O Renascimento (Un Coup de Maître)

11/14/2023 06:39:00 PM |

Costumo dizer que para funcionar uma boa comédia precisa principalmente que o protagonista seja engraçado o suficiente para conduzir a trama de uma maneira que o público entre na onda dele, ou que o roteiro seja brilhante de sacadas para divertir o público, e "O Renascimento" mesmo sendo bem simples, e com uma ideia que facilmente você descobre como será desenvolvida com 20 minutos de projeção, acaba sendo um bom passatempo cômico envolvendo pinturas e o famoso valor da arte. Claro que o filme passa bem longe de ser algo brilhante, mas tem boas sacadas e a entrega dos protagonistas tem um bom estilo, ao ponto que tudo funciona na tela. Confesso que mesmo sabendo de muitos momentos prontos para o riso, eu dei algumas gargalhadas com os protagonistas, e isso já me convence dentro de uma comédia, mas é o básico do básico, então não espere muito dela, que o resultado funciona pelo menos.

A sinopse nos conta que o dono de uma galeria de arte, Arthur Forestier representa Renzo Nervi, um pintor em plena crise existencial. Os dois homens sempre foram amigos e, apesar de todos os contratempos, o amor pela arte os une. Sem inspiração há vários anos, Renzo gradualmente afunda em um radicalismo que o torna incontrolável. Para salvá-lo, Arthur desenvolve um plano ousado que acabará testando sua relação. Até onde você iria pela amizade?

Diria que diretor e roteirista Rémi Bezançon ("O Mistério de Henri Pick") gosta de trabalhar com esse estilo de filme, e ele foi bem direto na desenvoltura própria da trama para que tudo tivesse a formatação interessante e agradasse com a pegada escolhida, de tal forma que seu filme convence desde o começo à desvalorização da arte como arte mesmo e virando algo mais próximo de um investimento monetário aonde a pessoa nem sabe o que ela está vendo ali na tela pintada, e claro também a desmotivação do pintor após a morte de sua mulher e musa, então o longa brinca com essas possibilidades dramáticas em si, mas de um modo mais descontraído, que funciona bem e diverte dentro da proposta escolhida. Claro, como disse no começo, não se pode esperar muito do roteiro do filme, mas a entrega é boa e o resultado agrada mais do que desagrada.

Diria que o ator Vincent Macaigne esse ano veio com tudo para o Varilux, pois esse é o terceiro filme que tem ele como protagonista ("Crônica de uma Relação Passageira", "A Musa de Bonnard") e aqui  com seu Arthur Forestier ele ficou bem longe do personagem fraco do primeiro e do excelente do segundo filme, ficando bem no meio, entregando dinâmicas bem de um amigo e apaixonado pelo pintor protagonista aqui (aliás, nesse filme fazem uma referência a Bonnard, e poderiam ter utilizado ele já que fez o papel no outro filme que agradaria mais), e dessa forma vemos seus olhares bem emocionais e colocados dentro da proposta do filme. Já Bouli Lanners fez um Renzo Nervi bem despojado, desanimado com a vida, não querendo fazer mais nada com suas obras, de tal forma que passou bem esse lado mais rude com tudo na tela, sendo até engraçado de ver algumas de suas dinâmicas, mas nada que fosse impressionante também. Ainda tivemos alguns bons atos com Bastien Ughetto fazendo Alex, que desejava ser aprendiz do pintor e acaba denunciando a trapaça, e Anaïde Rozam com sua Eugénie meio que desesperada com tudo como assistente de Forestier, mas sem grandes chamarizes também.

Visualmente o longa tem um estilo bem trabalhado, cheio de nuances próprias, mostrando a galeria do protagonista com os vários quadros do pintor e depois mudando conforme a trama anda, vemos a casa bagunçada do pintor com tudo bem jogado para todos os lados, vemos a produção de um quadro encomendado e o que desenrola depois, vemos um pouco do apartamento do galerista e sua casa no campo também, além de uma referência a Bonnard em alguns museus repintando suas obras próprias, ou seja, vários detalhes bem colocados para funcionar na tela.

Enfim, é um filme que tem uma boa proposta e diverte, não sendo nada que você vai se matar de rir, mas que funciona bastante, então fica a dica para quem quiser um bom passatempo do estilo. E é isso pessoal, fico por aqui hoje, praticamente já com todos os filmes do Festival Varilux conferidos, faltando apenas um que verei na sexta-feira, e volto amanhã com a grande estreia da semana, então abraços e até logo mais.


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