Herói de Sangue (Tirailleurs) (Father & Soldier)

4/15/2023 12:53:00 AM |

Costumo dizer que já vi tantos longas de guerra que até acabo me surpreendendo quando vejo um bem diferente do usual, pois usam sempre a mesma base, os mesmos desejos e desenvolturas, mas ainda assim sempre são bons trabalhos, e hoje começando os trabalhos do Festival Filmelier que vai trazer grandes filmes para os cinemas nos próximos dias, comecei vendo "Herói de Sangue", que trabalha de uma forma um pouco diferenciada do tradicional, mostrando os homens de tribos africanas que foram "convocados" para servir a França na Primeira Guerra Mundial, e um pai que vendo seu filho mais velho ser levado resolve se alistar voluntariamente para poder tirar o garoto das frentes de batalha. Ou seja, é uma trama que mostra sim todas as dinâmicas do estilo, mas que trabalha bem um pai vendo seu filho crescer em algo que não desejava, e claro sabendo que ninguém sai bem de lá se esforçando para tudo, e assim ter um envolvimento maior. Diria que é daqueles filmes que marcam bem pelo pai estar desesperado a tirar o filho dali, mas que poderia impactar ainda mais com pequenas mudanças nos trejeitos dos personagens, porém ainda assim é um filmão dos bons do gênero.

A sinopse nos conta que durante a Primeira Guerra Mundial, um pai se alista no exército francês para ficar com seu filho de 17 anos que foi recrutado contra sua vontade. Os dois são enviados para a guerra juntos na colônia em Senegal.

Como diretor Mathieu Vadepied ainda não teve grandes obras para assinar, sendo esse seu primeiro grande sucesso, tendo sido a maior bilheteria da França de 2022, mas ele é conhecido por ter feito a direção de arte de outro grande sucesso francês, inclusive com Omar Sy protagonizando que é "Intocáveis", e aqui ele soube dosar emoção familiar com ação de guerra quase que na mesma proporção, dando atos mais densos que o normal para uma trama bem desenvolvida e com nuances clássicas, de tal modo que tudo tem seu sentido, e o fechamento ainda remete à algo que já vimos em vários filmes do mundo todo e não só franceses, porém faltou um pouco de emoção em alguns atos da trama, parecendo não marcar tanto o elo familiar em cena, e isso agradaria muito mais. Ou seja, talvez um diretor mais imponente para o mesmo roteiro entregaria algo ainda mais imponente, porém o resultado entrega algo bem marcante que vai agradar quem gosta do gênero de filmes de guerra.

Sobre as atuações é fato que Omar Sy transmite seu carisma para qualquer personagem, por menos simpático que seja o que lhe derem, e aqui seu Bakari transmite muita segurança no que faz, tem presença cênica e desenvolve muita pegada para as dinâmicas que precisa dialogar com os demais, não sendo daqueles personagens explosivos (o que talvez daria uma virtude maior para o papel) nem emocionais (o que também daria um ganho enorme para o filme), mas sendo centrado no que faz e indo até o fim para seu propósito de defender o filho, mesmo que o jovem não merecesse por algumas atitudes, e assim deu seu nome para a trama. Agora não conhecia o jovem Alassane Diong, e posso dizer que ele tem potencial expressivo para chamar atenção, é só o diretor querer investir nele que vai longe, pois nas cenas que seu Thierno precisou aparecer mais para os demais soldados acabou brilhando, mas pareceu ser respeitoso demais para com Omar (e não de forma errada, afinal é um dos maiores atores da França no mundo), e com isso ficou meio que em segundo plano demais. Quanto aos demais, a maioria foi conexões para os protagonistas, tendo os jovens Jonas Bloquet, Bamar Kane e Clément Sambou com seus Chambreau, Salif e Adama mais ligados ao protagonista jovem dando as brechas para ele aparecer, e Alassane Sy, que é sobrinho na vida real de Omar dando as nuances para o protagonista com seu Birama.

Visualmente o longa foi bem representativo, mostrando uma base francesa de operações, meio que tentando dominar um morro contra os alemães, tendo alguns atos tensos de batalhas com muitos tiros e tentativas de ofensivas com explosões, e a equipe artística trabalhou mais o conceito dos figurinos, tendo algumas cenas em refeitórios e "bares" improvisados, mostrando um pouco no começo o ambiente da tribo com os protagonistas criando gado, vemos o estilo de captura dos jovens para virar soldados, sendo tudo muito bem mostrado com nuances certas sem grandes chamarizes, ou seja, o simples bem feito, sem precisar forçar com pedaços de humanos explodidos nem nada, o que foi bem correto.

Enfim, diria que esperava até um pouco mais da trama pelo protagonista em si, e claro pelo sucesso que fez na França no ano passado, mas é certamente um bom exemplar para mostrar que os franceses também não foram tão mocinhos assim na guerra, e claro que sempre o embate numa guerra é um ato aonde ninguém ganha, mas sim que todos saem perdendo. O filme terá várias sessões no Festival Filmelier que começa na próxima quinta dia 20/04 (terá em algumas cidades sessões no dia 19 também), e que se estende até o dia 10/05, então fica a dica para conferirem, pois como costumo dizer, longas que aparecem em festivais podemos esquecer de ver comercialmente no interior, então não percam. E é isso pessoal, volto em breve com mais alguns filmes que verei via cabine do Festival, e claro também com algumas estreias dos streamings, então abraços e até logo mais.


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