Globoplay - Minamata

3/07/2022 01:51:00 AM |

Confesso que se não fossem a galera que em peso votou para que "Minamata" entrasse para os 10 filmes indicados na categoria de voto popular do Oscar eu nem ficaria sabendo dessa maravilha de filme que entrou em cartaz na Globoplay em Outubro e nem tinha ouvido falar nada dele, porém com o anúncio dos 10 mais votados hoje pela Academia vi que estava disponível e resolvi dar o play nessa trama fortíssima, real, e que sendo tão bem interpretada por Johnny Depp, que usando imagens reais da época, e que em conjunto de um trabalho minucioso da equipe de arte ficou quase sendo um documentário bem representado na tela, com uma imposição tão bem trabalhada, tão chamativa, e que chega a ser daqueles filmes que ficamos pensando em tudo o que acaba acontecendo no mundo em quesitos de destruições ambientais por grandes companhias, aliás, enquanto sobem os créditos vemos vários desastres que ocorreram mundo afora, incluindo Brumadinho no Brasil, ou seja, emocionante e que faz valer muito a conferida.

O longa nos situa em Nova York, 1971. Após seus dias célebres como um dos fotojornalistas mais reverenciados da Segunda Guerra Mundial, W. Eugene Smith (Johnny Depp) tornou-se um recluso, desconectado da sociedade e de sua carreira. Enquanto em uma tarefa separada, uma apaixonada tradutora japonesa, Aileen, pede a Smith que visite para fotografar e documentar a cidade costeira japonesa de Minamata, que foi devastada pelo envenenamento por mercúrio; o resultado de décadas de negligência industrial grosseira por parte da Chisso Corporation do país. Lá, Smith mergulha na comunidade, documentando seus esforços para viver com a doença de Minamata e sua campanha apaixonada para obter o reconhecimento da Chisso e do governo japonês. Armado apenas com sua câmera confiável, as imagens de Smith da vila tóxica dão ao desastre uma dimensão humana de partir o coração, e sua missão inicial se transforma em uma experiência de mudança de vida.

Esse é apenas o segundo longa dirigido por Andrew Levitas, mas sua sensibilidade no olhar para captar cada detalhe da produção é tão marcante que acaba parecendo um experiente diretor de muitos anos de carreira, que consegue notar as nuances, fazer todo o envolvimento do arco dramático funcionar, e bem mais do que isso exibir com uma simplicidade os momentos fortíssimos de uma trama tão densa que nem temos como questionar qualquer detalhe. Ou seja, ele conseguiu pegar o livro de Eugene e Aileen e transformar em um roteiro tão bem pautado de olhares sobre o caso que o filme flui quase como uma aula de direção de fotografia, mostrando os símbolos e as essências que uma boa foto pode causar ao mostrar todo um problema, e assim como já disse tudo ficou tão documental que se não conhecêssemos o protagonista poderia até dizer que usaram o verdadeiro Eugene (mas ao final é dito que já morreu faz bastante tempo, então nem teria como!). Sendo assim posso dizer com a certeza absoluta que vamos ter de ficar de olho nesse diretor, pois ainda vai chamar muita atenção e se seguir a linha de tramas intensas assim vai bem longe.

E já que comecei a falar da atuação do protagonista, posso afirmar o que já está colocado no cartaz internacional que é sem dúvida alguma uma das melhores atuações da carreira de Johnny Depp com o que fez aqui com seu Gene, trabalhando as nuances de um bom fotógrafo, sabendo expressar olhares e intensidades, mas principalmente jogando o ar "bêbado" que já fez bem em outros filmes, num patamar realista, crível e sensorial, não apenas algo jogado na tela, e assim tudo o que faz tem peso, todas as dinâmicas, e que sabendo bem o que esperar dele deu show na tela. Minami foi singela nos atos de sua Aileen, não pesando expressividade, nem colocando suas dinâmicas a frente da trama, pois a jovem personagem tem uma personalidade emotiva, tem um estilo simples e se a atriz fosse muito além acabaria sobrepondo o protagonista, o que não aconteceu e foi um grandioso acerto. Bill Nighy sempre é muito chamativo, e aqui mesmo aparecendo pouco fez com que todas suas cenas junto do protagonista fossem marcantes, ou seja, mostrou um editor de revista imponente e pronto para atacar junto na tentativa de salvar a revista. No núcleo japonês tivemos muitos bons atores, cada um se doando ao máximo para representar a cidade, mas o destaque ficou com Ryô Kase com seu Kyoshi cheio de desventuras já doente operando uma câmera, e Jun Kunimura com seu Junichi bem emotivo na hora do conflito, mas todos foram muito bem e não sei se arrumaram realmente jovens da cidade com problemas físicos para aparecer ou se a maquiagem estava incrível, mas foram bem fortes com tudo.

Quanto do visual, a equipe de arte trabalhou muito bem em conjunto com a maquiagem (ou com a escolha de atores como disse acima), e juntando com formatações do estúdio de fotografia incrível, todas as paisagens da cidade, a gigantesca empresa de fundo, todo o preparo da guerra ali entre funcionários/seguranças da fábrica com a população, as preparações cênicas de cartazes, de vestimentas e todo o simbolismo da câmera como arma foi algo bem marcante e chamativo, ou seja, a equipe trabalhou incrivelmente com tudo, e ao final ainda arrumou muitas fotos marcantes de diversos desastres ambientais por parte de empresas corporativas, e marcou muito com a música de fundo escolhida nos créditos: "One Single Voice" de Katherine Jenkins que pode ser ouvida aqui na trilha sonora do filme que merecia ter sido indicada.

Enfim, um tremendo filmaço que tem até alguns leves defeitos de ritmo, mas que são facilmente sobrepostos pela qualidade técnica de todo o restante, e além de ter uma história incrível que vale muito ser conferida para que todos conheçam. E assim encerro meu domingo com esse texto, mas volto em breve com mais críticas, então abraços e até logo mais pessoal.


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