Diria que o diretor e roteirista Ari Aster ("Hereditário" e "Midsommar: O Mal Não Espera a Noite") quis trazer dúvidas realmente para o público, e que facilmente numa sala com 100 pessoas sairá umas 10 teorias diferentes sobre a trama dele, e qual seria a correta? Provavelmente nenhuma, pois ele já disse em uma entrevista que seus filmes não possuem certo ou errado, mas sim diversidades de pensamentos que fluem em sua cabeça, e aqui provavelmente ele colocou todos seus piores pesadelos numa única trama de quase 3 horas de duração, e não vou ser cínico de falar que não cansa toda essa duração, pois cansa, tanto que me vi olhando no relógio duas vezes nos atos finais que são os que mais demoram para se desenvolver, e isso é algo que pesa muito num público mais comum e comercial, afinal é assim que ele foi lançado, de forma que em um festival todos veriam tranquilamente e curtiriam, mas suas tramas já fizeram sucesso suficiente para lotar salas comuns, e aqui dava para acelerar o processo, e já adianto, apesar de muitos já saberem disso, para não esperarem um fechamento decente, pois não vai ocorrer, e isso ao meu ver foi o que mais desapontou muitos na sala, mas ele não entregaria o doce no fim, já que tudo seu é complexo, então vá ver e apenas reflita, pois você chegará a algum lugar, mesmo que não saiba aonde está, mas vai chegar.
Sobre as atuações nem precisaria falar isso, mas Joaquin Phoenix é muito completo, e seu Beau Wassermann é altamente complexo, de forma que vem tantas coisas na nossa mente que não temos como não ver que ele se joga do começo ao fim, expõe facetas que nem imaginávamos vê-lo fazendo e se entrega com atitudes, trejeitos e tudo de melhor possível, sendo algo que facilmente lhe daria vários outros prêmios, e ele merece, pois impacta, e isso faz valer o tempo de tela sem entender, mesmo que seja para ver nem ele entendendo o que está fazendo. Patti LuPone entrou mais nos atos finais com sua Mona Wassermann, mas foi bem imponente e expressiva, passando emoções fortes e bem marcantes, de modo que nem se compara com o que Zoe Lister-Jones faz na sua versão jovem, mas que se completam, e isso foi de uma grandiosa parceria. O quarteto maluco da casa onde o protagonista vai parar após o acidente é literalmente daqueles que você pensa estar preso num hospício, e sairia correndo assim que pudesse, e isso mostra demais as boas facetas de cada ator, valendo claro destacar todos dali com Amy Ryan com sua Grace, Nathan Lane com seu Roger, Kylie Rogers com sua Toni, e Denis Ménochet com seu Jeeves, trabalhando cada nuance de um modo duro e bem marcado. Os jovens Armen Nahapetian com seu Beau e Julia Antonelli com sua Elaine adolescentes foram bem interessantes de observar, mas diria que precisariam de mais tempo de tela para se desenvolverem melhor, mas chamaram atenção e isso é o que importa. Tivemos muitos outros bons atores em cena, mas sem me alongar muito vou dar apenas mais um destaque para Stephen McKinley Henderson com o o terapeuta do protagonista, que inicialmente parecia apenas ouvir tudo, mas depois dos atos finais ficamos encafifados com seus sorrisos, e isso é bem doido de ver.
Visualmente o longa tem tantos momentos diferentes que não quero nem pensar o tanto que a equipe de arte sofreu, pois inicialmente temos um consultório, depois um prédio de apartamentos completamente depredado, com várias situações acontecendo na rua, vamos para uma casa imensa cheia de detalhes envolvendo desde uma adolescente maluca até um ex-soldado surtado, chegamos numa floresta aonde ocorrem as cenas mais lindas num palco totalmente desenhado em profundidade com tudo mudando na frente dos nossos olhos meio quase como um daqueles livros que as coisas vão se modificando, misturando sonho com realidade em algo incrível de ver, até chegarmos depois numa mansão imensa riquíssima de detalhes, para aí irmos para uma arena de julgamento completamente intensa, ou seja, tem de tudo em um único filme.
Enfim, é um filme recheado de nuances que alguns vão dar notas gigantescas, outros notas baixíssimas, e que eu vou ficar com um 7, pois é algo bem bom de ver, mas que talvez pudesse ter ido ainda mais além sem precisar complicar tanto, então a dica que dou é ver ele e refletir mais sobre tudo, meio como uma autoanálise de si mesmo, e pensar também na ideia dos pesadelos como disse no começo, pois aí a chance de se apaixonar pela trama é bem maior, e claro, não esperar respostas de cara, senão a chance de sair xingando é alta. E assim deixo a minha recomendação para o filme, e fico por aqui hoje, mas volto em breve com muitos outros textos, afinal essa semana promete, então abraços e até logo mais.
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