Drive My Car (Doraibu Mai Kâ) (ドライブ・マイ・カー)

3/19/2022 10:18:00 PM |

Olha, que saudade que estou dos filmes de no máximo duas horas, duas horas e dez que já eram bem longos, mas que funcionavam completamente, pois cada dia aparecem com tramas ainda maiores , com sínteses pensantes e dramaticidades gigantescas que muitas vezes só se você realmente entrar no clima consegue gostar, mas é o que anda dominando o momento, e hoje eis que é um dos bem cotados na premiação do Oscar desse ano tanto para filme quanto para longa internacional, ou seja, mesmo que você não ame o estilo acabará ouvindo falar muito sobre o longa japonês "Drive My Car", e posso dizer que a essência trabalhada nele diz bem através de símbolos de ter alguém dirigindo sua vida, de como você dá a direção para algo, e muito mais, sendo daqueles que muitos podem se envolver e emocionar e outros talvez irão dormir na sala, afinal as três horas de projeção são bem densas e sem grandes atos de explosão o resultado só é seguro se entrar completamente na ideia da trama e passar a se enxergar em algo ali, afinal do contrário tudo acaba sendo apenas pesado. Ou seja, é o famoso filme clássico de festivais, que muitos amam e muitos também odeiam, que brinca bem com o simbolismo da direção, e acaba envolvendo bem, mas que daria facilmente para queimar uns 40 minutos para ficar perfeito e não cansar tanto.

O longa segue duas pessoas solitárias que encontram coragem para enfrentar o seu passado. Yusuke Kafuku é um ator e diretor de sucesso no teatro, casado com Oto, uma mulher muito bonita, porém também uma roteirista com muitos segredos, com que divide sua vida, seu passado e colaboração artística. Quando Oto morre repentinamente, Kafuku é deixado com muitas perguntas sem respostas de seu relacionamento com ela e arrependimento de nunca conseguir compreendê-la completamente. Dois anos depois, ainda sem conseguir sair do luto, ele aceita dirigir uma peça no teatro de Hiroshima, embarcando em seu precioso carro Saab 900. Lá, ele conhece e tem que lidar com Misaki Watari, uma jovem chauffeur, com que tem que deixar o carro. Apesar de suas dúvidas iniciais, uma relação muito especial se desenvolve entre os dois.

Diria que o diretor e roteirista Ryûsuke Hamaguchi foi bem centrado na ideia completa do seu longa, afinal ele por incrível que pareça é baseado em um conto de pouquíssimas páginas que acabou sendo incrementado com toda a intensidade dramática, teve os devidos símbolos incorporados, toda a parte das histórias dos personagens para que o público se conecte a eles, e um desenvolvimento preciso de situações que vamos criando bons vínculos, vamos acreditando e se envolvendo com tudo, vemos suas devidas opiniões sobre as atitudes de cada um e de como a situação completa é dirigida, e ele mesmo se dá ao luxo de várias subdireções, que acabamos entrando claro na síntese principal da trama, de como é dirigir a própria vida, dirigir uma peça, dirigir a si mesmo dentro de uma peça, ter a direção de algo seu, e por aí vai, que ainda incorporando todo o lado do luto, da culpa pela morte de alguém, de poder ter feito algo para mudar outra coisa, e muitos outros pontos que facilmente dá para analisar. Porém toda essa dinâmica é centrada, tem seus devidos motes e acaba sendo ampla demais dentro da discussão toda, o que fez com que o filme ficasse um pouco mais alongado do que necessitaria, e assim sendo perdendo um pouco da dinâmica considerada saudável, o que mais cansa do que agrada realmente, fazendo com que se ouvisse na metade alguns bocejos durante a exibição.

Sobre as atuações, diria que o ar sério é algo de praxe dos atores japoneses, tanto que na maioria dos filmes vemos eles explodirem com trejeitos que saiam do eixo, e aqui Hidetoshi Nishijima foi bem direto no que precisava passar com seu Yusuke Kafuku, ao ponto que vemos toda sua essência bem moldada com tudo o que lhe acontece, vemos ele ir passando o sentimento de estar cada vez mais envolvido com o ambiente enquanto ainda pensa no que aconteceu no passado, e isso tudo através de poucas palavras, poucas dinâmicas, mas muito sentimento, o que acaba chamando muita atenção. Da mesma forma Toko Miura dá para si um ar bem fechado, sendo uma jovem motorista sem muita imposição, mas que ao contar o motivo de dirigir tão bem traz uma síntese tão forte no tom da voz de sua Misaki que impacta demais, e depois na cena da casa dela destruída então o ar forte volta a predominar e trazendo o sentimento exato que precisava demonstrar, mostrando ser uma atriz de primeiríssima linha que chama muita atenção e agrada demais. Quanto aos demais daria leves destaques para toda a expressividade no gestual da muda Yoon-a vivida por Park Yu-rim, todo o estilo meio que explosivo, meio que sem rumo de Masaki Okada com seu Takatsuki, e claro pelo estilo mais solto da mulher do protagonista na primeira parte do filme, aonde Reika Kirishima se joga bem com sua Oto.

Visualmente o longa tem muito simbolismo nos atos da peça Tio Vânia de Chekhov, tem muita síntese na casa do protagonista no primeiro ato, e muitos envolvimentos em bares e nos ensaios da peça, mas basicamente todo o longa se passa dentro do Saab 900 Turbo vermelho, aonde a jovem faz o passageiro nem sentir a gravidade com a maciez que dirige (muito bem explicado o motivo disso) e assim quase temos um road-movie pela cidade de Hiroshima, ou seja, a equipe de arte brincou pouco, mas fez bonito com o que precisou entregar.

Enfim, é um longa que como disse não encantará um público muito abrangente, ficando mais próximo do pessoal que curte um festival e que tem muita calma para entrar no clima completo da trama alongada de três horas de projeção, mas que é bem envolvente e interessante do começo ao fim, sendo daqueles que impactam de certa forma com todo o simbolismo, então fica a dica para a conferida. E é isso meus amigos, fico por aqui hoje, mas volto amanhã com mais textos, então abraços e até breve.


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