Mussum, o Filmis

11/02/2023 07:02:00 PM |

Costumo dizer que ao mesmo tempo que é muito fácil fazer uma biografia, já que não se necessita inventar tanta coisa para mostrar algo que com um bom estudo de material se consegue ir além, também acaba sendo uma grandiosa dificuldade em trabalhar com coisas bem conhecidas do público que se errar no desenvolvimento acaba saindo extremamente queimado. E felizmente hoje posso dizer que três anos após conferir o documentário sobre o artista Antônio Carlos Bernardo Gomes, eis que agora fizeram uma trama biográfica incrível que fizesse jus ao nosso querido Mussum, que mostrassem esse cara que era difícil ver na TV com qualquer expressão fechada, sempre disposto a ir mais além e que claro fez a nossa infância ser mais divertida seja pelas piadas nos Trapalhões, ou com o bom samba dos Originais do Samba, e assim sendo o resultado na tela de "Mussum, o Filmis" acaba sendo algo emocional, muito bem feito e que envolve do começo ao fim com atuações tão bem trabalhadas, que era exatamente o meu maior medo, pois a história de Mussum foi algo muito bonito de ver, mas quem a altura conseguiria mostrar esse homem sem que aparecesse mais o ator e menos o homenageado que era um trabalho fora do comum, e Ailton Graça com 3 minutos de tela desaparece, e só vemos Antônio Carlos incorporar nele e vem pessoalmente contar sua história. Ou seja, se quiserem ser justos em todos os festivais do país, não tem melhor ator brasileiro esse ano que consiga suprir o que vi na tela hoje, ao menos até agora. 

A trama mostra a história real sobre a vida e trajetória de Antônio Carlos Bernardes Gomes, popularmente apelidado de Mussum. Tendo crescido como um garoto pobre, filho de empregada doméstica analfabeta e com passado militar, Mussum ficou conhecido por ter se tornado um dos maiores humoristas do Brasil. Além de fundar o grupo musical Os Originais do Samba, ele encontrou seu caminho para a fama na televisão após se unir ao famoso quarteto Os Trapalhões, formado por - além dele - Renato Aragão, Dedé Santana e Zacarias.

Diria que o primeiro longa dirigido por Silvio Guindane será algo que vai marcar sua carreira totalmente, pois ele pegou um roteiro perfeito que Paulo Cursino adaptou do livro "Mussum - uma história de Humor e Samba" de Juliano Barreto, e fez algo que mesmo que qualquer pessoa já conhecesse toda a história de Antônio Carlos, ou então tivesse visto o documentário mais do que uma vez, visse algo novo e brilhante na tela, aonde você não sente a mão da direção nem as pontuações do roteiro, mas sim algo que tem vida própria, que vai acontecendo tão naturalmente que não tem como não se emocionar com tudo o que vemos na tela. E aí você como crítico até tenta procurar defeitos para falar, mas não tem como encontrar qualquer detalhe que seja, pois tudo flui e encanta. Ou seja, é daquelas biografias tão bem dirigidas que você até quer ver mais na tela, mas que tudo o que é mostrado convence e agrada, afinal é uma homenagem bem trabalhada, e que claro vemos mais cenas do personagem já em sua versão adulta que foi brilhante, mas também vemos bons atos de seus momentos como garoto aonde já começa a pegar o gosto pelo samba, e depois na juventude quando entra de vez no mundo artístico do samba.

Quanto das atuações, já falei no começo e volto a repetir, Ailton Graça foi glorioso em cena, sendo surpreendente demais a tal ponto de não conseguirmos ver o ator em cena, mas sim o personagem funcionando de forma perfeita, com os mesmos trejeitos, com o tom vocal impecável, gestuais e tudo mais sem falhar em um detalhe que fosse, o que acaba agradando com tanto estilo e personalidade que não tem como não ver Mussum na tela, fora todo o carinho do personagem com sua mãe e tudo o que entona durante toda a representação, ou seja, deu show, e volto a dizer que nesse ano ao menos até agora não existe ator melhor nacional nos filmes, pois foi perfeito. Claro que tenho de falar também das versões jovens do personagem, e Thawan Lucas foi bem gracioso nos momentos de Carlinhos criança, mostrando um garoto determinado a estudar bastante, logo depois vemos Yuri Marçal fazendo o jovem Antônio Carlos como soldado da aeronáutica, e se apresentando na noite com Os Originais do Samba, sempre escondido da mãe, até entrar de vez para o mundo artístico, e o ator deu boas nuances, mostrando todo o gingado cheio de malemolência, e agradando bastante também para logo em seguida mudar de vez para Ailton. E claro já que falei de como os atores mostraram sempre muito carinho com a mãe, tenho que dar o crédito tanto para Cacau Protásio mostrando Dona Malvina com a cena do aprender a escrever com o filho emocionando demais, e depois Neusa Borges sendo direta e muito envolvente em todas as nuances e conselhos para com o filho, agradando demais em cena. Tivemos também muitos outros bons atores dando vozes aos personagens que conviveram com o protagonista, tendo destaque para Vanderlei Bernardino como Chico Anysio, Gero Camilo como Renato Aragão, Felipe Rocha fazendo Dedé Santana e Gustavo Nader bem representativo com seu Zacarias, entre muitos outros na tela.

Visualmente a trama teve cenas passando por shows, pela boemia carioca, pelos programas da TV Tupi e da Globo, mostrando também o envolvimento na Escola da Mangueira, mostrando atos na Fundação aonde o jovem estudou, e muito mais, sendo tudo tão bem representado que acaba nos transportando para os anos 80/90, tendo detalhes cênicos dos figurinos, dos bastidores, e claro muito samba com grandes nomes da música como Elza Soares, Jorge Ben e isso sem falar aonde nasceu o Mussum realmente como escada do gigante Grande Otelo em um programa de auditório, ou seja, a equipe de arte foi muito representativa, conseguindo simbolizar tudo e agradar demais do começo ao fim. 

Enfim, é um filme que não tem como não se emocionar e envolver, pois Mussum fez parte da nossa vida, o bordão cacildis é utilizado até hoje por muita gente, e sem dúvida é uma das poucas biografias que mesmo conhecendo bem o personagem vemos coisa nova na tela sendo muito bem representada por todos, então a dica que eu dou sempre é valorize o cinema nacional e vá conferir, pois vai valer a pena. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.

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