Disfarce Divino (Magnificat)

11/12/2023 04:05:00 PM |

Ahhh os segredos da Igreja!!! Aqueles que certamente nunca chegarão até nós meros mortais, que são escondidos ah cinco senhas, chaves, bem dentro de um cofre forte que nem outros padres, bispos, e tudo mais saberão da existência algum dia!!! Pois bem, "Disfarce Divino" vem com essa proposta em um filme fortíssimo de ideias e ideais, que claro servem bem como uma ficção, mas vai saber se isso já não ocorreu ou ocorre realmente, afinal como comecei o texto, jamais saberemos desses detalhes da Igreja, pois tudo é muito escondido e velado, principalmente quando se envolve temas proibidos pelas leis canônicas. Dito isso, o resultado na tela é daqueles filmes que embora sejam pesados de conteúdo, acabam sendo tratados com uma leveza de cenas e intensidades que acaba sendo bem gostoso de ver, e claro que para muitos religiosíssimos será considerado até pecado pensar em algo desse estilo, mas como filme é incrível e vale a conferida e a discussão sobre as mudanças que a Igreja deveria fazer para aqueles que realmente tem fé e vocação para os chamados de Cristo.

A sinopse nos conta que quando um padre idoso falece, a chanceler encarregada da diocese, Charlotte, descobre que ele era uma mulher. Sem que ninguém suspeitasse, o padre estava praticando sua vocação por anos. Consternada, Charlotte decide iniciar uma investigação em meio a comunidade.

Diria que a diretora e roteirista Virginie Sauveur soube brincar bastante com o tema sem deixar que o longa se perdesse no foco, tendo muita criatividade e nuances sérias para uma discussão saudável sem ser cansativa e apelativa, e olha que pensei que ela iria se perder ao começar a dar um pouco de foco para o caso do filho, mas não, fez isso fazer parte sem perder a dimensão de tudo e o resultado acabou sendo brilhante e bem conectado como todo bom longa francês, e olha que vejo muitos bons, e aqui o resultado embora polêmico envolve bastante e traz tantas nuances quanto ideais novos sem pesar, afinal o mundo está bem mudado, e leis antigas precisam ser revistas, mas como tudo é muito fechado nesse mundo, então é esperar milênios e nada mudará, mas ao menos no cinema acaba sendo aberta a discussão e aqui funcionou demais.


Sobre as atuações, Karin Viard soube ser a porta-voz investigativa do tema com uma precisão emocional muito bem colocada, de modo que sua Charlotte Rivière como chanceler da Igreja de Paris conseguiu ser doce e bem disposta para entender tudo, e claro também tendo seu segredo acabou envolvendo demais com olhares, trejeitos emocionais e uma dinâmica de sacadas que poucos conseguem entregar, ou seja, não se impôs na tela e agradou com muito estilo com tudo o que fez. François Berléand trabalhou seu Monsenhor Mével com trejeitos meio que desesperados sobre tudo o que estava acontecendo, de modo que passa o medo no olhar ao mesmo tempo que passa um respeito pelo seu papel ali na Igreja, e claro tendo a confissão como oculta, ele demonstra certezas nos atos e agrada também. Ainda tivemos muitos outros bons papéis na trama com Nicolas Cazalé fazendo bem seu Jérémy, um padre cigano que anda junto das comunidades móveis, o jovem  Maxine Bergeron com seu Thomas Rivière, filho da protagonista sem saber quem é seu pai trabalhando com muita imposição e trejeitos fortes para chamar atenção, tivemos Benoít Allemane com seu Padre Lataste sendo o confessor do padre que morreu, trabalhando tudo com boas nuances e até mesmo Patrick d'Assumçao com seu Dr. Grammel trabalhou bem, mas vale o destaque nos trejeitos de Patrick Catalifo como padre auxiliar que não aceitava nada do que rolava naquele momento querendo ocultar tudo o mais rápido possível.

Visualmente a trama brincou com facetas em igrejas, nos escritórios diaconais, em comunidades ciganas, visitando as casas de parentes do padre morto, e mostrando bons ambientes e nuances dentro de tudo, de tal forma que vemos arquivos e cofres como símbolos de tudo o que é escondido e não deve ser mostrado, trabalhando com a ideia de sempre não revelar algo que vá contra as leis milenares.

Enfim, é um filme bem trabalhado, que como disse abre muitas discussões, principalmente para quem não é da Igreja em si, pois lá como costumo dizer tem as cabeças tão fechadas para aceitar o que realmente está acontecendo que preferem apenas esconder e apagar como se nada tivesse ocorrido. Então fica a dica de conferida para todos no Festival Varilux, e vou torcer para que venha comercialmente depois para que muitos mais vejam, e é isso pessoal, fico por aqui agora, mas vou para mais uma sessão do Festival, então abraços e até logo mais.

PS: Talvez tiraria um ponto por algum detalhe, mas o filme é tão bom e cheio de nuances que não consegui, então vou deixar esse como o meu preferido do Varilux até agora!

1 comentários:

Anônimo disse...

Também gostei muito do filme. Obrigada por seus comentários, com os quais concordo. Teresa

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