Ninguém é de Ninguém

4/25/2023 01:43:00 AM |

Já ficou até chato o tanto que falo isso, mas vou frisar mais uma vez que o cinema nacional deveria grudar nas obras da doutrina espírita e em vários outros livros religiosos, pois tecnicamente é um cinema que chama público, que quem gosta indica, e que basta não forçar a barra e seguir o que já está escrito que vai funcionar. Claro que aí entra outro fator que particularmente não é de meu agrado, mas que muitos gostam de ver que é o estilo novelesco que a maioria das obras são escritas, com vários personagens, conexões, reflexões e narrações de todo o tipo para funcionar da forma que foram escritos, mas é um gosto pessoal, então pode ser que o que não funciona para um funciona para o outro, e é bem em cima disso que diria que o longa "Ninguém é de Ninguém" tem toda essa base, entregando a primeira metade num estilo que você já viu em praticamente todas as novelas com maridos/esposas perturbados pelo ciúmes, com atitudes dominantes em cima dos seus cônjuges, e até forçando um pouco a barra, mas que encaixa para que o segundo ato recaia mais para o lado espiritual, aonde vemos um pouco da definição de espíritos obsessores, de trabalhos espirituais bons e ruins, e tudo o que quem conhece um pouco da doutrina já terá algumas bases, mas quem não conhecer talvez até estranhe um pouco, mas nada que atrapalhe a experiência cinematográfica, pois vai lembrar um pouco da novela "A Viagem" entre outros bons exemplares. Ou seja, é um longa que talvez pudesse ter sido melhor refinado para ter as devidas divisões de espaço melhores, pois vemos um começo bem alongado, um miolo na medida da entrega, e uma finalização tão rápida que praticamente a ideia do conceito de vidas passadas é dita em uma narração de menos de cinco minutos, e assim falha nesse ideal, porém é algo que chama a atenção e funciona bem para quem gosta do estilo.

Baseado no livro homônimo de Zíbia Gasparetto, o longa segue o casal Gabriela e Roberto, casados e com dois filhos. Roberto perdeu o emprego e quem sustenta a casa é Gabriela, mas com o passar do tempo ele se vê preso a um ciúme doentio pela esposa, seguindo-a em qualquer lugar, fantasiando que sua esposa está tendo um caso com o chefe dela. Dr. Renato e sua esposa Gioconda também são um casal que está passando por dificuldades. O ciúme, o desespero e a falta de confiança fazem com que esses dois casais tenham suas vidas entrelaçadas por mentiras, relacionamentos desgastantes e tragédias. A medida que os cônjuges se prendem a fantasias irreais de seus pares, a história vai se desenvolver.

Sabemos que o diretor e roteirista Wagner de Assis já entregou grandes clássicos do estilo espírita e também algumas bombas do gênero, mas se tem algo que é sua marca é ousar dentro da proposta que lhe é entregue, pois aqui dava facilmente para ele pegar o livro da Zíbia Gasparetto e colocar inteirinho na tela sem ser criativo com nada, mas ele optou por trabalhar as essências de tudo, deu as devidas nuances para o lado negro de alguns espíritos, foi direto e certeiro em não trabalhar com um famoso preconceito nas cenas com o "comprador de almas", e diria que trabalhou bem com as imagens duplas dos espíritos, pois dava até para melhorar a composição visual, mas dava para ficar muito pior (aliás seu próximo trabalho, que muitos estão esperando há 13 anos, teve divulgado o primeiro trailer nessa semana, e espero que a equipe de pós-produção trabalhe sem parar até o dia do lançamento, pois está bem falso), e com isso diria que a história em si foi funcional, e o trabalho do diretor foi bem executado, apenas dava para melhorar bastante a divisão de tempo, e isso vou bater demais na tecla.

Sobre as atuações, diria que todos os protagonistas foram bem encaixados e conseguiram expressar bem o que seus personagens precisavam, de modo que Carol Castro fez bem sua Gabriela, trabalhou trejeitos bem clássicos de empresárias, teve atos românticos, expressões de desespero e até alguns bem estranhos de ver, mas segurou bem a personagem até o final e funcionou no que precisava fazer, agradando de certa forma. Já Danton Mello diria que leu o roteiro e desenvolveu seu Roberto já como obsessor antes mesmo de morrer, sendo até exagerado em alguns atos de pertencimento, e isso chegou a incomodar um pouco, o que é acertado de se fazer nesse caso, mas dava para maneirar com alguns trejeitos aéreos que funcionaria melhor. Rocco Pitanga caiu bem na personalidade de seu Renato, fazendo imposições tradicionais de advogados, falando com um certo requinte, e chamando alguns atos para si, mas ainda dava para não ficar tão acuado em alguns momentos, parecendo não estar tão confortável, e aí se soltando mais chamaria mais atenção. Já Paloma Bernardi trouxe uma explosão total para sua Gioconda, criando atos fortes, desenvolvendo uma personalidade até meio que de louca em alguns atos, e o resultado ao menos foi de sucesso para o que pedia o papel, acertando bastante. Ainda tivemos alguns atos bem doces e trabalhados com a empregada vivida por Renata Castro Barbosa, alguns atos rápidos com o investigador vivido por Stepan Nercessian, algumas interações bacanas com a secretária vivida por Gleice Damasceno, e até alguns atos meio que densos para o papel meio que místico de Charles Myara, ao ponto que a equipe foi bem ousada no que fez.

Visualmente a trama trabalhou um escritório de advocacia num prédio chique, duas casas bem imponentes de classe alta, com a do chefe sendo daquelas com até elevadores e bem requintada na decoração, um centro espírita, uma obra parada e um hospital, sem grandes detalhes de elementos, com destaques mesmo para as cenas no quarto dos protagonistas aonde acontecem mais coisas, e claro diria que a equipe de computação e edição brincou bastante com as imagens desfocadas para os espíritos, transformando o protagonista num ser meio cinzento e dando algumas nuances mais chamativas que funcionaram bem.

Enfim, volto a dizer que é uma trama que tem alguns defeitos pesados que já falei bastante, mas que tem boas virtudes e que funciona bem para quem conhece o livro e a doutrina espírita, não sendo bem um filme que quem não crê nas ideias vai aderir, ou até mesmo gostar do que vai ver, então digo que recomendo mais para os fiéis desse tipo de ideais. E é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto mais a noite com outros textos, então abraços e até breve.


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