O Segredo de Madeleine Collins (Madeleine Collins)

6/24/2022 02:15:00 AM |

Sabemos que muitas pessoas mentem tanto que acabam perdidas no meio do que falam, ao ponto de em certos pontos já nem saberem mais o que estão falando, quem são, ou o que era verdade antes da bola de neve gigante que se torna a vida dela, e se manter uma família já é algo complicadíssimo com várias relacionamentos e situações, então imaginar ter duas famílias, dois empregos, filhos em ambos os casamentos, ficar indo de uma casa para a outra, mudar compromissos de acordo com o que é necessário para agradar um mais que o outro é a base completa da insanidade. E o longa "O Segredo de Madeleine Collins" nos entrega toda essa loucura conflitiva de um modo tão impactante que a cada saída da protagonista indo para outro país (tudo bem que da França para a Suíça é um pulinho de trem) chegando na outra casa, indo para novas festas da família já vamos surtando, então imaginem só a ideia quando chegamos nos atos finais e descobrimos muito mais sobre as relações existentes ali, já que os maridos sempre falam um do outro, mas não entendemos direito como é o rolo completo, mas isso é bem marcado, não diretamente, e acaba sendo bem forte. Ou seja, é daqueles que nos impressionamos com tudo, e que sendo bem francês entrega tudo de uma forma bem subjetiva, então não espere como em um longa americano ver tudo explicadinho com flashbacks e tudo mais, que não vai rolar, e isso é o que torna o filme incrível.

A sinopse nos conta que Judith leva uma vida dupla entre a Suíça e a França, com dois amantes e filhos diferentes. Por um lado Abdel, com quem cria uma menina, por outro Melvil, com quem tem dois meninos mais velhos. Pouco a pouco, esse frágil equilíbrio de mentiras, segredos e idas e vindas começa a se despedaçar.

Diria que o diretor e roteirista Antoine Barraud foi preciso no que necessitava dele no roteiro e na montagem, pois todo o restante coube exclusivamente à atriz Virginie Efira, que conseguiu passar a exaustão das suas mentiras na face a tal ponto de sentirmos ela desesperada com o que fazer, e isso não é nenhum diretor que consegue exigir que seja feito, mas sim uma vontade extra do ator de encontrar o personagem no maior amadurecer seu, e ele apenas conseguiu ser criativo na desenvoltura mista de estar na França, estar na Suíça, não saber mais qual é o seu nome, aonde usou, para quem falou tal coisa, o que é estar apaixonada realmente ou não por alguém, e nessa quebra de tempos ele foi amplo demais, ao ponto que o filme poderia durar horas que o público estaria preso esperando mais loucuras por parte da protagonista, mas não, ele opta por fechar no melhor momento, sem precisar voltar na cena inicial fortíssima, que nem posso dizer que ocorre exatamente ali minutos depois, mas que encaixa muito bem tudo, e o resultado geral é de muita expressão e impacto.

Sobre as atuações, Virginie Efira já pode ser considerada a maluca de 2021, pois fez três filmes com personagens com problemas de mentiras, loucuras e insanidades mil com "Benedetta", "Esperando Bojangles" e agora com sua Judith, ou seja, sendo perfeita em todos os papeis, entregando o máximo de expressividade possível, e principalmente chamando a responsabilidade dos longas para si, ao ponto que em certos atos, como já disse acima, vemos em seu rosto o desespero por nem saber mais quem ela é, o que quer fazer, explodindo realmente num surto máximo e assustador com muita personalidade e imponência, ou seja, deu show. É até complicado falar de qualquer outro em cena, pois o filme parece de Virginie e vários figurantes em cena, mas Quim Gutiérrez entregou boas cenas com seu Abdel, se impondo em alguns atos para tentar enfrentar a protagonista, e conseguiu nuances boas também, ao ponto que se fez valer. Na sala do cinema foi um consenso ouvir todas as pessoas com dó da garotinha Loïse Benguerel com sua Ninon, pois a jovem fica literalmente perdida no meio do conflito, mas fez boas expressões e agradou bastante. Da outra família (ou melhor da verdadeira) diria que ninguém se jogou realmente em cena, de forma que Bruno Salomone ficou com um Melvil meio frouxo demais, só pensando na carreira e quase esquecendo que tem esposa, os filhos vivem a passeio, mas Thomas Gioria ainda trabalhou um pouco mais de uma dúvida e imposição com seu Joris, mas nada que fosse muito além. 

Visualmente o longa até é bem simples se formos ver, tendo o lado mais luxuoso da família da França, com concertos em teatros chiques, com roupas mais requintadas, indo escolher casas imponentes e festas mais cheias de pessoas de luxo, enquanto no lado da Suíça, já temos uma casa simples, meio bagunçada, um trabalho de intérprete numa agência sem grandes chamarizes, mas se formos parar para analisar, a trama não tem muitos elementos cênicos chamativos, tirando os documentos falsos da protagonista, que quando é revelado quem é faz toda a diferença e a montagem explode, senão sem isso o filme ficaria frouxo, ou seja, a equipe de arte nem foi muito usada se formos olhar a fundo.

Enfim, é um longa inteligente, bem trabalhado e montado, que faz o público ficar pensando demais em tudo o que está sendo entregue, de forma que temos muita representação de envolvimento, e o resultado final é o clássico dos longas franceses, não precisando explicar nada para que você entenda tudo, e isso é brilhante de ver. Então sem dúvida alguma recomendo demais o longa, que terá mais uma exibição no Varilux aqui em Ribeirão no próximo dia 04, então quem não viu fica a indicação, e quem não puder, vamos torcer para em breve aparecer em algum streaming, pois acho difícil vir para os cinemas comercialmente, assim como a maioria dos longas do Festival. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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