O diretor e roteirista Jean-Paul Salomé soube desenvolver bem a história real que aconteceu em 2012 na França e se desenrolou por vários anos com intensidades no processo e muitas articulações em cima de tudo, afinal a personagem principal real se envolvia com políticos e empresas do mais alto escalão no país, tinha conversas com empregados do setor nuclear em vários outros países e o desenrolar de seu abuso em sua casa acabou virando manchetes de jornais e a investigação acabou sendo ainda mais pesada do que o abuso em si, sendo algo bem marcante de ver, e claro que todas essas articulações soaram bem feitas pelo diretor, que conduziu elementos abertos bem encaixados, fez indagações bem trabalhadas pelos protagonistas, e levou suas cenas para um rumo intenso que funcionou bastante na tela, só diria que talvez um pouco mais de ritmo e ter trabalhado mais alguns julgamentos daria uma força maior ainda, mas o resultado funciona e brinca bastante com o público deixando a dúvida de quem fez e quem foi o mandante, ou ela armou tudo, podendo ser que nunca teremos as respostas nem na tela, nem no caso real.
Sobre as atuações, sabemos bem que Isabelle Huppert domina em qualquer personagem que a colocar, pois é perfeita sempre, e aqui com sua Maureen Kearney ela teve muita desenvoltura cênica para brilhar em todos os atos, trabalhando bons trejeitos, sendo intensa do começo ao fim e colocando seus diálogos num nível que não tem como não fixar o olhar enquanto atua. Grégory Gadebois fez seu Gilles Hugo como um bom marido e parceiro, trabalhando alguns olhares de confiança na esposa e também desapontamento por ela não sair dessa vida perigosa, e conseguiu ser intenso nos momentos que o filme precisou dele, sem claro passar por cima da protagonista. Pierre Deladonchamps fez o investigador Nicolas Brémont com inseguranças demais, não tendo o impacto que um personagem desse porte deveria ter, tanto que no segundo julgamento fez algumas caras de medo que chegam a ser decepcionantes. Já Yvan Attal deu um porte bem marcante para seu Luc Oursel, mostrando atitude e dinâmicas intensas e bem encaixadas para o papel, sendo um bom articulador e agradando como sempre faz. Ainda tivemos outros bons personagens em cena, mas sempre ficando em segundo plano para que não tivessem tantas quebras e acabasse virando uma série, valendo destacar Aloïse Sauvage com sua Capitã Chambard, Christian Hecq com seu Tirésias e claro Marina Foïs com sua Anne Lauvergeon.
Visualmente a equipe de arte foi bem ampla nas escolhas das locações, com uma casa bem requintada da protagonista, com vários ambientes interligados e claro a representação do crime sendo mostrada de diversas formas, tem sua casa de campo bem imponente, várias cenas em salas de julgamentos e na delegacia, alguns elos tensos nos exames no instituto médico legal, sendo até abusivos para representar o abuso, e claro algumas cenas com a protagonista nas usinas com os trabalhadores, senão não teria motivo para um sindicato. Ou seja, tudo foi bem representado e montado para chamar atenção aos detalhes, mas ainda dava para ter uma perícia mais chamativa na tela, afinal o espectador que curte esse estilo de filme gosta de investigar também com boas pistas.
Enfim, é um filme bem atuado, cheio de boas nuances e que funciona dentro do que se propõe no gênero que é ir dando linha para o público fazer os devidos julgamentos, confundir com hipóteses prováveis, e desenvolvendo algumas possíveis reviravoltas, de tal forma que vale a conferida para conhecer o caso, mas que valeria talvez o texto cair nas mãos de um diretor hollywoodiano ou quem sabe um espanhol, que aí sim a trama pegaria fogo, então vale a dica. E é isso pessoal, fico por aqui hoje, e já estou quase no fim dos longas do Festival Filmelier, mas ainda tem mais quatro dias para quem não viu algum conferir eles, então não perca a oportunidade, fiquem com meus abraços e até amanhã.
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