Criaturas do Senhor (God's Creatures)

4/06/2023 09:26:00 PM |

Realmente o pessoal anda bem enfático nas temáticas mais difíceis de dialogar ultimamente nos cinemas, pois nunca foi algo normal aceitar várias coisas que são bem erradas, mas agora resolveram trabalhar de forma bem rígida com dramas pesados e intensos para que o público reflita também. E o longa que estreia no próximo 13/04 nos cinemas, "Criaturas do Senhor", vem de uma maneira bem introspectiva e marcante falar de abusos que alguns filhos fazem, e as mães relevam para defender as crias, mesmo que isso acabe atrapalhando sua vida depois, e contando com um trabalho minucioso bem marcante dos protagonistas, o filme dá a ideia, passa um pano de leve, mas critica bem diretamente tudo, e felizmente dá um final que não seja de impunidade para nenhum dos lados, sendo bem bacana de ver. Claro que já adianto que o estilo é bem de filmes de festivais, então alguns podem achar ele meio carregado e lento, mas felizmente é bem curto e funciona sem cansar, então fica a dica.

O longa é um drama psicológico ambientado em uma vila de pescadores irlandesa varrida por fenômenos naturais. A trama foca em uma mãe que, dividida entre proteger seu filho amado e seu próprio senso de certo e errado, decide mentir para proteger sua família, que é seu bem mais precioso. Mas o impacto devastador que essa escolha tem em sua comunidade, seus pares e em sua própria vida coloca em xeque essa decisão. Pode uma mentira ser capaz de despedaçar de forma irreversível toda uma unidade familiar e comunitária? Ela conseguirá arcar com as consequências de suas ações?

Diria que as diretoras Saela Davis e Anna Rose Holmer foram bem diretas na forma que desejavam mostrar a mente da protagonista em turbilhão, pois primeiro que o filho não dava sinal de vida há tempos depois de mudar de país, aí volta, faz a cagada, ela ajuda, defende, mente, oculta mesmo sabendo, se vê no meio do conflito com a mentira, e o meliante vai e repete a dose depois, a cabeça da pessoa pira mesmo, e o mais interessante de ver na proposta da trama é o sentir tudo ocorrendo, pois ficamos vendo as sensações dela, vemos o ambiente que é uma vila bem simples no meio do nada, vemos as dificuldades das pessoas ali, e tudo em um filme bem curto, que não enrola, mas que sendo bem introspectivo acaba tendo algumas nuances pesadas que parecem não fluir num primeiro momento, além de que tem toda a simbologia do estragar a ostra e tudo mais, ou seja, é daqueles filmes que parecem pequenos, mas que abrem uma discussão imensa na cabeça da protagonista, e claro, do público também, mostrando que mesmo sendo novas na função de diretoras podem ir bem além na carreira, pois começaram acertando.

Sobre as atuações chega a ser incrível as feições que Emily Watson entrega para sua Aileen, de modo que ela passa todas as sensações com seus trejeitos, marcando demais em cada ato mesmo que não fale nada na cena, e é brilhante ao mesmo tempo que nos conectamos com ela e sentimos as mesmas sensações, ou seja, perfeita demais. Já Paul Mescal diria que esse moço vai precisar fazer tratamento psicológico muito em breve, pois anda pegando só personagens pesados e difíceis de jogar na tela, de modo que aqui com Brian acabamos ficando com muita raiva de suas atitudes, e como já disse outras vezes, se um ator está fazendo um personagem duro e consegue trazer sentimentos para o público podemos dizer na lata que ele acertou, e isso mostra ser bom no que faz. Ainda tivemos outros bons atos bem densos com vários atores e personagens, mas sempre focando na dupla, de modo que é claro vale um destaque para a vítima de tudo, no caso Aisling Franciosi que trabalhou bem os trejeitos de sua Sarah, sendo marcante e direta em tudo o que precisava fazer, conseguindo não chamar o foco para si durante todo o filme, mas fechando com chave de ouro com a música subindo e ela andando por vários minutos enquanto o longa terminava.

Visualmente diria que preciso pesquisar como andam os incentivos de filmagem na Irlanda, pois tem aparecido tantos filmes ambientados por lá que tem de haver alguma coisa nas subliminares, mas isso é um mero detalhe, pois a trama foi muito bem composta pela equipe de arte, mostrou um pouco do cultivo de ostras, o dia a dia num galpão de preparação para venda de frutos do mar, alguns atos em um bar e a casa dos protagonistas, além de alguns rituais tradicionais da vila, sem grandes detalhes em alegorias, deixando tudo na responsabilidade da interpretação dos protagonistas.

Enfim, é um filme que consegue envolver bem e servir mais ainda nas interações reflexivas e de discussão que a trama permeia, valendo todo o tempo de tela que é rápido, mesmo aparentando uma certa lentidão no ritmo, então fica a dica tanto para conferida simples como também para grupos de discussão sobre o tema, pois vale muito falar sobre assumir uma culpa que não é sua para defender alguém. E é isso meus amigos, ele estreia dia 13/04 nos cinemas e eu fico por aqui agora deixando meus abraços e até breve para todos.


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