Maurina - O Outono Que Não Acabou

7/21/2023 11:15:00 PM |

Assistir ao documentário "Maurina - O Outono Que Não Acabou" é reviver na tela uma época que foi extremamente manchada no país, é sentir na pele um pouco da vivência das pessoas que passaram por torturas físicas e psicológicas, e se emocionar com cada desenvoltura mostrada na tela e saber que muitos ainda acreditam que deveria retornar, mas que viviam em mundinhos fechados sem ver realmente o que acontecia na calçada da frente da sua casa, é ver uma madre que apenas cuidava de uma escola aonde eram impressos jornais por alguns militantes ser acusada de tudo e muito mais, e ainda assim não perder sua sanidade e sua espiritualidade, é ver um capítulo que merecia ser estampado na tela de todos e muitos quererem ocultar, ou seja, é daqueles filmes que fazem você pensar em muitas coisas, refletir e ir além, aonde o diretor e toda sua equipe conseguiram entrevistas bem pautadas, com dinâmicas tão perfeitas, recriações cênicas maravilhosas visualmente, desenhos minuciosos e tudo que fez a obra ir muito além do que aparece ali. Quem me conhece sabe que me canso muito fácil com documentários, que me incomoda ver muitas entrevistas sendo colocadas na tela, mas nem vi o tempo passar na sala de tão brilhante que foi o trabalho exibido, e que sem dúvida posso recomendar para todos, pois não vale apenas como uma obra audiovisual exibida na tela, mas sim algo para ir muito além do que é mostrado.

A sinopse nos conta que em outubro de 1969, a pacata vida de Madre Maurina no interior de SP é marcada para sempre pela ditadura militar brasileira. Uma história que por muitos anos foi esquecida agora é relembrada e recontada por quem também a viveu - e sobreviveu.

Sei que o trabalho de um diretor de documentários vai muito mais além do que ele entrega na tela, pois a parte de pesquisa é muito maior do que realmente captar as entrevistas e depois montar algo que faça sentido para ir para a tela, e o que Gabriel Mendeleh fez com sua obra é algo que sem dúvida alguma tinha presenciado em uma trama documental, pois vemos seu trabalho com os vários entrevistados, a forma que conduziu para que todas as histórias que sabemos que não foram poucas das pessoas que vivenciaram algum momento com a Madre, e todas as dinâmicas acontecendo que mesmo que nunca tivéssemos lido qualquer coisa sobre a Madre Maurina ficamos quase que íntimos de seus momentos, de sua prisão, dos cuidados e atos que teve com cada um que ela passou na vida, e isso é notável pois vemos quase todos falando a mesma sintonia, a mesma presença de espírito, o mesmo sentido em si que aconteceu. E por vezes até sentimos e vemos os atos acontecendo de uma maneira tão fácil, que fica parecendo até que o diretor foi conversar pessoalmente com a Madre que já está morta desde 2011, e escolheu exatamente as falas que deveriam entrar ou não em seu filme.

Ou seja, é um trabalho imenso de uma direção magistral, um trabalho de montagem preciosíssimo, uma produção perfeita, animações, recriações e encenações emocionantes de ver, sendo um trabalho completo, isso claro sem falar em todas as entrevistas precisas e marcantes que acredito que dariam muito mais do que um filme, e que friso foram num sincronismo de envolvimentos que nos colocam na presença emocional e visual do que realmente aconteceu, sendo brilhante demais em tudo.

Enfim, passei aqui o meu sentimento de ver a trama, mas como costumo falar, um documentário é algo pessoal que cada um tira seu proveito e sua mensagem, não sendo algo tão técnico que dê para pontuar defeitos e qualidades em cima de cada ato, cada mensagem passada, e tudo mais, mas assim como ocorreu hoje numa sessão que lotou o auditório do SESC Ribeirão Preto (era para ser apenas 50 ingressos, lotaram as 206 poltronas e mais várias pessoas ficaram de pé, e outras várias ficaram para fora e farão outra sessão na terça-feira às 19hs) e que ao final todos aplaudiram de pé por vários minutos, deixo aqui minha recomendação para que todos vejam o que foi a ditadura, o que foi prender uma freira que não estava envolvida politicamente na época, apenas sendo diretora de uma escola aonde haviam manifestações, e que assim que o longa chegar na sua cidade ou TV vejam, pois vale cada minuto. E é isso meus amigos, fico por aqui agora, mas ainda tenho outra cabine de imprensa para ver hoje, então volto logo mais com outro texto, então abraços e até breve.

PS: Só não dei nota máxima para o filme por ver no bate-papo depois da sessão que dava para colocar ainda mais histórias na trama (quem sabe a equipe se empolgue e role uma segunda parte!), mas se tivesse notas quebradas daria um 9,5 pra mais, pois o longa é incrível mesmo, torcer para a estreia comercial vir em breve para indicar para mais amigos fora de Ribeirão Preto!

2 comentários:

Joao Cilli disse...

Belo documentário, bela crítica... talvez, o título justifique o talvez mais 🙏, já que o outono não acabou

Fernando Coelho disse...

Olá João... bem assim mesmo né... não acabou e irá continuar... #torcida... abraços!

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