Lispectorante

5/04/2025 09:22:00 PM |

Costumo dizer para alguns amigos quando me mandam roteiros com suas ideias de curtas, médias e longas que a primeira coisa que ele deve pensar nem é no seu sonho de entregar algo na telona, mas em como o que você quer dizer com aquele texto chegue na outra pessoa, pois ninguém é obrigado a saber o que você passou na infância, ninguém tem de ler várias notas de rodapé para entender um livro, e muito menos ter uma base articulada gigante de referências para que ao final de um filme você se emocione, mas sim que naqueles 15, 30, ..., 80, 90, ... , 300 minutos que seja preso numa sala fechada o espectador saia emocionado, feliz, triste, revoltado ou com qualquer sentimento, menos que não entendeu nada do que viu, que não conseguiu ser impactado, ou pior, que o filme lhe deu sono, mesmo sendo algo que julgo impossível em um filme que entretenha e se conecte com o espectador. E quem me conhece já sabe o motivo que fiz quase um texto inteiro no primeiro parágrafo para falar de "Lispectorante", que chegou por meio de uma cabine para mim, e com toda sinceridade duvido chegar em cinemas comerciais, pois é o nato filme feito somente para festivais, e digo mais, festivais com referências escritas aonde os diretores e roteiristas discutem seus filmes, pois do contrário é algo que quem conferir sairá da sessão inerte sem levar que seja um pedacinho da protagonista ou da história para si.

O longa acompanha uma artista plástica recém-divorciada que atravessa uma crise existencial e financeira. Seu nome é Glória Hartman. Em meio a esse momento de reflexão, Glória retorna à sua cidade natal onde descobre na antiga casa de Clarice Lispector um espaço de reconexão. A cidade de Recife se torna, então, um lugar de exploração e de reencontro para a jornada pessoal e onírica de Glória, que passa a aprender a estar sozinha, a lidar com seu divórcio, com a morte de sua tia e com o envelhecimento. A partir dessa experiência, a mulher passa a enxergar algo de fantástico na sua rotina, encontrando novos caminhos para sua vida.

Ao copiar o trailer aqui para a página vi um comentário que Clarice Lispector é para poucos, e acredito que seja isso talvez que a diretora e roteirista Renata Pinheiro desejou ao criar o longa: uma trama para pouquíssimos que conseguiriam entender o que colocou na tela. Claro o filme tem algumas nuances aonde vemos os momentos bem colocados da protagonista, mas tudo é tão abstrato que até os sentimentos da protagonista não funcionam para fazer o público sentir algo, e isso é triste de ver, ao ponto que são raros os filmes que preciso pausar para alguma coisa, e aqui me vi parando três vezes para ver se já estava chegando ao final, e me esforçando para entender algo dali. Ou seja, eu não sou um desses poucos Clarice Lispector acaba sendo, e muito menos para o que a diretora trabalhou, de modo que não vi sua mão pesar na tela, talvez nos atos da trincheira, talvez nos atos de envolvimento, e até mesmo no liberalismo da protagonista, mas não no filme como um todo.

Quanto das atuações, diria que Marcélia Cartaxo até tentou passar um estilo meio que desesperado para sua Glória, porém a personagem parece muito perdida em cena, tentando várias sensações em um único momento, o que acaba não fluindo como deveria, e assim ela até tenta se expressar mais na tela, mas não vemos uma fluidez nos atos, o que acaba soando abstrato demais. Dentre todos os demais que aparecem, vale mencionar bem rapidamente Pedro Vagner com seu Guitar, mas nada que fosse chamativo ao ponto de aprofundar elogios para o que faz em cena.

Visualmente a trama não tem grandes anseios, tendo a casa que falam ser de Clarice completamente abandonada, com luzes malucas lá dentro, fogos de papel picado, e tudo mais, a casa da tia aonde rola uma festa completamente maluca, e uma trincheira de batalha também bem insana, além de alguns atos nas ruas, mostrando que a equipe de arte não foi tão bem usada.

Enfim, é um filme que tem muitas falhas, que não convence com a história mostrada, que não tem personalidade, e que sendo completamente abstrato resulta em um filme que infelizmente não vale a recomendação. E é isso pessoal, fico por aqui hoje agradecendo o pessoal da Sinny Assessoria e da Embaúba Filmes pela cabine, afinal seria bem triste ver esse longa numa sessão das 22h, aonde certamente eu dormiria no cinema após um dia cansativo de trabalho. Então abraços e até amanhã com mais dicas de filmes.


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