Netflix - Laços de Afeto (Il Filo Invisibile) (The Invisible Thread)

3/08/2022 10:36:00 PM |

Costumo dizer que o cinema italiano é daqueles que você vai conferir algo sem saber o que esperar, e termina sem saber se realmente gostou, sendo exatamente o meio do caminho entre drama, comédia, romance, ficção, temas fortes, e tudo mais, aonde os diretores e roteiristas experimentam de tudo um pouco para conseguir atingir alguém, ou seja, vai ser difícil algo num filme italiano não se conectar a você, pois está tudo ali a sua disposição para você se envolver e que quando alguém lhe perguntar se você gostou do filme, você irá falar que gostou de tal parte, mas que tudo poderia ser melhor em algo, e é assim em quase 90% dos filmes deles que chegam até nós (digo isso afinal sei que todo país faz muito mais filme do que exportam para outros países!). E comecei dessa forma meu texto do novo longa da Netflix, "Laços de Afeto", por ser exatamente isso o que nos é entregue na tela, um longa bonito sobre os conflitos familiares de um grupo familiar consolidado, que aparentemente nunca teve grandes problemas durante muitos anos, mas que assim como qualquer família seja ela "normal" ou "diferenciada", uma traição explode tudo e coisas que nunca foram relevantes passam a acontecer, ou seja, o garoto no auge de sua juventude, começando uma paixão tem os pais separados, a bagunça de saber quem é o verdadeiro pai biológico, as brigas e tudo se abre ao redor dele, tendo gracejos e conversas de todos os tipos, que não atingem nenhum lado especificamente, mas que funciona e até emociona de certa forma, então como disse no começo, se apegue a algo, e curta, pois ele vai lhe atingir nesse ponto que você escolheu.

A sinopse nos apresenta Leone, 16 anos e seus dois pais, Simone e Paolo, nasceu na Califórnia graças a Tilly, uma americana que ajudou seus pais a trazê-lo ao mundo. Leone cresceu na Itália como todas as outras crianças, mas também vivenciou as lutas por direitos das quais sua família participou. Tudo isso é contado em um pequeno vídeo que Leone está preparando para um trabalho escolar junto com Jacopo, seu melhor amigo. Assim como, fugindo de preconceitos e mal-entendidos sobre sua sexualidade, Leone está prestes a vivenciar sua primeira história de amor, enquanto a solidez de sua família parece estar em perigo. Viver uma situação familiar complexa levará Leo a refletir sobre a verdadeira natureza do "fio invisível" que o liga a seus pais e a todos aqueles que desejavam seu nascimento.

Diria que o diretor e roteirista Marco Simon Puccioni até deu boas nuances de como mostrar que toda família é igual, seja ela comum com pai, mãe, filhos, como as com dois pais ou duas mães, tendo brigas, almoços e tudo mais, e que a base sempre será a mesma de respeito e cumplicidade, e claro amor pelos filhos, sejam eles com seus genes ou não, pois como sempre foi dito, pais são aqueles que criam, que passam suas vivências, seus conhecimentos e suas bases para que um filho cresça e seja alguém responsável na sociedade, independente do que ele siga no futuro, e com essa base nos foi mostrado os diversos clichês do estilo, de acharem que só porque o garoto tem os pais homossexuais, ele também é, entre diversos outros assuntos, e o diretor soube brincar com tudo, dando as devidas intensidades cênicas e criando as possibilidades para que o filme não ficasse nem preso demais, nem forçado demais, o que é bacana de acompanhar e se envolver, mas como disse no começo, a trama ousa em ser conflituosa em outros elos, em mostrar o desenrolar sexual do garoto, a coragem, põe no miolo drogas, descoberta de pais verdadeiros e tudo mais, que nem vai tanto além, mas que não pesa também, sendo singelo e bem feito pelo menos.

Quanto das atuações, num primeiro momento o jovem Francesco Gheghi pareceu inexperiente demais para o papel, não tendo grandes desenvolturas com seu Leone, ficando naquele meio do caminho de falta de atitudes e com um estilo simplório demais, mas conforme o longa vai se desenrolando, ele passa a assumir o filme de uma maneira tão bem colocada que tudo funciona para seu lado, e assim podemos ver até mais trejeitos diferenciados, ou seja, ele até consegue sair bem em cena, embora pudesse ter ido mais além se o roteiro fosse um pouco melhor. Colocaram Filippo Timi como um homem tão mais velho do que ele realmente é, que seu Paolo nem teve muitas aberturas para ir muito além do que faz em cena, mas seus atos de ciúmes foram bem trabalhados e até levemente cômicos para soarem com algum gracejo, ou seja, ficou a cargo dele muitos exageros expressivos para parecer o homem da casa, aquele mais recluso e cuidador do lar, e assim o ator até fez bem, mas caiu demais em muitos clichês do estilo, o que acabou sendo perigoso para o filme desandar, o que por ser um bom ator não rolou. Já Francesco Scianna recaiu para o outro lado daqueles que vivem na rua, tem vários pulos de cerca, e conflitos que acabam atrapalhando a família, e que sendo mais seco acaba se vertendo para outros rumos na trama, mas como também foi colocado para ter alguns gracejos se perdeu um pouco e não fluiu tanto como deveria. Ainda tivemos Giulia Maenza sendo o par romântico do garoto com alguns atos bonitinhos de ver, mas sem grandes floreios expressivos, tivemos seu irmão gêmeo vivido por Matteo Oscar Giuggioli naquele conflito entre ser o briguento do colégio que esconde um grande segredo incubado, tivemos também o melhor amigo vivido por Emanuele Maria Di Stefano com as nuances de drogas para trabalhar (mais um tema meio jogado no filme), e claro para tudo andar ainda tivemos a mãe do garoto vivida por Jodhi May com um ar de fuga e a tia que Valentina Cervi tenta trabalhar em uma única cena a recuperação amorosa após uma traição, ou seja, muitos personagens, cada um tentando trabalhar algo para a trama, mas sem que ninguém vá além.

Visualmente o longa também não tem grandes ambientes marcantes, tendo a base na escalada, seja ela na parede da escola ou em uma montanha na cidade próxima, mostrou a casa bem arrumada da família com os gostos peculiares de cada um dos pais (um por ternos caros e o outro por vinhos - o que cada um vai usar para atingir o outro no momento de briga), e claro algumas festas, comemorações e tudo bem alocado dentro da simplicidade para o filme funcionar, até chegarmos nos atos finais dentro de um hospital também com vários gracejos, ou seja, a equipe de arte nem tentou ir muito além, fazendo o básico bem feito pelo menos.

Enfim, é um longa que como disse já no começo vai sempre funcionar para alguém, pois tem várias bases, e boas reflexões, mas a principal de mostrar que a família vai ser sempre o elo entre pais e filhos independente de suas opções sexuais, mas sim pelo carinho, pelos ensinamentos, e claro como é o nome original por aquele fio invisível que nos conecta desde que nos conhecemos por gente, e assim o resultado flui bem e envolve de certa forma, valendo a recomendação sem grandes anseios. E é isso pessoal, eu fico por aqui hoje, mas volto em breve com mais textos, então abraços e até logo mais.


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