Star+ - Império da Luz (Empire of Light)

4/27/2023 06:12:00 PM |

Já disse isso outras vezes, mas sei que é algo que não dá para prever, mas tem muito filme que é lançado em anos errados e acabam concorrendo com gloriosos trabalhos iguais ou tão bons quanto eles, e infelizmente foi isso o que ocorreu com "Império da Luz", pois não podia ter sido lançado no ano passado nos cinemas, e nem agora no começo desse ano, afinal é o filme que quem ama cinema tem de ver, rever, refletir, ver mais uma vez e assim por diante, afinal aquele facho de luz que ilumina a sala escura e nos tira do mundo real ao menos por algumas horas, é incrível, o ambiente é tenso e tudo o que ocorre ali com funcionários muitas das vezes nem sabemos, e todos tem seus problemas, assim como os personagens da trama, e é brilhante ver tudo o que o diretor nos mostra, sendo impactante, arrepiando em diversos momentos e funcionando por demais a cada ato. Aí vem a pergunta, o que ele fez de errado para não ser o ganhador de todos os prêmios, já que é tão bom quanto o que ganhou, e a resposta é rápida e direta: "Não sei!". Ou melhor, diria que posso imaginar que não tenha agradado alguns, que talvez o diretor exagerou em colocar mais do que um tema só para trabalhar, ou então o segundo problema que é o racismo não tenha agradado tanto a Academia que muitos sabemos que tem sérios problemas com isso, ou seja, vou preferir pensar que era o ano de "Tudo Em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo" de obra premiada, e esse ficará no coração, pois simplesmente amei cada segundo do filme, e vou recomendar demais para todos.

O longa é uma história de amor ambientada em um belo cinema antigo na costa sul da Inglaterra na década de 1980. Um filme sobre a conexão humana e a magia do cinema. Seguimos Hilary, uma gerente de cinema deprimida, que trabalha no cinema Império (Empire) enquanto no plano de fundo há a recessão britânica de 1981, causando desemprego e racismo gratuito ao longo do país. Apesar de tudo, ela tem um emprego simples, vender ingressos, checar os ingressos, limpar as salas e etc. Ao seu lado, outros empregados: um gerente mal-humorado e pomposo, Sr. Ellis, o dedicado projecionista Norman e os assistentes Neil e Janine. Mas Hilary cada vez mais entra em um profundo estado de solidão e tristeza, mesmo em tratamento. Mas então o Império contrata um novo vendedor de ingressos, Stephen, um jovem negro que tem uma conexão instantânea com Hilary. Esta, é a história deles.

Diria que o diretor e roteirista Sam Mendes quis dar um presente para o público amante de cinema após ser tão premiado com "1917", pois a trama é uma carta completa do que provavelmente viu nos anos 80 na Inglaterra, de suas primeiras experiências nas salas escuras, das histórias que provavelmente ouviu das pessoas que trabalharam e trabalham nos cinemas, e tudo mais, afinal tudo está na tela, de tal maneira que eu me vi ali vivendo esse filme junto das pessoas que conheço também nos diversos cinemas que frequento e converso, afinal elas estão ali com seus problemas também, muitas vezes apenas trabalhando, nunca vendo um único filme que fosse, enquanto nós estamos lá curtindo e apagando a realidade ruim que vivemos num dia cheio de trabalho, e claro sempre com regras a cumprir, sofrendo com clientes ruins, surtando com os problemas também, e muito mais. Ou seja, o diretor conseguiu dar voz a algo que vou todo dia, e as vezes nem vejo, mas que merece ser visto, afinal o cinema como pessoa também tem seus batimentos cardíacos, suas pernas nas engrenagens e está ali para nos atender, e não pode ser deixado de lado também. Além disso, ele nos mostra o mundo racista que vivemos e que naquela época era pior ainda, sendo bem cru em tudo, e emociona demais com uma mão firme e incrível que faz valer cada segundo na tela. Sendo assim, Sam Mendes pode não ter ganho os prêmios de direção, Roger Deakins pode não ter ganho o Oscar de fotografia pela trama, e nem Olivia Colman e todo o elenco ter ganho premiações com o que fizeram aqui, mas se eu posso tirar o chapéu para eles, isso vai acontecer sempre daqui para frente, pois foi algo incrível o que assisti hoje.

Sobre as atuações, cada um foi brilhante no que podia fazer na tela, não sendo nem mais nem menos importante, agradando com olhares, trejeitos, atitudes e muitas dinâmicas perfeitas para o papel que desempenharam, agradando demais, e para começar temos de falar de Olivia Colman como a gerente do cinema Hilary, que tirando os abusos que espero que nunca tenham ocorrido com minhas amigas gerentes de cinema, o restante já vi muito acontecer, já vi as expressões aéreas por vezes com o tanto de coisas que têm para fazer, e a atriz tirou detalhes demais em tudo de tal forma que chega a impressionar, sendo mais um brilhante trabalho na sua carreira gigantesca. Micheal Ward também brilhou muito como um assistente do cinema, fazendo de seu Stephen quase que um símbolo de muitos que acabam trabalhando e se encantando com tudo o que veem naquele ambiente incrível e mágico, mas também vemos muito do racismo que sofre e o ator foi preciso em tudo, ou seja, perfeito nos devidos atos. Colin Firth foi bem intenso como o dono do cinema Sr. Ellis, tendo algumas cenas bem impactantes e fortes, e mesmo não aparecendo tanto foi importante para a trama, fazendo bons trejeitos e diálogos. Sei que muitos nunca entraram numa sala de projeção, e hoje com o digital, um pouco da magia do cinema sumiu para os projecionistas, e o pequenino Toby Jones fez exatamente como muitos que conheço com seu projecionista Norman, amando aquela sala com todas suas forças, sabendo cada vírgula dali, e com certeza aprendeu muito com os que já foram para passar toda essa noção, ou seja, perfeito. Ainda tivemos ótimas cenas com os assistentes Tom Brooke com seu Neil e Hannah Onslow com sua Janine, de forma que a equipe toda da trama foi brilhante em tudo.

Visualmente o longa também é incrível, contando com um cinema de rua bem imponente e majestoso, de vários andares e salas, mas apenas com algumas funcionando e toda a parte de cima abandonada aonde tinha restaurante e outras salas, vemos uma projeção incrível com dois projetores intercalados, fotos de vários artistas colados, letreiros perfeitos, bombonière clássica, bilheteria de tickets com conferência de valores, atos imponentes de violência racista pelos skinheads, vemos também alguns atos nas praias com os protagonistas, alguns atos intensos na casa da protagonista no seu momento mais surtado, e claro a grandiosa estreia do filme "Carruagens de Fogo" com toda a pompa dos políticos da cidade, ou seja, um filme completo, muito bem pesquisado e que chama atenção demais.

Enfim, é daqueles filmes tão perfeitos que facilmente irei colocar entre os melhores que já vi em minha vida, sendo marcante, impactante e cheio de tantas nuances que só de estar escrevendo me arrepiei pensando em alguns momentos da trama, ou seja, simplesmente maravilhoso e que indico demais para todos que gostam de cinema, e para os amigos que trabalham com o cinema passa a ser algo obrigatório de ver, então deem o play e boa sessão, uma pena que não veio para as salas escuras daqui, pois merecia demais toda a pompa mostrada na tela ser vista numa telona. E é isso meus amigos, volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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