Telecine Play - Quatro Dias Com Ela (Four Good Days)

3/24/2022 12:10:00 AM |

Chega a ser triste ver a situação que algumas pessoas ficam com as drogas, e mais triste ainda ver como alguns pais sofrem com todo o drama dos filhos, muitas vezes depois de várias tentativas sem sucesso com até a desistência de tentar algo para que o filho volte a ser o mesmo, e quando um diretor consegue trabalhar toda essa essência com força e sutileza na mesma proporção o resultado acaba impressionando bastante, ou seja, faz valer os minutos conferindo toda a dinâmica bem colocada na trama. E hoje fui surpreendido com o Telecine Play, afinal o longa indicado ao Oscar 2022 de Canção Original, "Quatro Dias Com Ela" seria um dos que iria ficar para trás e não iria conferir antes da premiação, afinal não tinha ainda data de lançamento no Brasil, mas eis que cheguei em casa e vi ele como destaque de hoje, ou seja, play na certa, e digo até mais após a conferida, que o filme merecia mais indicações do que apenas a canção de encerramento dele, pois ambas protagonistas estão incríveis, e a história é muito envolvente, tanto que o texto original ganhou um Pullitzer, ou seja, forte e muito bem feito.

A sinopse nos conta que Deb não vê a filha há um ano. Uma noite, tocam à campainha e Deb vê uma mulher que mal reconhece como sendo a sua própria filha. Após um ano a dormir na rua, marcado pelo consumo de heroína, Molly está irreconhecível: desdentada, esfarrapada e trêmula. Molly implora a Deb que lhe dê uma última oportunidade para a ajudar a limpar-se. Após uma década de recaídas, mentiras e manipulações, Deb tem dificuldade em acreditar e acredita que deve "impor limites" pelo que fecha a porta na cara de Molly. Nos dias que se seguem, e perante a persistência de Molly, Deb começa a detetar vestígios da filha determinada e empática que tinha antes de esta se entregar à droga e a esperança começa a minar a sua determinação. Relutantemente, Deb começa a ajudar Molly nos quatro dias mais cruciais da desintoxicação antes que esta entre num programa inovador. Serão quatros dias que porão à prova o relacionamento de ambas. Estará Molly finalmente no caminho da desintoxicação e da recuperação da vida que levava antes? Ou esta será apenas mais uma das suas magistrais manipulações? Deb só poderá descobri-lo sacrificando os seus próprios limites e indo mais longe do que alguma vez fora, numa última tentativa de salvar a filha.

Diria que o diretor colombiano Rodrigo Garcia foi tão preciso na direção escolhida, que vemos nitidamente o texto funcionando na tela, e não é qualquer texto, afinal o artigo do Washington Post escrito por Eli Saslow ganhou o Prêmio Pullitzer quando foi escrito, e Rodrigo pegou essa grande obra e intensificou de uma maneira imponente, cheia de nuances fortes e sacadas cômicas bem leves no miolo, que acabam fluindo demais durante toda a exibição, resultando em um filme que bate o sentimento de tristeza, bate a emoção por cada ato bem representado pelas protagonistas, e principalmente mostra como quem entra nesse mundo das drogas acaba desabando demais com tudo, ou seja, é daquelas tramas que vemos envolvimento demais de todas as partes, e que funciona de uma maneira tão fácil que não temos como reclamar de nada, apenas sentir e curtir.

Sobre as atuações, temos basicamente um show de Glenn Close e Mila Kunis do começo ao fim da trama, transbordando envolvimento e olhares dentro de uma dinâmica bem coesa e marcante por ambas, ou seja, o filme se faz valer com as atuações. Glenn Close fez com que sua Deb fosse cheia de dúvidas da filha, morresse de medo de qualquer recaída, trabalhando com confiança negativa até para cima da personagem, mas também entregando o carisma e o famoso amor de mãe, que não consegue ser dura na totalidade, e assim seus atos funcionaram bem demais, agradando bastante e claro chamando a responsabilidade cênica para si quando precisou. Da mesma forma Mila Kunis se entregou por completo, com uma maquiagem inicial que não conseguimos nem a reconhecer direito de tão debilitada, sem dentes, cabelo mal pintado, feridas para todos os lados, magérrima, mas não apenas de maquiagem se faz um personagem, e sua Molly foi incorporada com uma precisão cirúrgica, de tal maneira que ficamos desesperados com alguns de seus atos, com a maneira que se porta, com sua abstinência, ou seja, perfeita. Tivemos outros bons atores aparecendo em cena, mas não tenho como destacar ninguém, pois seria uma injustiça já que o filme é das duas e só.

Visualmente o longa em si é simples, mas muito simbólico, desde os elementos do quarto da garota, o alarme da porta num bairro seguro, toda a representação da derrota em um jogo e em um quebra-cabeça, a clínica e o hospital em si que para os pais parecem não estar fazendo nada já que o desespero bate, e claro os atos na casa abandonada mostrando toda a representação da degradação que os viciados acabam fazendo naquele meio, praticamente morrendo ali, ou seja, a equipe de arte ousou e foi muito representativa em todos os atos, fazendo valer cada elemento cênico escolhido.

A trilha sonora usa bem alguns elementos para marcar os devidos pontos da trama, dar um certo ritmo e emocionar em alguns atos, mas o filme acabou sendo indicado ao Oscar pela canção de fechamento dos créditos de Reba McEntire, "Somehow You Do", que é bem representativa pelo significado dentro da trama, então quem quiser ouvir e ler ela fica aqui o link.

Enfim, é um filme bem envolvente e comovente, que passa muita emoção nas expressivas interpretações das protagonistas, que conta uma história dura e forte (que até pensei que tivesse acabado diferente na hora do fechamento, e que vale muito a conferida, então aproveitem que entrou em cartaz no streaming e deem o play, pois recomendo demais. E é isso pessoal, eu fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até logo mais.

PS: Acho que poderia ter dado até uma nota maior para o filme, mas talvez se o fechamento fosse outro, pois a invertida ficou bonita, mas não causou como acontece na maioria dos casos.


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