A Última Vez Que Fomos Crianças (L'Ultima Volta Che Siamo Stati Bambini)

11/05/2023 05:15:00 PM |

Costumo dizer que filmes que envolvem crianças sempre trabalham bem toda a ideia de inocência junto com desenvolturas em cima de temas mais amplos. E a sacada de "A Última Vez Que Fomos Crianças", que poderá ser conferido à partir do dia 08/11 no site do Festival de Cinema Italiano, brinca bem com essa base usando claro todo o clima de guerra, da entrega dos judeus italianos para a Alemanha, o elo dos jovens apaixonados pelo fascismo, o conflito de ideais da Igreja na época, e por aí vai, pois daria para enumerar diversos temas secundários pesados que o longa passa, mas como o ar dos jovens vão se envolvendo e entregando tudo com uma leveza bem tradicional das crianças, o resultado acaba fluindo bem e não causando tanto quanto uma trama adulta acabaria trabalhando. Ou seja, é daqueles filmes que envolvem, que torcemos pelos personagens, que vamos nos conectando com as duas formas de ver algo, indo na frente com as crianças e atrás com os jovens, e que trabalha bem todos os sentimentos da época,  que dava para ir até mais além com tudo, mas que optaram por uma leveza mais íntegra durante todo o longa para fechar de um modo mais pesado, que funciona, mas que dava para ser melhor diluído.

O longa nos situa em Roma, 1943. Quatro crianças, incluindo Italo, filho de um líder fascista, e Riccardo, de uma família judia, formam uma amizade inseparável em meio à guerra. Quando Riccardo é capturado pelos nazistas, seus amigos embarcam em uma missão arriscada para resgatá-lo, viajando por uma Itália devastada. Paralelamente, dois adultos, Agnese e Vittorio, partem em busca das crianças, enfrentando desafios e diferenças pessoais. A jornada revela a inocência da infância contrastando com os horrores da guerra, culminando em um desfecho impactante.

Claudio Bisio é muito mais conhecido pelos grandes papeis que fez em filmes italianos e nas dublagens de importantes personagens, e agora resolveu se entregar como diretor e roteirista, e aqui em seu primeiro longa na função diria que ele soube dosar bem os temas para que tudo ficasse como um passatempo interessante, bem simbolizado pelo envolvimento das crianças, e que ainda tivesse uma boa conexão de moral com o ambiente em si, de tal forma que nos conectamos facilmente tanto com as crianças, quanto com o casal jovem que vai procurando elas, vendo tudo por óticas de guerra diferentes, com ousadias e desenvolturas das crianças sem perceber tudo o que vão entregando, e assim o diretor soube ser bem simbólico e emocional, sem precisar apelar ou julgar por si próprio toda a ideia da guerra. Ou seja, daria para o filme ter uma amplitude maior, causar mais emoções e até ir mais além, porém para um primeiro trabalho na função, diria que o resultado acabou sendo agradável e interessante de ver.

Quanto das atuações, diria que o trio de crianças vividos por Alessio Di Domenicantonio com seu Cosimo, Vicenzo Sebastiani com seu Italo e Carlota De Leonardis com sua Vanda foram bem trabalhados nos contextos da trama, entregaram olhares e dinâmicas tradicionais e se soltaram bastante para que tudo tivesse grandes conexões e desenvolturas, de tal maneira que acabou parecendo bem uma aventura de amigos em busca de outro, o que acaba sendo muito bem encaixado, com o pequenino mais puxado para o lado emocional, o gordinho com toda a sacada de paixão pelo fascismo sem saber exatamente tudo o que prega, e a garotinha mais pensante e tendo todas as sacadas para manter bem o grupo, o que acaba funcionando bastante. Mais atrás tivemos Federico Cesare com seu Vittorio e Marianna Fontana com sua Agnese tendo diálogos e dinâmicas mais contundentes, criando situações e trejeitos mais duros, mas ainda assim com um ar leve em cima de tudo, o que acaba chamando bastante atenção. Ainda tivemos o jovem Lorenzo McGovern Zaini no começo com seu Riccardo bem colocado, dando boas lições para os amigos, e conectando todos eles com grande desenvoltura.

Visualmente a trama funciona quase como um road-movie aonde os jovens inicialmente se conhecem numa Itália já devastada, com as crianças brincando em meio aos bombardeios, vemos a pequena loja judia, o orfanato caindo aos pedaços, e as brincadeiras de abater aviões com estilingues e armas de brinquedo, depois vamos pelos trilhos passando por mortos, por vilas com agricultores quase sem nada, alguns a beira da morte sem comida, e os trens de judeus passando a todo momento levando para os campos de trabalho, tudo bem simbólico de estilos, vemos os jovens arrumando comida, fazendo as barracas e experimentando coisas sem saber, tudo com muita conexão e detalhes para marcar tanto a época quanto a desenvoltura da trama toda.

Enfim, é um filme simples, mas bem feito e envolvente, que não vai mudar em nada o que aconteceu, mas que demonstra o conhecimento dos italianos no que vivenciaram da guerra, e mais do que isso, mostra como as crianças enxergavam tudo, afinal são apenas amigos, mesmo que de lados opostos de uma guerra, ainda querem é brincar, e para isso foram em busca do amigo levado. Então fica a dica para dar o play no longa do Festival, e claro a reflexão do que anda acontecendo no mundo também atualmente. E é isso pessoal, fico por aqui agora, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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