O Livro da Discórdia (Youssef Salem a Du Succès) (The (In)Famous Youssef Salem)

11/08/2023 01:27:00 AM |

Costumo dizer que é sempre uma delícia conferir as comédias francesas no Festival Varilux, pois chegam aqui só as boas, e que vão divertir sem precisar apelar! E por mais incrível que pareça a sacada de "O Livro da Discórdia" é sexualidade e a vida de um rapaz argelino que ele resolveu escrever em um livro semi-biográfico, aonde inventa um pouco sobre as vidas dos pais, das irmãs e das namoradas, só que não mudando tanto os nomes acaba tendo de correr para que seus pais não leiam, e o que acontece, só vendo, pois é confusão em cima de confusão, que sendo bem simples, leve e gostoso de ver acaba funcionando bastante, pois também nos faz refletir: será que se fizermos uma biografia nossa teríamos de esconder ou daria para nosso familiares lerem? 

A sinopse nos conta que Youssef Salem tem 45 anos, é descendente de uma família de imigrantes argelinos e vive em Paris onde se dedica à escrita. Após uma série de contratempos, ele decide escrever um romance parcialmente autobiográfico, inspirado na sua juventude e em particular nos tabus que rodeiam a sexualidade no ambiente onde cresceu. O livro provoca um debate público apaixonado, mas também gera uma tensão no seio da sua família, que Youssef tentará manter unida o melhor que puder.

A diretora e roteirista Baya Kasmi já veio para vários Varilux anteriores trazendo filmes que roteirizou e foram sucessos de bilheteria como "Hipócrates" e "Os Nomes do Amor", e aqui ela mostrou que gosta de brincar com temas polêmicos, pois sabemos o quanto é um tabu imenso a sexualidade árabe, e ao fazer a divulgação do livro do protagonista acaba entrando em programas de discussões, vemos sacadas bem colocadas nas dinâmicas da trama, vemos a ironia bem colocada, e principalmente tudo que a dinâmica permite brincar na tela com o tema, mostrando o estilo e a desenvoltura que a diretora sabe trabalhar, sendo daqueles filmes que não cansam e que ainda tem pegadas reflexivas. Ou seja, diria que dava até para ela cravar um pouco mais de ironia em alguns atos, e dar um fechamento um pouco mais imponente, mas soube ir aonde dava para pontuar sem forçar a barra e o resultado funcionou.

Quanto das atuações, Ramzy Bedia caiu perfeito para o papel de Youssef Salem, pois ele tem um estilo meio durão, mas ao mesmo tempo conseguiu passar um ar família, só ficando um pouco bem diferente do jovem que colocaram como sua versão mais nova que Ilian Benomar Iza entregou, mas deu as nuances bem marcadas em cada ato do filme, como o mais contido, o desesperado e o livre, que vão tendo as devidas pegadas com os demais ao seu redor. Outra que foi bem colocada em cena foi Noèmie Lvovsky com sua Lise, a editora do livro de Youssef, e o bacana é que como ela é uma pequena no estilo, fica com tanta felicidade ao explodir o livro e ele ganhar a premiação, que como faríamos bebe aos montes, pula, dança e nem lembra do que fez no dia anterior, sendo bem "pessoa real" mesmo, e assim sendo agradou bastante. A família completa foi muito bem trabalhada, cheio de personagens divertidos, tendo os pais um carisma bem colocado e cheio de sacadas, que Abbes Zahmani com seu Omar e Tassadit Mandi com sua Fatima souberam trabalhar olhares e dinâmicas, mas sem dúvida na casa pegando "lembrancinhas" para levar foi o melhor; ainda tivemos as irmãs Melha Bedia com sua Bouchra brigando e xingando aos montes no carro para depois desejar tudo de bom para o irmão;  Caroline Guiela Nguyen com sua Loubna cheio de dedos para ocultar seu casamento; e claro Oussama Kheddam sendo o único que ficou realmente incomodado de não ter sido colocado no livro com seus pães gigantes. Ainda tivemos Vimala Pons com sua Léna Cohen mais fechada, mas botando o relacionamento pra valer dentro do que foi no livro, e Lyès Salem entregando seu Rachid cheio de imponência em cima da fama de participar de um reality estilo "Survivor".

No conceito visual a trama entregou atos bem colocados mostrando um apartamento minúsculo do protagonista, mostrando bem que escritores sem ser grandiosos ganham quase nada, tivemos vários tipos de programas de entrevistas bem montados, algumas festas, e claro toda a casa da família cheia de detalhes para mostrar bem uma família complexa e bem bagunçada, mas sem forçar o eixo, e claro uma livraria, e a casa da editora bem cheia de elementos cênicos que os pais acabam querendo levar tudo como lembrancinha, ou seja, a equipe de arte desenvolveu bem cada detalhe para que o filme funcionasse bastante.

Enfim, é um filme que se olharmos bem a fundo entrega uma trama simples, mas como disse a função cômica funciona bastante, diverte sem ser apelativo e acaba agradando bastante quem gosta do estilo, sendo uma boa dica de conferida no Festival que começa quinta-feira, então fica a dica para todos. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, agradecendo o pessoal da Aliança Francesa de Ribeirão Preto pelo evento de abertura do Varilux 2023, e claro aos amigos do Cinépolis Santa Úrsula que deram todo o suporte, então abraços e até breve, que nessa semana o que não vai faltar será textos!


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