Netflix - Boa Viagem (Yolun Açik Olsun) (Godspeed)

6/03/2022 01:26:00 AM |

O cinema turco já vem mostrando serviço no streaming há algum tempo, e um dos pontos mais clássicos que eles gostam de colocar é o de emocionar o público com detalhes envolventes e inesperados, porém eles são um pouco afoitos e costumam entregar uma pontinha do que você vai ver logo de cara, então basta prestar atenção nos detalhes que a surpresa nem demora para acontecer. Comecei o texto do longa "Boa Viagem" da Netflix, dizendo isso com um pesar enorme, pois gostaria de ter sido surpreendido com o ponto de virada ao invés de pegar logo de cara com a fala da esposa do protagonista para seu pai, pois acaba estragando o melhor de tudo, que é mostrado depois durante os créditos as fotos, e que se não soubesse nem imaginaria o que aconteceu, mas isso é um detalhe que pode atrapalhar alguns ou não, mas o grande fato é que o filme tem uma essência emocional bem trabalhada, uma desenvoltura clássica de um road-movie de reencontro, que funciona bem dentro de tudo o que colocaram e que agrada bastante com a mensagem passada em cima dos traumas de guerra.

A sinopse nos conta que um ex-capitão do exército viaja para a cidade turca de Dalyan, para impedir que a mulher por quem seu melhor amigo é apaixonado, se case com outro homem. Mas, a jornada é atravessada pela dor e o trauma de uma tragédia vivida em combate, que pairam feito fantasmas sob essa missão - e podem colocar tudo a perder.

Pois bem, se o diretor Mehmet Ada Öztekin fez meio mundo chorar com "O Milagre Na Cela 7", aqui ele usou um dos livros mais bem sucedidos do país para tentar comover com uma história de reflexão em cima dos traumas de guerra, que dizem mudar muito a cabeça de um homem, e tudo o que ocorre com perdas no meio do caminho, e se lá ele usou o símbolo da árvore que muitos demoraram para pegar, aqui ele foi mais direto com um diálogo entregando logo de cara toda a síntese, porém o filme tem uma fluidez boa durante todo o restante que acaba explicando muita coisa, então mesmo sabendo o funcionamento continua, e funciona bem. Agora posso estar errado se foi um furo do roteiro ou eu entendi de forma errada o arco temporal da trama, e quem quiser comentar sobre isso nos comentários abaixo fica valendo, a viagem é logo após a cena do hospital ou existe um período maior para isso, pois no hospital o protagonista está bem barbudo e ainda não acostumou com a prótese, já na viagem até dirige com ela, temos o ato final dos barcos e o casamento meio que dando uma distância estranha, então ficou complexo, porém o acerto geral é bom e agrada bastante, mostrando que o diretor vai ser daqueles que vamos sempre esperar um novo e bom filme, e isso marca.

Sobre as atuações, diria que Engin Akyürek trabalhou bem demais seu Salih, criando um temperamento difícil, trejeitos explosivos e ao mesmo tempo leves e com um humor completamente aberto, cheio de amplitudes corporais e uma desenvoltura bem propícia para o que o filme pedia, ao ponto que chega a ser bem difícil desconfiar do que rolou com ele para chegar naquele ponto, e isso mostrou um ar certeiro de prender o espectador e emocionar sem apelar, o que é um dom de um bom ator. Já Tolga Saritas entregou um Kerim tão alegre, bem humorado, cheio de tiradas e instintos que acabamos nos conectando com facilidade na sua entrega, de forma que o jovem ator parece ser daquelas companhias boas para uma viagem, disposto a tudo em cena, e que funciona demais na parceria dialogada do começo ao fim, e isso é difícil, mas que quando bem feito agrada demais, e ele fez. Quanto aos demais, vale claro o destaque para Belfu Benian com sua Duygu desesperada para encontrar o marido fugitivo, mas que acaba até falando demais, então mesmo ela sendo o elo de virada, poderiam ter eliminado uma única cena sua, ou talvez colocar ela mais para frente, pois foi um erro fortíssimo de quebra, e isso pesou, mas a atriz fez bem os atos que precisou, e isso é compensado ao menos.

Quanto do visual é bacana ver as paisagens por onde passam, todas as devidas paradas com sentidos diferentes, desde o conserto na mecânica aonde o senhor mostra a diferença de quem tem um bom plano de saúde e quem não tem, depois vemos a sacada de roubar o pássaro, o problema com as drogas, a comparação dos carros, a liberdade destruída por uma arma, os ritos do casamento, e todo o cortejo de barcos, além de algumas cenas de guerra simples, mas bem feitas ao ponto de funcionar e mostrar como o protagonista perdeu sua perna, ou seja, a equipe de arte trabalhou bastante e não falhou em nenhum detalhe, o que é sempre agradável de ver em uma boa produção.

Enfim, é um longa bem emocionante pela perspectiva entregue, e que como já disse funciona bem, mesmo sabendo o que já rolou, mas que seria incrível com a reviravolta somente no final, então irei torcer para a maioria que for ver a indicação não entenda tão rapidamente, pois valerá ainda mais tudo. Ou seja, é daqueles longas que tem uma base reflexiva bem interessante e agradável, que poderia ser muito mais pesado, mas que na construção geral envolve e agrada mais do que faz chorar como era esperado. E assim sendo recomendo ele com certeza para todos, principalmente para quem curtiu o longa anterior do diretor, pois a base é semelhante, então aproveite. E é isso meus amigos, eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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