Um Herói (Ghahreman) (Un Héros) (A Hero)

6/28/2022 01:29:00 AM |

É sempre interessante ver os longas do diretor Asghar Farhadi, pois ele brinca com o público ao mostrar situações que podemos acreditar ser cotidianas nos países que ele trabalha, pois vemos todo o lado da honra, de dívidas não pagas sendo executadas com prisões e pedidos de desculpas, situações matrimoniais que costumeiramente não veríamos por aqui, e ele sempre nos entrega muita tensão nos atos de seus protagonistas, ao ponto que é quase impossível não entrarmos no clima que ele propõe. E aqui no longa "Um Herói" vemos bem a discussão de premiações, honras e tudo mais devido a pessoa ter sido honesta em devolver uma bolsa, vemos toda a discussão de verdade e mentira, de acusações, de necessitar provar algo para ter seu nome limpo e bem colocado, ainda é permeado o uso de imagens, de dar sentido e valor nas pequenas coisas, e tudo mais em um filme tão amplo e cheio de indagações, que a cada coisa nova que é colocada eu só me via colocando a mão na cabeça pensando como tudo poderia piorar ainda mais para o lado do protagonista, mas diria que a melhor fala sem dúvida vem da sobrinha do protagonista bem próximo da cena final, que faz o protagonista refletir bem rápido: "como é na prisão?", e ali o filme entrega tudo o que precisávamos entender da vida do protagonista fora e dentro das grades, e a pergunta que fica é se valeu ser honesto realmente em alguns atos e mentir em outros, que aí sim o conflito todo se completa.

A sinopse nos conta que Rahim está na prisão devido a uma dívida que não conseguiu pagar. Durante uma licença de dois dias, ele tenta convencer o seu credor a retirar a sua queixa contra o pagamento de parte da quantia. Mas as coisas não correm de acordo com o plano…

Diria que o diretor e roteirista Asghar Farhadi soube prender demais a atenção em sua nova obra, ao ponto que mesmo tendo mais de duas horas de projeção não sentimos o peso desse tempo nem olhamos no relógio para saber se a trama já está acabando, pelo contrário, ficamos pensando em tantas situações para "ajudar" o protagonista que também não se ajuda muito com as coisas que faz, e o longa acaba fluindo maravilhosamente, claro que esse é o filme digamos mais "light" do diretor, pois o tema não chegou a ficar num nível impossível de se suportar como foi o caso dos dois anteriores que ganharam praticamente todas as premiações, mas ainda assim vemos toda a pontuação dele em certos e errados, vemos a enfatização de justiça, e principalmente vemos muita cultura em suas tramas, ao ponto que dificilmente algum de seus filmes conseguiriam ser feitos em outros países, principalmente trabalhando as mesmas ideologias, e assim sendo podemos dizer que é um diretor/roteirista de ideias bem únicas. Ou seja, muitos podem nem se impactar com o filme (o que duvido), pois podem não pensar em como é dever para alguém, ter dinheiro de agiota no meio da jogada, e ainda seu fiador lhe denunciar e ser preso, mas sem dúvida todos irão se desesperar com as loucuras que acabam virando principalmente nos atos na prefeitura, pois ali o nível de mentiras chegam a surtar qualquer um, mostrando que vida pública é burocrática em qualquer lugar.

Sobre as atuações, Amir Jadidi entregou muito envolvimento com seu Rahim Soltani, trabalhando com semblantes bem marcados pelos acontecimentos com nuances indo desde muita felicidade ao ser considerado um herói, até a decepção total quando tudo começa a ruim, de tal forma que ele nos passa muito esse seu humor, não deixando nada em segundo plano e isso é o que faz o público criar um carisma por ele, ou seja, foi perfeito para o papel. Mohsen Tanabandeh trabalhou seu Bahram com um ar de muitas dúvidas, sem acreditar de forma alguma na boa vontade do protagonista em lhe pagar, parecendo ter até um rancor maior por ele, e isso fica muito evidente do começo ao fim, tanto por ele, quanto pela filha Nazanin vivida por Sarina Farhadi (que até parece ser quem denunciou a falcatrua), ou seja, seria bem difícil para o protagonista conseguir qualquer compaixão ali naquele cubículo de loja, e os atores foram muito bons no que fizeram. Sahar Goldust demonstrou muita paixão pelo protagonista com sua Farkhondeh e isso fica muito nítido no semblante entregue, nas desenvolturas da personagem, e a atriz fez bons trejeitos em toda sua trajetória, nem parecendo tanto no segundo ato ser a mesma pessoa, que pegamos apenas no piscar de olhos, e assim sendo o resultado dela também surpreende. Tivemos muitos outros bons personagens, todos feitos com nuances bem críveis de pessoas existirem realmente daquela forma, e assim sendo nem vou destacar nenhum específico, mas diria que o elenco ajudou demais o diretor a ir além na proposta, e isso é ótimo de ver na tela.

Visualmente a cidade é muito fora do comum para o que estamos acostumados, com pessoas trabalhando em montanhas, com escadarias gigantes, depois vemos na cidade mesmo com veículos em direções malucas, uma casa bem tradicional aonde conseguimos sentir bem toda a cultura deles de dança, de feitio de comida, de distribuição, com algo bem marcante, tivemos o grande evento no centro social para a premiação e arrecadação de dinheiro para detentos de uma forma bem interessante de ver, e até mesmo as cenas na prisão foram bem diferenciadas, sem parecer algo tão pesado como ocorre em muitos filmes, ou seja, não posso afirmar sobre tudo se é daquela forma realmente por não ser um grande conhecedor da cultura deles, mas foi bem interessante toda a proposta entregue pela equipe de arte.

Enfim, como o próprio diretor disse, esse é seu primeiro filme sem nada oculto, aonde tudo é bem mostrado na tela, e que acabamos gostando dele pela simplicidade e atitudes dos personagens, pela trama bem marcada e tudo mais, então quem estiver mais acostumado com os filmes "pensantes" do diretor irá estranhar um pouco, mas é bem forte e interessante do começo ao fim, então recomendo ele com certeza para todos. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.


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