Sabemos muito que o estilo do diretor é de criar dúvidas tanto no público quanto nos personagens de seus longas, mas aqui Asghar Farhadi brinca com tantas possibilidades, entregando um roteiro de certa forma comercial, com uma pegada de mistério bem alocado, cheio de perspectivas e interações, com uma família de passado conturbado, várias histórias mal resolvidas, aonde tudo pode ter acontecido, mas que em momento algum até alguém citar a possibilidade de ser uma pessoa da própria família tinha sequer suspeitado de alguns, pois a ideia se dá em cima do pai estar endividado, de alguém que sabe que o pai era rico, e tudo mais, mas não o trabalho forte criado ali. E o diretor brinca bem com essa jogada, e o melhor, fecha largando o clima pesado para cima da família, o que também recai muito no seu estilo. Ou seja, é o famoso brincar de acusar, aonde tudo flui e tudo chama atenção, que até demora um pouco demais para acontecer, mas que quando acontece é tensão para todos os lados, impactando bastante e fazendo questionarmos tudo e todos.
Sobre as atuações, o elenco em si dispensa qualquer apresentação, sendo os melhores espanhóis/argentinos que temos nas produções cinematográficas, e Penélope Cruz se entrega completamente ao desespero com sua Laura, fazendo trejeitos fortes, dinâmicas incríveis junto de todos e conseguindo manter sempre a plenitude de olhares que é sua marca registrada, sendo intensa, mas sem explodir, e isso agrada muito no papel. Javier Bardem trabalha muito bem seu Paco, criando intensidades de dúvidas, marcando a presença com muita desenvoltura, e principalmente abrindo o conflito com personalidade, sendo direto e claro ao ponto de chamar muita atenção, interagindo bem demais com todos, e criando o ambiente de dúvida em cima dele. Ricardo Darín se entrega para seu Alejandro, mas não indo tão a fundo, afinal passa a ser o acusado pela família, e também tem o segredo com a esposa, ao ponto que ele faz seu tradicional carisma, mas não flui tanto quanto poderia, mesmo sendo muito bom no que faz de trejeitos. Quanto aos demais cada um se doa aos poucos, temos várias fluências bem encaixadas, mas nada que chamasse tanta atenção, valendo destacar Eduard Fernández com seu Fernando pelas coordenadas dadas, Bárbara Lennie com sua Bea pelo envolvimento com o protagonista e claro a jovem garota sequestrada Carla Campra com sua Irene pelas boas expressões ao final, ou seja, tudo é bem encaixado e chama muita atenção, valendo por completo.
Quanto do visual do longa, tivemos uma vila bem trabalhada, todos os vinhedos incríveis, o casamento bem festivo e a casa aonde os protagonista ficaram, mas basicamente toda a essência se dá pelos diálogos, não sendo algo que observamos tanto os detalhes cênicos, ou seja, o ambiente é muito funcional e agrada bem na medida para ser representativo, mas que acaba não mostrando tantos detalhes das locações, valendo mais pelos recortes de jornal para mostrar o outro caso de desaparecimento, e claro as escritas no sótão da igreja para representar o caso antigo dos protagonistas.
Enfim, é mais um tremendo filmaço do diretor, que agrada bastante e envolve o público, fazendo com que pensássemos sobre tudo, e quem poderia ter sequestrado a garota, e os devidos motivos, então vale a indicação e que como todo longa dele, abra mais o pensamento. E é isso pessoal, foi uma pena não ter vindo o longa na época nos cinemas, pois valeria a conferida, e acredito que até teria um bom público pelo elenco, mas fazer o que, a distribuidora não acreditou, então agora fica a dica para ver no streaming. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas volto mais tarde com os textos do Festival de hoje, então abraços e até logo mais.
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...