A Sindicalista (La Syndicaliste) (The Sitting Duck)

4/30/2023 01:59:00 AM |

Dramas policiais conseguem ser daqueles estilos que mais gosto de conferir, pois a brincadeira de tentar descobrir algo, acusar várias pessoas e imaginar todas as possibilidades é algo que sempre instiga bastante, e quando é colocado em cima de uma história real, com envolvimentos políticos gigantescos a trama caba sendo ainda mais complexa de ver, de tal forma que o longa francês "A Sindicalista" acaba sendo bem envolvente, cheio de atos marcantes e tensos, mas que poderiam ter colocado um ritmo mais dinâmico para causar um pouco mais, principalmente com os resultados finais reais, já que não quiseram dar uma vertente mais ficcional, dava para não ter pesado tanto a mão. Ou seja, não é um filme genial, mas é tão bem interpretado pela protagonista, cheio de situações impactantes que talvez se tivessem brincado só um pouco mais com os atos de julgamentos, e ter dado algumas nuances maiores, o resultado seria incrível.

O longa nos conta a história real de Maureen Kearney, a principal representante sindical de uma multinacional francesa de energia nuclear. Ela se tornou uma delatora, denunciando acordos ultrassecretos que abalaram o setor nuclear francês. Sozinha contra o mundo, ela lutou com unhas e dentes com ministros do governo e líderes da indústria para trazer à tona o escândalo e defender mais de 50.000 empregos... Sua vida virou de cabeça para baixo quando ela foi violentamente agredida em sua própria casa... A investigação é feita sob pressão: o assunto é delicado. De repente, novos elementos criam dúvidas nas mentes dos investigadores. A princípio uma vítima, Maureen se torna uma suspeita.

O diretor e roteirista Jean-Paul Salomé soube desenvolver bem a história real que aconteceu em 2012 na França e se desenrolou por vários anos com intensidades no processo e muitas articulações em cima de tudo, afinal a personagem principal real se envolvia com políticos e empresas do mais alto escalão no país, tinha conversas com empregados do setor nuclear em vários outros países e o desenrolar de seu abuso em sua casa acabou virando manchetes de jornais e a investigação acabou sendo ainda mais pesada do que o abuso em si, sendo algo bem marcante de ver, e claro que todas essas articulações soaram bem feitas pelo diretor, que conduziu elementos abertos bem encaixados, fez indagações bem trabalhadas pelos protagonistas, e levou suas cenas para um rumo intenso que funcionou bastante na tela, só diria que talvez um pouco mais de ritmo e ter trabalhado mais alguns julgamentos daria uma força maior ainda, mas o resultado funciona e brinca bastante com o público deixando a dúvida de quem fez e quem foi o mandante, ou ela armou tudo, podendo ser que nunca teremos as respostas nem na tela, nem no caso real.

Sobre as atuações, sabemos bem que Isabelle Huppert domina em qualquer personagem que a colocar, pois é perfeita sempre, e aqui com sua Maureen Kearney ela teve muita desenvoltura cênica para brilhar em todos os atos, trabalhando bons trejeitos, sendo intensa do começo ao fim e colocando seus diálogos num nível que não tem como não fixar o olhar enquanto atua. Grégory Gadebois fez seu Gilles Hugo como um bom marido e parceiro, trabalhando alguns olhares de confiança na esposa e também desapontamento por ela não sair dessa vida perigosa, e conseguiu ser intenso nos momentos que o filme precisou dele, sem claro passar por cima da protagonista. Pierre Deladonchamps fez o investigador Nicolas Brémont com inseguranças demais, não tendo o impacto que um personagem desse porte deveria ter, tanto que no segundo julgamento fez algumas caras de medo que chegam a ser decepcionantes. Já Yvan Attal deu um porte bem marcante para seu Luc Oursel, mostrando atitude e dinâmicas intensas e bem encaixadas para o papel, sendo um bom articulador e agradando como sempre faz. Ainda tivemos outros bons personagens em cena, mas sempre ficando em segundo plano para que não tivessem tantas quebras e acabasse virando uma série, valendo destacar Aloïse Sauvage com sua Capitã Chambard, Christian Hecq com seu Tirésias e claro Marina Foïs com sua Anne Lauvergeon.

Visualmente a equipe de arte foi bem ampla nas escolhas das locações, com uma casa bem requintada da protagonista, com vários ambientes interligados e claro a representação do crime sendo mostrada de diversas formas, tem sua casa de campo bem imponente, várias cenas em salas de julgamentos e na delegacia, alguns elos tensos nos exames no instituto médico legal, sendo até abusivos para representar o abuso, e claro algumas cenas com a protagonista nas usinas com os trabalhadores, senão não teria motivo para um sindicato. Ou seja, tudo foi bem representado e montado para chamar atenção aos detalhes, mas ainda dava para ter uma perícia mais chamativa na tela, afinal o espectador que curte esse estilo de filme gosta de investigar também com boas pistas.

Enfim, é um filme bem atuado, cheio de boas nuances e que funciona dentro do que se propõe no gênero que é ir dando linha para o público fazer os devidos julgamentos, confundir com hipóteses prováveis, e desenvolvendo algumas possíveis reviravoltas, de tal forma que vale a conferida para conhecer o caso, mas que valeria talvez o texto cair nas mãos de um diretor hollywoodiano ou quem sabe um espanhol, que aí sim a trama pegaria fogo, então vale a dica. E é isso pessoal, fico por aqui hoje, e já estou quase no fim dos longas do Festival Filmelier, mas ainda tem mais quatro dias para quem não viu algum conferir eles, então não perca a oportunidade, fiquem com meus abraços e até amanhã.


0 comentários:

Postar um comentário

Obrigado por comentar em meu site... desde já agradeço por ler minhas críticas...