O Destino de Haffmann (Adieu Monsieur Haffmann) (Farewell Mr. Haffmann)

6/25/2022 02:02:00 AM |

Acho que já até me acostumei tanto a ver filmes envolvendo a 2ª Guerra Mundial, com a invasão alemã pelas cidades da Europa, a caça aos judeus, a destruição de bens e tudo mais da época que praticamente quando vejo algum longa novo já sinto emoções vindo em todas as direções com tudo o que vai ser praticado, e basicamente sempre vemos tudo da mesma forma, com pouquíssimas diversidades de estilo, então o que poderia ser diferente com o longa "O Destino de Haffmann"? E a resposta é praticamente tudo, pois é um ponto que não trabalharam tanto ainda, como as vendas de fachada, para tentar salvar parte do patrimônio, e o que acaba sendo entregue aqui além dessa passagem da joalheria de dono judeu para um funcionário além de ser algo bem interessante também entra na famosa frase de se quer conhecer uma pessoa lhe dê poder e dinheiro, pois o artesão simples, que desejava ser pai, com a esposa passadeira mudou da água para o vinho ao começar a vender joias para os soldados alemães da cidade, e mais do que isso, temos ainda situações completamente intensas no lado familiar com a proposta que o homem faz para sua esposa, pela forma que trata o ex-patrão escondido no porão, e quando achávamos que acabaria o filme de uma forma, somos surpreendidos com algo completamente inesperado. Ou seja, é daqueles filmes que não desapontam em nada, que tem uma história muito boa e que ainda por cima surpreende no final, o que costumo chamar de pacote completo.

A sinopse nos situa em Paris, 1941. François Mercier é um homem comum que sonha em começar uma família com a mulher que ama, Blanche. Ele trabalha para um talentoso joalheiro, o Sr. Haffmann. Mas frente à ocupação alemã, os dois homens não terão outra escolha senão concluir um acordo cujas consequências perturbarão seus destinos.

Diria que o diretor e roteirista Fred Cavayé adaptou brilhantemente a peça de Jean-Philippe Daguerre, e o mais interessante é que a formatação lembra bem os ares de uma peça, pois temos a casa, a joalheria e o porão todos juntos, tendo algumas cenas soltas fora dali que provavelmente foram criadas para dar algum extra para o longa, enquanto todo o restante funciona muito bem ali, e ele soube trabalhar todas as dinâmicas de uma forma sutil e ao mesmo tempo duríssima de sentir na pele tudo o que o ex-patrão passa a sofrer com o ex-empregado e agora patrão, entregando tudo com envolvimento, com verdade e olhares, e fazendo com que os protagonistas se interagissem com muita facilidade. Ou seja, mesmo tendo uma formatação teatral, foram amplos nas dinâmicas, ao ponto que vemos o fluxo, sentimos toda a simbologia cênica, e o resultado funciona demais, sendo emotivo, sendo sofrido e principalmente passando toda a verdade que ocorreu nesse período difícil para todos os judeus na Europa, e aqui não falharam em deixar nada caricato, mas sim algo forte e bem trabalhado.

Sobre as atuações, Daniel Auteuil entregou um Joseph Haffmann bem emocional, com olhares simples e bem dispostos para o que iria fazer, e vemos todo o envolvimento dele, disposto a ficar ali de boa se não fosse feito de trouxa, pois ele sabia o que estava acontecendo com os judeus pelos jornais que roubava das bicicletas, e vemos o ator muito doce de atitudes, sem trejeitos fortes, claro e envolvente que acabamos ficando do seu lado. Gilles Lellouche no segundo filme da noite, já que o vimos como um advogado agora pouco em "Golias", aqui já foi completamente oposto com seu François Mercier, tendo inicialmente um ar de bom moço, de pessoa simples que precisa do emprego, mas como disse no começo, o poder muda a pessoa, e ele fica impossível, vai tomando olhares da bebedeira, vai ficando rude com o novo empregado/ex-patrão, e até mesmo com a esposa toma atitudes intensas, e o ator deu um show de expressões, dominando muito bem todo o ambiente, no melhor estilo teatral possível, o que acaba agradando bem. Sara Giraudeau trabalhou sua Blanche Mercier com serenidade, passando emoção nos atos envolvendo seja o marido ou o pobre senhor que está no seu porão, e se entrega com muita densidade nos trejeitos que precisavam dela, mantendo o ar de desespero com a mudança de estilo do marido, sem saber o que fazer realmente, e foi muito bem em todas as atitudes. Nikolai Kinski fez de seu Comandante Jünger o tradicional soldado alemão de posses, que já tinha uma boa vida, mas pegando tudo dos judeus foi só melhorando, vivendo na boemia, tendo todas as mulheres possíveis, e claro fazendo negociações com o joalheiro, sempre com um ar de superioridade, e fazendo bem o que era preciso.

Visualmente todo o ambiente foi montado meio como na peça, com a casa simples no andar superior, porém bem detalhada de objetos cênicos para mostrar a "riqueza" da família judia, a joalheria no plano térreo com ferramentas tradicionais e simples, uma pequena vitrine e várias joias espalhadas, as embalagens inicialmente como Haffmann vermelhinhas depois viraram Mercier verdinhas, e embaixo um porão aonde o protagonista passa a morar e trabalhar fazendo as joias para o rapaz, uma lavanderia bem imponente, uma delegacia nazista, tendo uma loja de penhores que nem chegamos a entrar, vendo apenas pelo lado de fora as negociações, e uma prisão para os atos finais, e o mais bacana de ver é a rua numa colina, aonde só vemos algumas lojas laterais que vão sendo fechadas durante a tomada nazista, e para frente dali não sabemos da existência de nada, ou seja, tudo bem representativo, inclusive as festas regadas a champanhe para os soldados e as mulheres da vida.

Enfim, é um filme bem emocional, muito bem desenvolvido, com um ar interessantíssimo bem apropriado na história toda, e que consegue segurar o público do começo ao fim com uma ótima reviravolta no final, totalmente inesperada, sendo daqueles filmes que podemos colocar na lembrança pelo diferencial todo, e que acaba sendo funcional para recomendarmos a todos. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.


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