O Próximo Passo (En Corps) (Rise)

6/26/2022 01:29:00 AM |

Quando vi que o filme "O Próximo Passo" foi o terceiro filme mais visto na França superando grandes produções e tinha um conteúdo voltado para a dança fiquei imaginando apenas peças sendo exibidas, ou algo do tipo, mas a síntese do longa é algo que vai muito além do que apenas dança, tendo toda a dramaticidade em cima do se conectar com o corpo e fazer o que mais gosta, além de claro provar aos pais que o dinheiro e o tempo investido em uma pessoa valeram a pena. Ou seja, é daqueles filmes com conteúdo, com visual, com muita preparação corporal, e que felizmente trabalhou de uma forma leve e gostosa todos os problemas da protagonista, tem uma encenação brilhante de danças de vários tipos, e envolve do começo ao fim. O único adendo que colocaria é que o diretor se alongou um pouco demais, pois o filme tem 117 minutos e parece bem maior, ao ponto que daria para ser mais direto em vários atos.

A sinopse nos conta que Elise é uma jovem e promissora bailarina clássica que se machuca em uma apresentação após flagrar a traição do namorado. Apesar dos especialistas dizerem que ela não conseguirá mais dançar, Elise vai lutar para se recuperar, buscando novos rumos no mundo da dança contemporânea.

Acredito que o diretor e roteirista Cédrik Klapisch foi muito amplo na ideia entregue aqui, pois muitos diretores seguiriam talvez o roteiro por um caminho mais seguro somente de apresentações de dança, ou então trabalharia bem mais a parte dramática com atores e deixaria a dança em segundo plano, e ele não, quis igualar bem todo o processo trabalhando com três tipos bem abertos, o de atores como o pai da garota, o fisioterapeuta e a dona do hotel, os dançarinos e coreógrafos verdadeiros fazendo seu trabalho corporal incrível, e a protagonista que embora seja uma bailarina real também se entregou bem aos trejeitos necessários e conseguiu soar cativante. Ou seja, abrindo o leque ele conseguiu um público bem grandioso, o que leva o título de grande bilheteria na França, e soube passar a mensagem bem colocada de auto-ajuda/conhecimento que é sempre uma boa lição para ser jogada para o público, resultando em algo leve e bem gostoso de ver, e que emociona pela sensação completa.

Sobre as atuações, mesmo Marion Barbeau não sendo uma atriz de fato, toda bailarina precisa ser muito expressiva para passar a mensagem de uma coreografia somente usando o corpo, e ela fez isso magistralmente nas cenas que pôs o corpo para jogo, porém soube usar bem os diálogos e olhares nas cenas mais dramáticas de sua Elise, ao ponto que convenceu bem e foi emotiva suficiente ao passar seus problemas e dores, que não sabemos bem se o diretor usou um pouco de sua história, mas atualmente não é mais bailarina clássica tendo ido para a contemporânea ao montar uma companhia com o marido, então talvez tenha sido uma inspiração para o diretor criar a trama. Hofesh Shechter, que é coreógrafo real conceituadíssimo fez a si mesmo em cena, e trabalhou alguns sorrisos e trejeitos, mas como bem sabemos esse pessoal é melhor atrás das cortinas, então pareceu nervoso nos atos que fez. Denis Podalydès fez um belo trabalho como Henry, o pai da protagonista, e desenvolveu cenas com muito envolvimento e chamando o estilo de pai que cuidou boa parte da criação das filhas, levou para as aulas de dança e tudo mais, e claro muito protetor desejando algo a mais para a filha do que apenas dançar, vemos ele com trejeitos fortes e uma emoção fora do normal. Também tivemos bons atos e mensagens através de Muriel Robin com sua Josiane, uma dona de um hotel cultural bem interessante, e ela cheia de olhares fez seus momentos serem chamativos e gostosos. E claro tivemos François Civil, irreconhecível, principalmente pelos filmes fortes que entregou ultimamente, e aqui com seu Yann, um fisioterapeuta emotivo e apaixonado pela protagonista fez cenas caricatas bem divertidas e uma entrega precisa. Pio Marmaï também entregou cenas bem gostosas com seu Loïc, um cozinheiro cheio de traquejos em uma entrega bem ampla e divertida junto da namorada Sabrina vivida por Souheila Yacoub, muito bem encaixada também. Quanto aos dançarinos é claro que o destaque fica para Mehdi Baki e Robinson Cassarino pela desenvoltura mais conectada com a protagonista, mas todos foram muito bem em cena.

Visualmente o longa é bem bonito, com uma apresentação incrível inicial de uma peça de balé clássico com a protagonista dando show em um ambiente todo preparado, algumas consultas médicas e de fisioterapia, depois já vamos para um food-truck indo para um hotel cultural aonde vemos diversas apresentações de músicos, dançarinos e cantores, toda a beleza gastronômica, vemos belos encerramentos do dia próximo do mar, com uma meia luz incrível, e ao voltar para Paris temos uma apresentação visceral maravilhosa de dança contemporânea com muita imponência, músicos e tudo mais para impactar a todos, e vermos claro a emoção da plateia.

Enfim, é um excelente filme que se arrastou um pouco, pois dava para ficar em torno de 100 minutos ou menos, mas que é tão envolvente e gostoso de ver que acaba valendo todo o tempo na sala do cinema, então recomendo ele com toda certeza para todos, e principalmente para os amigos da dança, então fica a dica, e eu fico por aqui hoje, mas amanhã volto com muitos outros textos.


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