forma bem barata pelo dono, ou seja, a equipe de arte pode brincar bem com toda a e conseguiu ser representativo nas dinâmicas entregues.

Enfim, é um longa simples de estrutura, com uma boa mensagem crítica em cima de tudo o que anda acontecendo na França e no mundo com o caso dos vários refugiados das guerras, e que consegue também ser divertido mesmo a diretora necessitando algumas quebras capitulares meio que desnecessárias, mas nada que atrapalhasse o resultado final agradável e interessante de ver. E assim sendo fica a recomendação para a conferida dele dentro do Festival, e eu fico por aqui hoje, voltando amanhã com mais tramas dele, então abraços e até breve.


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Era Uma Vez Minha Mãe (Ma mère, Dieu et Sylvie Vartan) (Once Upon My Mother)

12/07/2025 08:19:00 PM |

Gosto bastante de conferir tramas baseadas em fatos reais para conhecer situações e personagens, e hoje foi bem bacana ver a história de "Era Uma Vez, Minha Mãe", que pode ser conferido no Festival de Cinema Francês do Brasil, entregando uma história simples, porém bonita e bem feita de uma mãe que não deixou seu filho ser um deficiente ao nascer com uma deformidade, procurando todo tipo de médico a curandeiros, e usando de muita força de vontade mudou a vida dele para algo normal e imponente. Diria que a ideia foi bem aplicada com uma dinâmica boa misturando comédia e drama, sem precisar exagerar, que de uma forma simples acabou funcionando na tela com uma entrega gostosa de curtir e se apaixonar pela ideia de uma mãe que assim como as demais buscam o melhor para seus filhos.

No longa vemos que o amor de uma mãe move montanhas para que seu filho viva uma vida normal e maravilhosa. O ano é 1963 e Esther dá luz para Roland que nasce com uma deficiência em que não consegue andar graças aos seus pés tortos. Esther promete para seu filho, apesar da opinião contrária de terceiros, que ele terá a vida que quiser, cheia de conquistas e momentos de sucesso. Esther passa a lutar para oferecer tudo que Roland deseja e cumprir a promessa. Esta é a história do amor incondicional de uma mãe por seu filho e os obstáculos sociais e físicos que ambos enfrentam durante os altos e baixos de uma jornada extraordinária.

Diria que o diretor e roteirista Ken Scott soube pegar o livro de Roland Perez e dar uma fluidez tão bem emocional, mas sem precisar apelar para que o público chorasse com sua história, de modo que vemos os ângulos bem alocados, vemos a sinceridade bem envolvente, e toda a entrega dos atores para com seus personagens, de modo que tudo flui de uma forma bonita e segura, não precisando recair para o lado novelesco que usualmente um longa desse estilo recairia. Ou seja, é uma direção firme, com classe aonde ele homenageia Esther Perez e todas as mães que se doaram para que seus filhos fossem bem além.

Quanto das atuações, Leïla Bekhti trabalhou bem sua Esther Perez, fazendo trejeitos bem clássicos daquelas mães que grudam nos filhos, cheias de ideias malucas e dinâmica bem intensas, agradando bastante do começo ao fim, sendo singela aonde precisava, mas sempre cheia de intensidade. Também tivemos boas entregas de Jonathan Cohen com seu Roland Perez adulto, bem disposto a ser diferenciada em suas cenas, sendo marcante na medida certa para que seus atos chamassem a atenção e a emoção para com sua mãe, e também nas cenas como um homem forte. Vale ainda dar bons destaques para Joséphine Japy com sua Litzie Gozlan e para o jovem Naim Naji como Roland Perez entre 5 e 7 anos, mais pelas expressividades deles, e claro a participação da cantora Sylvie Vartan que usou de maquiagem digital para aparecer nas cenas mais nova no começo do longa.

Visualmente o longa teve boas cenas no apartamento da família, mostrando todo o processo que o jovem passou para começar a andar, vemos seus estudos, danças de ballet, e claro a fascinação pela cantora trabalhando com vendas de discos depois, e claro mais ao final toda a essência do escritório de advocacia, desde o mais simples até um mais rebuscado, e também uma festa de aniversário com a cantora botando a voz para jogo, ou seja, a equipe até trabalhou bem, conseguiu fazer alguns atos simbólicos com a criança escorregando pelo chão e com uma boa maquiagem para o pé do jovem, sendo simples e efetivo na composição completa.

Enfim, é um longa bacana, que tem uma dinâmica interessante que não chega a cansar nem incomodar o espectador, mas que ficou no meio do caminho entre a comédia e o drama, não indo para nenhum dos lados e nem sendo uma famosa dramédia francesa, que pode ser que até segure o público, mas dava para ser um pouco mais conciso em alguns atos. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas vou conferir mais um longa do Festival hoje, então abraços e até logo mais.


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Netflix - Jay Kelly

12/07/2025 05:12:00 PM |

Acho que pós-pandemia os roteiristas e as pessoas em geral acabaram indo para os dois extremos, emocionados demais querendo fazer diversas homenagens para dublês, agentes, animais e tudo mais, ou então partindo diretamente para pancadaria e grosseria sem conseguir se conectar com ninguém. E posso dizer que ambas as situações tem trazido bons momentos nas telonas e telinhas, de modo que o longa da Netflix, "Jay Kelly", funciona bem nesse sentido de homenagear os agentes e até mesmo os artistas que por muitas vezes acabam abandonando suas famílias, amigos e tudo mais para viverem seu sonho de estar dentro da indústria do cinema, sendo algo duro de enfrentar, de rotinas a perder, e até mesmo só percebendo isso quando chegam ao final da carreira em alguma homenagem, e isso é bem marcante de ser visto. Ou seja, é um filme que tem uma boa pegada na tela, aonde os protagonistas se entregaram por completo, mas que tem um tom meio emocional demais para uma carreira dura, que talvez pudesse ser menos floreado, mas aí não faria tanto sucesso nas premiações, então valeu a escolha do diretor.

O longa acompanha a jornada de um famoso ator de cinema chamado Jay Kelly e seu dedicado empresário Ron. Os dois embarcam pela Europa numa trajetória intensa na qual são confrontadas suas escolhas do passado, seus relacionamentos e os legados que construíram e deixarão para a posteridade.

Já conhecemos bem o estilo do diretor e roteirista Noah Baumbach pelos seus filmes anteriores, e aqui ele não tentou ousar e sair da sua base de conforto, principalmente ao adotar mais o estilo de homenagens que pautou em seu roteiro. Ou seja, vemos um filme bem regular, sem reviravoltas ou dinâmicas que chamem a atenção na tela, de tal maneira que o resultado é bonito de ver para quem conhece bastante de cinema e sabe que as vidas dos artistas famosos é bem esse caos mesmo, mas quem apenas for conferir ele procurando um drama tradicional talvez ache um pouco artificial o resultado final. Claro que volto a frisar que não é ruim se fazer homenagens na tela, mas talvez algo mais conflitivo com algumas nuances levaria o longa para um outro patamar.

Quanto das atuações, não teria como ter falhas, afinal chega até ser engraçado que o personagem principal fala várias vezes que é difícil interpretar a si mesmo, porém George Clooney faz com seu Jay Kelly quase que uma representação própria sua, de alguém extremamente famoso, que vive cheio de compromissos e filmagens, e que praticamente nem ouvimos quase falar das suas relações familiares, ou seja, quase que idêntico ao longa, e ele segurou com pulso firme e muita classe para que o papel fosse emocional na medida e com muita responsabilidade cênica agradasse do começo ao fim. Já falei outras vezes que tenho gostado muito de ver Adam Sandler em personagens mais sérios do que fazendo seus tradicionais besteiróis, e aqui seu Ron tem estilo, tem momentos cheios de imposição, e demonstrou uma segurança bem chamativa para com seu papel, mostrando conhecer bem a vida dos diversos agentes de Hollywood, conseguindo passar bem toda a sinceridade de encontrar os devidos olhares e marcar seu território na tela. Ainda tivemos outros bons personagens, mas a base completa ficou em cima dos dois protagonistas, valendo leves destaques para Laura Dern com sua Liz bem agitada, Billy Crudup com seu Timothy revoltado pelo o que aconteceu no passado e até tendo algumas nuances rápidas de Greta Gerwig com sua Lois e Patrick Wilson com seu Ben Alcock, mas sem irem muito a fundo em seus papeis, valendo então dar um destaque rápido para Charlie Rowe e Louis Partridge como Jay e Timothy jovens em seus testes e aulas de atuação.

Visualmente o longa teve um bom início num set de gravações, algumas cenas na mansão do protagonista, um funeral bem tradicional de um grande amigo dele, algumas cenas em bares, e depois muitos momentos em aviões, trens e carros, passando por Paris até chegar na Itália, aonde vemos um festival com bailes e exibições, sendo tudo simples, mas com um ar luxuoso bem encaixado para representar cada momento.

Enfim, é um bom filme do estilo, que tem pegada e que certamente vai cair no gosto dos artistas e votantes do cinema hollywoodiano, afinal muitos irão se conectar com tudo o que acontece na tela, mas não é nada grandioso o suficiente para impressionar o público que talvez não irá se conectar tão facilmente com os personagens, justamente por ver mais deles mesmos na tela, então fica a dica para uma curtida leve sem esperar muito, que aí é capaz de gostar do que verá. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas vou hoje ainda ver mais dois filmes do Festival de Cinema Francês, então abraços e até mais tarde com outros textos.

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A Mulher Mais Rica do Mundo (La Femme La Plus Riche Du Monde)

12/07/2025 02:08:00 AM |

Costumo dizer que nós seres normais do mundo nunca saberemos como é viver igual alguns grupos de ricaços que sequer pensam em seu dinheiro, do tipo que pega um cheque de 1 milhão e dá de presente ou então que gosta de uma foto e pergunta se algumas centenas de milhares paga, ou então como aparece no longa "A Mulher Mais Rica do Mundo" a seguinte frase dita pela filha da protagonista que antes da aparição do golpista nunca sequer haviam falado de dinheiro dentro da família, pois é muito óbvio, esse pessoal tem tanto dinheiro que não precisam falar, compram o que quiserem, a hora que quiserem, e se você fizer cara feia, eles também te compram, ou seja, é um mundo fora da realidade total que praticamente inexiste, ou melhor existe e nunca nem veremos falar deles, afinal não precisam e nem gostam de serem notados, e o longa brinca justamente com isso, pois quando a vida da ricaça entra no rumo de alguém chamativo demais, esse alguém quebra facilmente os rumos daquilo que era normal para eles, e vira de ponta cabeça toda a base familiar. Ou seja, é um filme que tem uma base realista, mas que florearam demais todo o restante, colocando algo quase tão novelesco que até chega a sair do comum, e isso não é algo que funcione tanto, ao ponto que o miolo do filme acaba sendo até cansativo demais (como toda novela!), mas que fecha bem ao menos.

O longa nos conta que Marianne Farrère é dona da Windler e considerada a mulher mais rica e influente do mundo. Ao conhecer Pierre-Alain Fantin, um ambicioso jovem escritor e fotógrafo francês, a mulher desenvolve uma grande amizade com o rapaz. Com pitadas de romantismo, o novo amigo mexe com o coração da milionária e desencadeia um esquema de corrupção jamais visto em territórios parisienses. Uma doação de milhões coloca em risco sua família e toda a história da empresa. A história é inspirada no caso de Liliane Bettencourt, herdeira de uma importante marca de cosméticos.

É até interessante como o diretor e roteirista Thierry Klifa usou bem a história da dona da L'Oreal para recriar seu filme com nuances mais floreadas, pois a base foi bem fundamentada, e sendo um escândalo que chocou o mundo na época muitos quiseram usar os direitos e claro que sendo uma família riquíssima, tudo acabou sendo meio que apagado, e dava para fazer um filme menos artificial e mais comercial, mas como a maioria curte novelas no mundo, ele optou por esse estilo que até entretém bem nos primeiros minutos, depois acaba se tornando algo arrastado e repetitivo que cansa bastante no miolo, e só quando entra no conflito mesmo que poderia surpreender, nem é mostrado muito. Ou seja, quem curte esse estilo até talvez vai gostar, mas pela primeira vez em um filme de festival vi sair tanta gente da sala e ir embora como aconteceu hoje, e isso mostra que faltou o diretor impactar mais com o conflito familiar e/ou mais com os processos rolando com a mídia se batendo para conseguir detalhes.

Quanto das atuações, como toda "novela", temos muitos bons personagens e atores, e claro que a dominante no caso foi a principal atriz francesa de todos os festivais, Isabelle Huppert, que com sua Marianne Farrère soube ter toda a classe e a compostura esperada, deu densidade para a personagem, porém não explodiu como costumeiramente faz em cena, trabalhando meio que de uma forma segura na tela, e assim diria que ela meio que quis "defender" a personagem real com algo mais sutil. Agora quem não foi nem um pouco sutil na tela foi Laurent Lafitte com seu Pierre-Alain Fantin, sendo daqueles aproveitadores espalhafatosos que marcam presença aonde quer que apareçam, e acabou sendo bem interessante e irritante suas cenas, ao ponto de querermos assim como a herdeira pegar ele pelo colarinho, ou seja, o ator chamou toda a atenção do filme para si, e se era isso que o roteiro pedia, fez com precisão. Claro que o papel de Marina Foïs com sua Frédérique Spielman pedia alguém bem séria na tela, mas a atriz acabou abusando um pouco, ficando até monótona em muitos atos, de forma que faltou presença para chamar o filme para si, e isso não é muito bom de acontecer. O jovem Raphaël Personnaz trabalhou seu Jérôme Bonjean com olhares e entregas tão bem encaixadas, com uma serenidade perfeita de mordomos, que até esperava algo a mais do personagem, pois o ator não ficou apagado na tela, e isso é algo muito legal de ocorrer, principalmente em tramas desse estilo. Como disse tivemos muitos bons atores e personagens na tela, e se eu fosse o diretor usaria esse mesmo elenco e montaria uma série mais completa, pois os fãs do estilo adorariam ver mais desenvolvimentos de todos os demais, então não vou destacar nenhum dos demais.

Visualmente a equipe de arte foi muito esperta, pois não precisou de locações gigantescas para representar a mansão, o conselho e tudo mais, usando ângulos mais fechados nas salas, quartos, piscinas e por aí vai, apenas representando o luxo pelas roupas e elementos ao redor, de modo que tudo funciona bem na tela, tem as devidas nuances e agrada, mostrando claro uma vida de rico, mas sem fazer um filme de produtor rico.

Enfim, é um longa bem feito, bem representativo do mundo imponente dos ricaços, que dava para ter ido além sem precisar alongar tanto como acabou acontecendo, sendo algo bacana de ver se não for esperando muito dele, então fica a dica. E é isso meus amigos, amanhã volto com mais dicas de filmes, mas hoje eu fico por aqui deixando meus abraços com vocês.


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Eternidade (Eternity)

12/06/2025 02:57:00 AM |

Alguns filmes são tão leves e gostosos de assistir que mesmo tendo uma reflexão em segundo plano acaba sendo envolvente e divertido, e desde quando vi o trailer de "Eternidade" senti que seria algo interessante com boas nuances, mas que talvez recairia para algo bobinho demais na tela, e hoje após conferir posso dizer que tem seus atos mais bobinhos, mas a ideia por completo é tão genial que não tem como você não sair da sessão com um sorriso no rosto, e até sonhando com a possibilidade de quem sabe o pós-morte ser nesse estilo (será que tem cinema na eternidade?). Ou seja, pode até parecer daquelas comédias românticas bem sessão da tarde, mas que trabalha até que bem a ideia de um pós-morte menos religioso, aonde as nuances funcionam para que nos afeiçoemos com os personagens, e até ficar com uma certa torcida para um dos lados, e assim o resultado funciona até mais do que parecia.

No longa vemos que todas as almas, após a morte, mudam-se para uma espécie de limbo chamado Junction, onde tem uma semana para decidir onde querem passar a eternidade. Ao lado de seus coordenadores do pós-morte, cada um precisa escolher a maneira como (e com quem) quer passar esse tempo infinito. Quando Joan morre, ela é confrontada com uma escolha impossível entre Larry, o homem com quem passou a vida junto, ou Luke, seu primeiro amor e marido que morreu na guerra muito jovem e esperou por ela por 60 anos no limbo da eternidade.

Diria que o diretor e roteirista David Freyne foi bem criativo tanto na ideia da trama quanto na execução, pois é um filme que se olhado bem de perto é simples de essências, mas que consegue se desenvolver tão facilmente que acabamos rapidamente envolvidos com toda a entrega dos personagens e do ambiente em si, ao ponto que mesmo tendo uma pegada cômica não fica como algo jogado ou forçado para que o público ria das situações, mas sim que estejam sempre com o sorriso no rosto mesmo nos atos mais densos de dúvida da protagonista. Além disso pode parecer simples a história principal que rola na tela, mas foram criadas as diversas eternidades no melhor estilo de um Mercadão de frutas, foi feito o lance do Arquivo aonde os protagonistas veem suas histórias a qualquer momento para relembrar boas dinâmicas, e no ato da correria vemos ao fundo toda a confusão com os momentos mais tensos da vida da personagem, ou seja, são vários outros mini-filmes rolando ali, além de toda a estação Encruzilhada com centenas de figurantes mortos das mais diversas maneiras voltando ao seu melhor momento para escolher sua Eternidade, e assim posso dizer que o diretor teve trabalho a beça, e acertou.

Quanto das atuações, o longa tem um quinteto fantástico de personalidade e entrega, começando por Miles Teller com um Larry não tão bonito, mas com um gracejo bem jogado, uma expressividade bem chamativa e sendo leve dentro da proposta que quis colocar na tela, contando com um charme mais romantizado. Do outro lado tivemos Callum Turner com um estilão mais imponente de galã com seu Luke, com todas nuances trabalhadas em cima da perfeição e tendo até mais pegada para saber puxar a protagonista para seu lado. Claro que no meio disso tudo tivemos Elizabeth Olsen com uma doçura bem colocada para sua Joan, cheia de personalidade e dúvidas de seguir com um casamento de muitos anos ou experimentar a vida que poderia ter acontecido no passado, e a atriz soube ser bem confusa mesmo para dar essa ideia de uma maneira leve e divertida. E claro que tivemos os Coordenadores do Pós-Morte (ou CPM como abreviam a todo momento) com a sempre bem pontuada Da'Vine Joy Randolph mais durona e cheia de bons traquejos com sua Anna, sabendo vender bem suas ideias, mas sendo bem atrapalhada, e do outro lado John Early fazendo um Ryan com mais classe e requinte, mas cheio de dinâmicas mais direcionadas, ou seja, divertiram o público com suas entregas e se divertiram com o que fizeram.

Já falei no começo das grandes nuances visuais da trama, mas tenho que aplaudir a equipe de arte, e mal posso esperar o longa sair na AppleTV+ (pois é um longa da companhia) para ver com todas as cores possíveis, afinal hoje o longa estava em uma sala de baixa iluminação do projetor, mas ainda assim vemos muitas sacadas com o céu do ambiente fechado sendo pintado e com cortinas caindo para mudar de dia para noite, vemos hotéis gigantescos aonde as pessoas passam seus sete dias escolhendo para aonde vão, mostrando que morrem muitas pessoas por dia, temos todas as várias eternidades sendo vendidas, os programas nas TVs dos quartos mostrando algumas sugestões de realidades, e claro toda a estação de junção dos trens, além da praia e das montanhas aonde os personagens vão para o teste VIP que ganham, ou seja, a equipe de arte trabalhou duro e o resultado funcionou na tela.

Enfim, é um filme que fui conferir esperando que gostaria do que me seria entregue, mas acabei sendo surpreendido com um algo a mais na tela que me envolveu e fez com que saísse da sessão bem feliz com o que vi, pensando como seria a eternidade que escolheria para meu pós-morte, e agora irei refletir mais sobre tudo o que foi mostrado. Sendo assim, recomendo ele com toda certeza para todos conferirem, só sendo uma pena estar em uma única sessão na cidade, então quem puder ir conferir é uma boa, senão vamos torcer para logo chegar na plataforma da AppleTV. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, pois ainda faltam muitos filmes do Festival Francês para conferir, além de estreias, então abraços e até breve.


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Mãos à Obra (A Pied D'œuvre) (At Work)

12/05/2025 09:40:00 PM |

Hoje tive três sentimentos fortes assistindo "Mãos à Obra" no Festival de Cinema Francês do Brasil, o primeiro de achar estar conferindo um documentário pelo início narrado e meio pausado sem ter lido nada, ficando até um pouco irritado, depois com um miolo um pouco lento demais cheguei a ficar com sono fortíssimo e cansado pela entrega do personagem, porém ao chegar no fechamento a emoção bateu por ver o amor do personagem pelo que faz tendo reconhecimento da pessoa que mais desejava e ver que todo o trabalho duro valeu a pena. Ou seja, muitas vezes nos vemos apanhando para conseguir alcançar sucesso ou satisfação com o que fazemos, e muitos nem veem por tudo o que passamos para chegar lá, mas por dentro sabemos que valeu a pena, é isso emociona realmente. Diria que o longa tem uma pegada meio lenta e cansativa pelo estilo escolhido quase que documental, porém é algo que funciona bastante com a proposta se analisado como deve, e assim acaba sendo daqueles que se você não entrar no clima e se entregar para ele também acabará não chamando tanta atenção, mas como um filme de festival é agradável e acerta bem.

O longa acompanha uma história radical em busca da liberdade, mais especificamente sobre um fotógrafo, que no auge de sua carreira, decidiu largar todo o seu sucesso profissional e se dedicar totalmente a sua verdadeira paixão: a escrita. Enfrentando problemas relacionados à sua vida financeira e aos seus problemas pessoais, ele precisa persistir no seu objetivo para finalmente, ser feliz, mesmo que isso custe muito caro.

É interessante que a diretora e roteirista Valérie Donzelli escolheu um formato que pouquíssimos diretores escolheriam para trabalhar na tela, pois o estilo semi documental com uma pegada quase intimista acaba tendo que segurar demais o espectador para não perder tempo, e para isso acontecer o personagem precisa ser muito bom e o ator se entregar ao máximo para convencer o público do que está vendo, e ela não teve na maior parte do tempo nenhuma das duas coisas, resultando em um miolo que você raspa de dormir ou desistir do longa, porém foi bem feliz na escolha de como fechar o longa, pois praticamente esquecemos os defeitos e entramos na mesma onda emocional da trama toda. Ou seja, é um filme que ela poderia ter feito de inúmeras maneiras mais fáceis tanto para as filmagens quanto para o envolvimento do público, mas não foi essa a escolha, então acabamos sofrendo um pouco com todo o resultado que vemos.

Basicamente o filme é de Bastien Bouillon com seu Paul, de tal forma que como disse acima, ele precisava ter pego o personagem e assinado seu nome com seu sangue, mas foi apenas simbólico em suas entregas, desenvolvendo uma pessoa pronta para fazer diversos trabalhos, mas não tendo a força necessária para que nos apaixonássemos por ele, ou seja, ficou morno demais na tela, entregando dinâmicas mais simples que até agradam, porém pedia bem mais. Quanto aos demais, acredito que usaram até pessoas reais para a maioria dos papéis, apenas pedindo autorização para aparecerem na tela, então não temos nada demais que chamasse atenção.

Visualmente a trama também não foi muito ousada nos ambientes, pois como falei até parece que colocaram realmente o ator para fazer os diversos serviços e foram filmando, tendo um porão/estúdio bem bagunçado, um ato com um cervo e uma livraria como cernes fora dos trabalhos, é assim não tivemos nada muito chamativo.

Enfim, é um filme com uma proposta e um roteiro bem chamativo, mas que não foi além quanto poderia, sendo interessante de conferir, desde que não esteja com sono, pois o miolo é cansativo demais. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas como é sexta vou encarar mais um longa no cinema, então abraços e até logo mais.


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Mercato - Os Donos da Bola

12/05/2025 02:22:00 AM |

O longa de hoje do Festival de Cinema Francês do Brasil era no mínimo curioso, pois é estranho vermos tramas envolvendo os bastidores do esporte mais famoso do mundo, pois geralmente entregam histórias de superação, dinâmicas de crescimento de algum atleta, jogos complexos e tudo mais, mas eis que chegou "Mercato - Os Donos da Bola" para vermos a vida maluca de um agente de futebol envolvido com dívidas e tendo jogadores bem difíceis de negociar e dar certo. Ou seja, é uma trama ágil, bem cheia de nuances, que consegue empolgar na entrega, mas que sai bem do eixo tradicional de filmes de festivais, então nem sei se muitos amigos irão curtir, mas foi bem bacana toda a entrega do protagonista, mesmo sabendo bem como a trama iria terminar.

No longa acompanhamos os bastidores sombrios do esporte mais amado e celebrado do mundo. O futebol moderno é mais do que um jogo, é uma indústria bilionária global onde os interesses e jogadas valem milhões. Durante uma das janelas de transferência, um dos períodos mais importantes para as operações financeiras dos clubes, Driss Berzane é um agente de jogadores na beira de um colapso e da falência. Devendo 300 mil euros para outro agente que o ajudou com a troca de um jogador para o Paris Saint-Germain, Driss tem sete dias para salvar a própria pele e pagar o que deve antes que o mercado de transferências se feche. Enquanto isso, Driss precisa provar que é um bom agente, ainda gerenciando a carreira e as vidas de seus clientes.

Não conhecia o trabalho do diretor Tristan Séguéla, mas posso dizer que gostei do seu estilo, pois sua trama teve personalidade e dinâmica, sem deixar de lado algo meio artístico na proposta, e menos ainda ficar longe do jeitão comercial. Ou seja, ele soube escolher um tema bem atual ao trabalhar as negociações milionárias do mundo do esporte, jogar com um lado mais obscuro e criminoso e envolver com boas sacadas e entregas, ao ponto que talvez pudesse ter um personagem menos estranho para protagonizar que daria nuances melhores, mas ainda assim o resultado funcionou bem com boas técnicas, ambientes bem ricos e muitas viagens para representar tudo na tela.

Quanto das atuações, já conferi outros longas com o ator Jamel Debbouze, e não consegui ver ele combinando bem como um grande negociador para o papel de Driss, de modo que ele parecia mais um trambiqueiro do que realmente um agente de grandes jogadores, e isso me incomodou um pouco em alguns atos dele como protagonista, mas tirando esse detalhe teve boa personalidade e se jogou com o que tinha, fazendo a dinâmica acontecer na tela. O mais interessante é que os demais personagens todos são usados apenas para as conexões com o protagonista, e praticamente nem atuam para chamar atenção, desde o filho vivido por Milo Machado-Graner, passando pelo principal jogador que agencia que Hakim Jemili entregou no melhor estilo dos grandões brasileiros que vivem mais em festas do que jogando, até chegar no cobrador gigante que Ismaël Sy Savané faz, valendo um leve destaque para Vincent Rottiers que faz o amigo do protagonista e Monia Chokri como uma patrocinadora do grande nome do futebol no longa, mas sem grandes expressividades também.

Visualmente o longa brincou com um escritório/casa do protagonista, vemos cenas em várias casas bem ricas de jogadores, hotéis chiques, negociações com xeiques donos de clubes da Inglaterra e claro também negociações com o futebol árabe no melhor estilo que vimos nos últimos anos, além claro de uma partida de crianças, restaurantes, viagens em trens e até uma partida gigante no estádio do PSG, ou seja, tudo bem representativo dentro do mundo do futebol, aonde claro a equipe não precisou criar nada, tendo apenas locações "caras", mas que funcionaram para o resultado final.

Enfim, é um longa simples e bacana, que acredito que em festivais não sei se irá acertar muito o público, porém quando sair na Netflix que é coprodutora do longa acredito que fará um bom sucesso, pois esporte é algo que o pessoal costuma curtir ver, e assim sendo deixo já a dica. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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Five Nights at Freddy's 2

12/04/2025 08:59:00 PM |

Gosto quando continuações ouvem os fãs e colocam mais sentido nas entregas, de modo que "Five Nights at Freddy's 2" entregou muito mais personagens, mais terror e claro que também muitos humanos burros como é de praxe em filmes de terror adolescentes. E falando em adolescentes, assisti ao filme com uma leva de fãs, acredito eu do jogo, que praticamente tiveram orgasmos a cada aparição na tela, sendo algo que cativou eles, mas que foram até sinceros no final falando que poderiam ter ido mais além, mesmo sendo melhor que o primeiro, ou seja, ainda existem alguns que pensam nessa nova leva. Ou seja, se você for fã do jogo é bem capaz de se apaixonar, mas do contrário até que dá para tomar alguns sustos e curtir o que é mostrado na tela, claro que desde que tenha visto o primeiro, senão não irá entender nada.

O longa nos conta que um ano se passou desde o pesadelo trágico no restaurante Freddy Fazbear’s Pizza. Rumores distorcidos e histórias exageradas e sensacionalistas sobre o que aconteceu ali viraram lendas locais, dando origem ao primeiro Fazfest da cidade. Enquanto o vigia noturno Mike e a policial Vanessa escondem a verdade da irmã de 11 anos de Mike sobre o destino dos animatrônicos, a jovem Abby recebe um chamado dos terríveis brinquedos. Ao se reconectar com Freddy, Bonnie, Chica e Foxy, a menina desperta um mal trágico na cidade, desencadeando uma série de eventos assustadores. No meio desse horror há muito esquecido, segredos sombrios sobre a origem da pizzaria Freddy’s são revelados.

Um ponto muito bacana da produção foi a de manter a diretora Emma Tammi e o roteirista Scott Cawthon que fizeram o original, então não temos excessos para reapresentar algo na tela, mas sim desenvolver mais do que mostraram, e trazer novidades na tela, de modo que a essência funciona bem nesse estilo, e aqui eles mostraram que estavam dispostos a brincar com o público e entregaram cenas ainda mais fechadas para assustar o espectador desprevenido, e também souberam aproveitar a ideia para mostrar de onde veio toda essa loucura com um início lá em 1982, mas como toda franquia necessita de dinheiro já deixaram aberto para o terceiro que já está sendo desenvolvido, então vamos aguardar que funcione também.

Quanto das atuações, achei Josh Hutcherson meio que desanimado com seu Mike, não entregando um personagem empolgado com o que tinha de fazer, sendo bem diferente do primeiro longa aonde saiu quebrando tudo, de modo que o resultado acaba sendo meio que deixado de lado, e sendo mais necessário outros personagens se entregar na tela. Já Piper Rubio fez com que sua Abby tivesse muita presença na tela, porém sem explodir muito, sendo também um pouco tímida demais em seus momentos, mas sem errar ao menos. E Elizabeth Lail acabou ficando com a responsabilidade maior da trama, já que sua Vanessa estava envolvida no passado da trama e agora ainda mais, e o melhor, será ainda mais no terceiro, ou seja, se preparou bem para segurar tudo, e acabou funcionando. Ainda tivemos alguns outros bons personagens na tela, valendo claro toda a entrega dos Animatronics, e no caso dos humanos ainda tivemos alguns bons momentos para destacar Freddy Carter com seu Michael e as jovens Audrey Lynn-Marie com sua Charlotte e Miriam Spumpkin como Vanessa jovem.

Visualmente tivemos alguns bons momentos no começo mostrando os anos 80 com a pizzaria em seu auge, com a lotação bem colocada de pais e crianças em festa na matriz, depois voltando para os dias atuais tivemos mais animatronicos e toda a pegada de elementos quebrados que vimos no primeiro longa, tivemos um festival também rolando na cidade com pessoas fantasiadas, é assim a equipe de arte trabalhou bem a entrega mais fechada para não precisar de muitas locações, é assim o resultado agrada meio quase como um jogo mesmo.

Enfim, é algo bem divertido que funciona bem, aonde os fãs do jogo irão a loucura, e os demais que forem pelo terror meio trash acabarão curtindo também o resultado. Então fica a dica, mesmo com a ressalva máxima, que sendo uma trama adolescente, as salas estarão lotadas deles com suas gritarias tradicionais. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas vou ver mais um longa hoje, então abraços e até mais tarde.


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Foi Apenas Um Acidente (Yek Tasadef Sadeh) (Un Simple Accident) (It Was Just an Accident)

12/04/2025 02:06:00 AM |

O mais interessante dos filmes do diretor Jafar Panahi é que ele sempre entrega temas sérios e polêmicos com uma desenvoltura por vezes até inocente demais, que de um modo geral ataca pelos cantos e quando vemos já estamos no meio do conflito, e isso é bem legal de ver. E diria que o ganhador da Palma de Ouro de Cannes desse ano, que provavelmente irá brigar bem com nosso candidato nacional nas premiações de filme internacional, "Foi Apenas Um Acidente", é o seu filme mais fácil de se conectar, que pode ser que alguns até achem que nem é a cara do diretor, pois ele não vem com um tiroteio monumental contra o governo iraniano, mas com sutileza acaba pontuando bem todo o drama de um passado, e coloca até em cheque o famoso "olho por olho, dente por dente" que faz você refletir como agiria com alguém que lhe prejudicou no passado, principalmente se você tem dúvidas se é realmente aquela pessoa que você está frente a frente. Ou seja, é um filme dinâmico, com uma boa pegada e conflitos até um pouco exagerados, mas que funciona na tela pela proposta em si.

A sinopse nos conta que um mecânico chamado Vanid foi, certa vez, aprisionado pelas autoridades iranianas, interrogado de olhos vendados e torturado sem escrúpulos. Um dia, anos após os traumas do seu passado, um homem entra na oficina onde Vanid trabalha, após um acidente envolvendo um cachorro danificar seu carro, o colocando no caminho de Vanid, numa artimanha do destino que irá mudar por completo a vida de ambos. Vanid reconhece como o seu torturador pelo som da perna prostética que ele ainda ouve nos seus pesadelos. Determinado a se vingar do sujeito, o mecânico busca ajuda de outros prisioneiros para tentar descobrir se o homem com quem cruzou é, de fato, o agente do Estado que o dilacerou emocional e fisicamente.

Quem conhece um pouco do diretor e roteirista iraniano Jafar Panahi sabe que ele já foi condenado em seu país, já foi preso, já foi proibido de gravar em seu país, mas ainda assim continua ousando a fazer suas críticas ao passado (e também um pouco do presente) do país, tanto que mesmo ganhando prêmios mundo afora disse que voltará ao país para cumprir sua nova pena (diria que é um pouco maluco), e aqui ele foi simples ao conflitar pessoas comuns que foram torturadas no passado, que já estavam com suas vidas novamente entrando nos eixos, mas que quando veem a possibilidade de se vingar ficam com a grande dúvida se fazem aquilo, se é realmente a pessoa, se devem reviver o passado, e tudo isso brinca com o espectador também, pois num primeiro momento apenas achamos que o protagonista foi exagerado, mas o desenrolar foi tão bem dinâmico (bem diferente de outros filmes iranianos) que tudo flui bem, e tudo se encaixa bem com a ideia, e com toda sinceridade, esse novo longa dele é o que menos deveria entrar nas suas penas, de modo que era só ter filmado em qualquer outro país parecido que nada iria acontecer, mas ele é meio doido, então, veremos o que vai rolar.

Um fator que me incomoda muito no cinema oriental é o dos atores não parecerem estar atuando, mas sim serem muito parecidos com pessoas comuns que tipo alguém da produção pegou na rua e levou para gravar, e aqui o protagonista Vahid Mobasseri que já esteve em outros filmes do diretor foi bem direto nos seus traquejos, sendo imponente para atacar, mas com tantas dúvidas do que estava fazendo, que lá pro meio do caminho parecia um misto de arrependido com preocupado demais, mas que ao menos soube segurar o tom na tela. Já Mariam Afshari trabalhou sua Shiva com uma pegada meio desconfiada, mas querendo justiça e resolver tudo quando se vê no miolo, ao ponto que fez de seus atos sempre com um pé meio atrás, mas não errou ao menos. Outro que foi bem, mas extremamente explosivo foi Mohamad Ali Elyasmehr, que parecia estar numa briga de boteco com suas entregas, mas acabou sendo divertido ver o que fez em suas cenas. Quanto aos demais nem vale falar tanto, pois apenas deram conexões ou surtaram junto com os demais, mas quanto a personagens ri muito de algo que possa ser cultural do país de dar agrados (ou propinas como preferir) e as pessoas que recebem possuem até maquinetas de cartão, para não falarem que estão sem dinheiro, ou seja, algo bem colocado na tela.

Visualmente o longa andou por algumas ruas da cidade, um hospital, uma livraria e claro a oficina, mas a grande base ficou num ambiente meio que desértico aonde é cavado a cova e vários momentos dentro do furgão andando para lá e para cá, com toda a desenvoltura rolando ali dentro, mas mesmo sendo simples foi bem representativo na tela.

Enfim, é um filme para se pensar, mas que dá para se divertir assistindo, mostrando que nem toda trama multipremiada precisa ser chata de ver na tela, então fica a dica para conferirem já a partir dessa quinta 04/12 que entra em cartaz nos cinemas. E eu fico por aqui hoje agradecendo o pessoal da Palavra Assessoria e da Imovision pela cabine, então abraços e até amanhã com mais dicas.


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