Netflix - A Mulher Da Fila (La Mujer de la Fila)

12/27/2025 10:47:00 PM |

É interessante observar que o cinema argentino gosta de variar bem em seus dramas biográficos, que por vezes usa personagens que nem sequer imaginaríamos que teriam suas vidas contadas, mas o mais bacana é que usam isso para mostrar um algo a mais na tela, e não só a vida da personagem. E a sacada do longa da Netflix, "A Mulher Da Fila", é que soube trabalhar essas nuances de segundo plano para algo maior, resultando em um filme leve, sem recair para os traquejos novelescos, aonde a síntese até poderia ter ido mais além, mas que funciona para mostrar que não é só o criminoso que vai preso, mas todos ao seu redor que passam a sofrer com o preconceito e com tudo o que ocorre nas visitas. Diria que é uma trama que talvez pudesse impactar mais com algumas reviravoltas e desenvolvimentos, mas o resultado ainda assim tem uma boa pegada.

O longa acompanha a história real de Andrea, uma mulher que tem a vida virada de cabeça pra baixo quando o seu filho de 18 anos é falsamente acusado de um delito e acaba dentro de uma prisão. Agora, toda a sua vida precisará ser dedicada a uma batalha contra o sistema judiciário, que se torna cada dia mais burocrático. Descobrindo que há também outras mulheres na mesma luta, aos poucos Andrea conquistará a confiança delas. Apesar de toda a sua luta, apenas uma paixão será capaz de destruir os seus próprios preconceitos, valores e crenças negativas acerca daqueles que estão afastados da sociedade.

Olhando a filmografia do diretor Benjamín Ávila para ver se conhecia alguma de suas obras, notei que ele está preso no que rolou no país em 2001, pois seus três últimos trabalhos, incluindo esse, é sobre algo ocorrido na Argentina no ano, e isso é algo bom para se desenvolver, pois dá um vértice diferenciado, mas também acaba sendo um diretor sem grandes nuances expressivas. Não vi os seus trabalhos anteriores, mas aqui ele trabalhou pouco a época, apenas situando para dar dimensão da data na trama, de modo que tudo o que acaba ocorrendo na trama poderia ser em qualquer época e até mesmo em qualquer cidade do planeta, pois vemos muitos jovens participando por vezes de coisas que nem eles mesmos sabem o que ocorre apenas para estar na onda junto com os demais conhecidos, e assim por vezes acabam presos "sem saber" o motivo. E como disse o diretor trabalhou bem a dinâmica da protagonista, no caso a mãe que muda de um mulher de classe, com um emprego bem chamativo, uma casa arrumada e boas dinâmicas, para algo comum e do meio mais baixo, mudando completamente seu estilo de vida em prol do rapaz e daqueles que conheceu naquele ambiente. Ou seja, algo que é complexo de se pensar, mas que o diretor soube mostrar bem a realidade mundo afora, e não apenas ali.

Quanto das atuações, o longa é praticamente todo de Natalia Oreiro com sua Andrea, de modo que a atriz soube segurar bem a dramaticidade, passar semblantes de raiva e de insegurança para falar sobre o assunto com outras pessoas, bem como também teve algumas dinâmicas de olhares decepcionados com toda a situação, sendo algo chamativo de ver e de acompanhar suas cenas. Amparo Noguera também teve atos bem chamativos com sua 22, não sendo muito explicado o motivo do número dela, mas ainda assim foi uma boa conexão para com a protagonista nos atos dentro e fora da cadeia, mostrando uma atriz simples, porém versátil. Ainda tivemos atos bem colocados e expressivos de Alberto Ammann com seu Alejo cheio de traquejos e sensibilidades para com a protagonista, de modo que já até dava para imaginar o que iria rolar. E por fim tivemos alguns momentos interessantes por parte dos filhos da protagonista, claro tendo o destaque para o jovem Federico Heinrich que teve pouca expressividade, mas ao menos soube segurar as cenas junto da protagonista.

Visualmente o longa ficou entre a casa da protagonista, a da mãe dela, o presídio e também uma festa de aniversário simples, porém bem divertida na casa da 22, além de alguns atos do julgamento do rapaz, tendo poucos elementos simbólicos, mas mostrando bem a separação e vistoria de alimentos e roupas no presídio, e claro como itens de luxo acabam indo para outros presos quando levados pela família. Ou seja, a equipe de arte foi sutil, mas trabalhou bem a realidade do grupo, usando pessoas reais da fila e até alguns momentos dentro do ambiente da prisão para representar bem tudo.

Enfim, é um longa interessante, com um tema bem colocado, que talvez pudesse ser mais imponente se colocado um pouco mais de ficção ao invés de tudo como ocorreu de uma forma simples, mas ainda assim funciona e serve como algo para se refletir que ao fazer algo errado não é só você que acabará preso, e sim todos que estão ao seu redor. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais dicas, então abraços e até logo mais.


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