Belfast

3/11/2022 01:38:00 AM |

Tem alguns filmes que possuem todo um gracejo, entregam um carismático envolvimento, trabalham bem a essência desejada, porém não vão muito além, sendo apenas bonito de ver, mas que você acaba sabendo que amanhã nem vai lembrar direito do que fala a trama. E embora cheio de indicações a diversos prêmios, levando a maioria inclusive, "Belfast" tem um estilo bem cansativo, com uma pegada que poucos vão conseguir entrar no clima, e que mesmo sendo até envolvente e divertido pelo extremamente carismático garotinho protagonista, que acaba desenvolvendo bem sua história, acabamos apenas vendo tudo acontecer, entendendo toda a dificuldade do processo de mudança, todo o conflito religioso que sempre destrói famílias, e claro todo o crescimento do jovem garoto com o aprendizado mostrado lá, mas que infelizmente só tem toda esse chamariz pelo diretor ter sido esperto e feito o longa em preto e branco, trabalhando um ar artístico bem encaixado, senão seria facilmente daqueles que as pessoas veriam e nem se ligariam em nada, pois brigas religiosas existem há anos, passam em mil filmes, todo o ar do medo de mudança também, então o resultado é apenas emocionante pela essência em si, que até agrada, mas não senti vontade de aplaudir como uma obra artística deve fazer com o público.

O longa é uma história pessoal e alegre sobre o poder da memória, ambientado no final dos anos 1960 na Irlanda do Norte. No centro do filme está Buddy, um menino à beira da adolescência, cuja vida é repleta de amor familiar, diversões de infância e um romance florescente. No entanto, com sua amada cidade natal envolvida em turbulências crescentes, sua família enfrenta uma escolha importante: esperar que o conflito passe ou deixe tudo o que conhecem para trás por uma nova vida.

O diretor e roteirista Kenneth Branagh tem um estilo tão amplo que chega a ser até difícil chegarmos num longa sem saber que é dele, e de cara falar que é um longa seu, pois ele varia de gêneros de uma maneira tão fácil que acaba sendo daqueles que não podemos encaixar como alguém claro no que faz, porém ele aqui entregou algo tão bonito e denso, contando com uma personificação bem clara de sua história, já que ele nasceu em Belfast em 1960 e tinha 9 anos igual o protagonista na trama na época em que o filme se passa, e assim trabalhando a suas memórias próprias dos conflitos dos protestantes revoltados com os católicos, com os empregos da cidade meio que sumindo e as pessoas indo para fora do país, e claro também mostrando um jovem bem direto nos ideais aprendendo um pouco sobre o amor com os avós, vendo a família endividada e com problemas, e tudo mais dentro do seu mundinho que ao mesmo tempo que é amplo, também está meio preso. Ou seja, é daqueles filmes que o diretor nem tenta ir muito além, apenas apresenta tudo, e o resultado flui tão bem que quem gosta de algo forte de contexto, porém leve de envolvimento vai entrar completamente no clima, acabando gostando de tudo, já quem não entrar na ideia vai reclamar muito ou dormir na poltrona do cinema.

Sobre as atuações o grande destaque sem dúvida alguma ficou para o carisma do garotinho Jude Hill em sua estreia nos cinemas, fazendo um Buddy preciso, leve, cheio de expressividade, e que se joga por completo nas cenas da trama, parecendo ser bem experiente, ou seja, vai ser daqueles que se explorarem bem vai se sair cada vez melhor, pois agradou demais. Dentre os indicados aos prêmios, é claro que temos toda a desenvoltura e precisão de Judi Dench como a avó e Ciarán Hinds como o avô, ambos entregando muita personalidade, trabalhando as dinâmicas de amor para passar para o garotinho, e criando diálogos tão preciosos que junto dos trejeitos bem marcantes que sabem fazer demais acabam indo além em tudo, ou seja, foram além e estão conquistando todos que entram nas suas desenvolturas. Outra que saiu bem em cena foi Caitriona Balfe como a mãe do garotinho, dando todas as lições de criação na medida certa, defendendo seus filhos nos momentos mais duros, e segurando bem a barra sem um pai presente, mas aparece somente em momentos-chaves, o que é meio simples para alguém ter as nuances certeiras fortes, então ficou bem coadjuvante mesmo na trama. Ainda tivemos bons momentos de Jamie Dornan fazendo um pai meio que ausente demais, mas sempre entregando nuances marcantes para o garotinho, e embora ainda não seja daqueles atores impactantes, o jovem conseguiu trabalhar bem e doar bons olhares de retorno para o protagonista. Quanto aos demais, a maioria deu as devidas conexões para os momentos mais precisos, tendo o irmão bem trabalhado, e tendo as demais garotas influenciando o protagonista para cada ato de impacto.

Visualmente o ar preto e branco funciona para passar nostalgia apenas, não sendo nada que vá chamar a trama para algo a mais, e também servindo para dar uma impressão de algo antigo, algo de memórias, aonde as nuances do bairro acabam trazendo bons atos, símbolos marcantes como eram as casas, os locais de encontro, as brincadeiras na rua, o ar competitivo dentro da escola com as mudanças de carteiras, e claro todas as cenas bem impactantes das lutas dos protestantes contra os católicos, numa briga meio sem explicações lógicas que acabam envolvendo até o exército, ou seja, algo forte marcado por explosões de carros, saques de mercados, quebradeiras de casas, e tudo mais em uma única rua que ficou até bem colocado no filme, mostrando que a equipe de arte trabalhou bem, e em conjunto com a direção de fotografia souberam dar boas sombras para tudo.

O longa possui uma trilha sonora incrível em vários momentos marcantes, e cada uma sendo melhor encaixada que a outra, ou seja, fez com que o filme fluísse maravilhosamente e envolvesse demais, então deixo aqui o link para todos curtirem depois de ver o filme, só é uma pena que "Down To Joy" do Van Morrison não esteja nessa playlist, pois ela é quem está concorrendo ao Oscar.

Enfim, é um filme bem interessante, que funciona bem dentro da proposta de memórias do diretor, e que tem um envolvimento bem gracioso e carismático, porém o ritmo é meio devagar e junto da fotografia em preto e branco acaba cansando demais no começo, fazendo com que o sono batesse um pouco, mas tudo acaba divertindo bem depois, e o resultado final flui, valendo a indicação, só não diria que o colocaria entre os melhores do ano como vem sendo nas premiações. E é isso pessoal, eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais. 


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