Netflix - Árvores da Paz (Trees Of Peace)

6/13/2022 11:20:00 PM |

Já vimos vários filmes de guerras mostrando as frentes de batalhas imponentes, as bases de comando e até mesmo alguns filmes que mostram as consequências de uma guerra para o povo, mas filmes que entregam como as minorias sobreviveram no meio de um conflito são bem raros de entregar, ainda mais em conflitos internos de um país como foi o caso de Ruanda em 1994, e o longa "Árvores da Paz" que estreou essa semana na Netflix nos entrega bem como quatro mulheres sobreviveram escondidas em depósito de alimentos por diversos dias racionando a comida que o marido da dona da casa levava escondido, vendo amigos e vizinhos sendo executados por uma pequena janela, e tendo de resolver também um conflituoso relacionamento entre elas, ou seja, é daqueles filmes que passam mensagens emocionais, que envolvem com o básico e que mostram a superação e a força de vontade, pois muitos ali morreriam antes de dar um mês, outros bem antes. Como filme é algo muito emblemático e bem feito com muito pouco, pois usaram muitas imagens documentais para iniciar e finalizar a trama, deixando o miolo somente em um pequeno galpão com 4 mulheres, algumas coisas acontecendo lá fora, e somente uma cena de um sonho com algo a mais, sendo então uma produção baratíssima aonde o ritmo pode não envolver muitos, mas que quem entrar no clima acabará bem emocionado com a situação completa das quatro mulheres.

O longa nos conta que durante o Genocídio contra os Tutsis de 1994 em Ruanda, quatro mulheres de diferentes origens e crenças são presas e buscam esconderijo. A luta por sobrevivência une essas mulheres em uma irmandade inquebrável. Foram as mulheres sobreviventes que lideraram o movimento de reconstrução de seu país, e Ruanda começou a ter mais mulheres nomeadas para o governo do que qualquer outra nação no mundo, um fato poderoso, mas pouco conhecido. Este filme explora o sofrimento e sobretudo, a resiliência dessas quatro mulheres presas durante este período sombrio da história humana.

A atriz Alanna Brown foi muito eficaz em seu primeiro longa como diretora e roteirista, pois pegou uma história ampla, só que ao invés de entregar uma trama grandiosa, cheia de conflitos armados, decepações e muitas mortes com situações que exigiriam uma produção imensa e lotada de desafios difíceis de se conseguir uma produção monetária do tipo, optou por algo mais singelo, com uma história real da guerra, contada somente pela força de quatro mulheres e um pequeno cubículo, ou a representação dele, pois com a câmera foi possível fechar os ângulos, mas certamente o ambiente completo foi maior para ter espaço para a equipe e tudo mais, e com uma síntese forte, mostrando o envolvimento das protagonistas, o desespero de se iriam morrer ali, os dias passando, as aulas, a fome, o ocultar de informações e tudo mais fez com que a trama fosse muito além de apenas um ambiente fechado, mas sim uma vida inteira de forças contada em poucos dias. Ou seja, volto a frisar que é um filme de um único ambiente e vários diálogos e situações ali, então pode ser que muitos não se conectem com a ideia completa, e esse foi um enorme risco que a diretora correu, mas essa essência foi muito bem transparente e resultou em algo pleno e muito bem feito que acabou dando muito certo, mesmo tendo tudo para dar errado.

Sobre as atuações, diria que todas foram muito bem dentro do que seus personagens pediam, com Eliane Umuhire sendo a dona da casa, carregando um bebê no ventre após quatro abortos espontâneos, e desesperada com o marido fora da casa trazendo alimentos para elas, mas podendo ser morto a qualquer momento e não voltando nunca mais para tirar elas do buraco, ao ponto que a atriz entregou dor, entregou emoção e foi muito direta nos olhares de aprendizado a ler em inglês, de vivenciar tudo ali, e claro de tentar não fazer virar uma bomba entre sua Annick e a jovem tutsi Mutesi, ou seja, foi bem demais, e segurou muito todo o ambiente. E falando em Mutesi, a jovem Bola Koleosho fez olhares fortes, trabalhou um ar de ódio gigantesco e conseguiu chamar muita atenção com o que fez, dando até a famosa raiva de personagem que temos com alguns vilões, o que não é o caso aqui. Ella Cannon e Charmaine Bingwa até tiveram dinâmicas bem marcantes com suas Peyton e Jeanette, ambas com problemas externos que chegam a causar comoções, e conflitos no público, mas não expandiram tanto as situações, servindo mais para o texto ir além e chegar em outros pontos, mas sem grandes atuações realmente, não que sejam ruins, mas o conflito ficou mesmo nas outras duas pontas, e aqui tivemos algo mais para julgamento e perdão.

Quanto do visual nem dá para falar muita coisa, pois como já disse o ambiente todo é apenas um cubículo, inteiramente fechado com uma portinhola que é aberta algumas vezes pelo marido da protagonista para trazer comida, e gerando muita desconfiança se virá a ser aberta quando demorava muito, alguns alimentos, uma lanterna, um livro que acaba servindo para estudo e aprendizado de inglês, uma bolsa, e paredes servindo como lousa, como desabafo, como contador de dias e tudo mais aonde as jovens vão colocando sua expressividade ali, ou seja, foram muito certeiros na ambientação singela, com iluminação de uma pequena janela apenas e quando tampada usando uma lanterna, fazendo com que ficasse meio claustrofóbico, mas também bem imponente, e assim sendo o resultado barato e bem feito.

Enfim, é um longa que tem alguns problemas de ritmo e de explosão de personagens, que acabaram se desenvolvendo sem grandes amplitudes, e também poderiam ter usado mais imagens reais para exemplificar tudo, mas como a tecnologia de gravação na época não era das melhores, o conflito teve apenas alguns realces mais simbólicos, porém tirando esse detalhe o resultado é incrível e vale muito a conferida para reflexão e principalmente para mostrar a guerra por outros olhares, e sendo assim logo mais veremos outros filmes baseados no que anda rolando mundo afora, já que essas são as guerras mais próximas que tivemos. E é isso meus amigos, indico ele para quem não ligar para filmes mais fechados, e fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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