Vale Night

3/18/2022 09:28:00 PM |

Confesso que fui preparado para ouvir 90 minutos de funk, ver vários passinhos, e tentar rir de uma comédia de sumiço de personagem no melhor estilo que já vimos em diversos filmes internacionais, mas embora "Vale Night" tenha uma premissa bem armada, muitos planos sequências bem desenvolvidos, e claro uma ideia até que bem promissora, acabou faltando o principal dentro de uma comédia: fazer rir! E olha que daria para apelar em diversos elementos, daria para ser criativo em muitas situações, mas não apenas inovaram em técnica e deixaram fluir, esperando que o longa conectasse a todos sozinho, o que não ocorre. Claro que talvez a mensagem chegue a algumas pessoas que se veem na mesma perspectiva da trama, morando em comunidades, tendo filhos ainda jovens, e precisando assumir uma responsabilidade maior enquanto ainda se quer curtir, mas poderiam ter brincado mais com toda a confusão que rola da criança sumindo, trabalhado mais cenas na Crackolandia, e até usado mais os personagens para explodir tudo, mas não era a proposta, e assim sendo ficou básico demais para ser lembrado daqui alguns dias.

A sinopse nos conta que cansada de exercer o papel que a sociedade acha que uma mãe deve ser e as responsabilidades de seu primeiro filho, Daiana resolver pegar um "vale night" - uma folguinha - para sair com as amigas para um baile funk de noite. Para isso, terá que deixar o filho com o pai da criança, Vini. Este, também entediado de olhar o filho por algumas horas, decide também ir para suposta festa, mas sabendo que a mãe pediu para que ficasse com o filho, ele decide levar o menino junto com ele. Tentado não ser avistado pela mãe da criança ou pelas amigas dela, tudo ocorre bem com o filho e ele na festa, isso até que ele perde a criança no baile. Desesperado ele vai correr por toda comunidade para achar o garoto, se colocando em situações surreais, inusitadas e divertidas para que Daiana e suas amigas não o veja e o menino sozinho pelo baile.

O diretor Luis Pinheiro vem para o seu terceiro longa após o excelente "Mulheres Alteradas" e o péssimo "A Garota da Moto" usando agora um roteiro baseado no filme "One Night Off" que Ian Deitchman escreveu e aqui ainda nem foi lançado, ou seja, a versão nacional saiu antes que a original, e posso dizer que dessa vez ele foi bem na forma de entregar um filme realmente, afinal não tem nada novelesco, nem jogado, porém ele quis empunhar uma deixa em cima da representatividade das mães jovens das comunidades, de que acabam abandonando os estudos, as diversões, e tudo mais para cuidar de filhos, e com isso o ar cômico que a trama estava completamente preparada para alçar voos perfeitos acabou ficando em segundo plano. Claro que temos momentos engraçados, como do rapaz preparando a caixa para o bebê, toda a busca na Crackolandia, e alguns diálogos soltos, mas o filme em si por completo não faz rir, e isso em uma comédia é o maior crime possível. Ou seja, o diretor quis ousar com um tema de impacto em uma comédia, e isso é a loucura máxima que não tinha como dar certo. Porém vale o passatempo e a ideia.

Sobre as atuações, diria que Pedro Ottoni até se entregou bem com seu Vini, numa mistura bem colocada de desespero com despreocupação exagerada, sendo aquele meio de caminho que tem bons momentos, mas que não chama tanta atenção, e assim até nos conectamos levemente ao seu personagem, porém poderia ter surtado mais que tinha espaço e potencial para isso. Gabriela Dias trabalhou empolgada com sua Daiana, dando boas nuances e trejeitos, e até sendo bem representativa nós arrepios e sentimentos de mãe, porém exagerou um pouco demais nos atos junto das amigas, o que acaba sendo forçado dentro de um filme, parecendo mais uma atuação teatralizada demais. O filme em si está sendo vendido em conjunto da representação de Linn da Quebrada que está no BBB, e com isso chamando um pouco mais de atenção, e até que sua Pulga está entre os principais, e tendo alguns atos bem trabalhados, claro com as devidas atenuações, afinal abusa de drogas e sexo, mas foi bem no que fez, e com isso quem for ver o filme para ver se atua bem irá até curtir a ideia. O comediante Yuri Marçal fez bem pouco com seu Linguinha, embora apareça bastante no longa, e isso foi quase um crime que o diretor fez com ele, afinal ele saberia entregar ao menos atos engraçados para o resultado melhorar, mas não apenas ficou andando junto com a trupe atrás do bebê. Jonathan Haagensen ficou um pouco forçado com seu Randerson, sendo daqueles machões que querem resolver tudo na porrada, mas que no devido momento se solta na balada e muda de perspectiva com uma droga na cabeça, e assim até chamou um pouco mais de atenção, mas nada que vá muito além. Quanto aos demais, a maioria apenas faz passagem pelo longa, tendo um leve destaque para Geraldo Mario com seu Zé Maria interagindo bem com o bebê no depósito, e Barroso com seu Rico da mesma forma do lado de fora do baile com o bebê.

Quanto do visual, o diretor brincou bastante dentro da comunidade, fez vários passeios seguindo os protagonistas com a câmera, mostrando várias representações das casas, dos ambientes com tudo junto, dos diversos carros parados em bares tocando funk com pessoas fazendo passinhos, depois se jogou para dentro de um baile gigante, mostrou bem a preparação das jovens para 'causar' nas festas, com figurinos e cabelos característicos, e interagiu bem com o bebê passeando pelos vários locais, e claro, teve todo o ambiente maluco da Crackolandia, com o Buraco do Inferno bem montado e cheio de nuances.

Enfim, é um filme que tinha potencial pela história em si, que certamente irei procurar ver o original para comparar as mudanças criativas para a realidade nacional escolhida, mas que se tivesse colocado um pouco mais de expressividade cômica em tudo ficaria muito melhor, mas que valeu pela ideia toda, e assim quem não ligar da falta de dar risadas pode até ser que curta a trama toda. E é isso pessoal, fico por aqui agora, mas vou para mais um nacional hoje ainda, então abraços e até logo mais.


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