O drama mexicano costuma muitas vezes permear para o lado novelesco, mas quando bem trabalhado tem uma essência interessante e funcional que acaba agradando até mais do que o esperado, e aqui o diretor e roteirista Rodrigo Arnaz foi bem conciso na ideia que queria de mostrar tanto o lado da paternidade solo de um autista, trabalhando como músico e sem muitos ganhos para cuidar do jovem, e o grande dilema quando surge a mãe da criança vários anos depois de tê-los abandonado e colocar mais fogo nos problemas do dia a dia, ou seja, ele soube dosar as ideias, soube desenvolver bem toda a síntese, e principalmente trabalhar algo que podemos até já ter visto em outros longas, mas que aqui teve um frescor diferente pelo ar musical, e claro com a pontuação do autismo, sendo um filme forte e bonito que até poderia ter ido mais além se escolhesse um dos fatores para discutir, mas que quis muito e ficou um pouco no meio do caminho.
Sobre as atuações, a base toda é em cima do que Juan Manuel Bernal entrega com seu Fran, e o ator se mostrou muito disposto para o papel, teve um ar sentimental bem colocado, fez bons ensejos com todos os instrumentos que tocou em cena, e passou um certo ar emocional para com o garoto e para as mulheres que conviveu, ao ponto que chegamos a criar um carisma para com ele, e isso é muito necessário em papeis desse estilo, e assim sendo dominou bem o ambiente e fez com que o filme fosse seu, o que é um grande acerto. Não sei se o garoto Farid Navarro realmente é autista, mas passou muito envolvimento no papel, e se não era fez um trabalho maravilhoso de interpretação, mas se era também foi muito bem em cena ainda mais com pessoas lhe chamando por um nome que não é o seu, o que dificulta tudo, então o papel foi muito bem feito também. Gabriela de la Garza soou meio que exagerada em alguns momentos de sua Mariana, mas como vemos mais o seus atos do passado do que realmente um ensejo ali em cena, acabamos ficando mais com raiva pela forma que fala do garoto do que seu afeto pelo protagonista, e assim pareceu faltar personalidade para chamar atenção, o que já foi completamente contrário de ver com María Aura com sua Julia, pois demonstrou sentimento e muita desenvoltura tanto com o garoto quanto com o protagonista, sendo sutil nos atos necessários e agradando bastante com tudo. Ainda tivemos Marco Treviño bem colocado com seu Oscar e Fernando Becerril bem seco com seu Afonso, ao ponto que ambos tiveram poucas cenas, mas foram marcantes nos atos necessários, com Treviño dando um bom fechamento para a trama.
Visualmente o longa tem um ar bem gostoso e interessante pelos shows no bar de jazz, mostra bem a casa simples do músico, mas preparada para o que o garoto gosta que são os trens, claro temos a comparação pela casa dos avós aonde o piano é muito mais chique, o trem é enorme e solta fumaça, mas o carisma é o que conta, tendo um bom trabalho de câmeras para isso, além de termos alguns atos em ruas aonde é o pior lugar para os autistas devido a variedade de barulhos, então o fone com música clássica é algo muito comum de ver acontecer, e assim sendo o resultado é simples, mas muito bem feito. Apenas um adendo quanto do conceito da fotografia granulada demais, que não enxerguei uma necessidade de uso, mas tirando esse detalhe, as cores foram bem usadas na paleta para transmitir o sentimentalismo da trama, e isso já vale por completo.
Enfim, é um filme bem pensado que talvez em breve surjam versões de outros países pela história ser boa, e que aqui até foi bem desenvolvido, mas faltou focar um pouco mais no garoto ou no pai, ficando algo no meio do caminho que acabou tendo uns percalços, e sendo assim recomendo com algumas ressalvas de não esperar muito dele, pois certamente poderia emocionar muito mais, e essa é a maior falha em um drama emocional como é o caso aqui. E é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.
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